Somebody Out There
Dance On Our Graves - PT
Meu corpo não parava de tremer nem por um segundo.
“O que você estava pensando ?” A vi reaparecer na sala com as sobrancelhas franzidas, em um semblante preocupado. Foi neste momento - com o auxílio das luzes - que percebi o quanto eu a havia molhado também. Seu suéter acinzentado estava com as marcas do meu abraço.
O que eu estava pensando ? Burra, burra !
“Você pode pegar uma pneumonia Taeyeon !” Suas mãos seguravam dois cobertores um tanto grossos.
“M-Me de-des-desculpe por isso t-também !” Apontei o dedo para o suéter que fora minha vítima, vendo-a olhar rapidamente na direção do meu dedo.
“Está tudo bem.” Tiffany balançou a cabeça em negativo, retomando os passos até mim. Estava uma grande competição de quem tremia mais, meu queixo ou o resto do meu corpo. “Esse é o menor dos problemas.”
Eu conseguia ouvir meus próprios dentes batendo uns nos outros, de modo incansável. Ela desfez a distância entre nós e por um momento, nós fizemos contato visual. Vi que suas sobrancelhas ainda permaneciam franzidas.
Tiffany colocou os cobertores ao meu lado. “Está aqui desde quando ?”
Antes que eu pudesse responder, lutando para gaguejar menos, senti um toque quente em minhas bochechas.
“Aish, você está congelando !”
A olhei um tanto surpresa pelo gesto. Foi super rápido, logo ela retirou a mão mas o choque térmico que o ato causara, resolvera ficar. Fiquei apenas à analisa-la, vendo o seu estado que parecia mais em pânico do que eu mesma.
“Est-Está tu-tudo bem.” Tentei sorrir para convencê-la daquilo na tentativa de acalmá-la mas tenho certeza de que mais pareci estar tendo um espasmo do que sorrindo.
“Não está nada bem ! Você tem que tirar essas roupas, tem que-”
“N-Não precisa !”
Ela pareceu ignorar o meu protesto pois em seguida, a vi pegar em meu pulso.
“Vem comigo, vou te emprestar algumas roupas, assim você não vai ficar doente !”
Com o ínicio de seus passos fui puxada por ela naquele mesmo instante. Relutante ou não. Eu sentia um aperto leve em meu pulso mas, novamente, o calor logo se esvaiu. Quando fui olhar sua mão à me guiar, vi que já não estava mais lá.
Parecia que ela agia e depois, pensava.
A segui de modo calado por um corredor meio largo até ver uma porta aberta do lado esquerdo, onde eu supunha que seria o banheiro.
“Tem toalhas no armário superior, vai se secando que vou trazer as roupas.” Assim que ela ligou a luz e me pôs para dentro, não deu nem tempo de me virar e ver a sua saída. A porta já estava fechada.
Fui fazer o que ela até então, havia quase ‘mandado’. Me sequei o máximo possível, focando no ninho que havia virado meu cabelo até ouvir uma batida de porta e ver apenas suas mãos aparecendo.
“Aqui, se veste que vou fazer um chá.”
A preocupação dela estava sendo tão admirável que me fez sorrir, mesmo que só suas mãos estivessem ali me ‘vendo’.
Peguei as roupas dobradas e em seguida a agradeci, vendo a porta se fechar novamente.
Logo que sai do banheiro, me sentia um pouco melhor. Ela havia separado um conjunto de moletom para mim e por mais que nossa diferença de tamanho não fosse tãão grande assim, eu me sentia encolhida demais para ele. As mangas ultrapassaram os meus pulsos mas não era problema, desse jeito nem precisaria de luvas.
Quando retornei a sala com as roupas molhadas em mãos, vi Tiffany chegar nesse mesmo cômodo com outros trajes semelhantes. Fiquei mais relaxada com isso, já que eu que a havia molhado com meu abraço.
No momento em que eu a segurei firme em meus braços, não liguei para a surpresa que ela sentiria ou a hesitação em retribuir, porém, quando senti suas mãos lentamente se posicionando em minhas costas, não pude evitar o alívio. Abraçar e ser abraçada já era um bom começo. Ficamos tempo o suficiente na friagem até ela correr para abrir a porta, ou se não, as coisas só piorariam.
Tiffany deu uma olhada em mim dos pés até a cabeça.
“Bem melhor agora.” Vi um pequeno sorriso de canto, me fazendo retribui-lo com outro espasmo.
Sem mesmo eu pedir, a vi pegar as roupas de mim e então, seguir para o lado direito da sala de estar, sumindo de novo ao ultrapassar um arco grande.
Talvez fosse para lá que ficasse a cozinha.
Ao sentar-me no sofá, comecei até a me sentir um pouco culpada por estar dando trabalho à ela e por ter feito bagunça em um local tão arrumadinho. Com os cobertores já postos ao meu redor de um modo firme, fiquei à escanear a sala atenciosamente.
A decoração se fazia mais presente do que na de Londres. Havia quadros, flores, cores suaves à combinar com os móveis...Bem fofo, para falar a verdade.
Comecei a ouvir alguns barulhos vindo de onde ela estava, mas não me importei, continuando a ver cada coisa que estava à minha frente.
Tapete, televisão, mesinha com livros e revistas espalhados. Vi um sorrisinho crescer no canto dos meus lábios, podendo assim perceber que eu estava ficando melhor na questão da tremedeira.
Por curiosidade, inclinei meu corpo para poder pegar e ver o que ela andava lendo. Não queria passar por bisbilhoteira, mas não faria mal ver, não é ?
Só curiosidade.
As revistas que peguei falavam basicamente sobre moda, uma parecendo estar até em inglês. Já os livros, reconheci apenas um : “A menina que roubava livros” tendo-o conhecido por meio de Amber.
Passando a mão pela capas, um outro chamou minha atenção. Não tinha capa significativa, sequer havia um título chamativo ou algum desenhinho legal. Era duro e acinzentado, com uns relevos aqui e ali. Com o cenho franzido, o abri para ver do que se tratava.
Tudo que encontrei foi uma página semi-preenchida por letra de caligrafia.
Mesmo que o mundo inteiro te diga quem você é, se achará capaz de não poder descobrir por si mesma.
Mesmo que em um momento sinta todo o poder, a razão e a certeza em suas mãos, no fundo perceberá o quão efêmero e enganoso isso verdadeiramente é.
Mesmo que você tente subir o mais alto que pode, ultrapassando qualquer objetivo que tenha traçado em sua mente, reconhecerá que não bastará muito esforço para jogar à si mesma para mais baixo do que o seu ponto inicial.
É um ciclo vicioso no qual você não pode interferir. É uma faca de dois gumes que carrega consigo um forte cheiro agridoce. Tão amargo e tão sutil ao mesmo tempo que provoca a sua sanidade dia após dia.
Não te impede de sentir, não te impede de amar, mas sua mente lhe manipula à achar que não pode fazê-lo do jeito certo.
Eu entendo, Tiffany. Eu te entendo.
Não tenha medo.
~ Kim Hyoyeon
Sua psiquiatra ? A curiosidade que aquelas palavras me passaram me fez querer ver mais, do que mais se tratava. Pronta para virar a página, o som de passos retornando até mim me interromperam. Devolvi tudo para o lugar onde estavam e em segundos, fingi ter estado naquela posição desde que havia me sentado.
Tiffany reapareceu com duas canecas em mãos. Eu podia ver o vapor que saía destas.
“Aqui, beba tudo.” Ela me entregou uma e sentou-se no sofá de dois lugares ao lado, para talvez ter melhor visão.
“Obrigada.” Acenei com a cabeça e segurei a caneca com as duas mãos, dando um gole logo em seguida. O calor que me forneceu foi até de estremecer. A tremedeira havia parado um pouco, mas ainda sim eu sentia arrepios uma hora ou outra.
“Você vai pegar um resfriado terrível.” A vi colocar o cabelo atrás da orelha, preparando-se para beber de sua própria caneca.
“Não me importo...”
“Como não ? Sabe-se lá quanto tempo ficou debaixo de chuva, por que não procurou um abrigo um-”
“Eu não sei explicar.” Dei ombros ao olhar dentro de seus olhos. Ficou um breve silêncio antes de eu continuar. “Só quis sentir a chuva enquanto eu...Enquanto esperava por você.”
A vi dar um suspiro e tomei aquele como o momento certo. Estava na hora de esclarecer um pouco as coisas.
“Vim aqui para me desculpar.” O cobertor, o moletom e o chá estavam fazendo uma ótima diferença em mim.
Ela continuou a me encarar silenciosa, sabendo que tinha mais por vir.
“Sinto muito ter agido daquela maneira, fui um tanto ignorante e estúpida então...Eu estava alterada pela bebida, isso não melhora muito mas-”
Dei uma pausa para reorganizar minhas palavras. Suspirei fundo antes de continuar, intensificando ainda mais o meu olhar em seus olhos. Se pudesse, queria que com isso ela visse que eu seria sincera.
“Quero que você me entenda também Tiffany. Eu esperava por respostas, estava sem pista alguma sobre o que estava acontecendo e isso me frustrou a cada dia que passava...Tentei esperar com que você viesse até mim mas, a demora me fez quase surtar.”
Seu olhar caiu para o chão. Ela parecia pensar no que eu estava dizendo.
“Acho que precisamos resolver as coisas sem brigas e discussões, sem forçar nada...Eu estou aqui para me desculpar mas também, para te ouvir. “
Ao sentir um estremeço percorrer meu corpo, tomei outro gole para reaquecer minha garganta.
O som de sua voz demorou um pouco para sair.
“Eu consigo entender o seu lado Taeyeon, consigo. Apesar de ter sido meio conturbado, sei que você só queria saber o que tanto te incomodava e também sei que não facilitei as coisas mas...Mas eu não me sentia segura para te contar.”
Aquilo meio que me abateu, deixando mais em evidência que ela o fizera à força por minha causa.
“Acho que nunca vou me sentir segura para contar algo assim. Não admito nem para mim mesma, para os outros então...De qualquer maneira, a culpa não é só sua.”
Tiffany mordeu o lábio inferior, desviando o olhar mais uma vez de mim.
“Eu me alterei, você se alterou...Foi realmente uma bagunça.”
Concordei lentamente com a cabeça, prevendo um silêncio de novo.
Ambas ficamos caladas mas eu fui a única que manteve o olhar nela. Ela parecia arrependida de alguma coisa.
Quando eu estava prestes a falar alguma coisa, ela foi a que quebrou o silêncio.
“Sabe, eu queria poder te contar tudo.” Seus olhos finalmente voltaram aos meus. “Queria de algum modo abrir minha mente e deixar você ver tudo mas é tão complicado...Desde que eu te conheci eu-”
Dali não saiu mais nada. Ela voltou a morder sua boca, interferindo na continuação do que falaria.
Engoli em seco.
“Você sempre se sentiu assim ?” Procurei ajudá-la a se abrir comigo. Talvez faltasse um empurrão, um certo apoio.
Tiffany concordou com a cabeça antes de falar alguma coisa.
“Sempre. Acho que eu costumava viver em uma mentira, sabe ? Eu dizia à mim mesma que ficar sozinha era o melhor mas na verdade, a solidão me matava quando eu parava para pensar. Não teve um momento em que não deixei de me sentir triste, inútil...Eu sabia que estava depressiva mas era só me olhar no espelho, tentar sorrir e fingir que estava tudo bem.”
Ela deu ombros.
“A depressão ficou durante um bom tempo até eu começar a sentir uma sensação nova...Foi quase uma falsa melhora. Eu acordava bem, queria fazer tudo, queria sair e me divertir como nunca antes, queria finalmente viver o que até então havia perdido. Eu me sentia tão bem comigo mesma que era até estranho.”
A vi beber o chá antes de continuar. Enquanto eu a ouvia com atenção, tentava assimilar as coisas. Como ela conseguira viver com aquela depressão ? A ideia que tive ao me colocar em seu lugar me assustava.
“Mas aí era questão de tempo até eu voltar à estaca zero. Eu não fazia a mínima ideia de que isso viesse a poder ser uma doença, só fui me acomodando sem saber. Passei a afastar as pessoas de mim, querendo ou não, e elas simplesmente...Iam embora.”
Eu não fui embora.
“Te conhecer foi o que mudou tudo.”
Para o bom ? Para o ruim ?
“Você me trouxe um sentimento familiar de volta. Foi diferente de todos desde o primeiro instante em que conversamos...”Vi um sorriso fraco aparecer em sua boca. Toda as nossas lembranças começaram a passar por minha mente enquanto eu a fitava, sem falhar por sequer segundos.
“Você me encantou de verdade com esse seu jeito peculiar e foi aí que comecei a perceber que isso não podia acontecer. Eu deveria me afastar, não me apegar ainda mais em você. Quando discutimos pela primeira vez eu já tinha esse pensamento. Fiquei com ele até você aparecer na ponte e simplesmente destruir tudo. Tentei te afastar, até mesmo gritei e me alterei mas você continuou lá e...” O sorriso cresceu. Eu me lembrava como se fosse ontem. “Eaí você diferenciou novamente dos outros. Não foi embora, não desistiu de mim.”
Tiffany fez questão de olhar intensamente em meus olhos quando dissera a última coisa. Eu não desisti dela e pensar assim, começou a me dar uma certa felicidade.
“Eu aceitei o que eu sentia por você. Dei uma chance à mim mesma, entende ? Deixei rolar, sorrindo boba várias vezes ao dia como uma adolescente...Em nenhum momento eu menti Taeyeon. Tudo foi real, tão real que chega me sufocou.”
A mudança na expressão me preocupou um pouco. O sorriso se desfez, fazendo o meu desaparecer da mesma forma.
“Após ter te dado aquele colar, fiquei tão feliz comigo mesma por ter feito você gostar de mim, por ter você comigo, tudo parecia tão certo...Quando tivemos nossa segunda vez-”Suprimi um outro sorriso.”Passei a me sentir viva de novo.”
A essas horas, já até havia me esquecido do frio que sentia.
“Tudo durou até o dia em que fomos à London Eye, lembra ?”
“Como não lembrar...” Dei um sorriso pequeno, lembrando do fato dela ter visto aqueles videos vergonhosos que gravava.
“Depois disso eu apenas senti algo mudando dentro de mim...Voltei a me sentir triste, vazia, solitária, mesmo tendo você ao meu lado. Perdi toda aquela energia que tinha antes, quase como se um parasita tivesse sugando de mim. Não havia mais vontade alguma de me levantar da cama nos dias seguintes. Quando você ligou pela primeira vez eu quis te evitar, mesmo que uma parte minha não quisesse isso. Mas então como o esperado, você persistiu e persistiu até eu ver que te evitar só pioraria as coisas...Eu menti para você naquele dia.”
Fui pega de surpresa por descobrir que eu estava certa, afinal. Lembrava-me de como ela havia agido estranho, dizendo ser por causa de remédio depois de todas aquelas tentativas em contatá-la.
“Não era remédio então...”
“Não.”
Outro suspiro longo e mais um gole. A minha bebida já nem estava mais sendo interessante para mim.
Anui a cabeça em concordância, digerindo as coisas uma por uma.
“Na última noite quando você me disse aquelas coisas, você querendo ficar comigo, tudo pareceu surreal para mim. Era ótimo, claro que era, mas eu não conseguia pensar assim. Me fez ficar pior de um certo modo pois me fez perceber que eu estava uma completa bagunça. Eu te queria de volta mas ao mesmo tempo me sentia sobrecarregada, entende ? Você continuava a me trazer sentimentos tão bons, tão familiares que eu já começava a me perguntar o porque de estar acontecendo comigo.”
Tiffany deu ombros de modo meio derrotado ao juntar as sobrancelhas.
“Você é uma pessoa boa, pura...Você não merecia alguém tão pertubada, cheia de ódio, confusão e-”
“Espera.” Levantei um dedo para fazê-la parar.”Você foi embora por que pensou que não era boa o suficiente ?”
Não recebi resposta direta. Ela se encolheu no assento e se manteve calada até balançar a cabeça em confirmação.
“Isso nunca foi verdade Tiffany.” Eu esperava ser retribuida no olhar mas ela preferiu continuar a olhar a mesinha dos livros.
“Bem...Isso já não importa mais.” Ela me olhou de soslaio por poucos instantes.
Fiquei calada pela falta de respostas. O que ela disse poderia ser interpretado de várias maneiras, não é ? Contando com a expressão, é.
“Uh-”
“Enfim, me desculpe por ter causado esse transtorno na sua vida.”
“Transtorno ? Por favor Tiffany, para com isso. Do jeito que você fala é como se só conseguisse se lembrar do final...”
Consegui sua atenção mais uma vez. Seu olhar pareceu me analisar cuidadosamente, por mais que estivesse distante.
“Além do mais, nada disso é culpa sua, não pode continuar pensando assim.”
Com um último lembrete de que ainda tinha um chá em mãos, resolvi acabar logo com ele, nem mesmo tendo o efeito de antes.
“É, não posso...” A vi dar ombros de novo, se levantando de maneira rápida. “Quer mais ? Melhorou o frio ? Ainda não acredito que ficou na chuva desse jeito. “
Ela veio até mim e pegou a caneca de minhas mãos. Olhei para cima e nesse momento, trocamos um novo olhar.
“Não mas muito obrigada.” Tiffany ficou intacta até talvez perceber o que estava fazendo. Olhar dentro de seus olhos parecia algo totalmente novo, quase como se eu nunca o tivesse feito antes. “E eu ainda não sei o que tenho na cabeça mas estou bem melhor agora.”
A vi demonstrar um sorriso. Esse fora o maior até o momento. Ainda esperava por um eye-smile, mas cada coisa em sua hora.
Ela seguira para a cozinha, carregando consigo as duas canecas. Sendo deixada sozinha por um tempinho, pude terminar de pensar em todas as coisas que descobri. Sobre estar certa, sobre como ela realmente se sentia...Isso criava uma outra dimensão para as coisas. Eu certamente comecei a ver com outros olhos, após ter pensando tão ruim sobre ela durante todo esse tempo.
Com a sua volta e sua acomodação no lugar de antes, fui a primeira a falar dessa vez.
“Como você esteve durante esse tempo todo ? Quase dois anos...É muita coisa.”
“Okay, eu acho. Ao sair do seu hotel liguei para minha irmã por impulso, já que ela ainda mora na Inglaterra e aí... Bem, e aí que vim parar aqui. Tendo um emprego, uma casa e mais contato com meus irmãos fez uma boa diferença. Venho tentando acostumar às dosagens do remédio, à tudo que- Você sabe, mudou em minha vida.”
Acostumar ainda sim não significava aceitação. Eu continuava a temer o que havia pesquisado se tornando realidade. Talvez em algum momento, ela pensando não precisar mais do remédio e isso resultar em uma-
Não vou pensar assim. Eu estou aqui. Agora estou aqui por ela.
“Leo disse que estava melhorando, que a doutora Kim te ajuda bastante.”
“Sim, ela é uma das que mais confio atualmente. Apesar de não gostar do fato de ter que ir nela, eu a adoro. “ O sorriso de agora substituiu o outro em largura. Saíra até uma risada, fazendo-me sorrir junto.
“Ela parece ser uma boa pessoa.”
“E é. Assim que fui diagnosticada, é claro que a recepção não foi boa. Até mesmo comecei a duvidar da minha fé, se existia mesmo um Deus olhando por mim como gostava de acreditar. Difícil pensar assim quando tudo está contra você mas... A Hyoyeon me confortou um pouco então sou muito grata à ela.”
“Não tem mais a ideia de afastar as pessoas ?”
“As vezes. O remédio diminui as crises porém não acaba de vez...Mas com certeza tenho mais amigos do que antigamente.”
Aumentei mais o sorriso. Estava me sentindo mais leve a medida que ouvia como ela estava melhor que antes. Era bom ver isso, muito bom para a calma de minha alma.
“Então você só precisa tentar achar um lado bom, não é ? Você tem seus irmãos novamente, tem um emprego, uma casa, amigos, uma doutora incrível e...Agora você tem a mim, também.”
De novo, você tem a mim.
Vi na sua mudança de expressão que eu a havia pego de surpresa. Não desfiz meu sorriso, ainda grata por ter tido essa conversa, por ter ao menos passado frio se fosse acabar assim.
“Isto é, se você permitir.”
Os cantos de seus lábios começaram a crescer simultâneamente mas não houve resposta. Eu já sabia que era um sim, mas eu queria ouvi-la dizer.
“Vamos lá, é outono ! Alguém uma vez me disse que era a estação de mudanças, de recomeço. Concordo plenamente com esse alguém. “
Seus lábios fizeram um breve “O”, como se fosse inusitado eu ter lembrado de tal coisa. Mantendo as minhas sobrancelhas em questionamento, vi aparecer o que eu estava esperando.
“Claro que sim.”
Seu eye-smile.
XxX
Estou morta ?
“Olha como ela é estranha !”
“Shiu, vai acordar a criatura !”
“Que acorde ninguém mandou-”
“Shiiu !”
Minha cabeça parecia estar sendo esmada por uma rocha. O que estava acontecendo ? Eu havia morrido ? O céu costumava ter gente barulhenta assim ? Ou o inferno ?
“Grrr~”
“Olha o que você fez, acordou ela !”
Senti um certo molhado no canto de minha boca, fazendo-me perceber que estava esteve semi-aberta por um tempinho. A fechei de modo preguiçoso, começando a grunhir e a me mover por onde quer que eu estivesse deitada.
“Ai Sunny shiu você, estamos aqui sem cachê então tenho meus direitos.”
Franzi minhas sobrancelhas em desgosto. Ouvir aquela voz e reconhecê-la, me fez grunhir ainda mais. Sequer estava conseguindo respirar pelo nariz - o que explicaria a boca aberta - e ainda por cima, ouvia as vozes à um kilômetro de distância.
Surdez, ai como adoro surdez.
Com muita luta entre os comandos do meu cérebro, a fraqueza que sentia, a dor de cabeça e o calor em meu corpo, tentei abrir os olhos, me encontrando com basicamente uma visão do inferno.
“YAH !”
Sooyoung estava a me analisar com os olhos esbugalhados e a boca meio torta, fazendo-me querer até mesmo voltar para o útero da minha mãe depois dessa. Não é normal acordar e encontrar uma careta daquelas.
“Sooyoung sai de cima dela !” Sunny a puxou pelo braço, me deixando com uma expressão meio chorosa.
“O que vocês querem, yah yah vão embo-” A voz que eu tanto queria ter escutado, não saíra apropriadamente. Era um sinal de rouquidão ? Sim. Meu peito doía, não demorando nem um pouco até sair uma tosse do tipo dominó, daquelas que desencadeavam até a saída das suas amídalas.
“Ai sua cheia de germes ! “ Ouvi Sooyoung comentar, podendo vê-la sentada na beira da cama, assim como Sunny.
Tosses
“Que consideração Taeyeon.”
Mais tosses
“Agora viu como ela é né, antes era “Aii não acorda ela bla bla bla Sooyoung !” “
A barulheira das duas - mais precisamente a imitação super aguda de Sunny que ela fizera - fazia minha mente girar.
“Mas ela fica uma gracinha enquanto tá ali, dormindo caladinha !”
“Hey-” Ao procurar por água e não encontrar, tentei chamar atenção das duas , parecendo ser uma mera formiga enquanto tossia tudo para fora. Elas sequer pareciam se importar.” Podem me -” Tosse de novo. Eu jurava que se tossisse mais um pouco, minha cabeça explodiria pelo impacto.
Tudo que eu queria era um pouco de água, apenas isso.
“Ela é mesmo uma gracinha enquanto não abre a boca, conco-”
“Vocês duas ! Por Deus, não estão vendo o estado dela ?”
Ouvi uma outra voz surgir, fazendo as outras duas calarem. Jessica. Foi questão de segundos até vê-la reaparecer no quarto com um copo de água em mãos.
“Aqui Taeyeonnie.” Bebi como se fosse o último da Terra. O que fora aquilo ? Havia engasgado com ar ou o que ?
Senti as mãos da Sica massageando o ínicio das minhas costas, como se fosse para amenizar os efeitos das tosses.
“Obrigada Sica.” Minha voz saíra de um jeito falho, fazendo as outras duas idiotas rirem do meu estado. “Vocês” Aquilo estava mais para um sussurro. “Vão me pagar.”
“Yah para ! Peço para olharem ela por um momento e quase a deixam morrer ?” Jessica lançou um olhar matador para as outras duas, fazendo os sorrisos acabarem de um modo brusco.
“Ninguém mandou ficar na chuva.”
“É, ninguém mandou.”
“Ugh.” Vi Jessica revirar os olhos antes de retornar a sua atenção à mim, tocando a minha testa com as costas de sua mão. “A febre ainda continua. Se continuar assim vamos ter que te levar pro hospital Taeng.”
“Nah, hospital não.” Neguei com a cabeça de modo um tanto infantil, não querendo realmente ter que ir.
“Parece criança.” Foi a vez de Sooyoung revirar os olhos.
Suspirei de modo impaciente. Antes que pudesse retrucar, vi Amber entrar no meu quarto com um pacote de batatinhas.
“Yo Taengbro.”
A cumprimentei apenas com a cabeça, não tendo nem forças mais para falar. Aquilo era uma gripe ferrada ou era a sentença de minha morte, de duas uma.
Vi Sunny e Sooyoung partir para cima das batatas de Amber enquanto sentia meu nariz assoviar, sem poder respirar de modo certo.
Parecia mesmo que eu estava no meu próprio enterro, tendo todas aquelas pessoas à minha volta.
“O que você andou fazendo para ficar assim ?” Amber perguntou, estando inconsciente do tamanho furto de sua comida.
“Chuva.” Abreviei para o bem da minha garganta e para evitar explicações. Não precisavam saber de todo o contexto, não é ? Talvez depois se precisar, falaria apenas com quem importava : Jessica.
“Tem que ficar de olho na pneumonia ein ? Se quiser posso te recomendar uma doutora amiga minha que é ótima, ela tá sempre zanzando pela minha faculdade.”
“Aquela que olhou a Krys ?” Jessica olhou para Amber, ainda continuando com a massagem.
“Essa mesma.”
Agradeci Amber de um jeito silencioso e assim, fechei os olhos ao sentir o cansaço tomar conta.
O breve silêncio que se formou tinha tudo para se tornar o paraíso.
“YAH, o que estão fazendo ? Minhas batatas, hey !”
Ah não.
“Fica conversando fiado, perde !” Sunny e Sooyoung dispararam a gargalhar, ao mesmo tempo em que Amber passou a reclamar da mercadoria perdida.
Com isso, Jessica se juntou à elas, tentando por ordem no local em respeito à mim mas no fundo, só piorando as coisas.
Aqueles realmente eram meus fardos para vida toda, faltando apenas Kibum ali presente.
Ainda bem.
Amigos como Amber, Key, Sooyoung e Sunny : todo mundo deve ter um né ? KKKKK :B
Obrigada pelos subscribes e pelas reviews mais que lindas <3
O começo do capítulo foi meio difícil de escrever então tive a necessidade de voltar a um ar mais light no final, como aqueles do começo da fic. Acho que agora é seguro de dizer que daqui para frente vai ser menos tenso...Talvez hehe :3
É isso, espero que gostem e ignorem os erros básicos !
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