Deitado em um banco, Kangin respirava fundo, com seus olhos fechados enquanto aproveitava o sol daquele inverno frio. Havia um bom tempo que ele não aproveitava aquela luz com tanta calma. Logo sua paz foi perturbada, pois sentiu alguém o cutucar e abriu os olhos para ver o rapaz de pé ao seu lado.

-O que você quer agora? – Perguntou sem paciência.

-Nada, só estou entediado – respondeu, Kangin se sentou dando espaço ao outro – não acredito que estou aqui há dois anos... Não posso deixar de pensar que estou preso por sua causa.

-A culpa não foi minha se você escolheu trabalhar com esse tipo de coisa Leeteuk, só não tivemos sorte - deu de ombros.

-Sorte? Minha falta de sorte é culpa sua! Meu azar foi ter acreditado em você naquele dia – resmungou alisando o macacão de presidiário – sinto que a qualquer momento o mestre vai mandar alguém para acabar com minha vida e com a sua também.

-Ele não é mais tão poderoso Leeteuk... - Kangin odiava passar todos os dias com Leeteuk enchendo o saco com o mesmo assunto - E sinceramente, não seria tão ruim se ele explodisse essa cadeia... Já pensou passar o resto da vida aqui enjaulado como um animal? Você não acha que morrer não seria uma opção tão ruim no fim das contas?

-Diga por você! Eu quero ficar vivo, não importa como.

-O horário acabou, voltem para suas celas!

Gritou um dos guardas, Kangin levantou e seus braços foram algemados novamente, o deixaram na cela, tiraram às algemas, Kangin olhou em volta e estressado deitou na cama dura. Estava fadado a passar o resto de sua vida ali, em seu último julgamento Kangin já quase  havia implorado para que terminassem logo com aquilo e lhe dessem pena de morte, se fosse para ganhar prisão perpetua ele preferia morrer, não aguentava mais aquilo, mas parece que eles acharam ser uma boa ideia o fazer sofrer e lá estava ele, vivendo uma vida de merda. Sem tirar o fato de que, estranhamente ele se sentia assombrado, sua mente estava inquieta, e parecia não haver saídas, se sentia estranho, seu coração estava apertado e ele sentia medo às vezes quando se lembrava do passado, seria isso culpa? Ele não tinha certeza, talvez só estivesse cansado daquela rotina monótona e da comida sem gosto e de aparência estranha, ou dos outros criminosos que viviam ali e que o irritavam o dia todo, sentindo dessa maneira, Kangin quase chegava a pensar que talvez ele estivesse enlouquecendo.

Yuri estava voltando pra Seul, apesar de apenas para uma visita rápida ela estava contente e tinha um bom pressentimento sobre isso, seu noivo agora parava na frente do shopping para que Yuri saísse.

-Vou resolver esses problemas da empresa e volto em umas duas horas, acho que é tempo suficiente para você fazer suas compras – ele sorriu.

-Ok – Assentiu– te vejo daqui a pouco então - se despediram com um beijo curto.

Yuri olhou para o carro até o mesmo desaparecer, a loja do outro lado da rua chamou sua atenção, pois a figura de costas que atravessa a porta lhe pareceu familiar, ignorou e andou até a entrada do shopping, passava pelas lojas com preguiça, olhando os sapatos, joias e roupas, não estava lá muito interessada naquilo. Avistou uma sorveteria e essa lhe parecia muito comum, andou até a mesma, a jovem atendente a olhou com um sorriso.

-Faz um bom tempo que não te vejo – ela disse sorrindo – posso ajudar?

-Você me conhece? – O sorriso dela se desmanchou e se transformou em uma feição confusa.

-Sim, você costumava vir aqui com as suas amigas, agora elas aparecem por aqui de vez em quando sozinhas – ela respondeu preocupada – você está bem?

-Ah... Eu perdi a memória, encontrar alguém que me conhece é esperançoso. - Disse simplesmente.

-Eu sinto muito, quem sabe eu possa te ajudar - voltou a sorrir - uma das suas amigas acabou de sair daqui, você pode tentar encontra-la - Yuri ia pedir para que a mulher fosse com ela mas foi impedida antes de abrir a boca - sinto muito, não posso sair daqui para te ajudar, mas ela saiu não faz muito tempo e pelo que eu saiba ela abriu uma loja do outro lado da rua, a loja de parede branca... Como é o nome – ela tentava se lembrar.

-Muito obrigada, eu sei de que loja está falando – agradeceu se curvando e correu para a saída, esperou o sinal se fechar e atravessou correndo, respirou fundo e abriu a porta de vidro.

-Posso ajuda-la? – Perguntou uma garota.

-Eu procuro pela dona da loja, ela está? – Olhou em volta, havia roupas de muitas marcas, mas a loja parecia ser única, havia duas designers próprias, Jessica Jung e Tiffany Hwang, esses nomes causaram tremores e uma agulhada na cabeça, mas ainda não conseguia se lembrar de muita coisa.

-Claro, sente-se – apontou para uma poltrona no canto – só me diga seu nome, por favor.

-Diga que é Kwon Yuri – as mãos estavam suando frio e as pernas pareciam gelatinas, sorte que já estava sentada, ou seria provável que ela caísse.

A atendente sumiu de seu campo de visão e bateu a porta, Jessica pediu que entrasse.

-Diga Victoria – Tiffany dizia se saboreando com seu sorvete, enquanto o de Jessica derretia, já que ela estava ocupada demais fazendo seus esboços.

-Tem uma garota ai fora querendo ver a dona – informou – ela disse que se chama Kwon Yuri – Tiffany deixou seu sorvete cair e Jessica levantou os olhos surpresa.

-Co-como? Kwon Yuri? Tem certeza? – Tiffany sentia as lágrimas se aproximando.

-Sim – Victoria sentia que já havia visto aquela garota antes em algum lugar, seus olhos pararam na foto pendurada na parede das nove garotas e lá estava ela – É aquela garota da foto – disse apontando – posso deixa-la entrar?

-Por favor! – Jessica sorriu, a garota saiu da sala e foi chama-la.

-Me acompanhe, por favor – pediu sorrindo.

Yuri PDV

Segui até um pequeno corredor, a garota gentilmente abriu a porta e quase travei onde estava, porém respirei fundo e consegui colocar minhas pernas novamente para funcionar, dentro da sala duas garotas esperavam em pé, eram quase do mesmo tamanho, elas não pareciam acreditar no que estavam vendo, e logo senti braços me envolverem em um abraço sem jeito, desesperado, caloroso e aconchegante, era a garota que eu havia visto de costas há pouco tempo atrás, tenho certeza. A outra garota me abraçou com mais calma, e sorriu quando se afastou.

-Meu Deus Yuri eu senti sua falta – ela quase surtou quando me abraçou novamente, me segurou e começou a me analisar de cima abaixo, eu as olhava um pouco sem graça, elas realmente me conheciam e eu nem sequer lembrava quem elas eram – você recuperou a memória? O que faz aqui?

-Não, a mulher da sorveteria disse que minha amiga era dona daqui, então eu vim ver se me lembrava – respondi, ela pareceu um pouco decepcionada, mas logo voltou a sorrir, um lindo sorriso, seus olhos formaram duas linhas, aquilo me deu vontade de abraça-la novamente.

A garota estava elétrica, sorrindo, pulando e andando de um lado para o outro, fazendo milhões de perguntas, a outra apenas ria e me olhava com curiosidade.

-Tiffany deixa ela respirar um pouco – agarrou a mão da outra e ela ficou um pouco quieta.

-Tiffany Hwang e Jessica Jung – sussurrei para mim mesma tentando achar algo na minha cabeça.

-Omo! Ela se lembrou dos nossos nomes – ela voltou a dar pulinhos.

-Ah não... Estava escrito lá fora – tentei explicar e ela mostrou um olhar triste – desculpa.

-Não se preocupe Yuri, podemos te ajudar a lembrar, o que acha? – Jessica propôs e eu apenas assenti, me sentei no sofá do canto, elas pegaram suas cadeiras e sentaram de frente para mim.

Depois de muito tempo conversando eu ainda não podia me lembrar de muita coisa, apenas fragmentações, mas não era nada completo e ainda parecia não se encaixar em lugar algum, minha cabeça doía a cada nova lembrança que elas jogavam para mim, porém eu já me sentia muito a vontade com elas e tinha algo me dizia que hoje seria um dia especial, aqueles garotas pareciam ter tanta saudade de mim, elas diziam isso o tempo todo e me abraçavam o tempo todo também, principalmente Tiffany, ambas eram super divertidas, não posso deixar de pensar que elas são um casal muito fofo e perfeito, eu apenas as observava com um sorriso calmo nos lábios, estava amando aquele momento, queria ficar ali por mais muito tempo, até conseguir me lembrar do último pedacinho de lembrança. Meu celular começou a tocar e Tiffany o pegou na minha bolsa e me entregou.

-Oi? Eu encontrei umas amigas, pode ir para o hotel, depois vou pra lá... Que?! Dá um tempo InGuk, as peças finalmente podem se encaixar, não vou jogar essa oportunidade só por causa dos meus pais – as duas a encaravam – não vou falar onde estou e também não vou voltar agora, nos falamos depois oppa – desliguei e coloquei o celular no colo, que logo voltou a tocar, dessa vez eu desliguei o celular, nada mais para incomodar.

-Quem é InGuk? – Perguntou Tiffany curiosa, Jessica bebia um gole de café, mas também estava curiosa e a encarava pelos cantos dos olhos.

-Meu noivo – Jessica cuspiu o café e começou a tossir, Tiffany abriu a boca em um “O” perfeito – o que aconteceu?

-Como assim noivo? – Elas pareciam chocadas – meu Deus, Sica precisamos fazer ela se lembrar o mais rápido possível - Tiffany parecia sentir como se nada fizesse sentido - Yuri, você tem namorada! Como pode ter um noivo?

-A garota do hospital? Bem, eu não consigo me lembrar dela e meus pais me apresentaram ao InGuk, foi um noivado arranjado, mas eu aprendi a gostar dele - me defendi dos ataques que ela fazia, seus olhos estavam arregalados e agora eu sentia minha morte próxima.

-Oh My God! 

-Até agora não falamos de todas nós, olhe para a foto na parede – Jessica começou a falar rápido e apontou para o outro lado, ainda não tinha visto, eu estava lá, sorrindo como todas as outras oito, parecíamos felizes, observando cada detalhe de cada rosto, minha cabeça começou a latejar e eu me encolhi com os olhos fechado e massageando a mesma.

-Você está bem? – Jessica colocou a mão no meu ombro.

-Minha cabeça dói quando começo a recordar algo, apesar de nunca ter doido tanto como hoje – respondi tentando me recuperar, porém a dor não passava de jeito algum.

-Então espero que sua cabeça exploda de tanta dor hoje... – Tiffany cruzou os braços.

-Fany! – repreendeu a outra.

-O que? Vou fazer ela se lembrar de tudo hoje ou não me chamo Stephanie Hwang!