Galáxias e Nebulosas

Paraíso [PT-BR]

 

Foi no nosso primeiro ano no ensino médio, quando eu apanhei por você. E apanharia de novo. Por você.
Porque eu sempre fui seu cavaleiro de armadura brilhante. Sua cavaleira, no caso.

– Belos peitos, Hwang. Não sabia que asiáticas eram peitudas assim. – Tiffany e eu íamos para casa quando Pablo, um garoto irritante do segundo ano, veio atrás de nós com seu irmão que eu ainda não sei o nome, e não faço questão de saber. Desde que viemos para essa escola, eles são os únicos que nos irritam apenas por sermos coreanas, ou pelo menos eu, Tiffany é apenas descendente.

– Qual é! Vocês são mudas? – Continuamos andando e eles ainda vinham atrás de nós cochichando coisas e rindo entre si. Meus músculos da mandíbula e pescoço se enrijeciam a cada palavra. Até que Tiffany – que até então estava apenas de cabeça baixa – segurou minha mão.

– Fique calma, TaeTae. – Pediu num sussurro, me dando uma rápida olhada.

– Ah, vocês são namoradas? – Ele correu até nós, parando na nossa frente. – Por que não se pegam pra eu e Henri vermos? Dizem que asiáticas lésbicas são as melhores fodendo.

Meu sangue esquentou novamente quando ele começou a olhar para Tiffany, mais especificamente para seus seios.

– Posso tocar?

Não agüentei mais nesse momento. Vendo todo o carinho que tenho por Tiffany, eu não podia ignorar aquilo. Somos quase irmãs. Crescemos e aprendemos juntas, protegendo uma a outra. Jamais poderia deixar alguém falar assim com ela. Olhá-la assim. Tocá-la.

 

Soltei meu braço do aperto de Tiffany e direcionei meus dedos fechados na direção do rosto de Pablo, levando toda minha fúria consigo acertando-o um soco em cheio. Ele cambaleou alguns passos para trás antes de me dar sua melhor expressão de ira. Veio pela minha direita, tentando um soco por baixo, mas eu desviei. Não contava que ele fosse tentar outro, dessa vez, na altura de minha costela, qual me pegou desprevenida.

Tão rápido atacou quanto eu revidei, lhe acertando mais um soco no rosto. Seu irmão apenas ficava olhando. Vez ou outra tentando entrar na briga, mas sendo impedido por Pablo. Ao menos ele sabe fazer uma luta limpa.

Trocamos vários socos, chutes e até joelhadas, estávamos esgotados. Logo um de nós cairia por cansaço. O suor de meu rosto entrava nos cortes que jaziam ali, fazendo-os arder ainda mais. Minhas mãos estavam doloridas, meus músculos do braço e das pernas já latejavam.  

Tiffany não parava de pedir para que parássemos. Que eu parasse. Ela deve pensar que sou uma covarde para deixar a luta agora. Jamais fugiria de uma briga para protege-la.

Nossos movimentos pareciam estar em câmera lenta. Ele estava tão cansado quanto eu. Ele sangrava tanto quanto eu. Os cortes nas maçãs de sua bochecha e o sangue em seu nariz eram prova de que eu não era tão fraca quanto ele achava. No fim, nossas forças eram quase as mesmas. Decidida a acabar com aquilo de uma vez, então focalizei o último resquício de força em meu corpo, no meu braço direito, e assim para minha mão, qual se fechou. Ele previu meu ataque e tentou desviar, mas fora tão lento que meu punho o atingiu em cheio e ele caiu no chão como quem pula em uma piscina. No caso, uma piscina chamada asfalto.  

– TaeTae! – Ouvi Tiffany choramingar atrás de mim. Mas antes de me virar para encará-la, vi Henri vindo em minha direção com uma cara nada boa.

Com os punhos acirrados, ele veio com o golpe mais óbvio, talvez pela fúria do momento, de ter visto seu irmão derrotado. Consegui me abaixar com facilidade, desviando de seu soco. Após isso ouvi um gemido de dor atrás de mim, e quando me virei, vi Tiffany com a mão no rosto, tocando o nariz. Havia uma pequena trilha de sangue escorrendo dali. Ele havia acertado Tiffany.

Toda razão deixou meu corpo quando me joguei em cima de Henri, que estava sem reação. Desferi socos e mais socos em seu rosto.

A trilha sonora dessa “luta” eram os pedidos de Tiffany para que eu deixasse o garoto. Seu rosto já estava carregado de sangue. Do seu nariz, da sua boca. Cortes, contusões. Meus braços já estavam ficando cansados, quando senti dedos finos tentando segurá-los. Tiffany estava ao meu lado, lágrimas lavavam seu rosto. Sua expressão infeliz me fez parar de socar Henri imediatamente. Olhei para minhas mãos e as vi cheias de sangue. Feridas.

O que eu fiz?

– Vamos embora, Tae. Por favor. – Segurou minhas mãos ternamente, sem se importar com o sangue. Henri havia se levantado, com muito dificuldade, e arrastado-se para longe de nós com uma expressão de medo. Sangue ainda escorria de sua boca e nariz e seu olho estava inchado.

– Me perdoa.

 

 Meus pais não estavam em casa naquele horário, então poderia cuidar de meus ferimentos sem problemas. Porém Tiffany quis vir comigo e ela mesmo cuidou de mim. Lavou minhas mãos machucadas e os cortes de meu rosto, fez curativo nos meus machucados e enfaixou minhas mãos. Tudo isso em silêncio, eu não sabia o que dizer e nem ela, aparentemente. Durante todo momento, ela continuou com a mesma expressão que oscilava de tristeza para preocupação e medo. Ela havia acabado de prender as faixas em minha mão e já se preparava para ir embora. Sequer queria olhar para meu rosto. Ela deve achar que eu sou um monstro ou algo assim. Talvez seus pais tenham razão em não querer que eu seja sua amiga.

Ela terminava de vestir seu casaco, de costas para mim, quando eu ouvi um soluço. Me levantei da cama e fui até ela. Quando trouxe seu rosto para mim na palma de minha mão, vi que lágrimas escorriam de seus olhos. Aquilo me machucou bastante. Eu só queria protege-la, droga! Agora quem está triste sou eu.

– Me de-desculpe. Eu não queria fazer aquilo de verdade. Por favor, não pense que sou algum tipo de monstro. – Segurei seus pulsos e a fiz me encarar, mesmo que se recusasse. Mais lágrimas escorriam por seu rosto. Como pude deixar esse rosto tão lindo ficar nesse estado?

– Não estou chorando por isso. – Ela fez uma pausa, tentando secar as lagrimas. – Você não é um monstro. – Levantou seu rosto, me olhando com ternura. – Eles te machucaram. – Senti alívio ao ouvir suas palavras. Pelo menos não era o que eu estava pensando.


– Mas eu estou bem. Olha. – Coloquei minhas mãos em “posição de aegyo”, como se fossem duas patinhas, aos lados de meu rosto. – Eu sou um panda agora.

Tiffany deu um riso triste, acompanhado de um pequeno empurrão no meu ombro. Sorri para ela também. Porém em poucos segundos seu riso fraco se transformou em choro novamente. A trouxe para um abraço firme rapidamente, afagando suas costas. – Não chore, Pany. Está tudo bem agora. – Pedi enquanto ela ainda molhava minha blusa com suas lágrimas.

Ficamos assim algum tempo, seus soluços foram diminuindo até que ela se acalmou e levantou a cabeça, me encarando profundamente. Seus olhos não diziam nada, assim como sua expressão vazia, misteriosa. Seus olhos pareciam mais negros ainda naquele momento, fazendo-me desejar mergulhar naquilo que pareciam ser dois abismo. Indecifráveis e profundos. Tanto quanto as manchas negras em baixo de meus olhos.

Ela levou uma das mãos até meu rosto e acariciou com o dedo o local machucado. Meu olho roxo. Um sorriso bobo moldou-se em seus lábios.

– Minha heroína. – Sorri docemente com seu comentário juntamente com ela, que ainda encarava a mancha escura. – Galáxias. – Ela continuou e eu fiquei sem entender.
– Hm?
– Agora você tem galáxias em baixo dos olhos. – Demorei alguns segundos para entender o que ela quis dizer. A olhei com deboche, soltando uma risada nasal.

– Não sei qual de nós é mais cabeça de vento. Eu ou você. – Soquei seu braço levemente.
– É você, TaeTae. Com certeza.

O carinho dos suaves dedos de Tiffany em meu rosto estava mexendo com meu interior. Me fazia esquecer completamente a dor dos socos que levei.

Agora seus olhos estavam vidrados nos meus. Perdidos. Enquanto seu sorriso de segundos atrás diminuía gradativamente, formando uma feição de mistério em seu lugar. Meu coração começava a bater mais rápido e de repente eu não sabia mais como me portar perto de Tiffany.

– Me deixa ser sua nebulosa?

Sem me dar chance de responder, ou mesmo entender o que ela quis dizer, puxou meu rosto de encontro ao seu. Como uma experiência em estado de ebulição dentro de seu tubo de ensaio, meu estômago reagia das mais diferentes formas diante do meu primeiro beijo. 

O que tanto pareceu confuso naqueles últimos anos, se encaixou perfeitamente, como num quebra-cabeça, e eu pude entender o que sentia. O que sentia por Tiffany. Apenas naquele pequeno ato, desfrutei das muitas sensações que ela me ofereceu através dele, em seus belos lábios avermelhados, tão desejáveis. Desejáveis. Era essa a palavra.

Não durou mais que um minuto, quando nossas línguas se encostaram brevemente, ela se afastou olhando-me assustada, antes de deixar-me sozinha no meu quarto com borboletas na boca do estomago, correndo para seu apartamento. 

 


Estamos na metade da fic. 

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Comments

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nanakyuubi #1
Chapter 8: quero te xingar e te abraçar como faz
desgraçada
tá perfeito essa merda
nem parece que era virgem nos orange
nanakyuubi #2
Chapter 5: Tomara q ele seja orange pfvr nunk te pedi nada ta linda essa fic to iludida
Mas falando sério, estou amando sua narrativa ♡ completamente envolvente; que linda habilidade você tem.
Espero mais fics :v
Kennya #3
Estou encontrando algumas escritoras brasileiras por aqui. E amo isso, kkk cansei d ler em inglês /espanhol.