- Que é isso, não... Não foi nada... - disse eu, sem jeito. Agora só de olhar para a menina eu ficava nervosa.

- G... Gostei de você! Eu realmente queria aquela echarpe... E você me ajudou a tê-la comigo agora... - disse a menina, um tanto encabulada.

- Hehehehehehe... Eu também gostei de você... Foi super fofo da sua parte me deixar ficar com um vestido tão bonito... A propósito, o que aquela velha maluca tinha na cabeça para querer tirar a echarpe de você? - Senti vontade de iniciar uma conversa com a menina. Não sei porquê, mas eu não queria ter que me despedir dela tão cedo.

- Ah... Sabe como é liquidação em Nova York, né? Tem gente querendo a todo custo pegar para si as últimas peças, e logo que eu peguei a echarpe, não foi diferente a atitude da senhora...

- Mas você é tão legal, aposto que deixaria a senhora ter ficado com a echarpe se ela... Bem, se ela tivesse sido mais educada... - O que eu estava dizendo?

- Que nada, hehehe... Não queria de jeito nenhum que aquela cobra, ops, desculpe o termo... Senhora tivesse levado a echarpe...

- M... Mas você me deixou ficar com o vestido antes... - Agora eu é quem estava confusa.

- Erm... Você é... Diferente! Você foi um amor comigo desde o começo, e, de qualquer modo... Teria ficado mais bonita no vestido... - Após ela dizer isso, ela lançou aquele sorriso estonteante de novo. E lá estava eu corando e ficando com vergonha... Aliás com vergonha eu já estou há um bom tempo.

- Hm... Obrigada... - Não sei o motivo (uh, novidade) mas eu estava morrendo de vontade de abraçá-la naquele momento. Ela foi tão fofa que eu queria retribuí-la de alguma forma. Porém, antes que eu pudesse me mover, sinto ela entrelaçando os braços em torno de mim, e rindo em seguida.

Congelei, a princípio, mas retribuí o gesto, inclusive o risinho. Era incrível como não fazia nem uma hora que havíamos nos visto pela primeira vez e já sentia como se fôssemos amigas. Será que é normal ter esse tipo de relação com as pessoas aqui nesse país?

Ainda com nossos corpos juntos de lado, agora, caminhando lentamente, ela olha para mim.

- Será que posso saber o nome da minha mais recente defensora? - perguntou sorrindo.

- M... Me chamo Taeyeon... K..Kim Taeyeon na verdade... Não, espera, Taeyeon Kim! - Ela estava perguntando o meu nome! Ah, meu deus, ela está curiosa a meu respeito! Só isso já me deixava confusa, e ainda tinha essa história de nome e sobrenome que se invertiam no oriente e ocidente... Ah, onde eu estou mesmo?

- Kim Taeyeon... - ela pronunciou meu nome com sotaque coreano perfeito. - Você por acaso é coreana? Não diga! - perguntou, entusiasmada.

- Sim! Cheguei aqui há dois dias, então, nem liga pro meu inglês de quinta...

- Aigoo! Eu também sou coreana! - Ela disse agora em coreano, o que me espantou. - Quer dizer, meus pais são. Eu nasci aqui mesmo! E seu inglês é muito bom, a propósito, pensei que fosse daqui também!

- Não acredito, que coincidência! - Tomei a 'liberdade' de falar tudo em coreano, visto que deduzi que ela era fluente em meu idioma. - Duas coreanas se conhecendo em uma liquidação à tarde na Bloomingdales, por causa de um vestido e de uma echarpe!

- Pois é! Acho que o destino quer que sejamos amigas... TaeTae! Vou te chamar assim, okay? É um apelido fofo, que nem você! - disse ela, dando uma piscadinha para mim.

- Eu concordo com o "Destino", eu adoraria ser sua amiga... Hm, você não me disse seu nome... Garota bonita da Echarpe Rosa! - Já não estava mais com tanta vergonha dela como antes. Ela se mostrara muito legal e simpática, eu só estava me importando em ser sua amiga e tê-la perto de mim.

- Sou Tiffany Hwang, TaeTae! Na verdade meu nome é Stephanie, mas todos me chamam de Tiffany! E...E bem, acho que agora somos amigas, Garota Bonita do Vestido Rosa! - Gente, estou morrendo com a fofura dessa menina...

- Tippani... Não, Tiff... Tiffany! Que nome lindo, é tipo de "Tiffany & Co"!

- Haha, isso mesmo! "Tiffany & Co"! - disse ela, enquanto apontava sorrindo para um anel em seu dedo indicador. Deduzi que o havia comprado na loja em questão. - Mas se preferir pode me chamar pelo meu nome coreano, "Miyoung"!

- Hm... Acho que 'Fany' combina mais com você...

- Não mais do que 'TaeTae' combina com você – disse Tiffany, apertando minhas bochechas de leve. Oh não! Eu estava corada e fervendo, ela iria perceber meu estado... - Own, você tá vermelhinha, que bonitinha! - Ah, que vergooooonha!

- V... Você também! - disse eu, tentando me defender, ao mesmo tempo em que achava a situação engraçada.

- Aish, d... deve ser o calor... - disse ela, desviando o olhar para o chão.

- Sim, t... tá bem quente aqui, né? Por que a gente não... Toma um sorvete? - Okay, o que deu em mim pra chamar ela pra sair assim tão de repente eu não sei. Eu não sei porque chamei ela para tomar sorvete, não sei porque fui aparar a briga dela com a velha na loja e não sei porque eu inexplicavelmente estou me sentindo obrigada a fazer isso tudo. Não é normal ficar sem controle dos próprios atos, né? Preciso de um médico urgentemente. Será que meu Seguro Saúde é válido nesse país?

- Eu adoraria, TaeTae! Vem, eu conheço uma sorveteria ótima aqui do lado, você vai ficar encantada! - disse Tiffany, pegando carinhosamente em minha mão e me guiando conforme andava. Sua pele era tão macia!

Chegamos à sorveteria em um piscar de olhos, ou pelo menos foi o que pareceu. Era daqueles tipos de sorveteria que você se serve e depois pesa o sorvete. Deixei que Tiffany escolhesse os sabores que pegaríamos. Okay, o sorvete é individual e cada uma pega o quanto quiser e qual quiser, mas achei que seria mais legal se a gente comesse a mesma coisa... Fora que ela conhece bem a sorveteria, caso contrário não estaria me levando lá, então nada melhor do que ir de acordo com as dicas da especialista, não é mesmo?

Pegamos sorvete de pistache e de avelã, que segundo a Fany eram os mais gostosos. Apesar de não ter provado os outros, preciso concordar com ela. Nunca tomei nenhum sorvete mais gostoso em toda a minha vida. E nunca tivera nenhuma vista mais bonita enquanto tomava sorvete também. Tiffany conseguia ser extremamente adorável tomando sorvete. Até que houve um instante em que repousei a colher sobre o copinho do sorvete e voltei total minha atenção para Tiffany. Fiquei observando-a. Pela felicidade que ela exalava, parecia gostar muito de sorvete. Até que ela virou os olhos em minha direção. Tomei um susto à medida que nossos olhares se cruzaram, e me parece que ela também.

- N... Não vai tomar o sorvete, TaeTae? - perguntou ela, interrompendo minha contemplação, e me deixando completamente sem graça.

- Ah, estou tomando, Fany... T... Tá uma delícia, sabia? Você tem muito bom gosto! - disse, tentando diminuir minha demência. Pena que não deu muito certo...

- Hehehehe, obrigada! Mas parecia que você tava distraída, não sei... - disse Fany, soltando uma risadinha que me desestruturou por completo.

- Ah, não... Eu só tava aqui pensando em como você é realmente lind... Quer dizer, em como nós duas realmente temos sorte de termos nos conhecido assim desse jeito doido e estarmos tomando sorvete, você sabe... Como duas melhores amigas... - Tiffany pareceu ter entendido bem a primeira parte da minha frase mesmo eu tendo contornado-a, e não pôde deixar de ficar sem graça. Aliás, quem não ficaria? Tinha que ser eu mesma para fazer esse tipo de coisa... Argh, Kim Taeyeon, quando é que você vai aprender a ser uma pessoa decente?

- É verdade! Hahaha, gostei muito de você, TaeTae! Acho que esse é um dia de sorte para nós duas, não é mesmo? Afinal, não é todo dia que a gente faz uma amiga que é super parecida com a gente, entra em uma briga junto com ela e a leva para tomar um sorvete depois... Em todos esses anos que eu sempre morei aqui, nunca me aconteceu nada parecido. - disse Tiffany, entrelaçando nossas mãos. Já mencionei como sua mão é macia? Seu toque é a oitava maravilha do mundo. Não quero mais soltar.

- Pois é... Nunca me aconteceu nada assim também. Nunca vou esquecer de hoje, Fany! A propósito, eu não sou louca assim, tá? Okay, não sempre... Tipo, eu não costumo inventar histórias malucas para senhoras encrenqueiras ou mesmo defender pessoas que nem conheço em brigas decorrentes de liquidações de lojas... - disse eu, tentando me redimir de meus mais recentes e inexplicáveis atos, fazendo Tiffany rir.

- É... Você tem cara de ser bem certinha e fofa... Eu mesma fiquei surpresa quando te vi enfrentando a velha por... p... por minha causa...- após dizer isso ela olhou para a mesa, e eu queria sumir. - Mas me diz, que história foi aquela da amiga debilitada em estado terminal? - Agora Tiffany deu risada e fez o movimento com os olhos que me deixara encantada anteriormente.

- É mesmo... Na hora do desespero, nossa mente faz tanta loucura... A gente só vai perceber a gravidade do problema depois que cai a ficha... - disse eu, com vergonha da cena que armara há poucos minutos diante de tanta gente, porém deixando uma risadinha escapar.

- E que loucura, hein, TaeTae? Essa foi ótima, vou me lembrar dessa para sempre! “Eu se fosse você teria vergonha de roubar a echarpe de uma pobre e doente pessoa, senhora” - dizia Tiffany, imitando os gestos e as expressões que eu fizera, e fazendo nós duas cairmos na gargalhada. Eu gostava da sensação de fazer Tiffany rir. Só de ver seus lábios se curvando para um sorriso, meu corpo por inteiro se enchia de satisfação e felicidade. Ela deve ser daquele tipo de pessoa cuja alegria é contagiante, cuja simples presença é suficiente para que os outros à sua volta se sintam confortáveis e completos.

Eis que nossa conversa rendeu. Contei a ela sobre minhas amigas, sobre minha vida na Coréia e sobre minha mais nova experiência de vida em Nova York. Tiffany me contou que é redatora de uma revista de moda daqui, por isso adora ir a shoppings e lojas, principalmente quando se trata de liquidações. Mais uma coisa que temos em comum: Somos compradoras compulsivas. Precisamos sair para fazer compras juntas, precisamos sair mais! Acho que nascemos para ser amigas. O celular de Tiffany começou a vibrar ininterruptamente sobre a mesa. Ela o pegou e parecia estar escrevendo mensagens de texto.

- E sabe aquela senhora que me chamou durante nosso momento do vestido? - Foi engraçado o jeito como ela se referiu ao "momento do vestido". Mas em todo caso, acho que não haveria outro termo mais apropriado para nos referirmos àquela hora. Não pude deixar de rir, e Tiffany percebeu, ainda que estivesse no celular enquanto falávamos - O que foi, TaeTae?

- Ah, nada não, Fany... - disse eu, tentando não parecer idiota por rir de um termo. - É só que... é só que você tem covinhas bonitinhas... - Okay, o que foi mesmo que eu disse sobre a parte de “parecer idiota”?

- Aish, elas são tortinhas ... - Tiffany ficou encabulada e desviou seu olhar para o pote vazio de sorvete, ao mesmo tempo que brincava de ficar girando a colher no mesmo.

- Ahn... O que estava falando mesmo... Sobre, hm... A senhora que te chamou na loja? - Eu devia ganhar um prêmio por deixar as pessoas sem graça. Talvez devesse também lançar um manual sobre como ser o mais inconveniente possível em conversas.

- Ah, então... Ela... ela é minha chefe! E ela... ela é meio brava, sabe? Acho que ela não iria querer que eu me atrasasse para o trabalho... Acho... Acho que preciso ir, TaeTae... - Tiffany estava meio atrapalhada, pegando novamente o celular e checando-o enquanto falava. Eu admito que estava até fazendo algum esforço para entendê-la no começo da frase, mas quando ela disse as últimas palavras, pude compreender perfeitamente. As palavras soaram tão bem em meus ouvidos que não bastou um milésimo de segundo para que eu sentisse um aperto dentro de mim. Como se minha respiração tivesse sido bloqueada por um instante e depois tivesse voltado ao normal. Tiffany teria que ir embora. Teríamos de encerrar nossa conversa aqui, e eu já não via a hora de vê-la novamente.

- A.. acho que também preciso ir então... - disse, porque senti uma inexplicável necessidade de demonstrar que também era uma pessoa "ocupada" e que tinha compromissos. E, espera... Eu tenho compromisso...! Meu deus, meu emprego! Como pude me esquecer de que tenho que voltar? Acho que fiquei louca! Pirei! - Aigoo, preciso... preciso voltar para o trabalho! Esquec... - E lá estava eu expondo minha situação frágil à Tiffany. Acho que estou com algum parafuso desregulado.

- Heheh, eu também... Minha chefe tá me mandando uma mensagem atrás da outra aqui... - Espera, Tiffany também esqueceu que tem emprego? Ai, que alívio! Acho que não sou a única louca aqui. Ao ouví-la dizer isso, senti minha simpatia por ela aumentar ainda mais. Como se já não fosse grande o bastante... Bem, para me fazer esquecer do meu emprego. - Enfim... Adorei te conhecer, TaeTae! Com certeza seremos grandes amigas daqui para frente.

Após dizer isso, Tiffany nem me deu tempo para sair de meu costumeiro transe em admirá-la e pensar numa resposta, e já puxou nossos corpos para um breve abraço. Consegui sentir o aroma delicioso de seus cabelos. Não que não houvesse sentido antes, afinal já estávamos em companhia há algumas horas, mas acho que como era hora da despedida, tudo ficava mais intenso. Infelizmente tivemos de nos desvencilhar.

- Também amei te conhecer, Fany! Você é simplesmente demais! E... Desculpa...

- Por que está se desculpando, sua fofa? - disse Fany rindo, enquanto abria a porta da sorveteria para sairmos.

- Por tudo que fiz você... Bem, nós passarmos hoje! Incluindo deixar sua chefe brava duas vezes, uma na loja e outra agora, eu...

- Aish, que nada! Eu também tive culpa... Ou melhor, eu que causei tudo! Sorte que você estava comigo, assim tudo ficou engraçado... - falou ela enquanto passava carinhosamente a mão por meu cabelo.

- É... Acho que quando estamos juntas as coisas ficam mais engraçadas... - É incrível como por mais que eu não quisesse e tentasse evitar falar o que realmente pensava e sentia para Tiffany, eu fazia exatamente o contrário.

- S... Sim! Bem TaeTae, acho que agora é hora de nos despedirmos efetivamente, hehehe! - Estávamos em uma esquina e cada uma viraria para um lado. Ao ouví-la falar isso, senti um aperto dentro de mim.

- Tchau, Fany! Espero que nos encontremos de novo!

- Tchau, TaeTae! Com certeza! Amei de conhecer! - Acenamos uma para a outra e ela se virou. Eis que o farol da rua ficou verde e eu me pus a atravessar correndo, exasperada.

Ao chegar do outro lado da rua, olhei para trás e acompanhei com os olhos Tiffany seguindo seu caminho. Como eu queria que ela viesse comigo... Ela... Ela não pode ir embora assim! Eu preciso encontrar ela de novo... Mas com certeza iremos nos encontrar! Afinal, ela também trabalha na Quinta Avenida e... Taeyeon, sua imbecil! Como vai entrar em contato com ela de novo? Nova York é enorme, assim como a própria Quinta Avenida! Como pude me esquecer de pedir o número de celular dela? Definitivamente, hoje estou no mundo da lua, estou fora de mim.

Sem hesitar, atravessei a rua novamente para ir atrás de Tiffany. Mas sem hesitar mesmo, nem mesmo para ter a ética de olhar o farol e perceber que ele estava vermelho para pedestres. Por um milagre dos anjos, consegui desviar de um ônibus enorme que quase me atropelou, e também consegui despertar o maior soneto de buzinas que já presenciei em toda a minha vida. Buzinas acompanhadas de xingamentos e freadas repentinas. É, sou uma moça de parar o trânsito.

Ainda conseguia ver Tiffany, mesmo que um tanto de longe. Não importava como, eu tinha de alcançá-la.

Quando estava a uns cinco metros de distância dela, por sorte ou intervenção dos deuses, ela resolveu parar em frente a uma loja. Viu? Ser compradora compulsiva tem lá seus lados positivos. Alcancei a tão linda, distraída e mais recente amiga minha, e, ainda que não houvesse muito jeito, tentei agir como se não estivesse extremamente cansada e constrangida após sair correndo disparadamente em plena Quinta Avenida atrás de uma moça que conhecera recentemente. Nem precisou que eu a chamasse, o barulho dos meus passos denunciou minha presença e assim que nossos olhos se encontraram, Tiffany estava com uma expressão de total surpresa... Ou seria perplexidade?

Okay, ela vai me achar louca, vai achar que eu sou uma perseguidora maníaca e que estou obcecada por ela. Não vamos esquecer de que sou perito em causar má impressão.

- T.. TaeTae? - ainda que ela estivesse sorrindo, o ar de surpresa permanecia em sua expressão. Meu deus, o que a Tiffany deve pensar de mim? Eu devo ter pago uns quinhentos micos desde o momento em que trocamos nossas primeiras palavras. E parecia que quanto mais a gente se falava, meu comportamento ia de mau a pior. Alguém por favor me esconde?

- Fany eu... - Não tente parecer uma idiota. Não fale nenhuma besteira... Não faça besteira... Ah, ela tá me encarando! Seus olhos lindos estão fixos e... Taeyeon! - Eu... Quando você saiu, eu percebi que... Sabe, eu... Nós não trocamos o celular... - Eu definitivamente não poderia achar um jeito mais natural e singelo de pedir o número de celular dela, não é mesmo?

- Aaaah, não é? Nossa conversa tava tão boa que eu esqueci de te pedir... Afinal, precisamos nos ver mais vezes, né TaeTae? - após falar isso, ela deu uma piscadinha com o olho direito que quase me levou ao chão. Que gracinha! Eu não conseguiria ficar longe dela por muito tempo. Não mesmo.

Trocamos nossos celulares e eu nomeei meu contato como “TaeTae” no celular dela. Tomei cuidado com todos os detalhes, até o prefixo coreano, já que eu ainda estava utilizando a operadora coreana e não tinha planos de mudança. E também, todo o cuidado é pouco, porque eu não queria errar algo e correr o risco de não conseguir mais falar com ela.

- Pronto, agora não temos como perder contato... Eu acho... Hehehehe – disse eu, enquanto entregava o celular de Tiffany a ela e pegava o meu de volta. É incrível como ela é fofa e especial até nos mínimos detalhes. Tiffany tinha um iPhone com uma capinha rosa e cheio de adornos bonitinhos de enfeite.

Depois que trocamos os celulares, notei que Tiffany me encarava meio sem graça. Se ela estava com aquela expressão, eu não queria nem ver a minha. Eu devia estar vermelha e horrível, pois já sentia o fervor nas minhas bochechas. Também, depois de tudo que eu fiz, convenhamos que a Tiffany tem motivos, e de sobra, para ficar sem graça perto de mim.

- Obrigada, TaeTae... - disse Tiffany, quebrando o repentino silêncio que havia se instaurado entre nós. - Obrigada por valorizar minha companhia, isso me deixa muito feliz, de verdade. - Sorri automaticamente ouvindo essas palavras. Não só o sorriso, como a alegria dela me faziam bem. Um bem que eu não conseguia explicar.

- Aigoo, o que é isso, Fany... Eu nunca te deixaria escapar, você sabe... - O QUE FOI EU ACABEI DE DIZER? Ai minha nossa senhora da vergonha própria, tenha piedade de mim e do que sai da minha boca. - E... Bem... Acho melhor eu ir agora... - Minha intenção não era deixá-la constrangida, jamais. É só que, parece que perto dela, e ainda mais quando ela me encara, minha habilidade com palavras some e eu embaralho tudo o que quero dizer, fazendo uma confusão tremenda. Chega de pagar mico por hoje. Tiffany já deve estar me achando estranha demais. O melhor que consegui pensar em fazer foi sair, embora a ideia de me despedir dela fosse desanimadora demais.

- Hahahahaha, TaeTae sua fofa! Toda atrapalhada, own! - disse ela apertando de leve minha bochecha e elevando meu percentual de vergonha para acima do suportado pelo meu corpo. Sem contar que ela percebeu minha vergonha! Como ela pode fazer isso comigo? - Pois é... A gente se vê, não esquece de mim hein? - Agora Tiffany dera um beijo em minha bochecha que eu nem tive tempo de retribuir e voltou a andar. Nos viramos concomitantemente uma em direção à outra, trocamos breves acenos e eu, misteriosamente, precisava pensar em como voltaria para o trabalho.

No entanto, Tiffany não saía da minha cabeça, me impedindo de raciocinar sobre todo e qualquer assunto importante que não envolvesse ela. E até pouco tempo atrás, antes de me dar a louca e sair correndo atrás de Tiffany para pegar o número dela, eu sabia perfeitamente para onde ir, só que agora todas as coordenadas geográficas como também toda a lógica que parecia existir em meu cérebro evaporaram. Tudo bem, aqui tá cheio de pedestres, muita gente com cara de nova-iorquina inclusive. Não faltava gente para pedir informação. Parei uma moça elegante com cara de simpática andando pela calçada, porém com um índice de pressa menos perceptível que as demais pessoas, e perguntei a ela como se chegava ao prédio da M.A.C.

Tentei não dispersar durante a explicação da moça e, por mais incrível que pareça, me localizei. Só eu mesma para me esquecer de uma coisa tão simples. Agradeci à moça e segui rumo à M.A.C. À essa altura já não estava mais perdida e meus pensamentos se desviaram para Tiffany. Ela me deu um beijinho na bochecha quando nos despedimos! Que gracinha! E a gente se conhece há menos de um dia, já estamos tão próximas... Recapitulei tudo de inusitado que acontecera entre nós duas hoje e pensei “É que nem algumas histórias de filmes, livros... Logo ao olhar uma pessoa é como se algo te dissesse que vocês estão destinadas uma à outra. É como se o mundo conspirasse para que vocês se encontrassem...” Eu confesso que nunca acreditei nessas coisas de karma ou destino, mas com Tiffany foi diferente. Logo que eu a vi pela primeira vez, me senti estranha. Senti como se já a conhecesse de algum lugar. A naturalidade com a qual nos comunicamos, nossas afinidades... Pareciam ter sido tecidas à mão de tão perfeitas. Eu iria querer vê-la de novo com certeza. Peguei meu celular e procurei por seu contato. Ela havia escrito “Fany~ <3” ! Hahaha, que bonitinha. Era realmente a amiga mais fofa de todas. Resisti à tentação de mandar uma mensagem para ela por vergonha, guardei o celular de volta na bolsa e entrei no prédio da M.A.C.