Painkiller
Dance On Our Graves - PTAs duas batidas que dei na porta se camuflaram perfeitamente com os batimentos do meu coração. Todo o meu corpo arfava em antecipação.O barulho da noite era composto apenas por insetos, sem nenhum movimento de carro aparente. As pessoas pareciam estar em suas tocas, o que era sábio em vista do frio que até me fazia arrepiar, deixando a ponta do meu nariz avermelhada e as minhas bochechas, ardentes. O tempo de espera era uma eternidade.
A luz da janela da frente estava acesa. Ela estava lá. Não havia movimento, mas eu sentia que estava. Olhando meu relógio apontar dez e trinta e sete, elevei meu punho para bater um pouco mais em sua porta.
Uma, duas, três batidas e dessa vez, bastou poucos instantes para meus ouvidos captarem alguns ruídos vindo de dentro. Eu estava alterada por vários fatores, mas mesmo assim, ainda pude sentir meu coração chegar até minha boca.
Após alguns passos, vi a maçaneta girar. Meus olhos subiram para encontrar a sua figura, limpa e de imediato confusa à me olhar. Suas sobrancelhas se juntaram em questão, mas antes de qualquer coisa, não deixei espaço para perguntas. Olhando diretamente em seus olhos, em busca de qualquer reação que fosse, tomei um breve fôlego.
“Eu quero respostas.” Ela procurava algo em meu rosto, mas isso não fez meu tom de voz autoritário mudar.” Eu preciso que você me dê respostas Tiffany, estou cansada de fingir que não me importo, estou cansada de esperar por você ! ”
Algumas horas antes
“Miss Kim ?” Levantei o olhar e vi Seohyun sorrir para mim. “A doutora já pode te atender !”
“Ah !” Me pus de pé, vendo-a se aproximar de mim em questão de segundos. “Obrigada novamente por ter conseguido, sei como ela é bem requisitada então é um alívio !”
“Que isso. Se precisar de mais alguma coisa, é só falar !” Ela fez um gesto e eu passei a segui-la sem mais.
Seu sorriso angelical que ainda permanecia começou a me fazer sorrir junto. Ela era uma boa menina. Tinha que agradecer muito Sunny por ter falado com ela ou ao contrário, teria de esperar um bom tempo para ser consultada. Quando perguntei pelo seu nome ao Leo, não imaginei que fosse tanto assim.
Só não esperava ser uma perda de tempo, para mim e para ela.
Andando por um pequeno corredor, avistei o consultório da doutora, adentrando-o após um último aceno em agradecimento à jovem ao meu lado. Já dentro do local, me deparei com uma figura loira de pé, estando à minha recepção.
“Miss Kim, é um prazer recebê-la !”
Olhei sua mão estendida e não hesitei em apertá-la, esboçando meu melhor sorriso.
“O prazer é todo meu, agradeço pelo tempo !”
Eu não estava esperando aquilo. Na minha imaginação, Kim Hyoyeon era uma senhora já de idade, uma daquelas que já estivesse no ramo à um bom tempo mas eu estava completamente enganada. Cabelos longos, cheia de elegância e charme, ela mais parecia uma idol que se via pela televisão.
Não sei se me impressionava ou me encantava.
“Não é nada. Por favor, sente-se onde preferir.” Vi seus braços apontarem para os vários locais disponíveis.
Com sua sugestão, aproveitei para dar uma olhada ao redor. Tudo parecia ter sido planejado com detalhes. Poltronas, sofá, mesinha, quadros abstratos, de cores frias, plantas... Era um ambiente agradável, mas o que me chamou mais atenção foi a estante repleta - ênfase no repleta - de livros que vi atrás de sua mesa, todos posicionados de uma maneira super organizada.
Me pergunto se todos são relacionados à psicologia...
Sentei-me em uma das poltronas de sua mesa e a vi sentar-se do lado oposto, em sua enorme cadeira negra.
“Então, o que a traz aqui ?” Ela ajeitou uns papéis em sua mesa e finalizou com um sorriso para mim. “No que posso ser útil ?”
“Bem...” Suspirei ao pensar em como começar.” Eu queria que você me ajudasse em um assunto complicado.”
“Que seria ?” Em suas mãos, agora haviam uma caderneta de anotações e uma caneta dourada.
Seu olhar em mim não chegava a ser intimidante, por mais observador que fosse. Isso era meio que incrível, já que contato visual pode não ser muito o forte das pessoas.
“Eu sei que há um sigilo entre vocês e um paciente, mas eu não estou pedindo muita coisa... Eu acho que não.”Dei ombros para mim mesma.” Você trata de Tiffany Hwang, não é ?”
Hyoyeon franziu as sobrancelhas, talvez já se perguntando na onde eu queria chegar.
“Correto mas- o assunto em questão a envolve ?”
“Na verdade sim. Estou aqui por causa dela.”
A vi anuir. “Qual a relação ?”
“É complicado, preciso que você me dê uma luz, sabe ? Já fui muito próxima dela, sei de seu passado mas não passa disso...Ela era uma incógnita para mim e recentemente vi que, ela continua uma. “
Seus dedos ágeis anotaram algo antes dela me olhar nos olhos de novo.
“Me desculpe Taeyeon-ssi mas eu não poderei revelar sobre ela sem algum consentimento-”
“Eu sei disso doutora, mas o problema é que eu me importo com- Nós duas...Nós duas tivemos meio que uma história que não acabou bem e desde então, continuo perdida em relação à ela. Isso me frustra muito !”
“Entendo...”Mais anotações. A curiosidade me atacara. O que ela poderia estar tirando disso ? “Bom, vou tentar te ajudar, certo ? Sem promessa de nada.”
Fiz que sim com a cabeça, já que só dela estar disposta a falar alguma coisa, minha mente agradecia.
“Poderia me contar essa história ?”
Uma repentina hesitação me atingiu. Deveria contar tudo ? Sei que podia confiar mas...
Dane-se. Não tenho nada a perder.
“A conheci há quase dois anos, quando tive que ir para Londres à negócios. Até o jeito como isso aconteceu foi inusitado...” A lembrança fez surgir um pequeno sorriso inconsciente em minha boca. “Ela estava em cima da ponte de Westminster e eu-”
“Oh...” Hyoyeon fez uma expressão inusitada. Arqueou uma sobrancelha como se houvesse acabado de lembrar algo importante.”Acho que já sei dessa história.”
O que ? Ela sabia ? Tiffany havia contado ? Franzi o cenho à espera de explicação.
“Como é o nome ?” O primeiro sorriso que ela me dera voltara em seus lábios. “Minion, não é?”
Senti um calor subir até as minhas bochechas ao ouvir essa palavra. Esse detalhe. Nada realmente fora normal naquela noite. Desviei o olhar pela primeira vez e fiz que sim com a cabeça, surpresa por ela estar sabendo até disso.
“Você a namorou esse tempo, correto ?”
A expressão que ela usara não parecia certa aos meus ouvidos, por mais que eu quisesse.
“Eu não diria namorar mas é, nós nos envolvemos e-”
“E ela terminou tudo.”
Mordi o lábio inferior, vendo a sua expressão de quem sabia muito mais. “É.”
Ela suspirou e por fim, largou a caneta em cima da caderneta, passando a me fitar de um jeito diferente.
“Escute...Tiffany é um caso delicado e como você mesma disse, complicado. Mesmo que eu já esteja sendo um pouco antiprofissional agora, eu te afirmo que não posso te dar as respostas que você procura. Apenas ela pode fazer isso.”
Pensei em cada palavra que saia de sua boca.
“Ela já passou por tanta coisa que não é todo mundo que consegue dar a volta por cima, você diz saber disso. Tiffany estava sofrendo muito com algo que ela mesma desconhecia. Pense comigo Taeyeon-ssi... Se apenas ela pode dar as respotas que você procura, como isso ficaria se nem ela mesma soubesse ?”
Estava tentando assimilar o que ela dizia com as memórias que tinha daquele tempo.
“Costumo usar uma aproximação mais natural com meus pacientes e é com esta, não como uma psiquiatra mas como uma amiga dela, que te peço um pouco de paciência. Sei que ela te magoou, que foi bagunçado mas acredite em mim, isso vai muito mais além.”
O botão de pensamentos confusos fora empurrado. Ao mesmo tempo em que eu me sentia bem por estar descobrindo um pouco mais da situação, estava ficando mais frustrada por não saber tudo.
“Agora ela já está bem, não é ?” Ela demorou a confirmar com a cabeça, mas antes que saísse som de sua boca, a interrompi. “Por que então ela não pode me contar agora ?”
Minha paciência estava no limite. Era impossível sentir dita “compreensão” nas escuras como eu estava. Ainda não conseguia engolir nada daquilo.
“Tenho certeza de que quando ela estiver pronta, quando confiar que pode fazer isso, ela o fará.”
Asneiras.
“Espere o tempo certo.”
Eu já esperei tempo até demais.
XxX
Sai do consultório um tanto exaltada. Não tinha como entender nada. Ela não podia esperar que eu tivesse compreensão ou que eu esperasse mais do que já o havia feito. Desde sempre, deixei com que Tiffany viesse à mim quando estivesse pronta. Esperei pacientemente até que ela me contasse o porque de estar na ponte e assim segui com essa linha estabelecida em minha mente. Porém, eu estava exausta. Se eu não fosse atrás agora, quando possivelmente ela me procuraria ? Simplesmente aceitaria o que eu havia proposto, sem nenhum esforço a mais ?
Na volta ao trabalho, martelei e martelei todas essas coisas, tudo que Hyoyeon me disse ou o que quis me dizer. Em outro tempo, outro contexto, talvez meu coração houvesse amolecido mas a questão de precisar esperar por ela por falta de confiança, deixava meus nervos à flor da pele.
Esse súbito estresse me fez ver que eu não conseguiria continuar o resto do tempo em um lugar fechado. Eu estava precisando beber, espairecer. Não iria funcionar normalmente com todas essas coisas em minha cabeça. Dessa maneira, com um telefonema, avisei Sunny sem entregar meu destino e assim, segui para o bar mais próximo. Perto de anoitecer, encontrei o local já bem povoado.
Acho que é por isso que algumas pessoas bebem demais ou fumam demais. A nossa própria mente chega a um ponto que não suporta mais o estresse que muitas das vezes, ela mesma causa. O meu caso não era muito diferente dessas pessoas. Aprendi a descontar em um simples copo, no silêncio, no shut down dos meus próprios pensamentos. Nem mesmo me preocupar com moderação eu precisava. Graças à tal terapia - nada saudável - consegui expandir um pouco a minha tolerância à alcool e naquele momento, isso me caiu como luva.
Sentada sozinha, me desliguei das pessoas ao redor e tive meu momento de não pensar em nada, ignorando chamadas e contato com qualquer um que seja.
Não passaria daquele dia. Estava ciente de que a bebida desinibia qualquer um, mas eu quase não a sentia em mim. Talvez minha própria cabeça estivesse me prevenindo de ficar bêbada, não dando muito efeito. Nisso, com a oferta do barman por uma mistura mais forte, resolvi parar. Era meu alerta de que se falar com a psiquiatra dela não ajudava, encher a cara não faria melhor.
“Esperar...Esperar o caramba.”
Peguei meu sobretudo, fechei a conta e com um toque, chamei um número já conhecido.
“Preciso de um favor, Soonkyu.”
XxX
E lá estava eu, escorada em meu carro em frente à uma casa de classe média, assim como todas as outras do bairro. A brisa fria que chegava estava sendo até torturante pelo tempo de minha exposição à ela, porém, eu precisava esperar até que minha confiança se firmasse de vez. Sunny me ajudara com o endereço, agora só dependia de mim.
Com um último suspiro após um curto tempo de reflexão, segui em passos pesados até os pequenos degrais de sua entrada.
As duas batidas que dei na porta se camuflaram perfeitamente com os batimentos do meu coração. Todo o meu corpo arfava em antecipação.O barulho da noite era composto apenas por insetos, sem nenhum movimento de carro aparente. As pessoas pareciam estar em suas tocas, o que era sábio em vista do frio que até me fazia arrepiar, deixando a ponta do meu nariz avermelhada e as minhas bochechas, ardentes. O tempo de espera era uma eternidade.
A luz da janela da frente estava acesa. Ela estava lá. Não havia movimento, mas eu sentia que estava. Olhando meu relógio apontar dez e trinta e sete, elevei meu punho para bater um pouco mais em sua porta.
Uma, duas, três batidas e dessa vez, bastou poucos instantes para meus ouvidos captarem alguns ruídos vindo de dentro. Eu estava alterada por vários fatores, mas mesmo assim, ainda pude sentir meu coração chegar até minha boca.
Após alguns passos, vi a maçaneta girar. Meus olhos subiram para encontrar a sua figura, limpa e de imediato confusa à me olhar. Suas sobrancelhas se juntaram em questão, mas antes de qualquer coisa, não deixei espaço para perguntas. Olhando diretamente em seus olhos, em busca de qualquer reação que fosse, tomei um breve fôlego.
“Eu quero respostas.” Ela procurava algo em meu rosto, mas isso não fez meu tom de voz autoritário mudar.” Eu preciso que você me dê respostas Tiffany, estou cansada de fingir que não me importo, estou cansada de esperar por você ! ”
Tiffany me analisou silenciosamente, confusa e surpresa, talvez não só por minha aparição. Esperei até que ela abrisse espaço para mim e logo que isso acontecera, passei por ela sem hesitar.
Sua voz não demorou a soar por minhas costas, seguido do barulho da porta se fechando. Estávamos em sua sala de estar.
“Você andou bebendo ?”
Não era o que eu esperava que ela dissesse. Ao me virar, a vi de braços cruzados, ainda franzindo as sobrancelhas.
“Eu não acho que isso importa agora Tiffany !” Eu podia não perceber, mas minha voz já começava a sair em um tom acima do normal. “Estou aqui para finalmente saber de tudo ! Do porque de você ter me deixado se foi mesmo real, o que diabos estava acontecendo com você, tudo !”
Seus olhos atenciosos começaram a me incomodar. Estavam diferentes e por um pensamento rápido, percebi que até então desde a sua volta, não os vi sorrir. Isso só mostrava o quanto nossa relação estava mesmo fodida.
Ela inclinou um pouco a cabeça, desfazendo o aperto de seus braços em si mesma. Um silêncio preencheu o local, mas este não fez questão de ficar.
“Então você agora quer saber ? ” Tiffany balançou a cabeça algumas vezes, se aproximando aos poucos de mim. Seu tom de voz era uma calmaria em relação ao meu. Estava deixando toda minha razão de lado, indo pela dominância da emoção.
“Eu fui uma idiota aquele dia, me deixei levar pelo orgulho mas por Deus Tiffany, o que você esperava ? Eu não estava conseguindo nem olhar em seus olhos, como iria querer ouvir qualquer desculpa que você viesse a me dar ? “ Minhas palavras eram rápidas e ríspidas. Estava deixando escapar mais do que queria.
“Desculpa ?” Ela parou com sua aproximação, esboçando uma expressão quase que ofendida.
“É, desculpa ! Você acha que é fácil pensar outra coisa sem saber de droga nenhuma ? Eu não queria ouvir o que você tinha para dizer, eu estava com raiva mas você-Você não fez questão de me dizer. Você aceitou de novo a maneira mais fácil, você aceitou a fuga que eu te ofereci !”
Dessa vez os passos foram meus.
“Até quando ia ser assim Tiffany ? Até quando eu ficaria às cegas com você, huh ?” Minha garganta ardia com a força que usava para falar. “Eu cansei ! Agora você confiando ou não, querendo ou não, eu não vou sair daqui sem respostas !”
Um novo silêncio enlouquecedor pareceu gritar mais alto do que mil vozes ali. Vi a mudança de semblante em Tiffany acontecer de uma maneira que me fez engolir em seco. Seus punhos se fecharam e por um momento, pensei que levaria um soco na cara.
“Você quer respostas ?” A rouquidão de sua voz se fez aparente. Tive um certo receio do que havia causado.” Certo, vou te dar respostas.”
Seus passos em minha direção pareceram ter sido dados em um piscar de olhos.
“Do jeito que você fala agora-Você acha mesmo que foi a única machucada nessa história toda ?” Seu olhar parecia querer me cortar de tão intenso. “Quando eu pedi para você me esquecer, quando eu virei e fui embora, acha mesmo que não doeu em mim ? Doeu tanto que eu não consegui olhar para trás, eu estava desesperada Taeyeon, sufocada por mim mesma, por meus sentimentos !”
Tiffany diminuiu ainda mais a nossa distância. Eu quis recuar mas não consegui.
“Eu me odiei a cada instante mas isso não mudou nada, não melhorou, não me fez voltar atrás ! “
A raiva que ouvia em suas palavras passou a combinar com a de seus olhos.
“Eu fingi estar bem, eu fingi para mim mesma, fingi para você ! Sabe por que de tudo isso ? Sabe ? Como se já não bastasse ter uma vida de merda, mediocre como essa ?”
Senti um estremeço repentino.
“Eu estava doente ! Estava não-” Tiffany riu de forma sarcástica” Eu sou doente ! Sou bipolar, não é ótimo ? Era tudo que eu estava precisando ! ”
Segurei meu ar como se esquecesse que precisava dele.
O que ? Isso era sem lógica, ela... ela...Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo !
Seu olhar expressava desgosto misturado à raiva e o pior de tudo, era que eu podia ver que não eram voltados à mim e sim à ela mesma.
“Por mais que no fim eu quisesse ficar com você, não adiantava nada porque minha mente dizia o contrário ! Sou praticamente uma porra louca !” Tiffany começou a rir de si mesma, me deixando em um estado ainda pior.
Eu não queria mais ouvi-la falar daquela maneira.
”Como eu poderia te fazer feliz Taeyeon-” A distância entre nós acabou de vez. Era a primeira vez que nos encontrávamos tão perto uma da outra desde nosso reencontro. Nunca pensei que fosse tão sufocante. Eu estava sentindo meu coração cair a cada vez que o ar faltava em seus pulmões. “Como eu poderia te fazer feliz se eu não conseguia fazer isso para mim mesma ? Eu odeio cada parte de mim, cada centímetro por ser incapaz até de ser normal !”
Todas aquelas palavras só me faziam me sentir como lixo. Eu tentava entender o que ela estava sentindo mas sabia que era em vão. Minhas pernas pareciam querer ficar bambas, eu havia perdido a habilidade de fala.
Tiffany tomou um breve ar. Nesse momento, vi lágrimas escorrerem por suas bochechas. Eu queria ir embora. A dor que me deu em vê-la expressar todo aquele ódio por si mesma, chegara a ser inexplicável. Me fez arrepender de todos os pensamentos que tive, do jeito frio que a tratei, tudo.
“Você pode até continuar me culpando por tudo, eu não ligo, mas você não vai conseguir me culpar mais do que eu já me culpo.”
A sua exaustão. Ela pareceu exausta de gritar, de brigar. Me forcei a engolir em seco mais uma vez. Ela parecia tão conturbada, aquela estava sendo a pior visão da minha vida e eu sequer conseguia reagir quanto à isso.
“Não quero que sinta pena de mim agora, de jeito algum, não precisa me olhar desse jeito.” A voz fraca não batia com a que ouvi a minutos atrás. Suas mãos limparam o seu rosto bruscamente. Só então, senti que eu também tinha lágrimas em minhas bochechas. Não as percebi de começo.
Em meses, era a primeira vez que voltava a chorar.
“Eu não estou-” Minha voz ficou entalada. Ela olhou para os lados, limpando novamente as lágrimas de si.
“Afinal, já estou bem melhor agora ! Com médico me receitando remedinho para louca aqui não estourar !
Estava sendo um deja vu. Da mesma forma sarcástica que agi no outro dia, ela estava sendo ainda pior.
“Você não é louca !”
“Diga isso à minha irmã, ao meu irmão ! Dependo de um remédio para ficar bem mas isso não me cura de vez ! Não vai passar nunca, dá para entender Taeyeon ? Não tem quimioterapia, radioterapia ou o diabo a quatro para tirar isso de mim ! Vou morrer com isso, ou quem sabe, vou morrer disso !”
Eu não estava mais suportando. A verdade que tanto quis, foi jogada na minha cara sem dó nem piedade. Agora eu tinha de lidar e no momento, tudo que eu conseguia raciocinar, era o nada. Eu não conseguia raciocinar.
Ouvi uma longa suspirada, como se ela tentasse ter auto controle.
“Tiffany não diga-”
“Me desculpe por ser assim. “
Pela primeira vez, eu a vi deixar as lágrimas escorrerem de vez. Ela desabou, sua voz falhou, saiu quebrada e trêmula.
Eu queria abraçá-la forte, envolvê-la em meus braços, protegê-la de todas aquelas palavras porém, estava completamente paralisada, boba. Queria segurar ela e dizer que não era assim, que as coisas sempre melhoram mas nem eu sabia disso.
Só queria tentar tirar toda aquela dor dela e jogar para bem longe.
Só queria vê-la mais uma vez, bem.
O seu choro foi de estraçalhar meu coração, acabou comigo de vez.
“Vai embora...” A vi ir até a porta, à procura da maçaneta sem nem mesmo olhar. “Por favor Taeyeon, me deixa sozinha.”
Suas mãos giraram a maçaneta. Minhas pernas me levaram de maneira involuntária até ela. Me sentia tão inútil por não ter o que falar, por não saber como agir, por não ter a coragem...
Quando passei por ela, vi seu rosto se virar para a direção contrária. Com os pés já em sua varanda, tentei olhá-la uma última vez mas a porta se fechara logo em seguida, me deixando estática, com uma agonia que não passaria tão cedo.
Sozinha em meu carro, tentei deixar meu choro lavar a minha alma, mesmo sabendo que estava sendo em vão.
A culpa, o peso em meu coração, a tristeza... Nada disso mudaria as coisas.
Woa ;_;
O que acharam ? Já desconfiavam disso ? Fiquei mossionads-q To aqui que nem panda só pra postar proceis u_u
Lembra do que eu disse a um tempo atrás ? "Nada que eu faço aqui é em vão." Pois é, nada mesmo, muitas tretas...
Obrigada pelas reviews <3 Espero que esse capítulo em particular não tenha decepcionado, ou pelo menos, tenha valido pela demora. É super importante pra trama (porqueserá) kkkkkk
"As I hate you so much, I also miss you so much"
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