Estava certa. O sol já se punha e a noite predominava no céu. O relógio marcava pouco mais de 8h e agora estava chovendo como eu previa, depois de ver aquelas nuvens escuras hoje de tarde. O vento frio soprava, fazendo os galhos secos da árvore perto da minha janela baterem contra o vidro e produzindo um barulho que, particularmente, me irritava, já que eu pretendia estar focada na minha leitura e não nos sons irritantes produzidos por certos fatores da natureza.

Levantei meu olhar e vi que, além do galho estar batendo constantemente em minha janela, a mesma estava aberta, fazendo, assim, pequenos respingos de chuva entrarem no meu quarto.

Estiquei as mangas do meu grande moletom e do que sobrava da minha calça, tentando  proteger minhas mãos e pés do frio. Depois de um tempo pensando no que fazer sobre a janela, tomei coragem e levantei da cama para ir fechá-la, pois apenas o fato dela estar aberta já estava me incomodando. Antes de fechá-la por completo, ouvi um barulho que parecia vir do lado de fora. Na verdade, parecia mais com um murmúrio ou um grunhido estranho.

Por curiosidade, coloquei minha cabeça para fora da janela em meio a chuva. Ao olhar para baixo, vi uma sombra em um cantinho escuro embaixo da árvore. Na verdade, se assemelhava mais a uma pessoa. Cerrei meus olhos para tentar ver a figura oculta e percebi que embaixo da árvore havia uma garota. Não uma garota qualquer, mas sim ela, a garota insana que me perseguia. Ela estava amuada, totalmente encolhida, enquanto suas mãos envolviam suas pernas, como uma bolinha humana.

– Essa garota só pode ser louca! - esbravejei ao fechar a janela com força.

Dei meia volta e me joguei na cama, me deleitando com sua maciez, enquanto me concentrava mais uma vez no livro que estava lendo. Mas por incrível que pareça, por mais impertinente que aquela garota possa ser, eu ainda pensava em como ela estava se sentindo do lado de fora, no meu quintal. Na chuva, no frio, com fome, com sono, porém me esperando, como um pequeno cachorro obediente. Isso estava começando a me consumir e a me fazer sentir como se eu fosse a pior pessoa do mundo por saber disso e, ainda assim, não fazer nada.

Com um enorme peso na consciência, sai do quarto e desci as escadas em direção à porta de entrada. Peguei um guarda-chuva e, então, tomei coragem para sair em meio à chuva e o frio da noite. Dei a volta ao redor da casa e como eu tinha visto antes, ela estava lá, encolhida, batendo os queixos e pálida como a neve. O remorso tomou conta de mim por ter feito o que fiz. Aquilo era de cortar o coração. Eu tinha que levá-la para casa antes que ela morresse de frio ali.

Tentei lembrar o nome dela. Qual ela tinha dito que era mesmo?

– Taeyeon? - disse, sem saber exatamente como me aproximar.

A menina rapidamente levantou a cabeça e olhou para o vazio.

– Taeyeon! - falei mais alto dessa vez.

Taeyeon me encarou, ainda meio encolhida e com receio, porém ela olhava para mim. A garota não se mexia, só me observava. Acho que ela esperava que eu fizesse algum movimento.

– Vem cá Taeyeon. - senti como se estivesse chamando um pequeno cachorro.

Ela ainda me olhava desconfiada, acanhada.

– TaeTae, vamos! - apoiei o guarda-chuva entre o ombro e a cabeça e usei as duas mãos livres para bater na minha perna, assim como se faz quando se chama um cachorro.

– Vem, TaeTae! Vamos pra dentro!

Taeyeon finalmente se levantou e veio ao meu encontro. Ela andou até que parasse com o corpo meio emborcado na minha frente.

Vendo que ela estava meio perdida no que fazer, envolvi seu corpo molhado com meu braço e a guiei até a porta. Entrei em casa e tranquei a porta atrás de mim. Girei meus calcanhares e a vi tremendo de frio no meio da sala. Ela estava encolhida e olhava para o chão, parecendo impotente. Só de olhar aquele rosto infantil, era de partir o coração.

– Taeyeon, você deve se secar. Você vai ficar doente se continuar molhada assim. - disse, enquanto me aproximava dela.

Ela rapidamente olhou para mim e começou a se balançar como um cachorro que sai do banho, molhando a sala toda em um piscar de olhos.

– Taeyeon, para! Agora!

Ela imediatamente parou e deu alguns passos para trás, se amuando um pouco.

– Vem cá. - ergui minha mão para pegar na dela. – Você precisa de um banho quente.

Segui a guiando pela casa até o banheiro. Peguei uma toalha extra na gaveta, uma esponja e um sabonete e dei para ela. Nunca se sabe por onde essa coisa passou para poder usar a mesmas coisas que eu.

– Você sabe usar isso? - indaguei.

Ela olhou para mim, para os objetivos em suas mãos, para mim de novo e, então, balançou a cabeça vagamente.

– Realmente? - eu tinha minhas duvidas.

Ela balançou mais uma vez. Dessa vez, com vontade e confiança. Era fofo.

– Ok. Tome seu banho, que eu já venho com suas roupas. Não molhe o banheiro todo, ok?!

Ela fez que sim com a cabeça. Mais tranqüila, fechei a porta do banheiro e, primeiramente, fui limpar a sala molhada para, depois disso, ir ao meu quarto procurar em minhas gavetas algo que Taeyeon pudesse usar.

– Você está melhor?

Passei minha mão em sua testa checando sua temperatura. Parecia normal, mas me acalmei apenas quando ela se aninhou na roupa e acenou de leve com a cabeça. Taeyeon estava bem, até que começou a agir estranho. Ela colocou o rosto entre a gola do moletom que eu tinha emprestado. Não satisfeita, ela começou a cheirar as mangas. Ela aspirava e sentia o odor de olhos fechados. Isso era bom? Pra começar, isso ao menos era normal?

– Tae... erh... Algum problema? - perguntei, tentando entender o que ela estava fazendo.

– Seu cheiro. Ele é bom. - ela respondeu sem pensar duas vezes.

Senti meu rosto esquentar após sua fala. Céus! Quem fala esse tipo de coisa?! E o pior, como uma pessoa normal responde a isso?!

Por alguns minutos deixei que o clima ficasse silencioso, enquanto a via cheirando meu perfume deixado naquela blusa. De modo repentino, ela parou de cheirá-la e olhou para mim fixamente. Eu não conseguia ler o que seus olhos diziam, mas eles eram de uma certa forma interessante e misteriosos. Com sua pupila dilatada e seu olhar tenso, ela não perdia o foco. Vagarosamente, ela foi se movendo em minha direção, passo a passo ela traçava seu caminho para perto de mim. Minha mente ficara em branco nesses curtos segundos. Agi extintivamente, dando dois passos para trás, enquanto ela dava um para frente, me deixando sem saída, prensada entre a parede e ela.

Lentamente seu rosto foi seu aproximando rente ao meu pescoço. Pude sentir sua respiração quente perceber minha pele, sentia que ela inalava meu cheiro como uma coisa de fato deliciosa. Estremeci ao sentir sua mão percorrer minha nuca, entrelaçando seus dedos em cada fio de cabelo que ela conseguia pegar e puxá-los com cuidado, fazendo minha cabeça erguer, dando a ela a total exposição da minha pele, desde a mandíbula, pescoço até a clavícula. Eu me sentia impotente, domada, dominada completamente por aquela garota que eu deixara entrar na minha casa. Apesar de sentir a tensão ual e pronta para o próximo avanço, ela não fez nada. Ela não me tocou mais do que isso. Ela simplesmente se afastou com um evidente sorriso no rosto.

– O-o-o que você pensa que está fazendo? - disse em um misto de medo e frustração.

– Só estou tendo certeza de gravar seu cheiro. Eu quase te perdi da última vez que saiu correndo. Agora eu sempre vou achar você. - Taeyeon respondeu com um sorriso ainda mais genuíno ao se afastar de vez.

Essa garota! Como ela pode agir assim?! Ergui minha mão em punho fechado e me certifiquei que tivesse aderência o suficiente quando acertei sua cabeça em um único golpe. Rapidamente ela grunhiu e se encolheu, passando a mão na área atingida e fazendo uma expressão de dor.

– Por que isso? - choramingou.

– Não se faz isso com as pessoas! Não se cheira ninguém e muito menos no pescoço! - retruquei um pouco alterada.

– Por quê?

Minha face se ruborizou completamente com suas perguntas desnecessárias. Se ela soubesse o que isso provocou em mim, ela não estaria perguntando nada disso agora. Aish! Essa criança!

– Porque humanos não fazem isso, e porque você tem que me obedecer! - esbravejei em plena fúria.

De forma estranha, ela me encarou novamente. Não de uma forma fofa ou misteriosa, mas sim com um outro novo olhar que tinha descoberto nela agora. Em um piscar de olhos Taeyeon se reaproximou, me encurralado na parede de forma agressiva. Ela parecia de algum jeito maior, agora ela estava se impondo a mim como um cachorro rebelde, produzindo um barulho semelhante a um rosnado e com seus dentes à mostra. Rapidamente reagi dando outro golpe em sua cabeça, fazendo-a cambalear e grunhir mais uma vez enquanto dava seus passos tortos para trás. Ela conseguiu se equilibrar um pouco e voltou a se impor.

– Você não pode fazer isso com o macho alfa! - ela rugiu para mim.

– Você não é macho e muito menos alfa, delta ou ômega. A senhorita está na minha casa e quem manda aqui sou eu. Você apenas obedece. Eu sou a alfa aqui, entendeu? -  falei cada palavra olhando fixamente para ela e apontando o dedo em sua cara.

– Não é não! Eu sou mais forte! Então sou que sou! - Taeyeon ergueu seu corpo novamente. Inflando o peito e parecendo superior. Tentando pelo menos.

– Isso é regra de você e do seu mato. Aqui eu que mando! - joguei na cara dela.

– Por quê? - indagou, dando um passo à frente.

– Ou é dessa forma ou eu não me reproduzo com você. - eu sei que isso foi um pouco apelativo, mas foi a única coisa que me veio à cabeça.

Taeyeon arregalou os olhos e voltou a agir normal.

– Sim, alfa!

– Você está grunhido? Achou ruim? - perguntei girando a cabeça na direção dela e me certificando de lançar um olhar ameaçador. 

De imediato ela arregalou os olhos enquanto balançava a cabeça freneticamente em negação. Ela parou ao meu lado fazendo uma feição triste enquanto apontava para a barriga com uma mão e com a outra ela apertava a mesma com força.

– Ah! Comida, certo? - suspirei. – Como me esqueci disso?!

Continuei andando pela casa, me direcionando para a cozinha. Não me preocupava com aquela garota, pois ela me seguia pela casa como uma perfeita sombra.

Cheguei perto da cadeira e bati minha mão sobre o assento, dizendo-a em forma de gesto para se sentar. Taeyeon compreendeu e se sentou onde eu havia indicado e continuou a me observar. Eu passava pelas gavetas e armários da cozinha à procura de algo comestível. Fiz um sanduíche básico e preparei alguns petiscos para ela. Coloquei sobre a mesa, na frente dela, os pratos com alimentos e me virei para pegar um garfo para que ela pudesse comer os petiscos. Quando dei a volta completando 180º graus, vi uma cena digna de filme de terror. Taeyeon devorava o que tinha nos pratos como se não houvesse amanhã. Ela nem ao menos mastigava e já enfiava outro alimento na boca.

Ela não comera o sanduíche em si. Ela pegou com a mão por partes e quando a mão dela se enchia o suficiente ela colocava goela a baixo. Essa garota não se importava com molho e muito menos em se sujar. Ela passava a língua, limpando os restos de comida que grudavam ao redor de seu rosto. Não deu nem dois minutos, estava tudo acabado e o prato estava limpo, já que ela o lambeu todo.

Ela passou a língua ao redor da boca tirando os farelos de comida que havia por lá. Em seguida, me entregou o prato, pedindo mais.

– Não tem segunda rodada pra você, Taeyeon.

Aquela frase foi como se eu tivesse acabado de jogar uma pedra na cara dela. Como se fosse um insulto ou comparado a um chute na barriga de um cachorro real. Taeyeon mordeu seu lábio inferior, franziu o cenho e me olhou com aquele olhar de suplica que afeta até a sua alma.

Meio relutante me levantei da cadeira e fui preparar mais um sanduíche. Coloquei os alimentos devidamente um sobre o outro e finalizei com o pão novamente. Levei o prato para a mesa, mas dessa vez coloquei em frente dela com cautela. Quando a vi querendo avançar no prato bati minha mão na mesa, fazendo um barulho tão forte que ela parou o que estava fazendo para olhar para mim.

– Coma direito.

Taeyeon parecia não entender, ao inclinar sua cabeça levemente para o lado. Ela também não se importou muito com o que eu disse e voltou a encher a mão. Mais uma vez bati, só que na mão dela, fazendo ela soltar a comida e me lançar um olhar de ódio.

– Toda a comida do mundo vai acabar por um acaso?! Coma devagar!

A garota encarou a comida e depois me encarou de forma interrogativa.

– Faça assim. - disse, enquanto pegava o guardanapo que ela nem ao menos tinha tocado até agora e usei para segurar o sanduíche. O ergui até a boca dela, oferecendo aquilo para comer.

– Dê uma pequena mordida.

Vagarosamente ela se aproximou do sanduíche e deu uma pequena mordida, proporcional ao que ela achava pequeno, e mastigou com cautela. Sempre me encarando para ver se eu não iria repreende-la. Para minha surpresa, ela o fez devidamente e eu não tive que ser rude com ela de novo.

Se eu tratá-la como cachorro, eles também exigem recompensas, mas não posso recompensá-la por comer corretamente com mais comida. Pense Tiffany, pense em como parabenizá-la... – Ah! - me expressei, sem querer, em voz alta ao ter uma idéia.

Ergui minha mão e toquei na cabeça dela. Passando de leve meus dedos sobre seu cabelo, afagando gentilmente. Como Taeyeon reagiu a isso? Inicialmente ela ficou assustada, mas depois ela sorriu. Sorriu de modo bobo, mostrando todos os seus dentes e deixando que eu visse pela primeira vez uma única covinha abaixo de sua boca que eu não tinha reparado antes.

Fofa.

Cuspi a espuma produzida pela pasta de dente que acumulava em minha boca e coloquei mais água na boca para repetir o processo de enxágüe. Finalizada minha higiene bucal, abri a porta do banheiro e sai direto do meu quarto. Vi sobre minha cama uma pessoa deitada como uma bolinha, pronta para dormir, mas é óbvio que eu não poderia deixá-la lá. É a minha cama afinal, e ela é uma estranha.

– Taeyeon, desça já daí.

Ela não pestanejou e desceu da cama assim como ordenei, mas agora ela não tinha lugar para dormir. Ela não podia ir para o sofá ou qualquer outro cômodo do andar debaixo, pois meu pai chegaria de manhã e não daria tempo de escondê-la. Mesmo assim, não há a mínima possibilidade dela dormir comigo na minha cama. Ainda desconfio que ela tenha pulgas e carrapatos. A solução foi pegar alguns edredons e fazer uma caminha no chão para ela.

Ao terminar de montar a nova cama de Taeyeon, ela a olhou com desconfiança. Primeiramente para cama e depois para mim.

– Quero dormir com você.

– Não! - gritei de imediato. – Não depois daquele quase chupão! Sua tarada!

– Depois do quê?

– Vai dormir agora ou sem reprodução pra você.

Imediatamente ela pulou no chão, se aninhou e fechou os olhos em plena paz. Com isso, finalmente coloquei meu corpo sobre a cama e repousei minha cabeça sobre o travesseiro. Enfim teria meu tempo de paz e sossego. Ou eu achava que teria, até ouvir alguém grunhindo por atenção.

Levantei a minha cabeça e olhei para a outra ponta extrema da cama. E lá estava ela, só com a cabeça aparecendo, apoiando seu queixo no colchão.

– O que foi, Taeyeon?

De forma repentina, suas bochechas ficaram rosadas e em seu rosto brotou um curto sorriso travesso.

– Nada. Só espero que nossos filhotes tenham os seus lindos olhos.

E assim a cabeça dela desapareceu no meio do escuro.

N/A.: Aqui estou com a atualização dupla. Espero que tenham gostado e vejam essas 2 fics também. 

Meu Adorável K-idol (minha fic u_u)

Can't buy love, but a ... (amiga q pediu divulgação)

Inté!