Eu ainda odiava madrugadas.

Depois de tanto tempo tendo esse desgosto com tal horário, assim que me encontrei acordada depois de dormir um sono frágil, conclui que nada havia mudado.

Meus olhos encaravam a escuridão do quarto enquanto tentava com todos os esforços me manter longe de pensamentos, visando poder voltar a dormir com facilidade.

Quanto mais esforcei para não pensar em nada, mais pensei. Assim que comecei a ouvir a minha voz interna se manifestar, como se lendo meus pensamentos em alto e bom tom, não deixei de suspirar em frustração. Minha cabeça não pararia e dali, tinha certeza que não saíria mais sono.

Talvez se eu tomasse algum remédio poderia ser de grande ajuda mas, eu não queria ser assim. Eu não queria ter que tomar remédio sempre que por algum motivo, fosse acordada no meio da madrugada.

Logo, fechei os olhos ao suspirar fundo mais uma vez. De olhos abertos ou fechados, não havia diferença alguma, era tudo uma escuridão só.

Com o silêncio que me rodeava, minha mente passou a ser inda mais barulhenta. Contudo, eu sabia exatamente porque me encontrava acordada aquela hora.

Tiffany…

Os eventos do dia anterior, a nossa briga...Por que não conseguia tirar de minha cabeça ? Seu modo de agir, suas palavras, o jeito que rejeitou meu toque...Ao mesmo tempo em que me encontrava irritada, me sentia confusa e um tanto chateada.

Naquele momento, pensei até que se eu tivesse feito algo que realmente fosse digno de aborrecê-la, seria mais fácil, eu não ficaria perdida, saberia como proceder e com certeza, não perderia o sono dessa maneira.

Seria mais uma típica briga, assim como vários casais têm, porém, com ela era diferente. Havia mais coisas por trás, havia coisas em sua cabeça que eu sabia que talvez nunca seria capaz de entender completamente.

“Sinto que vocês não vão durar, é inevitável.”

Em meio ao ambiente quieto, quase ouvi as palavras de Michelle soarem em meu ouvido. Sei que não era algo grande que fosse nos fazer terminar, lógico que não, porém por um momento me perguntei se no fundo, Michelle via algo que eu não conseguisse.

“Pft.” Dei um sorriso debochado para mim mesma ao zombar do meu último pensamento. Já estava começando a fazer suposições idiotas em minha mente e isso, não era nem um pouco produtivo.

Não importa o que Michelle disse, pronto, acabou.

Ela não era uma força maior para prever o futuro, ou para influenciar em algo. Ter uma doença não exclui alguém de ser igual aos outros, de poder se relacionar ou algo assim.

Bull.

Mantendo tal linha de raciocínio, continuei a recapitular nossos diálogos, como se não houvesse nada melhor para fazer, sem estar muito ligada ao meu redor.

Isto é, até começar a ouvir algo que parecia minha campainha.

Com a primeira vez, abri um só olho  ao juntar as sobrancelhas, duvidando se havia escutado direito.

Ao ouvir novamente o som, franzi ainda mais o cenho, vendo que o relógio marcava 3:03 da madrugada.

Por um momento, procurei ignorar, porém, ouvi o barulho mais uma vez. Procurando enfim averiguar o que era, preparada para qualquer coisa que fosse me por em perigo, - nessa horas eu agradecia o recente instalado sistema de segurança - levantei e me dirigi ao andar de baixo sorrateiramente.

A campainha cessou, mas eu ainda sentia que havia alguém ali. De modo silencioso, fui até o sistema de alarme instalado meio escondido na sala de estar e assim, procurei ver a imagem da câmera. Minha casa não era algo de se cair o queixo - ainda não me dava o prazer de luxúria só para morar sozinha - mas era melhor previnir que remediar.

Assim que olhei a imagem do lado de fora, vi uma pessoa já virada para a rua, como se houvesse desistido.

Era ela.

A coincidência de fato me assustou. Estava pensando nela e então logo me aparece em frente de casa ? Seria aquilo um sonho ?

Ao ver ela se virar, provando finalmente sua identidade de vez, percebi que fazia menção de ir embora.

Mesmo que meu orgulho - talvez meu maior defeito - estivesse meio ferido, me encontrei a caminhar até a porta, destrancando-a em instantes.

Assim que abri, me deparei com uma feição assustada. Com os segundos seguintes, ela me olhou nos olhos e eu, nos dela.

“O que está fazendo aqui ?”Desviei minha atenção para os lados, como se checasse que não havia ninguém por perto que pudesse nos machucar.

Tiffany parecia meio sem palavras.

“Uh-”

“A essa hora ? É perigoso !” Por fim, a olhei de um modo repreensivo, visando que ela poderia muito bem ter sido atacada por algum malfeitor e tal coisa, me deixou com um pesar no peito.

Abri mais a porta para que ela passasse, procurando fechar o mais rápido possível logo que o fez.

Assim que tranquei tudo, me virei com uma expressão de interrogação misturada com preocupação.

“Eu...Eu não queria ter vindo assim mas-”

“O que aconteceu ?”

“Nada, nada…”Tiffany suspirou, parecendo não querer olhar nos meus olhos. “Não sei o que passou por minha cabeça, não consegui dormir e- Argh, me desculpe por ter te acordado.”

“Eu não estava dormindo.”

Tiffany finalmente subiu o olhar como se curiosa pelo motivo.

“Não deveria mais fazer isso, ultimamente tem acontecido muita coisa ruim, não é seguro sair assim.”

“Eu sei, é um horário idiota mas...Taeyeon, eu não consegui fechar os olhos sem pensar no que eu fiz.”

Cruzei os braços por simplesmente não saber o que fazer com eles.

“Não queria te tratar daquele jeito, não queria dizer aquelas coisas, eu sei que agi de um jeito patético mas foi como se não pudesse evitar, entende ? Quando voltei a mim mesma eu já tinha te pedido para ir embora e você já estava me olhando daquela forma…”

Tiffany usava um tom de voz muito diferente do que eu havia ouvido horas atrás. Ela parecia não conseguir me olhar direito nos olhos, como se achando que eu a fosse julgar ou algo assim.

“Eu sinto muito pelo que eu fiz.” Seu rosto subiu, deixando-me a analisar sua expressão.”Sei que não teve culpa alguma então se quiser um tempo eu entendo...Só precisava vir aqui te dizer que-”

A vi suspirar fundo. Sua presença de alguma forma fez minha raiva dissipar. Por um momento me encontrei curiosa por ser tão mole quando se tratava dela. Só de vê-la do lado de fora de casa já senti que eu queria que ela estivesse ali, não importando nem mesmo se tivesse realmente me acordado.

O que ela tinha que me fazia ser assim ?

Seria uma das maiores perguntas da minha mente que talvez eu nunca fosse descobrir.

“Que-”Tiffany olhou para baixo. Pude notar que ela passou a forçar as palavras a saírem. “Mesmo que eu não esteja bem, não quis te tratar mal...Meu coração doeu, minha mente não me deixou fechar os olhos ao pensar que eu te machuquei de novo…”

Eu queria olhar em seus olhos, queria vê-los enquanto ouvia suas palavras porém, Tiffany ainda insistia em fitar o chão. Pela força que fazia, notei que ela apenas não queria que eu a visse chorar.

“Fany se não está bem, por que você não me disse nada ?”

“Eu não quero que se sinta culpada por ter discutido Taeyeon.”

Ao ter conseguido por fim fazer contato visual, confirmei as minhas suspeitas. Tiffany me parecia sempre tão frágil nessas horas que talvez fosse essa a razão pela qual eu não conseguisse me forçar a continuar com raiva. Ela me fazia apenas querer abraçá-la forte e não dizer mais nada até que passasse o que lhe pertubava.

“Eu queria poder segurar isso dentro de mim, até então eu estava conseguindo mas aí eu não sei, simplesmente agi como sentia, uma raiva que não tinha cabimento nenhum…”

Dei um passo em sua direção, guardando bem a sua voz tremida em meus pensamentos. Não gostava daquela visão mas ela parecia querer continuar, então não me restou muito a apenas continuar ouvindo-a.

“Taeyeon-ah…”Uma lágrima escorreu. Não, não.”Isso cansa, eu estou cansada...É tão difícil para mim engolir mas no fim não é isso que tira meu sono...Eu sinto medo, medo de que eu possa te perder por ser assim.”

Por uns instantes, deixei meus olhos fechados, suspirando leve ao ouvi-la se expressar. Se eu pudesse simplesmente fazê-la entender que o que eu sentia era maior que-

“Eu posso não saber muito o que acontece comigo, não saber o que me faz agir assim ou não entender mas se tem algo que eu tenho certeza é que eu te amo.”

Eu te amo.

Aquelas três palavras.

Não havia dúvidas de que em todo esse tempo, nós duas já não nos encontrávamos apenas “apaixonadas”, não quando tinhamos um histórico memorável porém até então, nunca antes aquelas palavras haviam sido ditas.

Ouvir sua voz as falando, notar a forma que seus lábios se mexeram durante, tudo tornou este o meu momento favorito.

Eu também te amo…

Não pude dizer em seguida por ver que ela ainda estava abalada por um temor que talvez fosse real demais para sua mente. Apenas para sua mente, eu sabia disso.

Meu coração já se encontrava uma bagunça. Aquela mulher…

De uma maneira sutil, Tiffany me fez realizar que ela era a minha fraqueza.

“Eu me sinto feliz só por poder te amar, por você deixar…”Suas mãos passaram rapidamente por seu rosto. “Não quero no fim estragar-”

Antes que ela pudesse continuar a dizer, a talvez tentar se explicar, a calei com um beijo gentil em seus lábios, um beijo para lhe reafirmar que eu não era nem um pouco diferente dela.

Ao subir minha mão para acariciar seu rosto, descolei nossos lábios e deixei com que o silêncio se instalasse. A proximidade de nossos rostos me fazia continuar de olhos fechados, mas isso não era algo que eu fosse reclamar.

Tendo-a agora calada sob meu toque, acabei por deslizar meu rosto até poder envolvê-la em meus braços, sentindo em seguida sua cabeça repousar na curva do meu ombro. Minhas mãos agora se encontravam em suas costas, subindo e descendo como uma tentativa de conforto.

Assim que ela levantou sua cabeça para encostar seu queixo em meu ombro, senti seu aperto em volta de mim firmar ainda mais.

“Ei, Pani...”Tentei fazer com que seu rosto saísse dali mas não consegui.

Ela não queria que eu a visse, então não forcei mais.

Uma de minhas mãos subiu para acariciar a parte de trás de sua cabeça vagarosamente. Eu não gostava de vê-la chorar, mas não podia impedi-la. Era uma forma de se expressar então tentei deixá-la, na esperança de que ela pudesse descarregar um pouco o que sentia.

Minhas mãos não pararam a medida que eu sentia ela me apertar em nosso abraço. Fechei os olhos e mal percebi um suspiro longo sair de mim, querendo apenas que aquele momento passasse.

“Sh…Pani, eu odeio ver você chorar…”Ela mantinha seu rosto aninhado em meu ombro, segurando-me como nunca antes. “Vamos lá, não precisa ficar assim…”

Minha voz saía fraca,  sendo alta o bastante para poder fazê-la entender.

Por momentos consideráveis, ficamos em silêncio, o qual serviu para talvez ela se recompor. Aos poucos, pude sentir seu aperto ficar menos intenso, o que me deu uma brecha para poder olhar em seus olhos.

“Chorar não vai tornar esse rostinho lindo mais feio mas-”Passei meus dedos pelo seu rosto a tentar amenizar o clima. “Vai quebrar meu coração em mil pedaços.”

Dei um pequeno sorriso para que ela soubesse que estava tudo bem. Não era mentira, para mim estava.

“Não quer que isso aconteça né ?”

Tiffany tinha os olhos mais brilhantes que nunca. Meu toque era leve, delicado, assim como ela parecia sempre ser.

Sua cabeça acenou negativamente, tendo seu queixo franzido quase como se formando um pequeno bico involuntário.

“Então...Se acalme, okay ? Estamos bem.”

Lhe dei um beijo sutil por último, descendo as mãos para pegar nas suas.

“Está tarde, não está cansada ?”

“Pft.” Tiffany passou uma mão em seu rosto, terminando de arrumá-lo. “Estou...Muito.”

“Vem...Precisamos dormir um pouco.”

Ainda a segurar sua mão, dei um outro pequeno sorriso antes de fazer menção de guiá-la até meu quarto.

Naquela hora, eu realmente queria dormir com ela ao meu lado. Apesar de antes não ter conseguido, o que nos restava de noite me parecia convidativo. Eu sabia que talvez poderia pegar no sono por apenas portar um coração mais leve. Primeiro, por ter sua presença ali e segundo...Por ter ouvido três palavras.

XxX

Deitada de maneira confortável, Tiffany se encontrava aninhada em mim, da forma como eu gostava. Sua cabeça em meu peito, sua mão agarrada no final de minha blusa, meus dedos alisando a pele suave de seu braço.

Ela me dava conforto e eu sabia que eu fazia o mesmo.

Não fiz questão de olhar a hora, mas só pelo nosso silêncio e por pensar em tudo que aconteceu - apesar de ainda estar ciente de seu estado - senti minhas pálpebras pesarem cada vez mais.

A situação se tornava bem melhor com ela em meus braços, mesmo que ainda houvesse coisas pelo ar.

Apesar de no momento ter muito em minha cabeça, o calor de seu corpo, apenas este, conseguiu espantar o que antes, me impedia de dormir. Me fez amolecer, me fez adormecer pouco depois de engolir um pequeno nó em minha garganta.

XxX

“Preciso de alguns conselhos.”

“Hm~ Consulta com o guru do amor é 200 por hora, vai querer ?”

“Guru do amor ? Desde quando ?”

“Desde que você falou “preciso de alguns conselhos”.”

Respirei fundo, meneando a cabeça em negativo.

“Quem te garante que é de amor, afinal ? Poderia ser conselhos sobre trabalho.”

“Você pedindo conselhos de trabalho para mim ?  Tá.” Key rolou os olhos, como se fosse a coisa mais inacreditável do mundo.

“Tá tá, tanto faz.”

“Estou a ouvidos, pode falar, o que rolou com o casal top 20 ?”

Voltei a suspirar, pensando se seria mesmo uma boa ideia expor assim. Da última vez, com Jessica, costumava ser assim e no fim, recebi uma Amber soltando fogo pelas ventanas.

Nah, estou pensando besteira. É de Key que estou falando, não é qualquer um.

“Em síntese, Tiffany e eu brigamos depois daquela festa para a Michelle porque...Porque ela estourou e arranjou coisa que não tinha nada a ver.”

Key fazia contato visual, portando uma expressão séria.

“Tiffany disse algumas coisas e até chegou a rejeitar meu toque depois disso.” O vi arquear as sobrancelhas em surpresa. “Ela não me parecia ser a mesma mas na hora eu não notei, só me deixei levar e acabei discutindo de volta.”

“Hm~ E aí ?”

“Eaí que depois na madrugada ela apareceu em casa e -”Soltei um longo fôlego ao relembrar. “Pediu desculpas e finalmente disse o que já poderia ter suspeitado, que não está bem, você sabe…”

“Mas ela não foi na psiquiatra aquele dia ? Não está tomando direitinho ?”

“Também fiquei um pouco intrigada mas aí lembrei que bem, não há cura. As crises diminuem, ficam mais fracas, mas ainda sim aparecem.”

“Faz sentido…”

“O fato é que eu revidei, não pensei que talvez ela estivesse tendo alteração e para falar a verdade, quase estourei, você me conhece.”

“Espera, você discutiu e depois que ela foi na sua casa se arrependeu ?”

“Mais ou menos...Acho que não deveria ter revidado, poderia ter notado, pensando agora dava para perceber que-”

“Para por aí Taeng.” Key juntou as sobrancelhas, fazendo-me ficar curiosa pelo que estava por vir. “Revidar é uma coisa natural, humana, não pode ficar remoendo porque agiu de acordo com as ações dela.”

“Por isso mesmo Key, não é como se ela quisesse dizer e fazer o que fez !”

“É mas...Essa foi a primeira briga grande, certo ? Se houver mais, você vai se conter, engolir só por talvez ela estar tendo uma crise ? E se não for ? Taeng, sinto te dizer mas se você pensa que deve ser assim então eu acho que tem um pouco de pena aí.”

“Pena Kibum ? De onde tirou isso ?”

“Calma, pode deixar meu nome fora disso, okay ?”O olhei com uma expressão não muito agradável. “Segue meu raciocínio Taeng : Se Tiffany não tivesse a bipolaridade, estaríamos tendo essa conversa agora ? Você arrependeria de ter discutido da mesma forma ?”

Ao ouvir suas duas perguntas, por um momento achei certo. Era óbvio que a resposta seria não. Nesse instante, passei a ver meus conceitos.

“Não, exatamente. O negócio é que um casal saudável, normal, discute e pronto acabou. Ah mas guru Key, ela é bipolar ! Isso não a faz ser diferente nesse quesito, não a faz anormal, não a faz amar menos por causa disso, né ?”

Me mantive calada, procurando absorver realmente o que ele dizia. Em certa parte, era verdade. Era como se eu a tratasse diferente, não com pena, apenas como se eu tivesse que fazer isso para “sobrevivermos”.

Em parte, eu senti que estava fazendo errado.

“O que você precisa fazer é conversar com ela, pedir para que compartilhe mais com você. Aí sim, quando talvez ela disser que está de um jeito, você pode se adaptar para amenizar o que pode vir, ter mais paciência, compreensão e tudo mais.”

Key me parecia um gênio naquela hora.

Realmente, eu poderia tentar, só me restava saber se ela conseguiria se abrir comigo dessa forma. Poderia não ser fácil, mas ajudaria muito.

“Hello ? A cuca entrou em colapso ?”

“Ah~”Balancei a cabeça.”Estava pensando…”

“É eu senti o cheiro ruim daqui.”

Rolei os olhos em maneira brincalhona, ignorando seu comentário.

“Acho que você está certo.”

“E quando estou errado ?”

“Por isso que não gosto de pedir conselhos, pft.”

“Está reclamando ? Pft digo eu. Ah~ pagando a consulta, por mim tanto faz. Acabou ? Só isso ?”

“É, vou conversar com ela…”

“Okay, pode depositar, à vista por favor.”

“Tá tá, interesseiro.” Passei a rodar meu celular em cima da mesma só por não ter mesmo o que mexer. Apenas ele ainda comia.

Dado seu sorriso e o breve silêncio que se seguiu, logo meu pensamento foi parar em um momento em questão. O melhor.

“Apesar de termos brigado, teve uma coisa boa nisso tudo sabia ?”Subi o olhar com um sorriso de canto ,como se orgulhosa pelo que eu estava prestes a falar.

“O que ? o de reconciliação ?”

Se eu tivesse com algum líquido na boca com certeza teria cuspido tudo em seu rosto.

“Bwo ? Por que você é assim ? Aish…”

“Ué, é normal !”

“Não para ficar falando assim ! Sem contar que se tivesse, acha que eu ia anunciar para você ?”

“Eu ia achar bom.”Key deu ombros, mostrando aquele seu sorriso de idiota.

“Yah ! Qual seu problema ?”

“Brincadeira Taengoo, brincadeira, não quero saber das mil e uma noites, argh.”

“Você não presta.”

“Ah~”Não contive o sorriso ao continuar a fitá-lo. “É o que me dizem. Mas então, o que aconteceu ?”

“Ela falou que me ama.”Tentei reprimir meu sorriso de crescer de orelha a orelha mas logo descobri que era impossível.

“Awnt que coisa linda !”Key exclamou de um jeito exagerado.”Mas, espera, nesse tempo todo ainda não tinha rolado ? Eh, para mim vocês diziam eu te amo todo dia, uma melação danada.”

“O que te faz pensar isso ? Sabe que não sou assim ! Sem contar que...Eu te amo não é algo para ficar dizendo assim, para mim é algo mais profundo, não apenas três palavras.”

“É, eu que o diga, nesse tempo todo de amizade posso contar as vezes que disse isso para mim.”

“Ah Kibum, já é difícil dizer e ainda quer que eu minta ?”

Key fez uma expressão tão séria que chegou a ser engraçada. Uma mistura de descrença com desprezo.

“Argh.”

“Calma calma, sem ciúmes, tem Taeng para todos.”

“Joguei sapato na cruz, só pode.”O ex-loiro oxigenado - cabelo preto realmente combinava mais - suspirou exageradamente em um modo dramático.

Continuei a assistir-lo terminar sua refeição com um sorriso no rosto.

“Agora voltando ao que estávamos conversando, se a Fany continuar nessa crise, é melhor contatar a Kim Hyoyeon, não ? Ela pode ser de grande ajuda…”

“Estive pensando nisso, vou tentar falar com ela.

“Bom sendo assim, depois desses conselhos maravilhosos, só tenho mais uma coisa para dizer Taengoo.”

“Uhm ?”

“Nada como um dia atrás do outro.”

“Que filosofia, huh ?”

Key deu ombros, portando aquele sorriso de canto convencido.

Ele estava mais que certo.

“É...Nada como um dia atrás do outro.”

XxX

“Acho que ele estava precisando disso, né ?”

“Ele, eu...Ficar dentro de casa no calor não estava ajudando.”

Deixei um sorriso brotar em meus lábios, vendo-a mirar Prince a cheirar o chão enquanto era mantido perto.

“Então cheguei em hora certa huh ?”

“Bem na hora...De noite pelo menos não vão prestar atenção em duas velhas sentadas em balanços de criança.”

“Ei, eu não sou velha !”Mexi meu pé para frente e para trás sem tirá-lo do chão, ainda olhando Tiffany a observar o cachorrinho. “Além do mais, não tem nada que diga que é só para crianças !”

“Na verdade tem sim, bem ali tem-”

“Shh~ Pani, você deve estar cansada, vendo coisas.”

Tiffany virou o rosto com um sorriso nos lábios, meneando a cabeça em negativo em seguida como se me repreendesse.

Sendo a minha vez de olhar Prince andar até a minha direção, notei que ela deixara sua atenção em mim naquele intervalo de silêncio.

Ainda sorrindo, fiz algumas carícias em Prince até ele enjoar, voltando a farejar por perto.

Ao voltar a olhar ela, vi que estava a fitar um ponto fixo, como se observando o nada.

Dei um leve suspiro antes de finalmente ir até o ponto que desejava.

“Como se sente ?”

Não era como se eu esperasse muita mudança em menos de um dia mas era preciso saber.

Tiffany virou o rosto e vagarosamente deu ombros.

“Okay...Eu acho.”

Acenei em compreensão, levando o “okay” como uma resposta neutra. Não dizia muita coisa mas eu poderia aceitar.

“Eu queria conversar direito sobre ontem...”

“É…”Tiffany espremeu os lábios. “Sobre isso, eu queria me desculpar…De novo. Não consigo esquecer-”

“Ei, já está tudo bem, mesmo.””Segurei a corrente ao meu lado, continuando o leve vai e vem com o balanço. “Agora, me deixa falar, okay ?”

Com uma confirmação silenciosa, dei um leve sorriso de canto.

“Fany...Eu sei que o que sente é inevitável, involuntário, essa insegurança de que talvez eu fique cansada depois de alterações de humor ou qualquer coisa assim...Também tenho consciência de que não é algo que eu possa mudar com facilidade, mesmo querendo tirar tudo de ruim que sente, querendo te proteger de pensamentos do tipo…”

Me levantei do balanço para ir até Prince, agachando ao começar a acariciá-lo. Eu podia sentir seu olhar atencioso em cima de mim.

“Não poder fazer nada...Isso eu não posso negar, me deixa extremamente frustrada mas-” Subi meu olhar antes de me levantar, deixando Prince livre para continuar com o que fazia. “Não me impede de querer te mostrar o que eu sinto de verdade, reafirmar a você que o que tenho dentro de mim não é algo fraco para se quebrar com obstáculos assim.”

Tiffany prestava atenção em mim como se minhas palavras fossem importantes para ela, como se ela não as pudesse perder.

Dada a pausa que fiz, segui até ela com passos vagarosos, voltando a me agachar após ficar bem em sua frente. Minhas mãos foram parar em suas pernas para melhor apoio em meio à minha busca de poder fazê-la entender.

“Eu te amo Fany...Eu te amo de uma forma que nem eu sei explicar, juro. Você me faz feliz, não consigo nem descrever o que apenas um sorriso seu faz comigo...Me deixa uma bagunça por dentro, me faz sentir em um filme da disney, me dá vontade de cantar com os passarinhos-”

Comecei a rir ao vê-la suprimir um sorriso, fazendo graça para tentar continuar me expressando dessa forma clara. Apesar de nunca ter aprendido a ser boa com as palavras, pelo menos, aprendi a contornar tal dificuldade dessa maneira.

“Mas sério…”Parei de rir porém, não larguei o sorriso que aparecera. “Se você fosse algum tipo de droga, eu já seria um caso perdido…”

Ao menear a cabeça em negativo, vi seus dentes aparecerem, sendo aquela a reação que eu mais gostava de ter.

“De verdade Fany, eu quero que tente se lembrar disso cada vez que voltar a pensar dessa forma, assim como também preciso que compartilhe mais comigo…”

“Como ?” Tiffany desceu as mãos das correntes para pousá-las em cima das minhas.

“Se eu te perguntar como se sente, não tente disfarçar ou esconder que não está bem...Você disse que esteve se segurando, guardando para si mas eu não quero que seja assim. Não precisa ter receio de nada, só seja sincera, mesmo que sua resposta seja indefinida ou apenas um okay.”

Vi sua cabeça acenar positivamente de um modo lento, como se ela processasse o meu pedido naqueles momentos seguintes. Por um momento, senti o balanço ser puxado um pouco, indicando que Prince estava a andar para mais longe.

“Certo.” Por um instante, seu olhar foi parar nele, como se verificando que estava tudo bem. “Eu vou fazer o meu melhor...Prometo.”

Mantendo um contato visual e ainda um sorriso maior, senti minhas pernas começarem a dar sinal de cansaço daquela posição. Como se soubesse que eu estava prestes a me levantar, vi por fim, seu rosto se abaixar, procurando por minha boca.

Ao beijá-la gentilmente, pude sentir um certo alívio dentro de mim.

“É bom sair assim, né ?” Me afastei aos poucos, notando em seguida sua breve expressão de interrogação. “Podemos nos beijar sem problema de ter pessoas ao redor.”

“Sinceramente, não dou a mínima para as pessoas.”

“Eu gostaria de pode dizer o mesmo mas ainda no fundo...Infelizmente, eu me incomodo.”

Suspirei, finalmente deixando a posição desconfortável ao esticar minhas pernas novamente.

“Isso é normal Taeyeon-ah…”

Ela pareceu notar a minha leve mudança, observando que eu não estava feliz comigo mesma nesse ponto. Realmente, não estava. Era como se eu estivesse negando a mim mesma, retrocedendo passos em minha auto aceitação.

“Um dia você vai parar de se importar, é como um crescimento natural.” Tiffany se levantou também, fazendo-me dar um certo espaço ao olhá-la. “Quando esse dia chegar, eu espero estar do seu lado, como uma boa namorada deve ser.”

“Aw.” Franzi o nariz por uns segundos antes de voltar a abrir o sorrisão, um tanto contente por ela entender dessa maneira. “Quando chegar, vou te dar um beijo tão magnífico que aquele do marinheiro com a enfermeira vai virar fichinha.”

Com todos olhando, sem preocupações.

“Vou esperar.”

Enrosquei meus braços em sua volta, podendo enfim dar mais alguns pequenos beijos em seus lábios.

Prince, como se em uma hora marcada, começou a latir, quase como uma tentativa de voltar nossa atenção para ele.

Sem sucesso para ele, nós duas nos mantemos daquela forma até algo voltar a minha mente por uns breves momentos, levando-me a interromper o que faziamos.

“Espera-”

“Uhm ?”

“Até lá, eu não me importaria de ouvir aquelas três palavras de novo…”

“Quais ? Não sei do que está falando.”

“Sabe sim Fany-ah.” Cerrei um pouco os olhos para intimidá-la, sabendo que ela fingia desentendimento. “Sabe sim.”

“Aquelas três palavras ?

“Isso mesmo. Adorei a forma como soou em sua voz, o jeito que sua boca pronunciou…” Meus olhos pairavam em seus lábios, notando que ela estava a sorrir.

“Okay então.”

Tiffany me fez olhar de volta em seus olhos ao subir meu rosto.

“Eu te amo.”

Ahhhhh…

Por que ouvir aquilo era melhor do que apenas saber ?

“Eu também-”Lhe dei um breve beijo. “...Me amo.”

Nesse momento, pude sentir um riso abafado por minha boca, vendo-a se afastar logo em cima com aquele eye-smile que tanto amava.

“Idiota.”

“É é...Sou mesmo.”

Sua idiota.

XxX

Segundo minha mãe, a refeição mais importante do dia era o almoço. Não chegava a concordar, para mim desde que eu tivesse oportunidade de comer a qualquer hora, tudo estava certo porém, hoje não foi o caso. Ter que perder meu horário para encontrar pessoas relacionadas a trabalho com certeza não me deixava mais alegre do que um bom prato quentinho.

Em passos rápidos, caminhava pelo corredor até chegar em meu escritório. Meu plano era pegar minhas coisas e sair de novo, estando a imaginar e planejar o que eu iria comer nos próximos momentos.

Não fazia ideia do por quê daquela fome intensa mas não me importava desde que eu pudesse saciá-la logo.

Ao entrar no local, indo direto até a minha bolsa, percebi a presença de um outro alguém a estar na porta.

“Taeyeon-ssi ?”

“Huh ?” Sem precisar me virar, notei que se tratava de Seungyeon.

“Vai almoçar ?”

“Sim sim, hoje parece que nunca vi comida na minha vida.” Peguei meus acessórios e rodiei a mesa para ver algumas coisas rápidas na tela do computador.

“Ahm uma mulher veio a sua procura a um tempinho atrás.”

“Uhm ?”

Uma mulher ? Olhei para ela, incentiviando-a a continuar.

“Ela não deixo nome nem recado mas bem, achei preciso te avisar.”

“Não a reconheceu ?”

Desliguei a tela do computador.

“Não…”

“Hm...Como ela era ?”

Por ser meio estranho procurar e nem deixar um nome ou recado, fiquei curiosa em saber quem poderia ser.

“Era morena, tinha cabelo assim-”Seungyeon subiu a mão até seu maxilar.”Meio alta…”

Não conhecia gente com tal descrição, o que me levou a juntar as sobrancelhas.

“É, acho que não conheço.”

A não ser que…

Nah, Michelle não teria motivos para me procurar assim.

“Obrigada Seungyeon...Mais alguma coisa ?”

“Só isso mesmo.” A jovem sorriu para mim. “Deseja algo ?”

“Nah, só faça o que estava fazendo e cuide aí das coisas.”

“Okay, bom almoço.”

Acenei positivamente em agradecimento, vendo-a sair logo depois.

Logo, foi a minha vez.

Ao começar a andar de volta pelo corredor, lembrei-me de Sooyoung. Fazia um tempinho desde que havíamos saído para almoçar só nós duas então, achei  uma boa ideia chamá-la para me acompanhar.

Aquele dia, particularmente, estava sendo bom para mim, tirando apenas aquela fome estranha que sentia. Havia acordado com o pé direito, então estava tudo bem. Pensando bem, era difícil lembrar a última vez que havia acordado de mal humor. Pelo menos, daquele tipo que ficava até o final do dia…

Tiffany em parte era a grande culpada disso.

Após chegar em frente ao seu escritório, notei as persianas fechadas, o que de fato me fez pensar que ela estava a descansar, como em uma certa vez que a encontrei no sofá em meio ao escuro.

Sem pensar duas vezes, abri a porta, esperando me deparar com a mesma cena.

“Sooyoung tá afim de almo-”

A visão que me foi proporcionada me deixou chocada e ao mesmo tempo, instigada.

Tinha errado e feio.

Sunny se encontrava escorada na mesa, de costas para mim da mesma forma que o computador. Sooyoung estava em sua frente, com o rosto virado para o meu lado enquanto suas mãos seguravam a beira do vidro, uma do lado esquerdo da cintura da loira e a outra, do direito.

Apesar de ter durado apenas segundos diante de meus olhos, aquela cena durou eternidade em minha cabeça.

Como diria meu amado Key : What the ?

“Bwooooooooooooo !”

“Taeyeon !”

Sooyoung e Sunny desfizeram aquela pose quase como se em um piscar de olhos, arrancando uma risada alta de mim naquele instante.

Os olhos assustados a me olhar serviram de lenha para minhas risadas.

“Oh my gard !”Entrei no lugar, notando que não estava escuro por que as únicas persianas fechadas eram as da janela que davam para o corredor.

“Ya ya ! Para de rir, não é-”

“Taeng-”

Minhas risadinhas não cessavam, mesmo eu tentando.

As expressões das duas eram engraçadas demais para desperdiçar assim.

“Vocês iam se beijar !”

“Que ?  Tá louca ?” Sooyoung rodeou a mesa para vir até mim, já quase  portando uma expressão convincente de que eu estivesse a imaginar tudo.

Ela poderia ser uma ótima atriz mas, esse não era o caso de Sunny.

“Estou, louquíssima, vocês iam mesmo se beijar, omo ! Não acredito, então- Agora tudo faz sentido  !”

“Para de viajar sua cabeçuda !”Sooyoung tentou dar um peteleco na minha testa. “Eu estava ameaçando essa danshin, nada mais !”

“Aham-”

“Aliás, por que não bateu antes de entrar ? Cadê a educação ?”

“Desde quando precisamos disso ? Não sou uma qualquer e não tente mudar a direção da história ! Sooyoung eu estou óh-” Pelo seu olhar, me afastei um pouco ao levantar as duas mãos.” Passada.”

“Aya ! Para com isso já disse, não íamos nos beijar, claro que não ! Eu estava tentando intimidar a Sunny-”

Ao ouvir o nome da loira, olhei para o lado para observar sua expressão. Até então ela havia se mantido calada,  o que causou ainda mais curiosidade em mim.

Por um momento, vi um sorriso espremido em seus lábios, como se ela quisesse rir mas se segurasse.

“Se era a intenção acho que você conseguiu porque né, eu morreria de medo se você estivesse prestes a me beijar também. “

“Argh, sai daqui !” Sooyoung começou a me empurrar, o que só me fez rir mais e mais.

“ O que ? Não fiz nada !”

“Sai sai, vaza !” A shikshin só aumentava a minha diversão com aquela visível irritação.

Ao praticamente me jogar para fora de seu escritório, dei uma olhada para Sunny logo em seguida, ignorando as tentativas de Sooyoung de me virar.

“Quem cala consente Soonkyu !”

“Vai embora hobbit, eu já disse que não era isso, não vou mais explicar !”

Sooyoung fechou a porta em um único movimento, passando a me empurrar ainda mais corredor a fora.

“Uma imagem vale mais que milhões de explicações !”

Nessa últma fala, levei um empurrão master, o qual quase me fez desequilibrar do salto.

“Xô !”

“Não acabamos aqui está me ouvindo ? Vai me contar desde quando estão namorando !”

Em parte eu estava pegando no pé, era óbvio, mas também não podia negar que ali tinha coisa estranha. Não podia simplesmente ignorar o que vi, certo ?

Em resposta, ouvi alguns resmungos que achei melhor apenas ignorar. Ela deveria pensar no exemplo que estaria dando caso tivesse funcionários por perto, diante daqueles xingamentos todos.

Fazendo um sinal com  a minha mão, como se dissesse para ela continuar falando e falando sozinha, dei a volta e sai mais risonha que nunca, continuando com o meu caminho.

Será que era mesmo apenas uma ameaça ou...Sooyoung e Sunny haviam mesmo decidido tentar o lado colorido da coisa ?

Isso com certeza não ia passar em branco, não para Taengerlock !

Bom, queria dizer que eu não estou nada contente com esse capítulo /cries T-T Eu sinto que tá horrível, meio xoxo, e mesmo depois de reescrever não consegui atingir algo que me agradasse...Venho me pressionando muito para escrever algo que não desaponte vocês então estou sendo dura comigo mesma, sinto muito se for verdade e esse capítulo não estiver lá essas coisas !

Desabafos a parte, SooSun :O uq / primeiros "Eu te amo" de Taeny o/ é importante, bery bery importante ! Anyway, Tae com Key aprendeu que não pode consertar tudo, né ? Talvez já estivesse na hora...Sempre quero mostrar um crescimento das personagens, espero que notem ^.^

Novamente, postando sem revisão e sem horas de sono, assim que ler corrijo os erros ! Obrigada por me apoiarem e...mais 7 chapters to go !