Promessa

Paraíso [PT-BR]

Morta.

É como me sinto depois de quase seis meses sem falar com Tiffany. A última vez que nos falamos realmente, foi em meu aniversário de dezessete anos. Aquela foi a última vez em que pude sentir sua pele. A última vez que pude abraça-la. Seu presente para mim foi um ursinho de pelúcia rosa. Essa nem era minha cor preferida, mas eu adorei apenas por ser dela, mesmo sendo um ursinho de pelúcia. E mesmo que eu tenha dezessete anos. Dezessete anos na cara e dormindo abraçada a um ursinho de pelúcia todas as noites. Mas o que posso fazer se aquela era a única memória física de Tiffany que eu possuía agora? Todas as noites me agarrava a ele na esperança de conseguir o resquício que fosse da fragrância de Tiffany.

Tiffany está se mantendo forte no que me disse sobre nos distanciarmos. Mas eu sei que não é o que ela quer, ela não parece nem um pouco feliz com isso, mas tenta ao menos abrir um sorriso para seu “namorado” e para seus pais. Eu nem mesmo me esforço mais para tal.

A cada vez que a vejo, ela parece mais magra e pálida, e isso me preocupa. É fácil perceber sua mudança física e de comportamento, pois é difícil vê-la. Seus pais e Yunho parecem fazer de tudo para escondê-la de mim. Quando tenho a rara oportunidade de vê-la e de poder olhar em seus olhos, vejo como está sofrendo. Como há olheiras por trás de sua maquiagem. Como sua bela roupa não consegue esconder a magreza que se vê cada vez mais marcada em seu corpo. Como toda a alegria de Yunho não consegue cobrir a aura infeliz de Tiffany.

Eu apenas queria poder ir até ali e leva-la comigo, para onde quer que fosse. Queria que ela sorrisse novamente. Queria vê-la feliz. Era tudo que eu precisava para me sentir viva novamente.

Éramos dois passarinhos presos em gaiolas distintas. Separados e privados de amar. Privados de voar.

Eu só queria voar ao seu lado, para onde quer que fosse.

 

Ontem eu a vi beijando Yunho. Ou melhor, vi Yunho beijando-a, pois em poucos momentos ela correspondeu. Ela havia se tornado uma pedra de gelo tão fria quanto a que eu me tornei. Tiffany e eu nos tornamos maratonistas nesse mar de angústia em que transformaram nossas vidas. Minha pele parecia esfriar-se mais a cada dia que passava longe da sua. Meu coração estava morrendo. Sair da cama estava se tornando uma tarefa tão difícil, a ponto de eu nem me esforçar mais para tal. Ficava apenas ali deitada, tentando cobrir as cicatrizes invisíveis que sua ausência me causava.

 

Estava cada vez mais distante de tudo, de meus pais, meus amigos – quais agora já não são mais tão amigos, minha vida acadêmica indo pelo ralo. Eu mal ia para a escola, e quando ia, era pra ser perseguida por alguns garotos que descobriram sobre minha ualidade – provavelmente através de Yunho – e ser alvo de infinitas fofocas das meninas. Minha vida se resumia a deitar na cama e abraçar aquele ursinho de pelúcia. Pensando numa forma de sair dali, de descobrir uma forma de eu e Tiffany podermos ser felizes juntas sem que as outras pessoas se incomodem com isso.

Um lugar sem trincheiras de ódio para com nosso amor. Onde possamos caminhar lado a lado, sem pedras para tropeçar.

Infelizmente, eu só via duas opções para aquela situação. E elas não me eram, ao todo, agradáveis.

 

Depois de horas tentando pregar os olhos naquela noite em que a insônia consumia toda minha alma, acordei de madrugada com o toque de meu celular, alguém me estava me ligando. Mas quem me ligaria àquela hora? Ainda mais depois de cortar todos os meus laços. Uma possibilidade me rondou a cabeça, mas tentei espantá-la, afinal, era impossível que fosse quem eu estava pensando. Porém esta possibilidade acabou por se concretizar assim que alcancei o celular e vi o antigo número de Tiffany.

– Tiffany? – Perguntei assim que atendi a chamada, ainda coçando os olhos, já me sentindo um pouco mais desperta. Ouvi apenas o som de sua respiração do outro lado, até que uma voz trêmula se fez presente.

– Vo-você pode vir aqui agora? – Perdi o ar por um segundo ao ouvir seu pedido.

– Agora? Tiffany, você sabe que horas são? – Tentei parecer brava, afinal, ainda tinha algum orgulho dentro de mim, mas este estava sendo totalmente ofuscado pelo meu coração que começava a bater como louco. Aquilo parecia tão surreal.

– Desculpa, e-eu... Eu preciso ver você. – Sua voz parecia estar prestes a se quebrar, parecia tão frágil.

Levantei da cama procurando meu casaco, ainda com o celular grudado à orelha. Meu coração batia tão rápido. Ela estava me chamando, ela me queria consigo, então por que não? Era tudo que eu estava esperando. Havia apenas um problema.

– ...E seus pais?

– Eles estão fora. Foram visitar a mãe de meu pai, que está doente. Você pode vir aqui, n-não pode? – Um breve sorriso se formou em meu rosto após ouvir aquela resposta, enquanto calçava meus tênis.

– Claro. Já estou indo. – Finalizei a chamada antes que ela mudasse de idéia.

Abri a porta de meu quarto o mais lentamente possível para que não fizesse barulho algum. Era 3:50 da madrugada, e parece que todo sono deixou meu corpo assim que atendi aquela ligação. Isso é mesmo real? Ela realmente precisa de mim? Meu coração batia tão forte que devia ser o único som naquela madrugada quieta.

Consegui sair de casa sem problemas, meus pais ainda dormiam como pedras. Felizmente a casa de Tiffany era em frente a minha, logo, apensas precisei atravessar o frio corredor. Cheguei frente a sua porta e ergui minha mão que suava e bati duas vezes na madeira.

Em poucos segundos a porta foi aberta por Tiffany, que não tinha uma expressão nada boa, porém não pude examiná-la tanto por conta da escassez de luz que havia dentro da casa. Logo ela tomou meu braço em sua mão delicadamente, e, sem dizer nada, apenas me levou para dentro. Seu silêncio era amedrontador, o que fez que até eu perdesse minha voz. Mas o sutil toque de seus dedos em meu braço fazia meu coração bater mais rápido, depois de tanto tempo sem vê-la, sentir sua pele ou ouvir sua voz.

Lá dentro já pude ver que toda a casa estava demasiada escura. Assim que chegamos em seu quarto, de onde vinha a única fonte de luz na casa – qual era de seu abajur –, ela me guiou até a cama, fazendo-me sentar. Seu olhar era vazio e nunca direcionado aos meu.

– Tiffany? – Pronunciei seu nome num baixo tom de voz e ela se virou para mim. Assim que vi seu rosto, meu coração se apertou. A fraca luz do abajur mostrava uma grande área roxa na maçã de seu rosto, além de seus olhos inchados, do que parecia ser choro. Sua expressão era de quem tinha acabado de chorar, e muito.

– Quem fez isso? – Minha boca secou e meu sangue se esquentou, logo estava de pé, tentando chegar até Tiffany, que se afastava cada vez mais. – Me diga. – Logo ela deu seu ultimo passo, qual terminou com suas costas contra a porta do quarto. Seus olhos já transbordavam lágrimas.

– Meu pai. – As lágrimas que até então teimavam em cair, desceram como cachoeiras. Ela abaixou a cabeça e eu logo a envolvi em meus braços. – Ele queria que eu jogasse seus presentes fora, mas eu não podia fazer isso. Então nós brigamos... – Ela começou a chorar novamente e não conseguiu continuar. A aconcheguei mais em meu peito e a levei até sua cama, sentando ali.

– O que aconteceu, exatamente? – Segurei suas mãos em meu colo, tentando passar sentimentos bom através daquele simples contato, enquanto esperava sua resposta.

– Ele quer nós separar. – Respondeu depois de se recompor.

– Mas ele meio que já tá fazendo isso...

– Não desse jeito, Tae. – Sua feição de tristeza logo se transformava em uma mais séria. – Não desse jeito... – Ela repetiu sua frase em um sussurro, que me arrepiou inteira. De repente a atmosfera ficou tão tensa.

– Como, então? – Um grande e triste suspiro deixou seus lábios que tremiam.  

– E-ele quer me colocar num internato. Ouvi ele e mamãe conversando sobre isso. Um fora do país. – Terminou sua frase me olhando com preocupação. Não soube como reagir. Senti algo se quebrar dentro de mim. Uma sensação de enjoo, tontura. Meu olhar vagou para qualquer lugar naquele piso de madeira, que parecia mais interessante do que qualquer coisa no quarto naquele momento.

Silêncio. Não conseguia ouvir mais nada pelo que parecia uma eternidade.

Meus pensamentos voaram para longe.

Algo quente tocou minha mão mas não soube dizer o que era. Só podia sentir o frio envolvendo minha alma. O medo me tomando por inteira. Calafrios e mais calafrios.

Taeyeon.

Me senti sem chão. Sem apoio. Minhas pernas estavam fraquejando, meu folego parecia ir desaparecendo. Tentei me imaginar sem ela, e aquilo só me gerou mais dor. Estava numa corda bamba, uma linha tênue entre o vazio e o desespero.

Taeyeon.

Estava ficando sem ar. Me sentia oprimida com aquela atmosfera que parecia ficar cada vez mais pesada. Isso é real? Me parece tanto com um pesadelo. Mesmo que todos esses meses que passei longe de Tiffany parecessem dolorosos, isso era ainda pior. Era o próprio inferno.

Meu coração dói tanto. Dói...

– TAEYEON! – Com um baque, voltei a mim com a voz alterada de Tiffany no pé do meu ouvido e o cheiro de seus cabelos no meu rosto. Só então percebi que estava chorando enquanto Tiffany me abraçava. Passei meus braços por seu corpo tentando encontrar paz em mim, ou pelo menos um sustento até que me acalmasse.

Apenas naquele abraço encontrei algum calor que esquentasse meu ser. Aquele abraço sempre era a solução para tudo.

Afaguei seus cabelos e a apertei mais contra mim. Esfreguei nossas bochechas e aproximei nossas bocas, as selando por poucos segundos. Podia sentir como seu maxilar tremia. O medo era visível em seus olhos que estavam cada vez mais escuros e profundos.

– Vai ficar tudo bem. – Disse mais para mim do que para ela, afundando sua cabeça em meu peito.

Vai ficar tudo bem.

Eu prometo.

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Comments

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nanakyuubi #1
Chapter 8: quero te xingar e te abraçar como faz
desgraçada
tá perfeito essa merda
nem parece que era virgem nos orange
nanakyuubi #2
Chapter 5: Tomara q ele seja orange pfvr nunk te pedi nada ta linda essa fic to iludida
Mas falando sério, estou amando sua narrativa ♡ completamente envolvente; que linda habilidade você tem.
Espero mais fics :v
Kennya #3
Estou encontrando algumas escritoras brasileiras por aqui. E amo isso, kkk cansei d ler em inglês /espanhol.