Ane chegou em casa correndo. Também correndo ele subiu as escadas, e entrou no enorme quarto que por opção dividia com Erin, sua irmã gêmea. 

    Ela havia conseguido escapar da cerimônia logo no começo, e já havia tirado as roupas chiques e a maquiagem e colocado uma roupa casual e confortável. Como o irmão estava sumido, ela enviou umas duzentas mensagens perguntando se ele já havia esquecido que dia era. Como Ane estava na gravadora, não conseguiu responder à nenhuma, deixando a irmã doida de raiva.

    -- Erin... -- ele chamou, com a voz baixa em sinal de que reconhecia seu erro.

    -- Ane Drom-Felt! Onde você pensa que estava?? Já esqueceu que dia é hoje?! Nós vamos nos atrasar! -- gritou Erin.

    -- Desculpe... -- disse Ane. -- Eu estava lá com as crianças do orfanato, e aí algumas coisas aconteceram...

    -- Coisas? -- perguntou a menina, olhando para o relógio. -- Que coisa, a gente tem que ir! Você conta no caminho! 

    Erin puxou o braço do irmão e o arrastou até fora da mansão. Enquanto isso, ele contou sobre seu encontro com Aksel e os outros.

    -- Eles chamaram você para um grupo?! Como assim, por que logo você?

    -- Parece que eles gostaram da minha voz...

    -- Sério? De que gravadora eles são? Se forem da HC, eu tranco você no armário e vou no seu lugar! -- disse Erin. HC era a gravadora de seu grupo preferido, o K-20.

    -- Não, não. São da DJL. Ah, e eu não posso esquecer de entregar uns papéis para o pai assinar. 

    -- E você vai ser um aprendiz lá?

    -- Sim. Mas vai ser por pouco tempo.

    -- Por quê?

    -- Se tudo der certo e a gente conseguir um membro novo amanhã, o lançamento vai ser logo.

    -- Nossa, que legal! Você sabe que eu vou ser sua fã número um, né? E vou ficar fazendo um monte de postagens sobre você no fanconnection. Nem adianta reclamar!

    Ane riu um pouco. Os dois pararam, pois haviam chegado a seu destino: o Cemitério de Hovedstad.

    Os dois cumprimentaram o porteiro, que já esperava por eles. Então, entraram e andaram até um túmulo com o nome "Lanya Bel". Os gêmeos se ajoelharam a frente dele e olharam para a foto deixada lá.

    Lanya era a mãe biológica de Ane e Erin. Ela costumava trabalhar como empregada em uma das casas de férias de Seth Drom-Felt, mas um dia simplesmente saiu de lá, ninguém sabia dizer se demitiu-se ou foi demitida. 

    Alguns meses depois ela se encontrou novamente com Drom-Felt, dizendo que estava grávida. As más línguas diziam que era do empresário, mas isso ele nunca confirmou ou negou. Só se sabe que ele passou a pagar todas as despesas dela, algo que foi um escândalo quando veio a público. Seth já era casado e tinha três filhos, a possibilidade de adultério fez a alegria dos sites de fofoca. Lanya faleceu ao dar à luz aos gêmeos, e então o casal Drom-Felt anunciou que adotaria as crianças. 

    Ninguém nunca fez questão de esconder essa história de Ane e Erin. Eles sempre souberam que eram adotados, e que podiam ou não ser filhos de Seth. Eles nunca se sentiram tratados de forma diferente em casa por causa disso. Afinal, os Drom-Felt foram pais igualmente ausentes tanto para os filhos biológicos quanto para os adotivos. Mas eles também nunca se importaram em gastar verdadeiras fortunas com a educação, o bem estar e o lazer de todos os cinco. De forma geral, os gêmeos sentiam que não tinham do que reclamar.

    Os dois sempre iam visitar o túmulo da mãe uma vez por ano naquele dia, o dia de seu aniversário e também de aniversário da morte dela. Eles acendiam velas e contavam as novidades para ela, acreditando que, onde quer que ela estivesse, ela estaria ouvindo. 

    Erin contou sobre como estava conseguindo resolver seus problemas com auto confiança, e sobre como estava ficando famosa no fanconnection, uma plataforma de mini-blogs dominada por fãs de todas as coisas possíveis.

    Ane contou sobre o trabalho voluntário que estava fazendo e também sobre seu novo trabalho. Disse que adoraria que sua música também pudesse ser ouvida por ela lá do céu.

    Então, os dois se despediram dela e voltaram para casa. No caminho, Erin fez mais perguntas sobre o grupo do qual Ane faria parte.

    -- Eles parecem legais? São bonitos? Você vai me apresentar a eles, né?

    -- A-acho que não vai ser um problema... Eles parecem bem legais, sim. 

    A menina também fazia planos.

    -- Você tem que ser bem famoso, Ane! Assim, vão convidar você para um monte de eventos e premiações. E é claro que você vai me chamar para assistir todas elas.

    -- Não tenha dúvidas disso, maninha! Ah, tem mais uma coisa...

    -- O quê?

    -- Se o pai e a mãe deixarem... Eu acho que eu vou morar com eles...

    Erin ficou um pouco desanimada.

    -- Quer dizer... Que você vai me deixar sozinha?

    -- Não é bem assim... 

    A menina percebeu que havia deixado ele preocupado.

    -- Tá tudo bem! -- ela disse. -- Você precisa ficar junto com eles, né? Eu entendo! É só que... Eu vou sentir saudades...

    -- Eu também vou... Mas eu prometo enviar mensagens para você todo dia! Mesmo que esteja tarde da noite e eu esteja cansado, eu não vou esquecer!

    Os dois riram, e pelo resto do caminho continuaram a conversar animadamente.