-- Minha nossa, você conseguiu mesmo! -- exclamou JS assim que Aksel chegou no prédio da gravadora acompanhado de Soren. -- Minha nossa, minha nossa!

    -- Eu falei que conseguiria! -- respondeu Aksel, com um sorriso triunfante.

    Soren ficou olhando sem entender. JS percebeu isso e disse:

    -- Não sei se Aksel falou de mim para você. Meu nome é Jannick, mas o pessoal me chama de JS. Sou o caça talentos da gravadora e responsável por verificar como ele está se saindo em seu "quest". É um prazer conhecê-lo, sr. ...

    -- Soren Intet. -- ele disse, apertando a mão de JS. -- Prazer.

    -- Seja bem-vindo à D.J.L.! Nós somos um pouco doidos, mas não precisa ter medo, não! 

    Aksel riu um pouco, e Soren ficou um pouco assustado.

    -- Então o Aksel conseguiu arrastar você para cá... -- o mais velho disse. -- Eu adoraria ver do que você é capaz.

    -- Bem... -- disse Soren, timidamente -- Eu não sei se bom o suficiente...

    -- Deixa de bobagem! -- disse Aksel, se intrometendo. -- Você precisa ver como ele dança bem, JS! É muito, muito maneiro!

    Aksel estava muito animado. 

    -- Você pode mostrar, Soren? -- JS perguntou.

    -- P-posso. -- ele respondeu. Ele pegou o celular e escolheu uma música de que gostava. -- Pode ser com essa aqui?

    -- Claro. 

    -- Aqui não parece ser um bom lugar para isso... -- Soren comentou. Os três estavam em um corredor no térreo.

    -- Você precisa de mais espaço?

    -- Não, não é isso. É só que... não iria atrapalhar as pessoas que estão nessas salas? -- ele apontou para as portas espalhadas pelo corredor.

    -- Na verdade, essas salas... 

    -- Não vai atrapalhar ninguém, não! Não precisa se preocupar, eles adoram essa música. Na verdade, eles adoram qualquer música! -- disse Aksel, interrompendo JS. Ele falou muito rápido, algo que sempre acontecia quando ele mentia. JS percebeu isso, mas resolveu ficar quieto.

    -- Oh. E-então tá...

    Soren colocou a música para tocar, a mesma da apresentação no Lovely Chain, e começou a dançar. Desta vez, como não havia leite no chão, ele conseguiu ir até o final.

    JS ficou impressionado. Fazia muito tempo que ele não via um novato com tanto potencial. Ele não conseguiu esconder seu entusiasmo.

    -- Minha nossa, Aksel, onde você achou esse cara?! 

    -- Em um lugar aí... -- respondeu o aprendiz, em um tom enigmático.

    -- Você me mata de orgulho! -- ele disse, estendendo os braços para abraçar Aksel.

    -- Ei, saí para lá! -- foi a reação do mais novo, que o repeliu.

    JS se recompôs e voltou-se para Soren.

    -- Só mais uma pergunta: você sabe cantar?

    -- B-bem.... eu nunca tentei...

    -- Nunca? Nem no chuveiro?

    -- A-algumas vezes, na verdade... Mas não sei se eu sou bom...

    -- Mostre-nos.

    -- Tem certeza de que é uma boa ideia?

    -- Tenho. Pode cantar.

    Soren respirou fundo e começou a cantar a música que o funcionário do Lovely Chain apenas dublou:

 

Minha princesa

Seu sorriso brilha como as estrelas

Seu olhar me deixa sem fala

Você é

A pessoa mais bonita que existe

Mais perfeita do que a imaginação poderia criar

 

    Sua voz estava bem baixa, já que ele estava com medo de estar sendo um desastre cantando. Mas não foi assim. Ele podia não ser o melhor cantor do mundo, mas tinha uma voz bonita e não cantava mal. Só precisava de algumas aulinhas e ficaria perfeito.

    JS aplaudiu. Ele não estava acreditando que Aksel tinha conseguido encontrar alguém em apenas um dia. Sendo assim, ele podia até mesmo acreditar que o rapaz conseguiria montar um grupo no prazo estipulado.

    Ele começou a dizer a Soren sobre o contrato que ele teria que assinar para entrar oficialmente para a D.J.L.

    -- Além disso, para isso dar certo você vai precisar se esforçar. Acho que podemos fazer um treinamento rápido nos próximos dias. Eu só preciso saber quais horários você tem livre.

    -- Na verdade, todos eles...

    -- Todos?!

    -- Longa história.... -- disse Aksel. -- Ah, falando nisso, o Soren também vai morar naquele apartamento, tá?

    -- Mesmo? -- perguntou JS. -- A casa dele fica longe daqui?

    -- Na verdade... Ele acabou de ser despejado...

    -- Oh. Ele morava sozinho?

    -- Sim... -- Soren respondeu. 

    -- Entendo... Aksel, será que podemos discutir uma questão lá na minha sala? Soren, pode ficar à vontade para explorar o prédio. Você vai passar bastante tempo aqui...

    -- Oh, certo... -- disse Soren.

    JS puxou o braço de Aksel e o arrastou até uma sala.

    -- Desde quando essa é a sua sala? -- perguntou Aksel.

    -- Desde que ela ficou vaga. Eu sempre gostei dela.

    -- Oh.

    -- Essa não é a questão agora. Aksel, você por acaso... Está mentindo para o Soren?

    -- Mentir não é bem o termo....

    -- Aksel.

    -- Bem, eu... omiti alguns fatos...

    -- Quais?

    -- Eu posso não ter dito a ele que a gravadora está com problemas...

    -- Aksel! Você não podia ter feito uma coisa dessas!

    -- Mas... se eu tivesse contado, seria ainda mais difícil convencê-lo a participar disso...

    -- Você não tinha o direito de esconder isso dele! Já chega, você vai lá e vai contar isso agora.

    -- Mas.... JS! Eu não posso fazer isso agora! Por favor, eu prometo que eu conto para ele... quando for a hora certa.

    -- E quando vai ser a hora certa?

    -- Por favor, confie em mim, JS.

    JS não queria deixá-lo fazer isso. Mas não tinha nada que Aksel pedisse olhando para ele com aquela carinha fofa que ele não fizesse.

    -- Está bem. Mas ao menos tome cuidado para não se enrolar nessa mentira.

    -- Valeu, JS! Você é o melhor!

    Enquanto isso, Soren andava pelo andar térreo, prestando atenção em cada detalhe. Ele reparou que tudo estava vazio, mas achou que isso fosse normal. Tudo o que via o fascinava. Quando era mais novo, ele sonhava em como seria conhecer a sede de uma gravadora de verdade. 

    Ele parou ma frente da loja de lembranças, parada obrigatória dos passeios que eram permitidos lá durante os fins de semana. Soren se sentiu como uma criança em um parquinho. Não havia ninguém lá dentro, mas a porta estava destrancada. Ele entrou.

    Por dentro, tudo dava a ela uma aparência de abandono. Haviam poucas coisas: algumas camisetas temáticas, um ou dois pôsters digitais pequenos. Mas o cds apareciam em grande quantidade. Haviam várias caixas de papelão no chão, cheias de cds ainda lacrados. Soren se abaixou e deu uma olhada neles. Um chamou sua atenção.

    -- O álbum novo do Meili? Elas já tinham anunciado, mas não chegaram a lançar antes de mudarem de gravadora.... Isso...

    Ele pegou uma cópia e ficou olhando, encantado. Seus olhos brilhavam. 

    CDs continuam a ser lançados apenas como itens de colecionador. Por isso, são muito caros. As músicas são distribuídas apenas digitalmente, por downloads pagos. Existem também as fontes alternativas, os downloads ilegais, mas eles vêm diminuindo cada vez mais, já que um fã de verdade sente orgulho em dizer que tem todas as músicas originais. 

    Soren gostava muito de música, mas nunca pode nem sonhar em ter um CD de verdade. Só poder segurar em suas mãos um CD de seu grupo preferido era um momento muito mágico. Foi então que finalmente caiu a ficha: se tudo desse certo, ele seria um ídolo. De verdade. Mesmo quando estudava na academia de dança, ele nunca havia se sentido tão perto disso. Era uma sensação incrível, única. 

    "Eu vou me esforçar ao máximo para que tudo dê certo!"