– Bem Tae, meu pai tirou sua cama daqui e seria estranho coloca-la de novo. Ele pode desconfiar... - parei e pensei um pouco. Coloquei a mão no meu queixo e por um segundo olhei para minha cama. – Não eu não sou doida de dormir com ela. - murmurei.

Olhei pra Taeyeon de relance e ela estava ali no canto dela, catando as sementes que tinha colocado no chão e as guardando no bolso de novo.

Taeyeon não é uma má pessoa. Me da pena vê-la não entender muita coisa e recentemente começo a ficar triste comigo mesma quando me nego as vontades dela ou a faço ficar triste. Enquanto eu tinha meus leves devaneios sobre minha relação com Taeyeon senti um leve puxão na bainha do meu pijama.

– Durmo no chão. Não tem problema. - ela disse normalmente.

Ela nem esperou minha resposta. Foi engatinhando para o canto aonde ficava o antigo amontoado de edredom que era cama, deu uma volta em torno do local e deitou como um pequeno filhote encolhido em sua caminha.

Aquela pontada no coração bateu de novo e me rendi aos meus sentimentos, falando:

– Ok. Tae dorme na minha cama hoje.

Ela imediatamente levantou a cabeça e sorriu. Eu juro que vi suas supostas orelhas levantadas e seu rabo abanando agora se ela tivesse ambos, é claro. Fiz sinal com a mão, chamando-a para subir na cama e rapidamente ela levantou do chão e pulou na ponta do colchão. Ela rodou em torno de si mesma, fazendo os mesmos movimentos que fizera antes no chão, mas agora deitando bem na ponta.

– Tae, quando eu digo na cama eu falo do meu lado. Não necessariamente aonde fica meus pés, isso me faz sentir mal também.

Ela abriu a boca e soltou um pequeno ar de ‘ooh’ como se tivesse entendido agora. A pequena garota engatinhou para um canto da cama enquanto eu entrava debaixo das cobertas para dormir o mais rápido possível. Apaguei a luz do abajur e me virei para o meu lado de dormir (afinal todo mundo tem um lado de dormir né, não é possível que só eu tenha isso) e que infelizmente era do lado esquerdo, virado de frente a Taeyeon. Tentei não me incomodar muito com isso e esperei que o sono chegasse. Antes que eu conseguisse me concentrar no sono senti os lábios dela sobre minha testa, permanecendo ali por uns poucos segundos. Abri meus olhos intuitivamente e tive tempo de vê-la recuar e sussurrar:

– Boa noite.

E continuou olhando pra mim, mais diretamente nos meus olhos. Pude ver isso porque a luz da lua clareava demais o meu quarto, fazendo com que eu pudesse ver Taeyeon perfeitamente enquanto olhava pra mim sem mesmo piscar. Seria creepy se ela não fosse fofa. Tentei ignora-la e fechei os olhos para tentar me levar ao mundo dos sonhos.

Mas antes que eu pudesse ao menos ficar sonolenta ouvi um barulho estranho. Era algo como respiração, mas não bem algo ofegante, algo mais ou menos como um fungado que se aproximava mais e mais. Abri meus olhos e vi Taeyeon pouco menos de 5 centímetros do meu rosto. Ela estava perto, MUITO PERTO!

Me joguei da cama com o susto e tentei me recuperar mesmo no chão. Assustada com tal atitude.

– TAEYEON! O QUE DEMONIOS VOCÊ TÁ FAZENDO?

Ela não respondeu de imediato. Primeiro ela olhou pro lado e brincou com as mãos. Sem me encarar ela respondeu baixinho.

– Eu... Eu estava cheirando seu cabelo.

– Cheirar meu cabelo? Aish! Apenas durma.

Levantei-me do chão frio e fui para debaixo das cobertas de novo, certificando que ela estaria bem longe de mim dessa vez. Tentei cair no sono rapidamente, tentando esquecer o fato dela estar provavelmente me encarando agora.

Apesar de saber que ela o fazia.

No meio da noite eu acordei por ouvir barulhos estranhos. Abri meus olhos, mas por incrível que pareça não era Taeyeon que os fazia. Na verdade ela nem estava ali na minha frente, muito menos na minha cama.

Ergui meu corpo, sentando-me na cama e olhando ao redor para ver se a achava. Também nada, estava somente tudo escuro, porém o barulho estranho continuava.

Esfreguei meus olhos e esperei com que meu estado de sonolência passasse para que saísse da cama. Ainda meio grogue me levantei e fui andando pelo quarto até ir ao corredor. Do andar de cima vi que alguma fraca luz estava ligada no andar debaixo. Parecia mais a de uma televisão ligada. ‘Por que ela estaria ligada? Meu pai só volta de manhã.’

Com cautela desci degrau por degrau sem fazer barulho e ignorando os sons que eu ouvia. A medida que me aproximava da sala pude ver melhor com o clarão que a TV fazia. Tae estava sentada na poltrona assistindo o que se passava na TV. Me aproximei ainda mais e vi o que se passava naquela tela. Aqueles gemidos, aquelas pessoas nuas e corpos suados na minha TV de 49 polegadas. O QUE É ISSO?!

– TAEYEON! POR QUE VOCÊ TÁ VENDO Ô?!

Taeyeon deu um salto da poltrona e olhou pra mim horrorizada, seguido de um grito que me assustou e me fez gritar junto. Me acalmei do susto depois de alguns segundos e voltei a brigar com Taeyeon.

– TAEYEON DESLIGA ISSO! - gritei, arremessando um travesseiro nela logo em seguida. – SUA ERTIDA! LIBERTINOSA! IMORAL! DEVASSA! LIBIDINOSA!

Taeyeon com o pouco de dificuldade pegou de forma tremula o controle e desligou a televisão. Ainda tremendo ela se aninhou no canto e começou a me encarar com os olhos cheios de lagrimas.

– Não chora Taeyeon, você nem entende metade das coisas que eu te xinguei.

Taeyeon encarou o chão e uma pequena lagrima começou a rolar. Ela rapidamente a limpou com suas mãos e fez biquinho. Até não parecia ser uma ertida.

– Não chore Tae... Éerh... Quase todo mundo vê ô. Só fiquei assustada pois pensei que você não veria.

– Fany-ah - ela fez uma pausa e olhou pra mim com os olhos mais suplicantes do mundo. – por que ela estava gritando?

– Heim? Gritando?

– Ela tava sofrendo Fany-ah! Aquilo é reprodução humana?! Ela tava com dores Fany-ah! Aquilo dói! É cruel! Ela não parava de gritar! Por que sofrem tanto? É horrível! Ela gritava tanto como uma presa abatida por cães.

Espera... Taeyeon achava que a mulher estava sentindo dor? Por isso que ela está chorando assim? Ela está triste pela atriz? Tudo bem que a primeira vez não é as mil maravilhas, mas como aquela atriz deve estar tão acostumada que mal sabe ela que aquela mulher sentia de tudo, menos dor.

– Fany-ah! Eu não quero te machucar. - Taeyeon engatinhou para perto de mim e agarrou na minha perna. – Me desculpa Fany-ah! Não vou colocar semente em você... E-e-eu não entendia porque você não queria! Desculpa! Não precisa mais se reproduzir.

Entrei na onda dela e disse:

– Viu! É isso que eu disse pra você. É o motivo que não podemos fazer isso, é horrível! Eu posso morrer!

– NÃO FANY-AH VOCÊ NÃO PODE!

– Então esqueça essa história de reprodução e filhotes. - cantarolei alegremente por fazê-la desistir dessa ideia estranha. Afaguei a sua cabeça e isso fez com que ela olhasse pra mim.

– Está bem Taeyeon. Não estou com raiva. Apenas esqueça isso, tudo bem?

Ela desviou o olhar para os lados. Meio perdida e balançou a cabeça vagamente.

– Toma, está aqui o seu leite quente.

Coloquei o copo de leite em frente a Taeyeon, que calmamente tomou o copo de leite enquanto se recuperava do susto e choque do vídeo ô que ela tinha assistido a um tempo atrás.

Eu dava graças a esse vídeo, porque assim ela desistiria dessa história sem pé nem cabeça que querer com que eu tivesse um filho. Se ela quisesse realmente um que coloque em si mesma, oras.

– Está mais calma?

Taeyeon balançou a cabeça levemente e voltou a tomar seu leite em silencio.

– Tae, por que você insistia tanto nessa história de que eu tivesse um filhote?

Ela parou de tomar o seu leite e olhou pra mim com um olhar desapontado, ela colocou o copo sobre a mesa de madeira e juntamente com o barulho do vidro batendo ela também suspirou quase de forma inaudível. Ela lambeu os lábios tirando o resto de leite que tinha e pensou por um tempo parecido perdida em seus pensamentos. Estava tudo silencioso o que é bem raro vindo de um lugar aonde se encontra Taeyeon, mas depois de um tempo ela finalmente falou.

– Estou sozinha. Sempre, depois que tiraram minha família. Depois que afastes deles comecei conviver com humanos... Ao contrario dos outros animais, são rudes e fazem de tudo para viver sozinhos só se importando com suas coisas. Não queria ser assim, eu queria alguém... Algo pra me importar. Você foi a única que não era igual a eles. Você ajudava outras espécies e pensei que me ajudaria também. Bem... Apesar de tudo você me deixou ficar aqui. Eu pensei que se aumentasse nossa matilha seriamos mais fortes e assim nós acharíamos minha família de novo. Eu só quero ver todos eles... Nem que seja um pouco. Eu só queria ser forte pra isso.

Ela abaixou a cabeça e voltou a beber o seu leite silenciosamente. Eu estava chocada, nunca que eu pensaria que ela teria um motivo para essa história de reprodução. Pra mim era uma simples brincadeira boba de animal ou um desejo ual forte. Mas vendo-a agora, sabendo de tudo isso, ela me parecia mais humanizada do que muitas pessoas por ai.

– Tae, na verdade aqui você não precisa ter uma família numerosa e sim dinheiro.

– Dinheiro? - ela perguntou inclinando a cabeça pro lado, um pouco confusa.

– Oh! Sim dinheiro. Ele move montanhas. Se você tiver dinheiro você pode comprar uma passagem, contratar um guia turístico e viajar até aonde você veio para encontrar os animais.

– É sério?! - ela disse arregalando os olhos. Eu bem que podia ver o brilho dele voltando de novo.

– Sério.

Levantei pegando o copo vazio dela e o levando até a pia, sem dar muita atenção aquilo. Quando me virei novamente ela tinha se debruçado sobre a mesa, com o braço esticado e o dedo mindinho levantado.

– O que é isso?

– Você jura? Jura que quando tiver dinheiro vamos encontrar a família. Você e eu!

Eu parei alguns minutos de pensar. Eu fui levada pra longe por esse curto período de tempo e voltado sem entender nada. O que ela queria dizer era que ela quer encontrar a família dela comigo? Mesmo que eu não me reproduza? Pisquei mais algumas vezes e olhei pra mão dela estendida com o seu dedinho solitário e para seu rosto contente de novo.

– Ok, quando realmente pudermos eu e você vamos até lá.

Estendi meu corpo sobre a mesa, inclinando-me para alcançar sua mão e juntar seu dedo com o meu. Selando assim a promessa.

– Tae, com quem você aprendeu isso de jurar com o dedo?

– Sunny.

– Vou te bater.

Hoje era um dia enérgico de entrega das provas da semana passada. Eu não sabia se tinha ido muito bem, pois na semana anterior eu estava triste por perder Taeyeon, mas em recompensa eu estudava a tarde toda para poder esquece-la. Então sinceramente eu não sei o quanto eu fui bem e o quanto eu fui mal nas provas. Agora era aula de biologia e a professora passava de mesa em mesa entregando as provas e seu resultado. Ela estava bem próximo de mim e quando finalmente me entregou a prova dei um pequeno sobressalto com surpresa da minha nota. Virei para trás e falei com as garotas.

– Olha! Eu consegui tirar um nove! Um nove! Isso é um milagre. Eu enrolei a maioria das questões esse dia e-

– ISSO É UM ABSURDO. - Jessica gritou olhando para sua prova. – Me diz como Jessica Jung tira 6,5 em uma prova! Isso está errado professora. Não é possível!

– Unnie, não grite assim. Se a professora te deu essa nota é porque algo de errado há. Se esforce melhor da próxima vez. - Seohyun tentou acalma-la.

– Do que você está falando? Essa prova foi o cão! Quanto você tirou?

Jessica se jogou para o lado, sobre a mesa de Seohyun para ver a prova dela e gritou.

– Você fechou?! É claro que você está dizendo isso! Você fechou!

Ela se inclinou mais para o lado e quase que sussurrou no ouvido da maknae.

– Você sempre tira as maiores notas. O que você faz, cola?

– Não colo unnie! - Seohyun gritou em surpresa de volta.

– Claro que cola. Fechar todas as provas é impossível. - Jessica disse se endireitando no seu lugar.

– Pare com isso. Não é não. Você vai fazer o que sobre isso? Vai chorar? - Seo pela primeira vez em toda minha vida de sua colega a vi responder desafiadoramente.

– Eu não choro. Vendi meus canais lacrimais para um banco de órgãos. - Jessica retrucou com ironia e deu um leve sorriso falso.

Nessa hora um garoto que ouvia a conversa na carteira da frente virou-se e se intrometeu, entrando no assunto.

– Seo é verdade. Fechar provas já é difícil e fazer isso com todas do ensino médio é quase impossível! Ainda mais você que é mais nova que a gente. Que tipo de truque você usa?

– Não a provoque só porque ela é uma pirralha que estuda bastante! - Jessica respondeu por ela.

– Você está tentando me ajudar?

– Não, só estou provando ser uma pessoa mais bondosa que você. Alias, eu sou melhor que você em tudo fora as provas!

Seohyun revirou os olhos e voltou a prestar atenção na aula encerrando assim a conversa. Para o azar dela a professora acabara de se virar e sem saber de nada perguntou a Seohyun com esperanças de que a boa aluna soubesse. Na verdade acho que ela saberia se tivesse prestando atenção.

– Você sabe a resposta dessa pergunta?

– Não. - a maknae respondeu sem jeito. Era a raro as coisas que ela não sabia.

Imediatamente Jessica levantou a mão e balançou-a no ar, loucamente para que a professora visse.

– Sabe a resposta Jessica?

– Eu também não sei! - ela disse sorrindo e virou-se pra Seohyun depois. – Viu! Você não é tão boa em não saber como eu!

A manhã toda foi aquilo. Jessica tentando ser superior a Seohyun em alguma coisa. Em até coisas mais banais ela se esforçava pra ser melhor. Jessica levou isso tão a sério a ponto de me fazer vir a quadra, ser testemunha do resultado final da corrida delas na pista olímpica.

Sentem em um dos bancos e esperei elas se prepararem em seus respectivos lugares. Eu pensava estar sozinha, mas de repente senti uma pessoa pular nos bancos e sentar do meu lado direito. Por incrível que pareça era Sunny, ela olhava pra pista interessada no que iria ocorrer lá.

– O que elas estão fazendo? - Sunny perguntou como quem não quer nada.

– Estão vendo quem é melhor em uma corrida. - respondi com pouco caso.

– Parece interessante.

– Mas é claro que é interessante. É um esporte, todos eles são interessantes. - uma voz diferente dizia enquanto se aproximava do lado esquerdo, seguido de um barulho de mordida como se estivesse comendo algo. Olhei pra cima e vi Yuri do meu lado assistindo, acompanhada de um saco de pipoca na mão.

– O que é uma corrida? - ouvi a voz de Taeyeon vir debaixo da arquibancada. Sua cabeça brotou entre os meus pés e olhou pra pista com curiosidade.

– QUANDO TODOS VOCÊS APARECERAM AQUI?!

– É quando você não simplesmente anda, mas corre por uma certa distancia. Você pode correr sozinho, por diversão ou cuidando de sua saúde ou pode ser uma corrida competitiva entre duas ou mais pessoas para ver quem chega primeiro a um determinado ponto. - Sunny respondeu a Taeyeon, me ignorando.

– Quem vocês acham que ganham? - foi a vez de Yuri falar.

– Pelo que eu sei Jessica é preguiçosa e Seohyun quando se esforça consegue ser boa nas coisas, mesmo que seja uma corrida. Jessica tem chance de vencer? - Sunny perguntou para mim.

– Nenhuma. - respondi com pouco caso.

A corrida deu partida e as duas começaram a correr pela pista, mesmo que Jessica tenha trapaceado, partido antes, Seohyun conseguiu manter sua velocidade até o fim da pista enquanto Jessica foi perdendo a força facilmente até a linha de chegada. Por fim obviamente Seohyun tinha ganhado dela e as duas acabaram ofegantes na linha de chegada.

De longe conseguimos ouvir Seohyun dizer.

 – Que derrota.

Jessica levantou-se e apontando pra Seohyun, gritou:

– SEMI-VITORIA! EU NÃO PERDI! EU FUI SEMI-VITORIOSA!

Eu mereço.