Defeito

Paraíso [PT-BR]

Como se nossas memórias estivessem em sincronia, começamos a chorar juntas, ou quase isso. Tiffany, bem mais do que eu. Sempre fui mais controlada, apesar de me irritar rapidamente. Já ela, era a mais sentimental entre nós duas. A mais emotiva. 
Seus soluços ricocheteavam no azulejo branco. A puxei para meu peito e afaguei seus cabelos. 
– Amar é tão mau assim, TaeTae? Eu não entendo. Não fizemos mal a ninguém. – Continuei meu carinho em seus cabelos, deixando um beijo no topo de sua cabeça. 
– Talvez eles só tenham inveja por não conseguirem amar. Por isso querem nos privar. Porque encontramos quem nos completa. – Tirei algumas lágrimas de sua bochecha com os dedos. – Olhe pra mim. 
Seu olhar triste me cortava o peito. O brilho que antes habitava lá, já não estava mais. Tudo isso por causa desse mundo. Da sujeira e do mal que habitam nele. Mais precisamente, as pessoas. 
– Sinto muito por tudo isso, meu bem. – A olhei com ternura, tentando passar conforto, ou qualquer sentimento bom que reaquecesse seu coração como ela sempre aqueceu o meu. Precisava vê-la melhor, mesmo que um pouco. – Eu amo você. 
– Eu também te amo, TaeTae. Muito... – Um sorriso triste se formou em seus lábios, enquanto lágrimas ainda caiam de seus olhos. Já era alguma coisa.
[...] 

– Eu te criei errado, Taeyeon? Onde eu errei? Eu não entendo. Por que logo minha filha? Por que? – A voz alterada de minha mãe soava por toda a casa. Talvez por todo o prédio. 
– Eu não fiz nada de errado. – Havia acabado de contar para ela que gostava de Tiffany, que estávamos juntas. Foi assim que começou seu surto. Jamais esperei que ela fosse reagir assim. Ok, talvez uma parte de mim esperasse, mas a maior parte tinha esperança de que ela me entendesse, afinal, eu não fiz nada de ruim, e ela é minha mãe. Eu apenas amei e estou sendo amada. Isso é tão ruim? 
– Claro que fez. Você acha que é normal duas garotas ficarem juntas? Que isso é certo? – Ela não parava um segundo sequer. Era como se tudo que eu soubesse sobre minha mãe até hoje fosse mentira, a pessoa que eu mais respeitava. Agora ela simplesmente me odeia. A única pessoa que eu esperava que me apoiasse, sequer olha nos meus olhos.
– Não tem nada de errado nisso. – Falei já um pouco alterada, tentando manter o controle. Minhas mãos tremiam e lágrimas deixavam meus olhos cada vez mais. Não demorou mais que três segundos para sentir a palma de sua mão estralar contra meu rosto. Naquele momento eu percebi que estava a perdendo. Me sentia sem chão, sem apoio.
Eu virei apenas uma decepção para ela, para minha própria mãe. A pessoa a quem eu mais queria dar orgulho. Se eu pudesse voltar no tempo, jamais teria revelado que eu e Tiffany estávamos juntas. Eu guardaria isso no meu peito para sempre, mesmo que doesse. Faria tudo para reverter tudo isso, ou para que me aceitasse. Me aceitasse como sou. 
“Imunda”, “nojenta”, “praga”. Foi uma das poucas coisas quais minha mãe me chamou. “Você não é minha filha.” 
Talvez eu não seja mesmo. 
Depois disso, nem ela nem meu pai me olharam mais nos olhos. Meu pai ficou tão alterado quanto ela quando soube da boca de minha mãe. Ele me bateu, e muito. Mas a dor que eu sentia por dentro superava a dos tapas e socos. Meu coração não parava de latejar em tristeza, pensando no que eu era agora para minha família. Tudo ficou diferente de pois. Era como se eu não existisse mais depois disso. A atmosfera fria, o vazio que se formava e a distancia que crescia mais e mais entre nós. Só nos falávamos quando era necessário, e ainda assim, eles o faziam com desprezo. Eu virei o maior desgosto dos meus pais. Mas não é como se eu pudesse simplesmente deixar de amar Tiffany, não é? 
Eu poderia ir até Tiffany, mas meus pais me proibiram. Acho que eles falaram com os pais de Tiffany, pois quando tentei ir visitá-la, seus pais não me deixaram vê-la. Sempre dizem que ela está ocupada estudando ou algo assim. 
Vi Tiffany na escola apenas três vezes esse mês. Tentei falar com ela, mas ela sempre dava um jeito de fugir ou se esconder. Ela parecia um tanto debilitada. O sorriso que sempre estava em seu rosto havia sumido, tinham olheiras embaixo de seus olhos – assim como nos meus – e ela parecia um pouco mais pálida e magra.


Já era quase 13:30 da tarde, a aula havia acabado há meia hora e eu continuava sentada em minha carteira. O colégio já devia estar vazio aquele horário. Não haveria aula durante a tarde naquela semana. Passei a aula inteira sem prestar atenção no que o professor ou meus colegas diziam. Tudo era vinha apenas como um zumbido em minha orelha, qual não entendia nada. Minha mente estava presa naquele mesmo pensamento, naquela mesma pessoa. Eu não conseguia escapar disso, não conseguia deixar de pensar nela, isso está se tornando uma tortura sem fim e me pondo à beira da loucura.
A forte brisa que vinha da janela anunciava que a chuva estava próxima. Levantei de minha carteira e passei as mãos pelo rosto, só então percebi que estava chorando. Limpei as poucas lágrimas com a manga do meu casaco e peguei minha mochila, saindo da sala em seguida, indo para o banheiro. Todos os corredores estavam vazios, mas a escola ainda estava aberta. No silêncio do corredor vazio, apenas o som dos meus passos podia ser ouvido.
O banheiro parecia estar vazio, assim como o resto da escola. Apoiei as mãos no mármore da pia e encarei meu reflexo no espelho. Eu estava totalmente acabada. Minhas bochechas estavam ficando menos cheias, minhas olheiras ganhando espaço, estava emagrecendo e meu olhar era vazio. Sentia tanta falta de Tiffany, tanta, que isso estava me consumindo. Estava consumindo minha alegria e tudo de bom que havia em mim. 
Deixei que mais algumas lágrimas caíssem em silêncio e tentei relaxar por alguns segundos, até que ouvi um barulho de choro em um dos cubículos do banheiro e me virei rapidamente. 
– Quem está ai? – Perguntei olhando para cada um dos blocos. O som logo cessou. – Responda. – Não obtive resposta, apenas um soluço rápido, sendo abafado rapidamente. 
Fui até o primeiro e empurrei a porta levemente, estava vazio. O segundo e o terceiro, a mesma coisa. Assim que confirmei que o quarto também estava livre, me posicionei em frente ao quinto e ultimo. – Não vai responder? 
Não ouvi nada e já estava perdendo a paciência. Abaixei-me no chão e olhei por de baixo da porta, que por sinal era bem baixa. Era Tiffany. Reconheceria aqueles tênis rosas cheios de fru-fru em qualquer lugar. Levantei do chão e me recompus. – Tippany?
 Ouvi mais um soluço, e logo em seguida outro, mas nenhuma palavra direcionada a mim. – Eu sei que é você. Abra a porta, fale comigo. – Escorei ambas as mãos na porta, tentando controlar meu desespero em vê-la.
– Vá embora, Taeyeon. – Pude perceber que ela colocou algo em frente à boca para abafar o choro. – Não. Abra a porta agora. 
– Me deixa em paz.
– Só depois que você abrir essa porta. 
Depois disso, ela não disse mais nada. Apenas voltou a chorar, só que mais baixo dessa vez. – Mushroom, por favor... – Sabia que quando a chamava assim ela não resistia. Ainda mais quando estava emocionalmente instável. Sentia tanta nostalgia chamando-a assim depois de tanto tempo, ouvindo sua voz, mesmo que chorosa. Eu sentia tanta falta disso. Logo ouvi a porta do banheiro se destrancar e me afastei, tirando minhas mãos que antes estavam espalmadas ali. Tiffany saiu do cubículo enxugando as lágrimas com as mangas do casaco que usava. Seus olhos estavam vermelhos, assim como a ponta de seu nariz. Levantei a mão, na expectativa de tocar-lhe, mas ela recuou um passo. Meu coração se apertava mais a cada segundo longe dela, eu queria tanto tocá-la, precisava tanto que sentia que poderia morrer ali mesmo. 
– O que há de errado? – Perguntei cravando meus olhos nos seu, quais se recusavam a sustentar meu olhar. Ela mal conseguia olhar para o meu rosto. 
– Nós. Nós não podemos continuar com isso, Tae...
 – O que? Do que você está falando? 
– Não podemos ficar juntas. É errado. 
– Você não pensou nisso quando me beijou, pensou? E qual o motivo disso agora? Hã? – O que eu estava sentindo poderia ser o comparado a dez facadas no meu coração, mas acho que até as facadas doeriam menos. Qualquer coisa doeria menos do que ver o estado de Tiffany e sequer poder consolá-la, dizer tudo que está guardado em meu coração.
– Eu... Não. Só vamos parar com isso, sim? – Ela ainda não me olhava nos olhos, e isso me irritava. Estava tão nervosa por ela falar aquelas coisas. Estava perdendo o controle. Abaixei a cabeça e apertei os punhos, tentando me acalmar, mas era impossível. Estava completamente tensa. Era surreal demais ela estar me dispensando depois de todos esses meses. Depois de todas as coisas que me disse e tudo o que ouviu de minha boca. Juras e mais juras. Toques, caricias. Ela não estava apenas jogando tudo no lixo, estava?
– Não deixe tudo mais complicado. – Ouvi sua voz em tom de choro, o que me fez levantar o olhar. Seu rosto estava lavado em lágrimas, que não paravam de descer. Tudo o que eu mais odiava estava acontecendo bem ali. Tiffany chorando e longe de mim. Não fisicamente falando, o que é ainda pior.
Não agüentando mais um segundo sequer longe, fui até ela e juntei nossos lábios num beijo afoito e violento. Meus lábios chupavam e sugavam os seus com força, sem qualquer cuidado. Ela ficou paralisada no começo, sem me corresponder, mas logo senti seus lábios se movendo contra os meus. Mordia seu lábio inferior e arfava em sua boca, sentindo o gosto salgado de suas lágrimas misturado ao de nossos lábios. Seus gemidos apareceram assim que agarrei sua cintura, forçando-a contra a minha ao mesmo tempo em que ela laçou seus braços por trás de meu pescoço, me puxando para si, aprofundando nosso contato. Nossas línguas se esfregavam com fervor e rapidez, aquecendo todo meu corpo, me fazendo deseja-la mais e mais. Meus sentimentos ferviam e minha mente estava anestesiada de prazer. Foram tantas semanas, tanto tempo longe de seus lábios. Não trocaria aquela sensação que meu corpo começava a sentir por nada nesse mundo. Essa sensação que só Tiffany me fazia sentir. Amor. 
A empurrei de encontro a parede do banheiro, assegurando minhas mãos ainda mais em sua cintura. Havia acabado de juntar nossos corpos novamente quando ela me empurrou para longe de si bruscamente e eu senti como se tivesse perdido todo meu ar. O rosto avermelhado de Tiffany ainda tinha conotação de tristeza. Ela ainda chorava. Seus olhos eram puro medo e tristeza, arrependimento.
– Não podemos continuar. Desculpa, Tae. – Foi a ultima coisa que disse antes de sair do banheiro sem olhar para trás. Sequer tive forças para ir atrás dela ou mesmo para dizer algo. 

E foi ali que nosso sofrimento começou. Aquele que nunca pedimos, nem nunca merecemos. 

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Comments

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nanakyuubi #1
Chapter 8: quero te xingar e te abraçar como faz
desgraçada
tá perfeito essa merda
nem parece que era virgem nos orange
nanakyuubi #2
Chapter 5: Tomara q ele seja orange pfvr nunk te pedi nada ta linda essa fic to iludida
Mas falando sério, estou amando sua narrativa ♡ completamente envolvente; que linda habilidade você tem.
Espero mais fics :v
Kennya #3
Estou encontrando algumas escritoras brasileiras por aqui. E amo isso, kkk cansei d ler em inglês /espanhol.