Faz quatro semanas desde que Tiffany e eu nos beijamos – ou melhor, que ela me beijou – e ela mal tem falado comigo desde então. Na escola, finge que não me vê, e sai de lá antes que eu possa acompanhá-la para casa. Também não tem respondido meus SMS ou atendido minhas ligações. Falamo-nos poucas vezes essas duas últimas semanas, tudo para logo em seguida ela dar um jeito de escapar de mim novamente. Algumas vezes eu a fazia rir e ela parecia esquecer-se do resto, mas isso até seus olhos se encontrarem com os meus e a atmosfera se tornar pesada. Tentei chamá-la para sair várias vezes, mas ela sempre diz que está ocupada. Irei convidá-la hoje novamente, e não vou deixar que ela fuja dessa vez.

Ela me beija e nas semanas seguintes me ignora? Como assim? Ela com certeza gosta de mim também, senão, não teria me beijado. Talvez só tenha... Ficado com vergonha?

De qualquer  forma, essas quatro semanas foram cruciais para mim. Foi tempo suficiente para que eu entendesse tudo o que estava sentindo. Lembrei de todos os momentos que passamos juntas, a forma que ela me fazia sentir como mais ninguém fazia, da minha alegria só de tê-la perto. Seus beijos, seus abraços, seu corpo, seu calor, seu carinho. Eu senti tanta necessidade dessas ultimas coisas nesse tempo em que ela me ignorou. Isso só me fez ver como é forte o que sinto por Tiffany. Só não entendo porque ela está me ignorando. O tempo sempre parece se arrastar quando estamos brigadas e isso me consome.

Assim que o sinal bateu, saí o mais rápido possível de minha sala e corri desviando de algumas pessoas para a porta da sala de biologia, onde normalmente é a ultima aula de Tiffany nas terças. E como dito, logo ela saiu. Mas estava com tanta pressa que sequer me viu, ou fingiu não ver. A chamei e ela parou na mesma hora, virou a cabeça para me encarar e logo voltou a andar, porém de forma hesitante.

– Tiffany, espera!

Ela não parou em nenhuma das vezes que a chamei, logo chegamos do lado de fora da escola e eu continuei seguindo-a. Porém ela foi por um lado diferente, não era o caminho para casa.

– Onde você está indo, Fany? – Ela ainda me ignorava. Até que chegamos num beco vazio e ela parou ainda sem virar-se para mim. Parei de andar logo atrás dela a uma distância razoável.  

– O que foi? O que ta acontecendo? – Perguntei já não aguentando mais aquela situação.

– Você sabe muito bem o que está acontecendo, Tae. Não quero falar sobre aquilo. Vamos apenas esquecer, vam-

– Eu não vim falar sobre aquilo. – Cortei-a antes que continuasse o começo de seu surto e acabasse fugindo mais uma vez.

– N-não? – Perguntou incerta, aparentava uma expressão de desconserto. Não entendi sua reação.

– Eu queria saber se você quer passear comigo. – Falei rápido, antes que perdesse a coragem.

– Eu... Eu não posso, vou estar ocupada hoje. – Ela sequer conseguia sustentar nossa troca de olhares.

– Amanhã, então?

– Taeyeon...

– Tiffany! – Certo, já estava começando a ficar irritada.

– Ok, ok. Amanhã. Me mande uma mensagem avisando onde devemos nos encontrar e o horário. – Finalmente.

– Certo.

Naquele dia não nos vimos mais, mas eu estava bastante eufórica. Ela finalmente aceitou, depois de tantas tentativas. Normalmente nós passeávamos juntas por muitas vezes antes, mas dessa vez seria diferente. Seria como um encontro, não é? Eu a levaria no cinema, mas não seria como uma simples amiga. Seria nosso primeiro passo, quem sabe.  

Havia acabado de completar sete horas, horário em que eu falei que estaria a esperando na frente do cinema do shopping de nosso bairro. Estava tão ansiosa que cheguei quase meia hora adiantada. Após alguns minutos ouvi a voz de Tiffany atrás de mim.

– Demorei muito?

– Não. Cheguei faz pouco tempo. – Ela estava tão linda, mesmo tão simples. Isso é uma das coisas que amo em Tiffany, sua simplicidade. Ela fica perfeita vestindo o que quer que seja.

– Então, qual filme vamos ver?

– Ainda não sei, deixei pra você escolher.

– Oh, ok. Vamos ver quais ainda vão começar. – Disse já olhando para os cartazes em destaque na parede. Tinha alguns de ação, terror e poucos de romance, animação. Vi o cartaz de um filme de ação que parecia ótimo, já ia comentar sobre ele com Tiffany, mas ela me chamou antes. – TaeTae, vamos ver esse. – Me virei e a vi apontando para um cartaz de um filme romântico. Meu sorriso murchou rapidamente. Por um segundo havia me esquecido do meu plano, e aquele era o filme certo para este funcionar, mas de qualquer forma, odiava filmes desse gênero. Eram tão chatos.  

– Esse? Romance, Tiffany? – Foi só notar meu desanimo para assistir aquele filme que um bico se formou em seus lábios. Lá vem manha.

– Vamos, TaeTae. Por favor. Da ultima vez você me fez assistir aquele filme sem graça de ação e eu não reclamei.

– Certo, certo. Vamos ver esse então. – Cedi sabendo que ela não mudaria de idéia. Abriu um belo sorriso para mim ao ouvir minha resposta. O sorriso que sempre aquece meu coração.  

Fui comprar a pipoca e o refrigerante enquanto Tiffany já entrava na sessão. Ótimo, precisava de alguns minutos sozinha pra me preparar psicologicamente.

Quando eu mandei a mensagem dizendo que iríamos ao cinema, ela teve um pequeno surto. Quase não aceitou vir, mas eu consegui convencê-la. Depois de tudo o que aconteceu, andava meio obvio quais eram minhas intenções. Agora eu a via com outros olhos e era impossível esconder. Porém ela ainda não me abordou sobre isso até agora, felizmente.

Havia acabado de chegar na sala de cinema, o filme começou há poucos minutos e Tiffany ainda reclamou por eu ter demorado, mesmo que só tivesse passado trailers de outros filmes antes d’eu chegar. Ela escolheu uma das ultimas fileiras, o que agradeci mentalmente, pois facilitaria para que eu desse seguimento com minhas intenções. 

Tinham se passado poucos minutos desde que começou, mas eu estava quase dormindo com aquele filme, enquanto Tiffany vez ou outra fungava enquanto chorava. Peguei um lenço do meu bolso – que eu trouxe propositalmente, sabendo que ela escolheria um filme de romance e choraria com ele – e a ofereci. Ela pegou imediatamente e enxugou as lágrimas que não paravam de cair. Ela parecia realmente tocada com o filme.

– Tá tudo bem? – Perguntei um pouco preocupada. Geralmente Tiffany é bastante sentimental e sensível, mas hoje parecia ainda mais do que o normal.

– Sim, é só que... É muito triste.

– Por que? – Admito que não estava prestando muita atenção no filme, não tenho culpa se ele era tão chato que me fazia ficar com sono.

– Ai TaeTae, você não tá prestando atenção mesmo? – Ela fez uma pausa e me olhou feio, mas como viu que não teria resposta, continuou. – Eles não podem ficar juntos.

– Oh... – Após isso não dissemos mais nada. Nossos olhares se prenderam por algum tempo e eu não soube explicar o que vi naquelas orbes negras, mas as minhas provavelmente mostravam tristeza. Senti-me um pouco para baixo de repente. Desviamos o olhar quase ao mesmo tempo, voltando nossa atenção ao filme – ou pelo menos ela.

Depois disso passei a prestar mais atenção no filme, e ao desenrolar deste, as coisas iam melhorando e tudo indicava que seria um final feliz. Olhei para Tiffany de lado e vi um sorriso sutil em seu rosto. Ela parecia mais calma agora. Relaxei na cadeira, encostando minhas costas na mesma e levei minha mão até o balde de pipoca que Tiffany segurava em seu colo. A pipoca estava quase no fim, e na procura das que sobraram, minha mão se esbarrou na de Tiffany. Minha primeira reação – assim como a de Tiffany, foi tirar minha mão. Nos encaramos timidamente e voltamos à olhar para o telão.

Agradeci por aquela sala ser tão escura, e assim Tiffany não perceber a vermelhidão que meu rosto tomou. Porque eu com certeza estou corando agora. Podia sentir meu rosto queimando. É tão complicado estar começando a amar, é como andar num campo desconhecido. Cheio de sensações e situações diferentes, quando você não sabe como agir. Essas coisas deveriam vir com manual de instruções.

Passei a me sentir inquieta depois daquele mínimo toque, afundei mais ainda na cadeira e apoiei os braços no braço da poltrona. O braço de Tiffany também estava apoiado no da poltrona dela, não teria reparado nisso se não estivesse tão ansiosa. No telão, já era quase o fim do filme. O casal conseguiu ficar junto, depois de tudo, e agora estavam se beijando. Senti tanta necessidade de um beijo daquele de Tiffany. Pela primeira vez naquela sessão, estava realmente prestado “atenção” no filme. Imaginando se algum dia Tiffany me beijaria novamente, ou se eu precisaria tomar coragem para eu mesma fazer isso. Isso estava me deixando louca, inquieta. Totalmente inquieta.

Estava tão perdida em pensamentos que não senti a aproximação do dedo mindinho de Tiffany roçando no meu. Senti-me quente de repente. Meu coração batia cada vez mais rápido, como se pudesse sair do peito a qualquer momento. Olhei do canto do olho para Tiffany, e vi que ela fazia o mesmo, porém logo desviou. Mas seu dedo continuou junto do meu. Por fim, eu terminei por puxá-lo mais para perto do meu. A essas alturas eu já devia estar corando novamente, e ela também.

E ficamos assim até o fim do filme, como nossos olhares cúmplices e nosso pequeno toque. Acho que nunca me senti tão confortável. Por mais que não tivesse saído da forma que eu esperava, estava satisfeita... Por enquanto.

Após o filme, Tiffany e eu saímos da sala sem muitas palavras. No caminho de casa minha mão encontrou a sua e não tardou em segurá-la, entrelaçando nossos dedos. Tiffany que até então comentava sobre o filme, perdeu a fala ao sentir o calor de nossas mãos unidas. Ela estava tão bela sob a luz dos postes naquela noite. O sutil vento frio deixava seu nariz levemente avermelhado, assim como suas bochechas. A cada minuto mostrava mais sinais de nervosismo, como colocar o cabelo atrás da orelha mesmo que ele não tenha saído de lá, ou chutar as pedras que encontra no caminho, ou apenas lamber os lábios mesmo que a o tempo não esteja totalmente frio.

Ao contrário do que eu esperava, meu nervosismo apenas parecia aumentar a cada degrau que eu subia naquela escada. Logo estava na frente da porta de Tiffany e eu não sabia o que fazer. Minhas mãos transpiravam e meu cérebro estava em branco. Por impulso e com a última gota de coragem que me sobrava, beijei o rosto de Tiffany e corri para o meu apartamento, fechando a porta atrás de mim e me escorando nela com o coração ainda batendo rápido.

Por que mexe tanto comigo, Tiffany? Isso não deveria ser tão difícil.