Raios e Trovões

Paraíso [PT-BR]

– Não chore, Fany-ah. – Pedi limpando suas lágrimas. – Senão eu choro também. Serão apenas duas semanas, depois você vai voltar e a gente vai poder brincar juntas de novo, tá?

Tiffany iria viajar com a sua família, como em todo fim de ano. Meu coração doía só de ficar três dias longe dela, então imagine como eu me sentiria sendo três semanas. Mas acima de tudo, eu estava tentando não chorar na sua frente e ser forte por ela, que há alguns dias atrás estava ansiosa pela viagem, mas agora chorava como um bebê, dizendo que não queria se separar de mim. Meu coração se aquecia com isso, de forma que eu não conseguia explicar. Era algo tão bom, saber que alguém realmente precisava da minha presença. Alguém precisava de mim.

Depois de quatro anos de amizade, eu ainda não aprendi a lidar com a distância. Na verdade, só parece ficar mais complicado a cada dia. Eu gosto tanto de Tiffany, era difícil me imaginar sem ela. Ela também não facilitava, estava sempre comigo. Tipo, o tempo inteiro mesmo. Na escola, na rua, na minha casa. Sempre juntas, de alguma forma.

Estávamos ao lado do carro de deus pais, que me tratavam como se fosse da família, já que fui a primeira a ir falar com Tiffany quando eles se mudaram pra cá e sua melhor amiga até hoje.

– Promete? – Ela me apertava em um abraço aconchegante. Poderia morrer feliz ali, se não estivesse triste com sua partida. A cada ano que se passava, ficaria mais difícil de ficar longe dela. Tentava sempre aproveitar ao máximo esses abraços de despedidas, tentando gravar o seu cheiro natural e sua textura, por mais que isso fosse impossível.

– Prometo. E você, não se atreva a arrumar outra melhor amiga enquanto estiver fora, hm? – O sorriso que ela abriu, mesmo que fraco, iluminou meu rosto. Sorri de volta, tentando me reconfortar e, acima de tudo, confortá-la.  

– Claro, TaeTae.

 

Aquelas duas semanas passaram-se lentamente. Como quem fica olhando ansiosamente um bolo assar no forno, eu esperava na janela da sala, olhando para rua. Na esperança que ela aparecesse mesmo que um dia antes do previsto. Esperando que aquela caminhonete dobrasse a estreita rua à qualquer momento e eu pudesse ver o sorriso da minha melhor amiga novamente. Mas tudo que vinha era o vento, levando as folhas secas da arvore do quintal, ao chão. Trocávamos mensagens pelo celular quase todos os dias, mas não era o suficiente. Precisava dela ali comigo.

Ela realmente era importante pra mim. Mais do que eu imaginava.

Nunca imaginei que o amor que amigas sentem fosse tão grande, eu pensava.
Ou que se quer estar junto o tempo inteiro, continuava.

Era tudo tão novo, afinal, era minha primeira amiga.


Já era onze e meia da noite, quando eu estava pondo a parte de cima do meu pijama e o meu celular tocou. Coloquei a camisa rapidamente e fui atender, me perguntando quem estaria ligando àquela hora da noite.

Tiffany. Por que ela estava me ligando tão tarde? Será que havia acontecido algo? Atendi a chamada preocupada.

– A-alo, Fany? O que aconteceu?
– Huh? Calma, TaeTae. Não aconteceu nada. E-eu só estou com saudades. – Era reconfortante ouvir sua voz depois de tanto tempo. Mas havia algo de estranho na voz de Tiffany.   

– Eu também estou com saudades, Mushroom, mas por que está me ligando tão tarde? Você poderia ter me mandado uma mensagem. Realmente não aconteceu nada? – Nesse momento ouvi um trovão do outro lado da linha, seguido de um gemido abafado.

– Acabou a luz. E-e eu estou sem sono, só isso. Pode ficar um pouco no telefone comigo? Por favor...

Tiffany tinha medo do escuro. De trovões e chuvas fortes, também. Ela sempre me chamava para dormir em sua casa quando era tempo de chuva com trovões. Tiffany me abraçava como uma criança abraça seu ursinho, com medo dos monstros em baixo da cama. Às vezes ela até chorava, mas isso foi apenas no começo de nossa amizade. Após semanas, meses, elas passou a se sentir mais segura comigo e perdeu um pouco desse medo. Um pouco. Eu fazia carinho em seus cabelos até que ela adormecesse, e então como gentileza, eu tinha a permissão de sentir seu doce aroma durante parte da noite, sua pele macia. De manhã, acordava dando beijos em todo meu rosto. Eu sempre corava e ela sempre ria. Sempre.

Ela dizia que eu era seu – lindo e protetor – cavaleiro de armadura reluzente, só que sem armadura. Seus elogios, se é que se pode chamar de elogios, sempre me deixam feliz. Sei o quanto isso significa pra ela. Que sou seu abrigo, seu escudo. Eu aprecio isso. Ela era tão dependente de mim.

Sorri com sua inocência. Me ligar no meio da noite por causa disso. Mesmo em seus treze anos.
Uma medrosa.

– Tudo bem.

Passamos uma boa parte da madrugada no celular, até que em certo momento, ela simplesmente parou de falar. Sua voz foi diminuindo sutilmente, até que tudo que eu podia ouvir era sua leve respiração.

E foi assim que eu adormeci pouco depois.
 

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Comments

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nanakyuubi #1
Chapter 8: quero te xingar e te abraçar como faz
desgraçada
tá perfeito essa merda
nem parece que era virgem nos orange
nanakyuubi #2
Chapter 5: Tomara q ele seja orange pfvr nunk te pedi nada ta linda essa fic to iludida
Mas falando sério, estou amando sua narrativa ♡ completamente envolvente; que linda habilidade você tem.
Espero mais fics :v
Kennya #3
Estou encontrando algumas escritoras brasileiras por aqui. E amo isso, kkk cansei d ler em inglês /espanhol.