O vocalista principal

A história de uma suposta máfia

 

    Nove horas da manhã do dia cinco do prazo de sete dias que DJL deu a seu aprendiz Aksel para montar um grupo. Este mesmo aprendiz se encontra atrás de uma árvore, usando boné e óculos escuros, observando as pessoas que andam pela Praça da Primavera. 
    -- Você está me imitando? -- diz uma voz misteriosa atrás dele, assustando-o.
    Aksel se vira e vê Jensen, o conhecido (por poucos) rapper da estação de Yintudi.
    -- Que susto você me deu! -- exclamou sussurrando Alksel. 
    -- Não foi você que marcou da gente se encontrar aqui? E por que está sussurrando?
    -- Eu começo a minha busca todo dia aqui. -- disse Aksel, ainda sussurrando. -- Muita gente já me conhece. Isso pode atrapalhar nossa missão.
    -- Missão? 
    Antes que Aksel pudesse responder, Soren surgiu acenando para os dois e gritando:
    -- Aksel! Jensen!
    Jensen riu e Aksel virou os olhos.
    -- Fala mais baixo! -- este disse, quando Soren estava perto o suficiente. -- Estamos em uma missão secreta.
    -- Missão? -- perguntou Soren.
    -- A missão de busca e captura de um vocalista principal! 
    -- Captura?
    -- Deixa de viagem, cara. -- disse Jensen. -- Somos cantores, não agentes secretos!
    Aksel não respondeu. Ele se virou novamente e voltou a observar as pessoas na praça.
    -- Como a gente faz para encontrar um vocalista? -- perguntou Soren, se dirigindo a Aksel.
    -- Por que está perguntando para ele? -- disse Jensen. -- Ele já está tentando há cinco dias e ainda não conseguiu...
    Aksel lançou a Jensen um olhar furioso por trás dos óculos.
    -- Estou mentindo?
    -- Ao menos eu estou tentando. -- retrucou Aksel.
    -- Tentar não é a mesma coisa que conseguir. Não vamos sair do lugar só tentando!
    Aksel sabia que isso era verdade, mas não queria um carinha qualquer dizendo isso para ele.
    -- Não se esqueça que você só está aqui por minha causa! Se não fosse por mim, você ainda estaria cantando na estação de metrô!
    -- Eu acho que estaríamos até melhor sem você!
    O clima foi ficando pesado conforme a discussão continuava. E Soren ficava apenas observando, sem saber o que fazer.
    -- G-gente... Não briguem... -- ele dizia, com a voz muito baixa.
    A discussão teria continuado, se não fosse por um pequeno evento aparentemente insignificante. Um garotinho de aproximadamente 6 anos passou correndo por eles. Jensen e Soren nem notaram, mas Aksel sim. Ele seguiu o garoto com o olhar e, quando ele já estava fora de seu ângulo de visão, foi correndo na direção em que ele tinha ido.
    Os outros dois não entenderam, mas resolveram segui-lo. 
    Aksel parou perto do parquinho. Entre escorregadores, balanços e casinhas de madeira, sobre um chão coberto de areia, um grupo de crianças de idades variadas faziam uma roda. Todas usavam roupas parecidas, que Aksel reconheceu como sendo as que o governo doava para os orfanatos da região. Entre elas, havia um rapaz mais velho que não parecia pertencer ao grupo. Não apenas pela idade, ou por ser o único usando roupas diferentes. Ele emitia um tipo de aura diferente.
    -- Aksel... Por que nós estamos aqui?
    Ele não respondeu. Estava tentando ouvir o que as crianças falavam sem se aproximar demais. Ele conseguiu entender palavras como "brincadeira", "legal" e "cantar". Então, o rapaz mais velho falou. A voz dele era mais alta, por isso nenhum dos três teve muita dificuldade para entender o que ele dizia:
    -- Vamos, vamos lá gente! Todo mundo dando as mãos!
    As crianças logo obedeceram. Eles começaram a rodar cantando uma tradicional cantiga de roda. Depois de acabarem, eles recomeçaram de novo e de novo.
    -- Aksel... Por que mesmo que nós estamos aqui? A gente não estava em uma missão de busca e captura?
    Novamente, ele não respondeu. Ele estava concentrado na cantiga, perdido em memórias. 
    -- A gente devia ir sem ele... -- disse Jensen. Mas nenhum dos dois saiu do lugar. Havia algo que os hipnotizava naquele coro desajeitado, algo que nenhum deles sabia explicar.
    Depois de sete ou oito repetições da mesma cantiga, a roda se desfez e todos se sentaram na areia. As crianças conversavam e riam, e pareciam pedir alguma coisa ao rapaz. Ele fingiu resistir, mas logo cedeu aos pedidos. Todas as crianças ficaram quietinhas para ouvi-lo cantar uma antiga canção de ninar, mesmo que ainda fosse de manhã. Os três aprendizes também ouviram:
Caiu a noite, a lua já surgiu
E as estrelinhas já estão lá no céu
O dia de hoje já acabou
Vista o seu pijaminha, arrume a caminha
Porque já é hora de dormir
    A canção pareceu exercer um poder hipnótico sobre todos que a ouviram. Aksel sentiu-se tomado por nostalgia. Mas, mais do que a letra ou a canção em si, o que era mais impressionante era a voz que a tinha cantado. Era doce e tranquila, e perfeitamente harmoniosa, mas também era possível perceber que era poderosa.
    -- Vocês... ouviram isso? -- perguntou Jensen, o primeiro a sair do transe.
    -- Foi... lindo... -- disse Soren.
    -- Vocês estão pensando o mesmo que eu? -- perguntou Jensen, que percebeu pelas expressões dos outros dois que a resposta era não. -- É esse o cara de que a gente precisa!
    -- Precisa?
    -- A gente está em uma missão, lembram? Vamos lá falar com ele! -- antes mesmo de terminar a frase, o rapper foi em direção ao parquinho.
    Enquanto isso, lá o rapaz, que se chamava Ane, se despedia das crianças. Ane era um dos filhos adotivos do empresário S. Drom-Felt, e era parte de um projeto voluntário que prestava assistência às crianças daquele orfanato. Por causa da sua idade, a única coisa que ele podia fazer sozinho era ir lá para brincar com as crianças, mas ele sonhava em poder fazer mais. Além disso, ele havia conseguido convencer seu pai a fazer doações regulares para o projeto.
    Ane tinha uma irmã biológica, e três irmãos mais velhos, os filhos biológicos de Drom-Felt e sua esposa. A irmã era o único membro de sua família a quem ele podia dizer que era próximo. Ele ainda não pensava muito no futuro. Além de sua incrível voz, seus talentos também incluíam uma grande aptidão para matemática, falar fluentemente quatro línguas estrangeiras e tocar violino.
    Ane estava se preparando para ir embora quando Jensen chegou e disse:
    -- Cara, alguém já falou que você é o máximo cantando? 
    Aksel e Soren, que estavam logo atrás, ouviram a frase e estranharam.
    -- Ele acabou de dizer que outra pessoa é o máximo? -- cochichou Aksel.
    -- É o que parece...
    -- Ãhn... obrigado... -- respondeu Ane, meio constrangido. 
    -- A sua voz é incrível, sabia? Já pensou em se tornar um profissional?
    -- P-profissional? Hehe, eu não penso nessas coisas não. Além disso, ouvi dizer que é muito difícil...
    -- Mas por que você não tenta? Um talento como esse não deve ser desperdiçado...
    "Ele fala bem", pensou Aksel. "Talvez eu devesse ter trazido eles junto antes."
    -- Eu só canto porque é divertido. -- disse Ane. -- E as crianças parecem gostar.
    -- Imagine só: se você se tornasse um cantor, ainda mais gente poderia ouvir e gostar.
    -- Eu não sei... eu não acho que me sairia bem em uma audição...
    -- Mas não precisa! Eu e meus... "colegas", aqueles caras ali, somos membros de um grupo quase formado. Só que precisamos de um vocalista principal. E esse pode ser você! O que acha?
    -- Um grupo? Tipo o K-20? -- Ane perguntou, citando o nome de um grupo novato sobre o qual sua irmã não parava de falar.
    -- Quem? -- perguntou Jensen, que estava desatualizado no assunto.
    -- Exato! -- disse Aksel, entrando na conversa. Ele estava bem atualizado. -- Mas com menos gente, eu espero. 
    -- Hmm, eu não sei... Não acho que eu tenha talento o suficiente.
    -- É claro que tem! -- disseram Aksel e Jensen ao mesmo tempo. Os dois olharam um para o outro com uma cara feia por isso.
    Uma mulher muito elegante, vestindo um terninho e usando óculos chegou para falar com Ane. Quando este percebeu que ela se aproximava, falou:
    -- Sabem de uma coisa? Eu topo! Eu não tenho nada a perder mesmo.
    A mulher ouviu essa frase sem entender. Mas isso realmente não interessava muito a ela.
    -- Isso! -- comemorou Jensen sem disfarçar. Aksel e Soren também estavam muito felizes com o sucesso de sua missão.
    A mulher olhou com desprezo para os três. Então, chamou a atenção de Ane e disse:
    -- Jovem mestre, o senhor já está pronto para a cerimônia?
    Os três aprendizes se surpreenderam com o termo.
    -- Jovem mestre? -- Aksel perguntou.
    A mulher explicou, de nariz empinado:
    -- Este rapaz é Ane Drom-Felt, filho do empresário Drom-Felt, dono da Companhia Dreamfield.
    -- Companhia Dremfield? De eletrônicos?
    -- Exato. -- respondeu a mulher, sem vontade de se prolongar na conversa. -- Vamos para a cerimônia, jovem mestre?
    -- Eu não vou não, Kaori.
    A mulher pareceu espantada.
    -- Como não? O senhor sabe como é uma cerimônia importante para  a empresa de seu pai. É o lançamento do novo DreamCell.
    -- Sim, eu sei. Por isso mesmo ele não vai me querer lá atrapalhando.
    -- Jovem mestre...
    -- Ele nem ao menos me mandou um convite, apenas para os meus irmãos. Além disso, eu nem tenho nada a ver com a empresa. Vai ser tudo muito chato, e eu faço um favor à família toda não indo.
    Kaori percebeu que seria inútil continuar argumentando com Ane. Ele já tinha tomado sua decisão.
    Enquanto isso, Aksel, Soren e Jensen olhavam de boca aberta para a dupla. Eles jamais imaginariam que aquele garoto era filho de alguém tão importante. 
    -- V-você é rico? -- perguntou Jensen.
    -- Meus pais são. -- respondeu Ane.
    -- Podres de ricos... -- o rapper acrescentou, deixando Ane sem jeito.
    -- E o que... Digo, quem são isso, jovem mestre? -- perguntou Kaori, sem esconder seu desprezo.
    -- São meus novos amigos! -- o jovem mestre respondeu, sorrindo.
    Kaori os examinou de cima a baixo. 
    -- Tem certeza disso?
    -- Sim, sim! Ah, e eu vou entrar no grupo deles, tá?
    -- Grupo? Por favor, só não me diga que é algum tipo de gangue. -- suplicou Kaori.
    
Like this story? Give it an Upvote!
Thank you!
multishipper_sheep
Tem alguém lendo? Essa história tem mais de 100 views e só um subscriber (minha irmã). Se você leu, mesmo que só o comecinho, deixe um comentário, please? :3

Comments

You must be logged in to comment
Mila2410 #1
Uuuhuuu! Update!
Mila2410 #2
Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii