Já subi o elevador e caminhei pelos corredores imaginando que desculpa daria à minha chefe por estar duas horas atrasada. Porque até onde eu sei, não é normal nem na Coréia, nem nos Estados Unidos, nem em lugar nenhum do mundo a pessoa sair para almoçar meio dia e retornar às quatro da tarde. Aish Kim Taeyeon! Seu primeiro dia no emprego e você já comete uma gafe dessas... E se Ms. Parker brigar comigo? Não posso ser demitida...!

No caminho, tive a sorte de encontrar Zoe. Logicamente, ela percebeu meu 'atraso' e perguntou-me o que havia acontecido. Inicialmente pensei em inventar uma mentira à ela, assim como faria com Ms. Parker, mas antes que eu pudesse responder, ela tomou a fala:

- Ih, Taey... É claro, você acabou de chegar aqui na cidade, deve estar superocupada com assuntos referentes à moradia, carro, etc... É normal estar com dificuldade para conciliar os horários e os afazeres! Já passei por isso quando fui fazer intercâmbio na Bósnia e, acredite, sei pelo que está passando... - Não pude deixar de rir. Não sei se o mais engraçado era o fato de Zoe aparentemente não estar achando meu atraso um absurdo, ou de ela querer mostrar que sabe pelo que “estou passando” sendo que eu me atrasara por motivos totalmente adversos à minha recente estadia na cidade, ou o fato de ela já ter feito intercâmbio para a Bósnia. Eu não sabia nem qual idioma era falado na Bósnia, e muito menos que as pessoas faziam intercâmbio para lá.

- Hehehe, que bom que me entende, Zoe! Estava desesperada no caso de Ms. Parker se incomodar com minha ausência... Preciso tomar mais cuidado com o tempo. - disse, poupando a mim e a Zoe de ter que ouvir explicações malucas acerca de minha ausência. Não sei porquê, mas sinto como se Tiffany fosse um assunto particular, somente meu. Não me sentia à vontade para falar sobre ela com mais gente. Mesmo que fosse Zoe, não sei... No momento apenas queria guardar Tiffany só para mim.

- Pois pode relaxar que a chefe está mansíssima! Ela perguntou de você pra mim mas eu disse que você devia estar cuidando de coisinhas da viagem, e ela entendeu perfeitamente. Depois você dá uma passadinha na sala dela para esclarecer tudo, Taey!

- Ah, que bom! Estou tão aliviada, Zoe! Fiquei preocupadíssima por causa do que Ms. Parker poderia pensar de mim! Obrigada...!

Eu e Zoe chegamos à sala e eu tirei o tempo que ainda me restava até a hora de ir embora para fazer uns serviços adiantados. Irônico demais o fato de eu estar com um medo absurdo de me atrasar no emprego sendo que minha então lista de afazeres era praticamente nula. Porém, não vamos esquecer os fatos de que eu era novata e que uma boa conduta costuma conta muitos pontos no início. Já pensou se eu passo má impressão logo nos primeiros dias? Credo!

Assim que deu meu horário de sair, 19h, eu fui imediatamente ao escritório de Ms. Parker dar satisfação pelas minhas “falhas” ocorridas no horário de almoço. Lógico que eu falei umas mentirinhas, afinal tem assuntos pessoais nossos que a gente não pode sair contando por aí. Nem quando a pessoa a quem se conta é sua chefe e o que está em jogo é o seu trabalho. Sim, alguma coisa em mim me aconselhava para que haja o que houvesse, que eu não falasse sobre Tiffany e sobre o que rolou entre nós duas para ninguém. Aish, Kim Taeyeon! Tiffany é uma garota da sua idade, é sua amiga! Não é como se fossem pensar mal de você por cabular o trabalho para ficar com ela... Não é como se ela fosse seu... Namorado... E... Ah, o que estou pensando? Eu não conseguia entender essa minha necessidade pessoal de manter Tiffany entre quatro paredes em meu cérebro e de não querer deixar ela sair de jeito nenhum. A única coisa que eu sabia era que eu não conseguia tirar ela da cabeça, e uma parte de mim se sentia culpada por pensar tanto nela, a ponto de achar que meu estado iria piorar se eu contasse sobre ela para mais gente... Aaaaaa, eu nunca fiquei tão confusa! Em todo o caso, e para a minha sorte, Ms. Parker ficou super de boa e até deu umas risadinhas durante nossa conversa. Hoje é meu dia de sorte.

No carro, me preparando para dirigir para o apartamento, fui guardar as chaves das gavetas na bolsa e tateei a sacolinha da Bloomingdales com o vestido. Tiffany irrompeu em minha mente como um raio, novamente. O que será que ela estaria fazendo agora? Peguei meu celular, porque por alguma razão desconhecida, senti vontade de ver se havia mensagem dela. Eu sou ridícula, não é mesmo? Acabamos de nos conhecer, por que na Terra ela iria me mandar uma mensagem assim do nada? Aff, Taeyeon! Ao abrir o celular, ao invés de mensagem de Tiffany, tudo o que encontrei foi uma ligação perdida de Jaemin, com mais duas mensagens não-lidas: Uma dele e uma de Sunny. Não pude deixar de ficar triste, no entanto. Eu sou uma boba mesmo...

Jaemin me pedia para ligar para ele porque estava com saudades. Argh, ele podia ser menos grudento! Não faz nem uma semana que estou aqui e ele já está me incomodando com mensagem... Espera... O que está acontecendo comigo? Certamente eu nunca fui muito melosa, principalmente com Jaemin. Até com minhas amigas eu sou mais melosa do que com ele, se é que me entendem. Agora vamos combinar que eu não estava com clima e muito menos em um lugar apropriado para ligar para o Jaemin, então fui ler a mensagem da Sunny.

"De: Sunny Lee

Hey, Byuntaengoo! Não vai esquecer da festa da Jessica hoje, hein? Volta logo para casa porque a gente vai pra lá todas juntas, e a Hyo vai com a gente.”

Gente, eu tenho que correr para casa! Eu havia me esquecido completamente da festa desde... Desde que conheci Tiffany. Pode-se dizer que eu havia me desligado não apenas da festa, como também do mundo e da minha vida como um todo depois que Tiffany surgiu em minha vida. Por mais que eu desviasse meus pensamentos, era a ela que minha mente recorria. Agora me lembrei de que se não fosse pela festa, eu não teria ido atrás do vestido e não teria conhecido a Tiffany. Okay, perda de memória recente não é TÃO preocupante, pior seria se eu tivesse me esquecido de fatos mais antigos. Pelo menos consigo me lembrar de tudo agora. Estava cogitando a hipótese de Tiffany ser uma feiticeira intergaláctica que viajava através de mundos e tempos para hipnotizar as pessoas. Embora eu estivesse extremamente alheia ao fato de eu ter um namorado até então, aquele sorriso dela não saía da minha mente por nada.

Chegando ao apartamento, dei de cara com as Três Mosqueteiras: Sunny, Sooyoung e Hyoyeon, que iria conosco para a festa. Que lindo, todas estavam prontas, hiper empolgadas, tão falantes e absortas no evento que ocorreria dali a pouco mais de uma hora, que mal notaram minha chegada. Não que eu estivesse necessitada de atenção, aliás, pelo contrário. Inexplicavelmente, meu cérebro estava tão confuso e fatigado que eu nem sei como eu consegui fazer a proeza de dirigir até aqui sem bater o carro. Eu não estava com o menor pique para festas. E isso é estranho demais por dois motivos: O primeiro, que por mais exausta que eu possa estar diante de diversas circunstâncias, sair com minhas amigas é algo que eu nunca dispenso por me proporcionar imenso prazer e alegria. Segundo, eu não tenho razão para estar cansada. Eu ainda estava em meu primeiro dia de “trabalho”, que praticamente serviu para que eu me estabelecesse em meu novo estilo de vida. Eu não experimentei nem um oitavo do que seria minha rotina de trabalho daqui para frente. Certamente que eu andei bastante com toda essa história de Bloomingdales e Tiffany, mas... Alguém que trabalha e vive em um ambiente como a Quinta Avenida devia estar mais que acostumada a andar bastante e a ter uma vida corrida, não é mesmo?

As meninas não param de falar na Yuri e na Jessica aqui. Pelo que eu pouco pude ouvir da conversa enquanto trancava a porta, Jessica passaria em frente ao apartamento de Yuri e a levaria para a festa. Yuri estava realmente animada com a festa, e durante a tarde inteira, ficou no chat do facebook com Hyoyeon decidindo que roupa vestir, e contando-lhe sobre Jessica. Apesar da aparente empolgação expressa pelos risinhos e falas das meninas, eu estava considerando não ir à festa de hoje, tamanho meu cansaço.

Fiz com que as meninas percebessem minha presença pelo barulho dos meus passos, e, antes mesmo de me olharem, mandaram que eu me aprontasse imediatamente. Achei engraçada essa empolgação toda delas, e decidi tomar um comprimido contra dor de cabeça para ver se meu astral não melhorava um pouquinho. Em seguida, fui direto para uma ducha. Quantas vezes eu já não melhorei de ressaca e insônia com duchas? Teria de funcionar para desânimo e fadiga.

Funcionou o caramba. Durante o banho, só fiz pensar nos abraços de Tiffany e no quanto ela era uma pessoa agradável. Aquela pontada que eu senti no peito logo que tivemos de nos despedir veio à tona novamente. Eu sentia falta dela. Eu queria vê-la de novo, conversar com ela. Eu não conseguia entender isso... Nos conhecíamos há pouco menos de um dia, nos despedimos há pouco menos de cinco horas e eu já estava com saudades dela. Eu estava sentindo um tormento que me incomodava, me assustava, apesar de minhas recordações dela serem melhores impossível. Decidi me vestir rapidamente e tentar parar de pensar nessas coisas. Eu precisava ir nessa festa, e precisava ir estando de bem com a vida. É um evento realmente importante para Yuri, que estava começando uma carreira em um país estrangeiro, e eu não quero ter melancolia como um dos fatores presentes nas lembranças de minha primeira festa em Nova York. Após terminar a maquiagem e o cabelo, tirei o vestido da sacola e quando dei por mim, já o estava repousando carinhosamente por entre meus braços e meu rosto. Ela me deixou ficar com ele... Nunca me esquecerei de como ela é gentil e como seu sorriso é maravilhoso... E eu já estava pensando em Tiffany de novo. Involuntariamente, ela invadia meus pensamentos, como um reluzente cometa rasgando o céu em uma noite fria e vazia. Peguei meu celular e ativei o display. “0 Mensagens”. Não, eu não mandaria nenhuma mensagem para ela. Eu seria louca se tomasse tal atitude numa hora dessas. Coloquei o celular na bolsa e terminei de me arrumar.

- Finalmente, sua noiva! Achei que você só viria cumprimentar os convidados daqui a umas dez horas...

- Sunny, não é pra tanto! Vocês é que têm muita pressa. Agora eu já estou pronta, podemos ir. Já chamaram o táxi? - disse eu.

- Táxi? Que mané táxi, amorzinho? Agora a gente é official driver, alugamos carro pra quê? Pra deixar estacionado na vaga estreitíssima e minúscula do prédio? Helloooooooo, né! - ria Sooyoung.

- Então é bom que a professional driver aqui esteja ciente de que iremos no carro dela, e que apesar de estarmos em Nova York, continuamos seguindo as antigas regras do clube que valiam para a Coréia. Ou seja, a motorista da ida é a motorista da volta. - dizia Hyoyeon, lançando um sorriso malicioso para Sooyoung. - Portanto, nada de bebidas, okay?

- Aish, eu sei me controlar, bobona! Eu não sou a Yuri, aliás, sou eu quem mantenho aquela desvairada em pé depois da chamba, então você pode transferir o seu sermão para ela e... - dizia Sooyoung.

- Ih, do jeito que aquela lá tá, duvido que ela absorva qualquer outra coisa que não esteja relacionada com a Jessica. É um tal de Jessica pra lá, Jessica pra cá... Eu falei pra vocês, ela ficou a tarde inteira falando comigo na internet sobre a mocinha... - dizia Hyoyeon.

- Você não contou pra Taeng! Ela chegou atrasada e acho que tá meio por fora dos acontecimentos recentes... Olha essa carinha dela, parece que tá na lua! - disse Sooyoung, rindo e apontando pra mim.

As meninas percebiam tudo mesmo. Esse é o lado “ruim” de se ter amigas tão próximas e de tanto tempo. Elas te conhecem tão bem, e prestam atenção nos mínimos detalhes. Não nego que eu fico um tanto vaga e dispersa quando tem algo me incomodando, e elas não tardam a perceber. Geralmente não sossegam até que eu conte o motivo de minha aflição, mas eu não poderia simplesmente falar sobre Tiffany para elas. Eu não poderia.

Já estávamos no carro, Sooyoung ligava o motor, se preparando para partirmos, e Hyo continuava a me contar animadamente sobre Jessica e Yuri. Sunny participava dos relatos, e até Soo, que embora estivesse dirigindo e devesse prestar extrema atenção ao volante, não perdia a oportunidade de fazer comentários sempre que encontrava uma brecha na conversa. O papo estava tão desenvolto e animado, que Sooyoung não reparava nas mudanças do farol e fomos recompensadas com diversas buzinas, tanto vindas de outros motoristas para o nosso carro, quanto de nossa motorista para os outros carros. Sooyoung não tem jeito mesmo. Ela não percebe que dirigindo assim vai atrair todas as atenções no trânsito, inclusive a de possíveis policiais que podem vir a nos parar para uma blitz, o que convenhamos que não seria um processo dos mais agradáveis para quatro jovens estrangeiras recém chegadas em Nova York a caminho de uma balada.

Pelo GPS, já estávamos quase chegando ao nosso destino. Não demoraríamos muito a chegar, à medida que a casa noturna se localizava em Manhattan, o mesmo bairro no qual residíamos. O maior problema era o trânsito. No entanto, para as meninas, o trânsito era a menor das preocupações da noite. O assunto "Jessica" ainda pairava como oxigênio sobre o ambiente. Cheguei até a pensar que as meninas estivessem realmente entusiasmadas para fazer amizade com ela. Será que se soubessem de Tiffany, também se comportariam desse modo? Apenas a ideia de ter minhas amigas sabendo sobre Tiffany e falando sobre ela me dava frio na barriga. Será que gostariam dela tanto quanto eu, que também ficariam hipnotizadas com seu jeitinho fofo? Não pude deixar de ficar com ciúmes imaginando minhas amigas encantadas com Tiffany.

Uma Sooyoung empolgada com nossa chegada e abrindo as portas do carro freneticamente interrompeu meus devaneios. Ao descermos na porta da casa “Glam”, deixamos o carro para um manobrista e fomos guiadas até a porta por dois seguranças. Chegando à casa, fomos recepcionadas por uma mulher esguia e alta, cujo penteado era muito engraçado. Ela conferiu nossos nomes na lista de convidados e orientou-nos para que seguíssemos em direção ao bloco Y, do saguão 4, que lá estariam nossas anfitriãs, no caso, Jessica e Yul. Logicamente as instruções da recepcionista eram deveras confusas, mas por sorte Sunny estava conosco, então não demoramos a encontrar as duas, sentadas lado a lado diante de uma enorme mesa redonda, acompanhadas de algumas pessoas que eu até então desconhecia. Todos os ocupantes da mesa pareciam tão absortos e entretidos em sua conversa que eu me senti culpada por ter de interrompê-los para realizar cumprimentos e apresentações. Yuri abriu um sorriso enorme ao nos ver, e logo após acenar para nós, afagou delicadamente o braço da garota ao seu lado, que eu acreditava ser Jessica, pela proximidade entre as duas e pela beleza anteriormente descrita por Yuri. Assim que nossos olhares cruzaram com os de Jessica, ela deu um sorriso tímido e se levantou, juntamente de Yuri, para nos cumprimentar. As meninas não conseguiam esconder a aura de felicidade em conhecê-la finalmente. Antes que alguém pudesse perguntar alguma coisa, Yuri veio imediatamente até nós, um tanto envergonhada porém sem estar muito perceptível pela fraca iluminação do local. Yul abraçou cada uma de nós e nos apresentou à tão famosa e bonita Jessica. Devo dizer que imaginava Jessica como uma mulher bonita, mas me surpreendi ao encontrar uma mulher estonteantemente linda, que parecia ser uma modelo ou uma artista de k-pop. Me pergunto quem lhe faria tão mal a ponto de ela precisar constantemente da consultoria de uma advogada.

- Meninas! Estou muito feliz que vocês vieram! Essa aqui é minha... Hm... Jessica Jung.... Sica, essas são minhas amigas Hyoyeon, Sunny, Taeyeon e Sooyoung. - dizia Yul, entusiasmada apontando para cada uma de nós à medida que falava nossos respectivos nomes. Em seguida, cada uma de nós se apresentou formalmente e individualmente, tanto para Jessica quanto para as outras pessoas que se sentavam à mesa dela. Jessica sorria radiantemente para cada uma de nós. Seus cabelos eram enormes, brilhantes e ondulados, de uma cor loira acobreada.

Quando chegou minha vez de cumprimentar Jessica, até fiquei encabulada. Entretanto, ela foi um amor de simpática, fazendo com que todas nós nos sentíssemos confortáveis.

- Você deve ser a Taeyeon, publicitária da M.A.C! Prazer, querida! - disse Jessica, enquanto me dava um beijo de estalinho na bochecha. Seu perfume era ótimo, mas fiquei com vergonha de elogiá-la. Ademais, me surpreendi por ela saber quem eu era.

- Eu mesma! Hehehehe, espera.. Como adivinhou que sou eu? - perguntei, sorrindo timidamente. - O prazer é todo meu, Jessica.. 

- A carinha de bebê! Yuri me contou que você está noiva, inclusive! Parabéns, Taeyeon! - se eu já estava sem graça por causa da extrema beleza de Jessica, o fato de ela me identificar através dos meus traços infantis me constrangeu ainda mais. Entretanto, não pude deixar de me sentir feliz por ela saber tanto a meu respeito sem ao menos me conhecer pessoalmente. A única coisa que me deixou um pouco pra baixo foi ter ciência da dimensão que a história do meu noivado havia tomado. Estavam todos ansiosos e contentes diante desse acontecimento, menos eu. Jessica, apesar de tudo, tinha uma aura tão livre e forte, era aquele tipo de mulher fascinante, e eu não consegui imaginá-la ficando noiva de algum cara. Será que algum dia eu poderia ser que nem ela?

Apesar de Jessica ser coreana que nem nós, as outras pessoas não eram, então nos comunicamos todos em inglês. A noite começou com assuntos bobinhos como relatos de nossa vida na Coréia e nossas mais recentes aventuras na terra do dólar. Jessica falou sobre sua infância na Califórnia, suas eventuais viagens à Coréia do Sul, e as surpresas de sua vinda para Nova York. Era incrível como Jessica era parecida com a gente. Não sei se era pelo fato de ela ser coreana, ou de termos a mesma idade, mas de longe percebíamos o quanto ela era sociável e o quanto ela se dava bem com Yuri. Não fui a primeira nem a única a perceber isso, visto que Sunny não perdeu a oportunidade de evidenciar o quanto as duas eram “compatíveis”. Eu realmente não entendi a fundo o que ela quis dizer com isso, só sei que deixou as duas, Yuri e Jessica, bem sem jeito. Eu realmente estava entretida com a conversa, e era fofo ver as duas se entrosando tão bem, pareciam velhas amigas. Com certeza eu me arrependeria se perdesse uma noite como essa. Ao falarem de sua amizade, Yuri e Jessica chegaram no assunto que fez com que as duas se conhecessem: O golpe de estelionato. Eu estava curiosa para saber que tipo de pessoa seria capaz de cometer tal ato contra uma amiga, como a golpista da qual Jessica foi vítima fizera. Todos na mesa estavam tão envolvidos nas palavras de Jessica, que eu acharia um pecado uma pessoa se levantar de lá de repente antes que ela terminasse o relato. Pois bem, vocês conhecem alguém mais pecadora, ou pelo menos mais atormentada que a minha pessoa nos últimos dias? Eu pelo menos não conheço. Tanto é que, para fazer jus a esta última afirmação, alguém faria com que eu me levantasse no ápice da conversa.

- Ei, Taeng! Você pode ir comigo no banheiro agora? Por favor, estou fazendo xixi na calça! É urgenteeeeeee! - sussurrou Sunny em meu ouvido.

- Sunny, sua anta! Por que é que foi aceitar tantas rodadas de bebida? Aish! - sussurrei de volta, evitando chamar atenção.

Infelizmente, eu estava sentada ao seu lado, e todas as outras meninas estavam comentando a história com o pessoal da mesa enquanto olhavam fixamente para Jessica.

- Vai, Taeng, por favoooor! Prometo que voltaremos rápido! Você não quer que sua amiga faça xixi na calça, né?

- Vamos rápido então, Sunny.... Quero saber a história!

Sunny pediu licença baixinho enquanto fazia uma pequena mesura. Jessica sorriu para nós duas, como se entendesse a situação. Eu repeti os gestos de Sunny e, em seguida, fomos procurar pelo toalete. 

Chegando lá, a fila no banheiro feminino dava voltas, e eu não precisaria enfrentá-la, logo falei:

- Sunny, a fila tá imensa, te espero na porta, tá?

Ela concordou e eu saí daquele aperto abafado de mulheres aglomeradas e desesperadas para com suas necessidades.

Me encostei em uma parede próxima e olhei o ambiente à minha volta. Todos estavam animados, alguns dançando, outros se enchendo de bebida... E meu deus! Eu nunca vi tanta gente bonita junta antes! E além de bonitas, as pessoas aqui eram extremamente animadas e soltas! Meus olhares foram em direção ao centro da pista de dança, e capturaram uma figura exótica, porém não estranha. Com certeza ninguém dançava mais que aquela menina ali. Ela era o centro de tudo, e parecia ter para si todas as atenções também. Todos queriam imitar seu jeito descontraído de dançar, ela estava rodeada pelos olhares de inúmeros garotos, porém não parecia estar com nenhum. Seu ritmo era guiado por ela e apenas ela, que, de olhos fechados, se encontrava em um transe contínuo. Eu não conseguia distinguir muito bem suas feições e detalhes, talvez pela distância entre nós. Havia, entretanto, um objeto que envolvia seu pescoço, que lhe dava o charme definitivo. Meus pés automaticamente seguiram para mais perto dela, e eu pude ter uma noção melhor do que via. Ou pelo menos meu cérebro estava me iludindo com mais precisão do que nunca. A echarpe rosa. A garota estava usando a echarpe rosa. Não podia ser! Meu cérebro estava de brincadeira comigo! Cheguei mais perto. A garota era realmente muito bonita. Senti algumas cutucadas, uma aproximação maior de pessoas ao meu redor. Estava na pista de dança. Abri caminho por entre as pessoas, sem que perdesse meu foco. Ela levantou a cabeça. ERA ELA! TIFFANY! Não é possível, não pode ser ilusão! Antes que eu pudesse me controlar, ou mesmo pensar em me controlar, meu cérebro e meu corpo já agiam mais contraditoriamente impossível.

- FANY! Fanyyyyyy! - gritava eu, enquanto abria caminho entre as pessoas, não me importando muito de estar sendo um tanto rude em minha busca por espaço.