Empecilhos

Paraíso [PT-BR]

A época em que eu e Tiffany nos afastamos foi a pior de minha vida.

Esse ano está sendo o melhor e ao mesmo tempo o pior ano de minha vida. Eu descobri que amo Tiffany e que ela também me ama, porém ao me assumir para minha mãe, ela me rejeitou totalmente. Como se eu não fosse sangue do seu sangue, me tornei como uma desconhecida para ela após dezesseis anos de convivência. Acho que devia ter conversado com Tiffany antes de fazê-lo, mas estava tão ansiosa para isso. Queria tanto que as pessoas mais importantes para mim na terra soubessem o motivo de minha felicidade. Pena que minha felicidade durou pouco.

Infelizmente eu quase não a vi mais Tiffany após o nosso pequeno incidente no banheiro da escola. Não a vejo na rua, nem no prédio ou mesmo na escola. Minha vida parece cada vez mais incolor sem sua presença, e isso me dói. Dói tanto quanto ter sido rejeitada pela minha família.

Recentemente, as únicas vezes em que a vejo, ela está com aquele garoto. Yunho. Sempre com um sorriso fraco em seus lábios, um sorriso cinza. Não era como o sorriso que ela me dava quando éramos crianças, ou mesmo quando estávamos juntas há poucos meses atrás. Quando nos tocávamos, ou trocávamos palavras de amor, deitadas em sua cama, no gramado do parquinho ou andando em mãos dadas. Aquele era apenas um sorriso, e nada mais. Não havia nada nele além de um grande vazio, uma imersa escuridão sem fim. Seus olhos não sorriam junto com seus lábios como geralmente acontecia quando ela estava realmente feliz com algo. Seu olhar apaixonado e feliz já não estava mais lá. Aquele olhar cheio de malicia e paixão que trocávamos em meio nossos familiares, nossos amigos ou mesmo entre desconhecidos. Apenas eu podia entender o que seus olhares diziam, seus mais simples gestos, seus sorrisos que mesmo fracos, eram cheios de significados. E agora tudo isso acabou, como se nunca tivesse existido.

Tiffany estava infeliz, assim como eu. Minha presença clamava pela dela todos os dias, a todo momento. O amor que nutri para com sua amizade todos esses anos era forte demais para simplesmente se quebrar, mesmo que eu quisesse que isso acontecesse.

Eu sentia sua falta, como se parte de mim tivesse morrido, parte de mim havia se tornado cinza. Eu sentia falta das tardes em que passávamos juntas, depois da escola. Quando éramos apenas crianças que corriam por aí, brincando, caindo, se machucando, e se levantando novamente. Das noites em que ela dormia em minha casa, ou eu na dela, e ficávamos conversando até pegarmos no sono. Ela me fazia carinho como ninguém, ela me amava como ninguém nunca amou. Nem mesmo minha família.
E todas as manhãs ela me acordava com beijos em todo meu rosto, abraços e uma caneca de chocolate quente, que ela mesma fazia. Eu sempre queimava minha boca, porque não conseguia esperar que se esfriasse antes.

Eu sinto sua falta.

Sinto mais até do que, talvez, poderia sentir do ar que respiro.

 

 

 

Ouvi três batidas na porta. Me perguntei quem poderia ser, já que meus pais nunca vem ao meu quarto e não deixam que ninguém venha até aqui desde que me assumi. Me levantei da cama preguiçosamente e fui até a porta. Sem conseguir conter a expressão de surpresa, meus olhos se arregalaram ao ver Tiffany ali. Logo a costumeira alegria de ter Tiffany por perto tomou conta de meu peito, após o seu curto cumprimento. – Oi, Tae.

– Posso entrar? – Continuou, ao ver que eu não falaria nada pelo fato de ainda estar surpresa pela sua visita.

– Claro. – Respondi e dei espaço para que ela entrasse. Fechei a porta e a segui, sentado-me na beira da cama ao seu lado. Ela não olhava em meus olhos, mantinha apenas o olhar baixo. Sabia que aquela visita não seria do tipo que eu esperava. Meu coração já começava a acelerar.   

– Como você está aqui? Digo, meus pais te deixaram entrar? – Perguntei assim que me lembrei da reação de meus pais quando me assumi.

– Ah, eu vim com os meus. Eles estão na sala... Conversando com os seus. – Disse ainda sem olhar para mim. Já estava ficando receosa sobre aquilo. A insegurança do motivo daquela visita martelava minha cabeça. Ela, que até agora não olhou para mim e estava praticamente encolhida, parecia mais desconfortável a cada segundo naquele quarto...

– Entendo. Mas o que faz aqui? Depois de tanto tempo.  – Perguntei sem nem encará-la. Sabia que se o fizesse, acabaria me jogando sobre si. Senti tanta falta de Tiffany e agora ela estava ali, mas não da forma que eu queria. Eu só queria tocá-la. Só precisava senti-la. – Eu preciso te contar algo. – Respondeu.

– Eu...

– Você o que?

– Eu estou namorando. Com Yunho.  – Disse a última parte tão baixo, que foi quase impossível de ouvi-la. Mas o meu coração escutou. E como escutou.

– Oh... – Senti uma grande, grande pontada em meu coração. Mas tentei continuar firme. – E você veio aqui apenas para dizer isso?

– Meus pais me trouxeram aqui por um motivo. – Não sabia como reagir com aquilo, meu coração doía tanto, eu estava tão confusa. – Eles disseram que podemos voltar a ser amigas, contanto que esqueçamos o que aconteceu. Eu contei à eles, mas...

– Esquecer o que, Tiffany? – Continuei a encarar o nada. Sabia que no momento em que colocasse os olhos em Tiffany, não agüentaria e desabaria a chorar. Eu podia sentir apenas pela sua voz que ela estava sofrendo com aquilo tanto quanto eu, mas o respeito de seus pais para com ela era muito importante, ela não queria decepcioná-los.

– Você sabe o que, Taeyeon.

– Por que você está com Yunho?

– E-eu o amo. – Disse num fio de voz, tremulo e frágil.

Eu sabia que aquilo não era verdade. Virei-me para Tiffany, tentando controlar a tormenta que se formava dentro de mim.

– Então olhe nos meus olhos e diga isso. – Disse o mais séria que consegui. Segurei seu rosto com a palma de minha mão e o virei para mim. Seus olhos brilhavam de tantas lágrimas que se alojavam ali, recusando-se a caírem. Isso machucaria meu coração se eu não estivesse tão envolvida naquilo, e necessitada das palavras de Tiffany. Entrelacei meus dedos entre os seus, que repousavam na cama enquanto ainda esperava sua resposta. Pude sentir como sua mão suava de nervosismo.

– E-eu... Eu– Seus olhos desviavam dos meus a cada vez que sua boca tentava emitir algum som. Seus lábios tremiam.

Senti seus dedos apertarem os meus e sem mais nem menos, ela veio em minha direção, aconchegando seus lábios entre os meus. Não era como nossos antigos beijos. Esse era necessitado. O sentimento era de como estar longe de casa durante meses e finalmente pisar no tapete da frente do lugar aonde você pertence. Logo as pequenas mãos de Tiffany estavam atrás de meu pescoço, arrastando suas unhas pela minha nuca, me causando várias sensações que pensei que jamais sentiria novamente, enquanto minhas mãos estavam agarradas à sua delineada cintura. Sentia como se tivessem sido anos longe dela, parecia tão diferente. O seu toque, a sua respiração, o seu gosto. Nossas línguas se encontravam com desespero, fazendo todo meu corpo se esquentar. Nossos arfares se misturavam sem receio. O único som no quarto era dos estalos do nosso beijo e nossas respirações ofegantes. O doce gosto de seus lábios afastavam qualquer sentimento ruim de minha mente ou da atmosfera ao redor de nós. Porém estes logo se tornaram salgados com nossas lágrimas que se misturaram ao beijo. Tiffany estava chorando, assim como eu. Aquele momento me dava a sensação de estar num campo de girassóis, enormes e amarelos, girando entre eles, mas ao mesmo tempo, perdida no meio de um mar numa grande tempestade de raios, dentro de um barquinho. Sozinha.

Quando já era impossível de se respirar, ela cortou nosso beijo com leves mordidas em meu lábio inferior. Já não sabia mais se chorava de felicidade, saudade ou tristeza. Sua mão que escorreu para meu rosto e deixava um leve afago ali, estava tornando isso tão difícil e confuso. O que eu deveria sentir, afinal?

Ficamos assim por vários segundos, com nossas testas coladas e de olhos fechados. Ela sussurrou contra meus lábios. – Eu senti tanto sua falta.  

Meu coração se encheu de alegria ouvindo aquilo, mas logo ela continuou, com o que seria o fim da minha alegria.

– É tão difícil pra mim quanto pra você, Tae. – Deu um grande suspiro antes de continuar. – Mas não haverá outra vez. Nós não podemos fazer isso, é errado. Não quero decepcionar meus pais, nem mesmo Yunho. – Me afastei lentamente dela assim que proferiu essas palavras. Suas mãos escorriam de meu pescoço e rosto para minhas mãos, quais foram entrelaçadas gentilmente por estas, mesmo com o misto de amargura e confusão que se formava em meu peito, aquilo ainda me rendeu arrepios por todo corpo.

– É isso o que você quer? – Toda a alegria e paixão de segundos atrás havia se transformado em tristeza, que logo virou raiva. O salgado de minhas lágrimas queimava em minha pele. Puxei minhas mãos das suas rudemente. – Então que seja. Vá embora. – Disse com a única gota de orgulho que sobrava dentro de mim, pois todo o resto apenas queria se jogar em seus braços e implorar pelo seu amor.

Com um semblante de tristeza que carregava ainda maior do que quando havia entrado naquele quarto, Tiffany fora embora sem olhar para trás. Provavelmente eu me arrependeria mais tarde, provavelmente eu me culparia, mas naquele momento nada racional ocupava minha cabeça. Eu estava com raiva de Tiffany, de seus pais, de meus pais, de Yunho. Apenas queria sair dali com Tiffany, pois sabia que ela não tinha culpa em suma. 

Menos de dez segundos após ouvir a porta do quarto se fechar, eu levantei da cama enfurecida. Estava totalmente fora de mim. Meu coração doía, meu peito, minha cabeça. Tudo era tão confuso e doloroso. Deixei que todas as lágrimas que sobravam em mim, transbordassem.

Caí sentada no chão, tentando achar uma solução para aquilo, mas eu sequer conseguia raciocinar. Naquela noite eu chorei, chorei desesperadamente, até não aguentar mais. 

Droga! Eu a amo tanto, tanto. Eu apenas a quero. Apenas a quero bem, e eu sei que ela estaria bem ao meu lado, então por que é errado?

Por que dizem que é errado? 

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Comments

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nanakyuubi #1
Chapter 8: quero te xingar e te abraçar como faz
desgraçada
tá perfeito essa merda
nem parece que era virgem nos orange
nanakyuubi #2
Chapter 5: Tomara q ele seja orange pfvr nunk te pedi nada ta linda essa fic to iludida
Mas falando sério, estou amando sua narrativa ♡ completamente envolvente; que linda habilidade você tem.
Espero mais fics :v
Kennya #3
Estou encontrando algumas escritoras brasileiras por aqui. E amo isso, kkk cansei d ler em inglês /espanhol.