As coisas entre eu e Jessica estavam...Boas. Eu não diria que estavam como antes, mas também não chegava ao nível de ‘péssimas.’ A estabilidade de nosso relacionamento enfim havia se abalado e eu não sabia se o meu tanto, era o mesmo que o dela.

Depois daquele dia, eu sabia que aos poucos poderiamos voltar ao normal. Como em uma “segunda chance”, procurei mostrar de todas as maneiras que pude que não mentia quanto à querê-la perto de mim. Porém, por mais que fizesse isso, não consegui me levar a prometer algo que sabia que não podia cumprir. Talvez fosse além de um compromisso com ela. Estava estivesse sendo um compromisso comigo.

Eu não iria retroceder nenhum passo com Tiffany. Mesmo que agora houvessem as minhas dúvidas quanto ao que estava realmente tentando fazer, eu sentia vontade disso. Como ela mesma disse, nesse aspecto, eu não mudei. Eu iria persistir.

Foi basicamente isso que tentei nos dias que se seguiram. Com a enfim chegada do natal, os acontecimentos da festa ainda não haviam sido esquecidos - tinha certeza que não - mas sim, ignorados. Jessica foi a que mais fez isso.

Eu ainda me encontrava com um pé atrás com o que Tiffany dissera em relação à Sooyoung então, em uma das primeiras oportunidades que tive, a perguntei sobre isso. De nada me serviu. Como um criminoso quando planeja seu alibi antecipadamente, sua versão de poucas palavras quase se igualou à de Tiffany.

Se não a conhecesse, se não tivesse prestado atenção em como Tiffany pareceu incerta ao me responder, eu acreditaria perfeitamente. Ainda sim, bem no fundo, algo bom em mim dizia que elas poderiam estar falando a verdade, que tudo aquilo poderia ser fruto da minha imaginação.

Esse sentimento, porém, não durou muito.

No meio tempo antes do tão esperado ano novo chegar, tentei contatar Tiffany algumas vezes, ciente de que se talvez Jessica soubesse, as coisas não ficaria nada bem. Mas, diferentemente das semanas que haviam se passado, eu não recebi muita resposta. Isso só fez meu instinto se fortificar, me deixando com mais dúvidas ainda. Ela parecia me ignorar e foi aí que logo lembrei de uma de suas confissões, sobre quando ainda estávamos em Londres.

As coisas não estavam iguais às de Londres, certo ? Por mais que parecesse muito que estava se repetindo, dessa vez eu tinha outros meios. Lá era só eu e ela mas agora, eu tinha auxílio de outros. Portanto, com a certeza de que talvez ela precisasse apenas de um tempo para si mesma, parei de tentar entrar em contato. Nem tudo poderia estar relacionado à sua bipolaridade, correto ?

Correto.

Na modesta comemoração de ano novo, com todas as pessoas que me importavam - ou melhor, as que estavam mais próximas de mim - procurei me divertir, desejando sinceramente um ano próspero em todos os sentidos. Saúde, sorte no trabalho, e todas essas típicas coisas que queremos sempre. O que diferiu dos casuais desejos, no entanto, foi a minha vontade de mudança. Eu queria que as coisas mudassem em minha vida, em certos aspectos.

Não estava bom o bastante ? Talvez. Acho que as coisas nunca serão boas o bastante para qualquer ser humano mas, eu queria apenas conseguir evoluir, me tornar cada vez mais madura, sadia e direita para poder dar orgulho à minha família e à mim mesma. Quem sabe mudar os defeitos que me impediam de muitas coisas, ou melhor, os quais eu sabia que podia mudar.

Em resumo, eu tinha boas sensações para o ano que chegava. Pelo menos isso.

Sentada em uma das cadeiras voltadas à bela vista do loft de Sooyoung, consegui me desligar um pouco dos meus arredores, na onde todos mantinham o clima festeiro, as risadas, os cumprimentos e os sorrisos impecáveis nos rostos. Enquanto tudo isso ainda ocorria, me encontrei pensativa em relação a muitos fatos.

Consegui pensar em como, a já muito próximo de fazer dois anos, viajei para Londres sem muito na cabeça. Pouco juízo, pouca experiência amorosa, habilidades ainda não tão lapidadas, tudo diferente. Lembrei-me até do chifre do ano anterior, passando o resto deste mergulhada em raiva e na promessa de que me tornaria uma pessoa melhor, menos ingênua.

Não cumpri tal promessa de imediato, só fui parar um pouco com a minha ingenuidade após ter retornado para a Coréia depois de todos os acontecimentos, porém, na virada do ano havia, apenas um desejo a rondar a minha mente. Na verdade, acho que estava mais para uma meta do que para um desejo.

Após ter toda a decepção de passar por uma traição pela primeira vez, não neguei ter ficado abalada por isso. Minha cabeça se encheu de inseguranças, como no motivo dele ter feito isso e coisas similares, o que era de fato inevitável mas, aos poucos fui percebendo que eu não precisava daquilo. Eu não precisava agir feito boba a carroça na frente dos cavalos. Sendo assim, a minha meta para o ano que vinha era : deixar de me preocupar tanto.

Levei tão a sério que escrevi bem grande em um papel e o colei na porta do guarda roupa, podendo então, ser lembrada disto. Na verdade, percebendo que tais preocupações não me levariam a nada, me baseei - ao pé da letra - no título de uma famosa obra do ocidente “E o vento levou.” Não muito na obra em si, isto é.

Eu não deveria me preocupar com coisas banais. Era como pensar que o vento havia levado de mim alguém que me magoara, alguma pessoa importante na minha vida ou qualquer outro simplesmente para o meu bem. Afinal, é assim que a vida é, não é ? As coisas apenas acontecem. Mas se eu escolhi acreditar nisso, no fim, eu sabia que assim como o vento levara, poderia me trazer algo em troca, tardando ou não. Quase como em um ciclo.

Se eu dissesse isso para Sooyoung ela teria rido na minha cara, teria feito piadas mas, e se eu substituisse a palavra “vento” por “Deus” ? Mudaria muito o significado que atribui para mim ? Acho que não.  Se fosse a segunda opção, ela com certeza não riria. Nunca fui a mais cristã de todos porém, isso não fazia muita diferença na minha vida.  Eu pretendia seguir com o meu raciocínio e isso estava gravado em minha mente.

Quando fui para Londres eu não fazia ideia do que estava por vir, não esperava encontrar muito. Além de trabalho, pretendia apenas aproveitar bem a cidade, mas...Talvez as melhores coisas realmente são as mais inesperadas. Tanto, que não demorou até eu ser pega de surpresa naquela cidade. O mais incrível de tudo isso é que mesmo não percebendo naquele momento, estando distraída pelo medo e pela situação, a brisa forte fora o meu maior sinal de que algo bom estava por vir.

Ali estava, diante dos meus olhos, o que o vento havia me trazido. Este tocava-lhe os cabelos negros, este não cessou nem por um segundo, este...Me trouxe Tiffany.

Não havia parado para pensar antes. Parecia até planejado. Era quase como se a mãe natureza estivesse alertando do que me aguardava. Eu fui recompensada com a melhor pessoa que poderia me aparecer, a que mudou muito o meu modo de pensar, a que me fez ver um outro lado das coisas.

Eu podia sentir que tudo logo entraria nos trilhos novamente mas, nunca imaginaria que a tirariam de mim de um modo tão rápido. O período visto assim, me pareceu tão curto. Não era justo, não quando eu passei a me sentir tão bem ao seu lado. O que poderia significar ? Que ela fora para o bem ?

As coisas pareceram se complicar justamente pelas perguntas ainda no ar. Fiquei meio descrente, machucada por ela ter escapado de mim porém...Tardou, mas isso passou.  Minhas novas amizades, o meu crescimento profissional, tudo em minha vida pareceu  aos poucos, melhorar. Jessica também fora uma das coisas boas que me aconteceram e eu era grata por isso.

Olhando-a conversar com alguns amigos presentes, fiquei a sorrir fraco perceber isso.

Na verdade, eu era grata por tudo até então.

"O que você tem ? Parece tão pensativa. " Sunny colocou uma cadeira ao meu lado e sentou-se, fazendo-me despertar de todo meu transe anterior.

Virei minha atenção para ela.

"Nada demais."

"Tem certeza ? "Suas sobrancelhas arquearam-se em questão. Com um sorriso maior, tive uma vontade imensa de abraçá-la.

Pegando-a pelo pescoço, a abraçei de lado, feliz.

"Certeza."

XxX

“Ele disse isso ?” A gargalhada de Sunny nunca falhava em me fazer rir junto.

“Dá para acreditar ? Foi aí que perdi esperança na humanidade, porque não era possível.”

Meneei a cabeça em negativo, divertida pela história que ela estava a me contar.

“Está cada dia pior huh ?”

“Nem me diga...Quer mais ? Vou buscar para mim.” A vi apontar em direção ao copo em minha mão.

Com uma confirmação silenciosa, lhe entreguei o copo, vendo-a se afastar até o interior do loft.

Em uma breve escaneada no local em que estava, vi Jessica conversar com alguns amigos, a pouca distância de mim. Fiquei a observá-la por uns instantes até me bater a curiosidade de saber que horas era. Com um olhar para trás, procurei por meu celular em cima da mesa, pegando-o de forma preguiçosa.

Ao ver a tela, havia uma ligação perdida e uma mensagem. Isso me fez franzir o cenho. Se não estivesse no silencioso, eu até poderia ter ouvido tocar. Bufei em resposta. Assim que desbloqueei a tela, procurei ver de quem se tratava e quando vi o seu nome ali, meus olhos até se arregalaram em surpresa. Ela havia ligado a mais ou menos meia hora atrás, o que fora o tempo em que Sunny aparecera para me fazer companhia. A coincidência fora intrigante.

Abrindo a mensagem que também havia chegado quase no mesmo horário, vi que me alertava de um novo recado. Olhando para os lados para checar se Sunny havia voltado, me levantei e procurei por um lugar mais calmo para poder ouvi-lo sem interrupções.

Logo que o fiz, me preparei para o que quer que fosse.

A sua voz demorou a ser ouvida, mas quando o fez, arrancou um sorriso de mim.

“Huh Hey Taeyeon ! Tiffany aqui...Me desculpe por não ter retornado mais cedo, meu irmão me arrastou para uma viagem de família e digamos que a telefonia aqui vai de mal a pior, ugh.” Ela pausou por alguns segundos. “ Uhm estou ligando para te desejar um feliz ano novo, já que tive a oportunidade agora. Eu queria dizer que eu desejo tudo de bom para a sua vida, sua família...Você merece mais que ninguém.” Meu sorriso cresceu. Ela parecia pensar bem no que dizia.”Eu quero que saiba que eu sou grata à você, muito. Apesar de tudo que aconteceu, você ainda insistiu em mim...Eu sempre serei grata por isso, mesmo que as coisas não terminem do melhor jeito.”

Isso me fez juntar um pouco as sobrancelhas.

“Quero que saiba que eu nunca vou me esquecer de nada, que vou levar isso junto comigo...”Outra pausa. Nesses poucos segundos de silêncio, procurei analisar o seu tom de voz. Alguma coisa não parecia bater em minha cabeça. Suas palavras soavam tão... vagas, distantes. Poderia ser apenas impressão, mas era o que eu sentia no momento.

“Bom, continue saudável, certo ? Continue sendo essa pessoa maravilhosa que você é, tenho certeza de que só vai dar mais orgulho a todos em sua volta. Ainda vou ficar mais alguns dias por aqui com meu irmão então posso não estar disponível mas, enfim...Obrigada por tudo Taeyeon. “

Assim que o alerta anunciou o fim do recado, pareceu que sua voz continuou em minha cabeça. Sem tirar o sorriso do meu rosto, me senti mais aliviada ao ver que ela estava ao lado de Leo, talvez apreciando bem o lugar para onde foram. Era bom pensar que ela poderia estar se divertindo, da maneira que todos merecessem. Mesmo sabendo que ela não veria de imediato, procurei respondê-la com outro recado, agradecendo-a por ter ligado e dando os mesmos cumprimentos.

A minha madrugada havia se tornado melhor. Talvez esse seria o sinal de que estava começando o ano com o pé direito. As coisas de fato poderiam ser diferentes...Eu poderia sentir.

XxX

Passado todo o êxtase dessa noite, tive que ficar o resto dos dias ainda festivos ‘sozinha’. Jessica viajou para visitar a família e mesmo com as insistências, preferi não ir junto. Por mais que eu não gostasse de me sentir solitária na maior parte do tempo, com todo mundo voltado para seus parentes, optei pela primeira vez não fazer o mesmo. Recebi resmungos, até mesmo bronca de meus pais, mas eu não esperava ser entendida.

Com tudo que havia me rodeado nos últimos tempos, o projeto, a pressão, até mesmo toda a proximidade dos meus amigos, eu precisava, certo ? Eu merecia um tempo para mim mesma. Todos precisam disso uma vez ou outra. Fazia um bem maior para a alma.

Sendo assim, tendo meu período livre, resolvi voltar em meus velhos tempos de sair a noite para comprar baboseiras, ou fazer caminhadas e dirigir a toa pela cidade inteira. Ia parar geralmente em lugares calmos os quais eu sabia que renovariam todo o meu espírito.

Não havia uma necessidade de manter contato com todos pelo telefone, era mais algo por sms para saber se estava tudo bem e isso, estava sendo o suficiente. Cada um no seu canto parecia ser uma boa ideia.  Jessica voltaria em mais ou menos uma semana, havia saudade era claro, mas esta logo seria descontada e tudo voltaria ao normal mais uma vez. Aí sim seria o marco inicial do ano, todos voltando aos seus afazeres.

Eu estava a reviver os tempos em que tinha agenda livre para poder passar o dia inteiro imersa no mundo dos games. Era bom sentir o alívio do estresse que me tomou no final do ano passado. Com uma boa caneca de leite em minha frente, sem nem mesmo tirar o pijama, fiquei a me divertir sozinha. Pelo menos, até uma ligação inusitada me surpreender.

"Taeyeon-ssi ?"

Hwang Leo.

"Ei ! Que surpresa você ligar !" Endireitei meu corpo na cadeira, sorrindo por não ter esperado isso.

"Ah~ Tinha que desejar feliz ano novo atrasado para a minha boa sócia, huh  ? Não poderia me esquecer !"

"Nah, que isso, obrigada !" Sorri para o vento. "Desejo o mesmo para você, que possamos continuar com essa relação, certo ?"

"Mas é claro ! Tenho que confessar porém que parte deste lembrete veio de minha irmã." O ouvi dar uma risada. "Eu estranhei quando ela disse mas, quem diria huh ? Vocês já se conheciam bem e eu não fazia ideia."

"Oh ela te disse ! Desculpe por não ter dito antes, não havia achado conveniente mas, acontece que já nos conheciamos há um bom tempo."

"Nah, não se preocupe, só fiquei surpreso mesmo."

"Uhm falando nisso, soube dela que estavam em uma viagem, como foi ? Voltaram só agora ?"

"Sim sim, estávamos. Foi boa ! Passei um tempo a mais com minha esposa, família e foi renovante. Eu acabei de voltar, cheguei hoje de fato, mas Tiffany retornou logo no dia primeiro."

O que ? Ela havia retornado tão cedo assim ? Mas e quanto à mensagem... ?

"Oh ? Ela mudou de ideia ?"

"Na verdade, é complicado. Nós chegamos dois dias antes mas ela não me pareceu confortável. Eu a fiz ficar prometer ficar pelo menos até o ano novo e bem, ela seguiu à risca. Logo pela manhã ela disse que voltaria e não houve argumento algum que a fez ficar..." Ouvi um suspiro longo. "Ela estava agindo de um jeito estranho mas como já deve saber, acho que só está passando por um daqueles momentos..."

Franzi o cenho. Não fazia sentido o que ele dizia. Ela mentiu para mim na mensagem ? Pelo visto, sim. Havia algo de muito errado ali, ele não conseguia ver ?  Estava óbvio. Ele confiava apenas no remédio que ela tomava ? Isto é, se ela estivesse tomando.

Comecei a ficar preocupada.

"Achei melhor deixá-la sozinha."

Ouvi Leo complementar, talvez pela minha falta de reação. Engoli em seco para poder juntar as palavras necessárias.

"Uh, você já conversou com ela depois que chegou ?" Eu sabia que um tom de preocupação começou a tomar conta da minha voz.

"Tentei ligar mas me parece que seu celular está desligado...De qualquer maneira, assim que ajeitar algumas coisas vou dar uma passada por lá."

Ele não conseguia ver mesmo, não é ? Se tivesse talvez ouvido o que ela me dissera, seria diferente ? Estava claro que ela não estava bem. Agora eu podia entender o por que de ter sentido por um breve momento, que suas palavras pareceram distantes, com algo além do que me dizia.

"Hah, certo...Bom, obrigada por se lembrar !"

"Que isso, se é amiga da minha irmã, não há porquê não ser minha também."

Sequer conseguia sorrir mais com suas palavras. Haviam tantas coisas passsando por minha cabeça que não tive espaço para ficar  grata por isso.

"Agradeço pela consideração !"

"Não é nada. Enfim,  tenho que desligar, até mais Taeyeon-ssi."

"Até mais."

Logo que desliguei, levantei-me da cadeira e comecei procurar por uma roupa qualquer em meu closet. Uma sensação estranha pareceu impregnar em mim. Um certo aperto no peito surgiu principalmente quando passei a me lembrar de algumas coisas que havia dito.

[...]"Eu sempre serei grata por isso, mesmo que as coisas não terminem do melhor jeito.”

[...]"Quero que saiba que eu nunca vou me esquecer de nada, que vou levar isso junto comigo...”

Ela estaria tentando dizer outra coisa ?

Coloquei uma calça jeans e uma blusa de manga longa, sendo esta a primeira que vi pela frente. De olho no relógio em meu celular, vi que este marcava cinco e quinze da tarde. Ela deveria estar em casa, ela tinha que estar em casa, não é ? Com uma certa pressa peguei minhas chaves e assim, procurei tentar ligar para talvez, avisar a minha chegada. De todas as vezes que tentava, caia na caixa postal. Todas tiveram o mesmo destino.

O meu coração começou a bater mais forte a medida que não conseguia ouvir sua voz do outro lado da linha. As coisas que passavam por minha cabeça...Eu não podia evitar em pensar no pior. Pela primeira vez em muito tempo, senti um medo que chegou à me sufocar enquanto dirigia em direção a sua casa.

O trânsito parecia não andar rápido o bastante, tudo parecia lento demais. Seria coisa de minha cabeça ? Eu esperava que sim. Eu preferia no final, encontrá-la rindo de mim, do meu desespero por nada do que...

Ela não faria isso, certo ? Ela estava bem, parecia resolvida, medicada, ela não faria isso. Ela não seria capaz de me deixar dessa forma, de deixar a todos desta forma...né ? Eu já não tinha mais certeza de nada e isso, me deixou mais aflita o possível. Não queria imaginar mais aquelas coisas, só de começar, eu já sentia meu coração a desmoronar.

O trajeto pareceu levar um ano, mas quando virei o quarteirão de sua casa, a visão desta me deu um frio estraho na barriga. E se o que mais estivesse temendo, eu encontrasse ? Ao estacionar, tentei ligar mais vezes mas também não obtive sucesso. Enquanto persistia, passei a bater em sua porta de uma maneira contínua.

"Tiffany !" Gritei, tentando ouvir algum movimento sequer. Minha agonia estava tanta que eu já não parecia estar raciocinando direito, eu sentia um nó sufocante em minha garganta.

"Tiffany-ah !" Eu ouvi a minha própria voz falhar por um momento. "Tiffany por favor, por favor !"

Minha visão aos poucos começou a se tornar embaçada, fazendo-me pausar um pouco nas batidas. Ao ter meus olhos cobertos por lágrimas prestes a cair, ouvi um barulho em minha frente.

Meu coração quase parou.

Procurando visualizar a figura, me deparei com uma Tiffany de olhos inchados e vermelhos, rosto preenchido por lágrimas, assim como eu. Apesar de agora ter a certeza de que meus pensamentos errados, isso não aliviou em nada a minha situação. Talvez eu estivesse parecendo uma criança em prantos, mas eu não ligava.

A primeira coisa que fiz foi abraçá-la com todas minhas forças, sentindo meus dedos até se afundarem na pele de suas costas. Com isso, fechei meus olhos e a todo instante, agradeci por ela estar ali, por estar sentindo-a em meus braços. Eu não consegui evitar as lágrimas de escorrerem de vez, não tendo a certeza se era a minha própria barriga que tremia contra seu corpo ou se era vice-versa.

Ao poder senti-la retribuir o meu abraço, tentei pegar um fôlego para estabilizar a minha respiração.

"Não faça mais isso comigo, por favor Tiffany...Não faça mais isso comigo."

XxX

"O que está acontecendo Fany-ah ?" Minha voz saía arrastada e meio tremida. Eu não conseguia tirar os olhos dela, como se o fizesse, talvez ela fosse desaparecer de minha mente. "O que está havendo ? Eu fiquei tão preocupada, eu falei com seu irmão, você...Você pareceu se despedir de mim, você-" Tentei respirar fundo para tentar acalmar a mim mesma.

Não sairia muita coisa se eu continuasse naquele estado.

Tiffany estava parada em frente à porta já fechada de sua casa.

"Você não faria isso comigo, não é ? Você não faria as coisas que eu pensei, não é ? Por favor, diz que não-" Engoli o nó em minha garganta, me aproximando dela mais uma vez. Ela parecia estar ciente de todas as vezes que liguei, parecia ter escutado todas as vezes que bati em sua porta. Ainda que ela não tivesse feito algo pior, ela me ignorara e, havia um motivo para isso. Tinha que haver.

"Eu sinto muito Taeyeon." Ela também deu alguns passos em minha direção, olhando em meus olhos como se quisesse que eu a lesse, que eu a entendesse. "Eu quis ter feito isso, eu quis."

Ouvir isso de seus lábios me doeu mais que mil facadas no peito. Mordi minha boca para evitar que chorasse mais ainda.

"Eu quis ter acabado de vez mas, eu não consegui !" A aproximação dela me fez segurar a respiração por alguns segundos. Eu não conseguia entender, tudo parecia bem, tudo parecia nos eixos !

"Eu não acredito Tiffany ! Por que ? Por que você quis acabar com a sua vida assim ?"

Ela ficou em silêncio. Eu olhei dentro de seus olhos escuros mas isso não pareceu me responder nada. Estava completamente perdida em seu olhar.

"Por que não ?"

Era como se eu me lembrasse da noite da ponte. O problema era que, os argumentos que usei para ela, uma completa estranha, nunca seriam válidos para o presente. Dessa vez era real, ela realmente quis, dessa vez eu a conhecia a fundo, dessa vez...Eu poderia ter perdido ela de verdade.

"Eu consegui entender o por que do meu pai ter feito."

Apesar do meu estado ter estabilizado, não havia melhorado. Eu ainda tinha olhos marejados à tentar absorver tudo aquilo.

"É bem mais fácil, não vê ? Eu não aceito o que eu tenho, eu sou um fardo para o meu irmão e a sua esposa e como se não bastasse, eu quase fiz seu namoro terminar ! Que uso eu tenho Taeyeon ? Que uso eu tenho, além de estragar as vidas de todo mundo ?"

"Para de dizer isso !" Não percebi o crescimento do meu tom de voz. Seus olhos cresceram e foi só aí, que percebi que minha reação a havia assustado.

Tentando ter mais cautela, respirei fundo antes de me pronunciar.

"Fany-ah." Seu nome saíra de um modo mais fraco por minha boca. "Por que não consegue ver que as pessoas que te rodeiam, querem o seu bem ? Você não é fardo para ninguém, você com certeza é uma das coisas mais preciosas que seus irmãos têm agora."

Tiffany ficou calada.

"A briga que tive com Jessica não foi por culpa sua, foi um erro meu, só meu." Eu não mentia ao dizer aquilo. "Você não estraga a vida de pessoa alguma, muito pelo contrário ! Sua família, seus amigos, todos se importam, todos precisam de você, não vê ?"

Dei uma pausa ao pensar no que estava prestes a dizer.

"Eu me importo...Eu preciso de você." Seu olhar saiu de mim pela primeira vez desde que havia começado a falar mas, eu continuei a fitá-la minunciosamente. "Só de pensar Fany, só de pensar em te perder mais uma vez...Você viu a minha situação, você está vendo agora. Quando diz que estraga minha vida, não percebe que o maior estrago que jamais poderia fazer em mim, seria se você me deixasse dessa forma. Esse sim-" Limpei uma lágrima que escapou. "Esse sim seria o pior estrago que você poderia me fazer."

Quando seus olhos se encontraram com os meus, por alguma razão, vi um brilho diferente. Foi ali, que algo similar à esperança, começou a brotar em mim.

Ela permanecia em silêncio, mas eu internamente agradecia. Eu queria continuar expressando tudo que sentia, tudo que queria que ela soubesse.

"Não deixe esse problema levar a sua vida Tiffany. Há tantas coisas ao seu redor, há tantas coisas para você viver, para sentir...Não deixe isso te vencer pois no fim, eu te prometo, vai melhorar. Mesmo que pense que não tem mais jeito, que não aguenta mais, olhe pro seu lado...Algumas pessoas podem não estar lá, mas eu vou estar."

Com as minhas últimas palavras, vi mais lágrimas percorrerem suas bochechas. Seus olhos se fecharam com força, a vi morder a boca de um jeito forte, como se segurasse algo naquele instante.

O local ficara silencioso, mas como já sabia, nem sempre o silêncio significava a calmaria.

Eu esperei com que ela se acalmasse um pouco para poder tocar em seu rosto, tomando-a de surpresa. Lentamente, passei os dedos pela maçã de seu rosto, como se em um gesto para poder fazê-la parar de chorar e com isso, ganhei um olhar diferente nos olhos. Meus dedos limparam suas lágrimas e retiraram quaisquer mechas de cabelo que pudesse atrapalhar a minha visão.

A proximidade na qual me encontrei com ela, trocando aquele olhar, me fez suspirar. O que senti naquele instante foi meio indescritível. Eu não sabia distinguir exatamente. Era uma mistura de nostalgia, com algo que ainda restava em mim. Eu não sabia dizer.

A expressão de Tiffany, surpreendemente, pareceu tão calma após eu a ter tocado que me fez perguntar a mim mesma o que ela deveria estar pensando. Talvez, nunca fosse descobrir ao certo.

"Por que não se troca ?" Retirei minhas mãos de seu rosto, dizendo em um tom calmo. "Ainda podemos dar uma volta por aí, respirar um ar puro, huh  ?"

Seu olhar não parou de me estudar.

"Eu e você precisamos disso um pouco, não acha...Tipani ?"

De relance, olhei para a seus lábios e ali, vi uma pequena curvinha se formar após ter dito o nome que antes, não saía de minha boca.

XxX

O silêncio estava sendo o nosso melhor amigo.  O trajeto até o lugar que tinha em mente foi preenchido apenas por este. Não que fosse um problema, de fato ,estava sendo o melhor para nós duas. Após tantas palavras ditas, servia de descanso. Eu sentia que dali para frente, teria que ser ainda mais cautelosa mas, a pequena esperança que surgiu em mim, para minha sorte, decidiu ficar.

Eu ia provar para ela as coisas que disse.

A tarde estava acabando e eu pensei que aquela seria a ideia certa. Mesmo que não fossemos mais falar sobre isso, eu só queria estar ao seu lado. Poderiamos ficar em silêncio a nossa estadia toda mas, para mim, seria o bastante. Depois de ter passado o medo de perdê-la, até ver que ela respirava ao meu lado, estava sendo de bom tamanho.

Nós estávamos sentadas em um banco antes da chegada do gramado. O rio parecia tão bonito ao estar sendo refletido pelo que restava do sol...Até mesmo me senti imersa por essa visão. Tiffany olhava para frente assim como eu. Ela se mantinha quieta, talvez cansada de todos os acontecimentos. Ao imaginar que fosse mesmo cansaço, até pensei duas vezes antes de dizer algo, receosa de que fosse atrapalhar o que estávamos tendo. Mas, antes que percebesse, as palavras escaparam de minha boca por si só.

"Esse é o meu lugar preferido, em toda a cidade." Continuei intacta, sem olhar para o meu lado.  O parque de Han River era especial para mim, sempre fora. Eu ter levado-a lá poderia se comparar à um pintor estando a mostrar as suas obras mais preciosas.

"Gosto da calma que me traz. Parece que quando estou aqui, consigo retirar os segredos, os problemas ou as coisas que me incomodam para fora e nisso, resta apenas eu comigo mesma. Sem interferência de nada."

"Já senti isso antes."

De primeira, não compreendi muito bem o que ela quis dizer mas ao pensar bem, lembrei-me de como ela dizia que ia para a ponte de Westminster para talvez, fazer a mesma coisa.

"Todo mundo deve ter um lugar assim. "Dei ombros. "Eu lembro do seu em Londres..."Com isso, percebi de esguelha que havia ganhado a sua atenção. "Se quiser, posso dividir esse com você."

Demorei alguns segundos, mas quando virei, reparei no fraco sorriso que existia em sua boca. Este, era bem compatível com o meu.

"Isso seria bom."

Acenei em confirmação e voltei a olhar o horizonte.

Caimos no silêncio novamente, deixando o barulho do ambiente preencher nossas cabeças e neste, ficamos por mais tempo.

Bom, isso até eu decidir quebrá-lo novamente.

"Sabe, quando vejo toda essa imensidão verde, não deixo de lembrar de quando você me deu aquele colar, lembra ?"

Ela me olhou com atenção, fazendo um sim com a cabeça.

"Eu ainda o tenho."

Isso pareceu ter surpreendido-a. Era verdade. Eu o guardei bem no fundo por simplesmente não conseguir me desapegar. Além do colar, até mesmo o cogumelo que tinha nele possuia todo um significado.

Foi com ele que tudo começou.

"Não esperava isso." Ela pareceu querer sorrir mais.

"Pois tenho...Acho que nunca quis te esquecer, de verdade."

Apoiei-me mais na beira do banco, ficando com as mãos segurando as suas extremidades.

"Nunca quis que esquecesse." Apesar de ter saído baixo, consegui ouvi-la bem, respondendo apenas com um sorriso maior.

Parando para pensar no que estava acontecendo, fiquei sem ter o que dizer por um tempo mas, desta vez, ela quem se pronunciara primeiro.

"Você amadureceu tanto..."

"Tinha que amadurecer, não é ?"

"É mas..."

A repentina pausa me fez olhar em sua direção.

"Para mim, vai ser sempre a Minion que conheci."

O sorriso no meu rosto começou tímido mas no fim, se tornou tão largo que deixou óbvio a minha felicidade em ouvir aquilo.

Como em um pequeno instinto, ao ver sua mão segurando o banco da mesma forma, coloquei a minha por cima.

"Claro que sim Mushroom...Claro que sim."