Moça

Paraíso [PT-BR]

– Lembra da sua festa de 15 anos, amor? – Perguntei trazendo nossas mãos ainda entrelaçadas até meus lábios, deixando beijos em cada um de seus dedos.

– Com certeza. – Fez uma pausa para sorrir e continuou. – Você era muito ciumenta. – Terminou rindo.

– N-não era não. Do que você tá falando?

– Você sabe muito bem, TaeTae. 

–...

Diferente de mim, obviamente, Tiffany não dispensou sua festa de 15 anos. Sua família alugou um salão razoavelmente grande em uma parte mais rural da nossa região para fazer a festa. Como um sítio. Ela fez questão de organizar tudo. Os convites, preparativos, bufe, decoração. Por vezes me perguntei se ela estava fazendo uma festa de debutante ou preparando um casamento. Ela estava bem feliz com os preparativos, o sorriso não saia de seu rosto. Seus olhos brilhavam. Como brilhavam.  Obviamente, como sempre, tudo – ou quase tudo, se não fosse pelos meus palpites – era rosa. Me deixava muito feliz saber que Tiffany confiava em mim o suficiente para compartilhar comigo uma coisa tão importante e sonhada por si, como sua festa de debutante.

Estava tudo indo muito bem, eu e seus pais ajudávamos nos preparativos, o que só aumentava o sorriso de Tiffany, e conseqüentemente, o meu. Tudo ia perfeitamente bem, até que, sem querer, acabei ouvindo uma conversa de seus pais poucos dias antes da festa, quando estava voltando para minha casa.

– Ela já é quase uma moça. Nossa filha está crescendo, estou tão feliz. Não poderia ter desejado uma filha melhor. – Ouvi a voz rígida do Sr. Hwang se tornar emocionada pela primeira vez em anos.  

– Com certeza, meu bem. Logo ela arrumará um namorado. O que você acha daquele menino, o Yunho? Ele parece um bom rapaz. – Sua mãe respondeu e eu engoli seco com aquele comentário. Um pouco de desconforto me tomou.

– Também acho. Um bom descendente de coreano como nós. Assim ela passará menos tempo com a Kim. Elas nunca se desgrudam. – Ele fez uma pausa como se tomasse coragem para continuar. – Às vezes tenho a impressão de que aquela Kim não é boa coisa. Não quero que ela leve Tiffany para o mau caminho.

Sr. e Sra. Hwang sempre me trataram como se eu fosse da família, quase como uma irmã de Tiffany. Ouvir isso acabou comigo. Poupei-me de ouvir mais daquela conversa e parti para meu apartamento, segurando as lágrimas. Ignorando os outros comentários sobre eu não ser “boa companhia” para Tiffany e como Yunho era um bom garoto.  Me sentia uma idiota. Como se eu tivesse sido enganada por anos da minha vida. Passei o resto daquele dia em meu quarto, pensando no que eles disseram. Pensando no que eu era. No que eu era para Tiffany.

 

Enfim o dia do aniversário de Tiffany havia chegado. Foi muito trabalhoso montar toda a festa, pois havia o ensaio para a valsa, o bolo e o bufe imensamente grandes, a decoração generosamente simples, mas ainda assim, requintada. Todo o esforço valeu a pena, pois o salão estava ainda mais bonito desde a ultima vez que o vi. O branco e o rosa combinavam na decoração do local, a mesa do bufe estava perfeita. Aos pés das paredes de madeira estavam vasos de rosas de diversas cores, juntamente com os holofotes. No teto havia balões, e no centro dele, um lustre com dezenas de cristais de vidro, com mais holofotes, virados para o centro do salão. Parece que eu e Tiffany fizemos um bom trabalho juntas.

O salão ainda estava vazio quando a aniversariante chegou. Estávamos eu, seu irmão mais novo, Sr. e Sra. Hwang e Yunho do lado de fora, esperando a chegada de Tiffany. Como era uma festa quase tradicional de debutante, ela chegou em uma charrete, enfeitada com flores rosas e amarelas aos lados. Estava num vestido simples – que mais tarde seria trocado –, com saltos rasos. Fiz menção de ir ajudá-la a sair da charrete, quando Yunho passou na minha frente e estendeu a mão para ela. Fiquei um pouco decepcionada, mas nada que pudesse me abalar. Percebi Tiffany tentando conter uma risada uma enquanto me via sem jeito e logo soltava a mão de Yunho. Sem muita demora, entramos no salão. Sr. e Sra. Hwang, juntamente com Tiffany, recebiam os convidados e guardavam os presentes. Acho que nunca vi o sorriso de Tiffany maior do que naquele momento. Aquele sorriso reluzente não deixava seu rosto um segundo sequer. Sua animação me contagiava, amenizando o pequeno desconforto que sentia.

Todos os convidados já se acomodavam dentro do salão mesclado em paredes rosas e brancas. Comiam e conversavam entre si, alguns sentados com suas famílias nas mesas de toalha branca, outros em pé, enquanto Tiffany subia para se arrumar. Tudo estava perfeito. Música, convidados, o bolo. O bolo era enorme, seria trazido para o centro do salão após as valsas.

Minutos e minutos se passaram, até que os pais de Tiffany foram até perto da escada, onde haviam luminárias, no topo dos parapeitos. Todos ficaram em silêncio quando um homem começou a falar no microfone, ate o volume da música havia abaixado. A voz vinha das caixas de som, mas não sabia onde o dono daquela voz estava.

– Está é a mais importante passagem na vida de uma mulher. Quando ela deixa a vida de criança, e se torna uma moça, uma mulher. Nós não poderíamos estar menos orgulhosos de nossa querida Stephanie, certo? – As pessoas aplaudiam e assoviavam animadas. Logo as luzes do salão se voltaram para o topo da escada.

Tiffany – que já estava de cabelo feito e com o devido vestido – estava no topo da escada. Ela estava realmente linda. Reluzindo os brilhos de seu vestido rosa, as lantejoulas no corpete e nas camadas de seu vestido ofuscavam tudo naquela noite que se atrevesse a brilhar mais que ela. Seu vestido sem alças deixavam toda a pele de seu pescoço, colo e ombros desnudas, quais estavam levemente rosadas. A maquiagem nem tão fraca, nem tão forte, demarcava suas suaves linhas do rosto. A pequena tiara de perolas se destacava no alto de seus cabelos negros. Em suas frágeis mãos, estavam luvas de seda, tão brancas quanto sua própria pele, ia até perto de seu cotovelo.

Logo a típica música de debutante, com trompetes e trombones, começou a tocar. Quase todas as luzes estavam apagadas, deixando acesas apenas as luminárias da escada acesas, além dos holofotes virados para lá. Logo que ela chegou perto do fim da escada, seu pai veio segurar sua mão, levando-a para o centro.

Ela ficou lá, conversando com seus convidados, tirando foto, vez ou outra bebendo ou comendo algo. Algumas vezes trocamos algumas palavras, mas nada muito longo, pois ela tinha que falar com os convidados. Ela sorria ternamente para seus convidados, que não hesitavam em correspondê-la.

Rapidamente chegou o momento da valsa. O violino ressoava ao ouvido de todos, seguido de pequenas baterias ao fundo, conforme o som dos violinos e violoncelos apenas aumentava. A primeira valsa fora dançada com seu pai, a segunda, teria que ser com um primo, amigo ou namorado. Logo seus pais escolheram Yunho, e Tiffany não discordou. Assim, os outros convidados também foram dançar ao redor deles.

Tiffany estava reluzente e feliz, então porque eu me sentia tão abatida? Talvez porque ela não tenha me dado tanta atenção. Talvez. Me sentia abandonada. Como se estivesse sendo excluída do que sempre fiz parte.

Sentia falta de Tiffany. Mas ela estava bem ali. Talvez do seu calor, do seu sorriso para mim, e não para Yunho. Dói, e é tudo que compreendo. Vez ou outra trocávamos olhares, enquanto ela ainda dançava com Yunho. E nesses poucos olhares, ela sorria de um jeito maldoso para mim. Que tipo de tortura era essa? Ela sabia que eu não estava gostando daquilo, não é?

Logo chegou o ápice da festa, onde Tiffany apagaria as velas do bolo. Trouxeram-no de uma das portas o carrinho de chá. Podia ver o sorriso se agravar em seu rosto novamente. Estavam todos em volta dela, quando o parabéns estava prestes a acabar, nossos olhares se chocaram por entre as chamas da vela. Seu sorriso morreu aos poucos. Uma sensação estranha me invadiu e eu senti como se um balde de gelo caísse sobre mim. Naquele momento eu percebi o quanto minha amiga era importante pra mim, e pude perceber tudo que estava acontecendo. Estava tudo mudando, lentamente. Exatamente como devia ser. Como ela estava crescendo, como ela logo seria uma mulher. Uma bela mulher. Percebi que um dia ela seguiria sua vida e eu apenas teria que aceitar, olhando de longe. Seguindo com a minha. Que ela namoraria, se casaria. Teria filhos. Daria tudo para saber também o que ela pensava naqueles poucos segundos que estabelecemos essa conexão entre olhares.

Por que dói pensar que a pessoa que não estaria ao lado dela nesses momentos não seria mais eu?

Eu apenas queria entender.

Logo ela apagou as velas e seu pai a abraçou, seu pai e seu irmão. Eu também a abracei, e por um momento pensei que me debulharia em lágrimas. Aqueles pensamentos ainda estavam rodando minha cabeça, quando ela deixou meus braços, a desejei parabéns e ela se afastou sorrindo levemente. O ar nunca pareceu tão pesado. O próximo abraço foi para Yunho. Sai de perto do centro e fui sentar-me. Não me sentia bem.

O resto da festa se passou agradável para todos. Houve um pequeno churrasco no fim, e muita dança.

A perfeita festa de 15 anos.

– No que você estava pensando naquele momento, Fany? Quando nos olhamos enquanto cantavam parabéns.

– Em como seria o nosso futuro.  – Ela pausou por um minuto, soltando um suspiro pesado. – Meio que tinha me caído à ficha de que eu estava crescendo. De que nós duas estávamos. Tive que me segurar pra não chorar depois da festa. Aqueles pensamentos não saiam da minha cabeça.

Ela colou seus lábios em minha bochecha gentilmente antes de continuar.
– Tive medo de nos separarmos.  

– Mas não nos separamos. E nem vamos, jamais. – Respondi convicta.

– Eu sei, meu bem.

– E do que você ficava rindo? – Perguntei assim que me lembrei dos seus risos abafados.

– Dos seus ciúmes. – Respondeu rindo da expressão emburrada que logo se formou em meu rosto. 

 

 

 

Nunca demorei tanto pra escrever um capítulo. Vocês não tem noção de como foi difícil escrever isso. @_@ Mas era um capítulo importante pra história. 
E não, não teve dialogos nas memórias. Sou ruim em dialogos e não achei necessário por um ali. Esse capítulo foi meio parado, certo? O próximo vai ser mais emocionante, prometo.

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Comments

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nanakyuubi #1
Chapter 8: quero te xingar e te abraçar como faz
desgraçada
tá perfeito essa merda
nem parece que era virgem nos orange
nanakyuubi #2
Chapter 5: Tomara q ele seja orange pfvr nunk te pedi nada ta linda essa fic to iludida
Mas falando sério, estou amando sua narrativa ♡ completamente envolvente; que linda habilidade você tem.
Espero mais fics :v
Kennya #3
Estou encontrando algumas escritoras brasileiras por aqui. E amo isso, kkk cansei d ler em inglês /espanhol.