Sonho

A história de uma suposta máfia

 

 
    -- O quê?
    -- Sinto muito, mas eu não posso entrar numa coisa dessas agora. Uma carreira artística é algo muito arriscado, e tudo o que eu preciso no momento é de estabilidade. Sinto muito, mas eu tenho que recusar. Mas agradeço a oferta, e desejo-lho boa sorte. Até mais.
    Soren disse isso, e começou seu caminho de volta para casa. Aksel ficou paralisado por alguns segundos. Ele nem imaginava que o outro iria recusar, ainda mais logo depois de perder o emprego. Depois de se recuperar do choque, ele começou a seguir Soren.
    -- Espera, espera. Como assim? 
    -- Desculpe, não estou interessado. -- Soren disse, acelerando o passo.
    -- Mas, mas... Você é um artista! O sonho de todo artista é ser reconhecido, não é? É a sua chance! 
    Soren não disse nada.
    -- Uma oportunidade dessas só surge uma vez na vida! Você não pode deixá-la passar!
    Soren sabia. Ele não queria recusar, mas também não podia aceitar. Depois que seus pais se foram, ele decidiu desistir daquele sonho doido, pois se sentia culpado por ter dado tanto trabalho a eles por causa disso. Ele achou que desistir seria a melhor maneira de se redimir. Mas a proposta de Aksel o tentou a deixar isso de lado e voltar a seguir seu sonho. Ele só queria que o outro parasse de insistir e o deixasse em paz com sua decisão já tomada.
    Mas Aksel não desistiria tão fácil. Ele continuou seguindo Soren, mesmo quando ele desceu até a estação de metrô e comprou um bilhete para voltar para casa. Mesmo que nem soubesse exatamente onde ficava aquele bairro para onde iam, o aprendiz continuou atrás dele, sempre insistindo. Já era quase meio dia quando os dois entraram em um prédio na parte pobre da cidade, velho, sujo e cheio de infiltrações.
    -- Até quando vai me seguir?
    -- Até você aceitar vir comigo! 
    Soren estava começando a ficar irritado. "Se ele continuar assim, eu posso acabar aceitando...."
    Uma moça de uns quinze ou dezesseis anos cumprimentou Soren e disse:
    -- A senhoria quer falar com você. Cuidado que hoje ela não parece estar de bom humor.
    -- Obrigado por avisar, Lindy. Vou procurá-la. 
    -- Ah, quem é esse seu amigo? -- perguntou a moça.
    -- Não é meu amigo...
    -- Prazer. -- disse Aksel, se intrometendo. -- Sou Aksel Sekki, a pessoa que vai transformar a vida desse carinha mal-humorado.
    -- Minha nossa! -- exclamou Lindy. -- O Soren está mesmo precisando de uma ajuda.
    Soren apenas suspirou. Ele ia começar a subir as escadas para deixar suas coisas em casa quando ouviu o som dos passos pesados da senhoria. Ela praticamente surgiu na escada, com uma cara de quem comeu e odiou, que ficou ainda pior quando viu o rapaz.
    -- Aí está você, seu trambiqueiro! Achou que ia fugir de novo, né? Aposto que acabou de perder mais um emprego.
    Soren não respondeu.
    -- Há quanto tempo você não paga o aluguel, hein? Está achando que pode dar um golpe em mim, é?
    -- Me desculpe...
    -- Não quero desculpas, quero o dinheiro! Pode ir passando, e com multa de atraso.
    -- E-eu não tenho...
    -- Como assim não tem?
    -- Por favor, me dê mais alguns dias e eu...
    -- Não! Acha que eu sou burra? Já estou cansada de suas desculpas. Você está despejado! E nem adianta vir com choro, já era! E pode desocupar o apartamento hoje mesmo! -- ela disse, e saiu.
    Soren apenas soltou um ruído de frustração e subiu rapidamente as escadas. Aksel teve que segui-lo um pouco de longe, já que as escadas eram estreitas. Quando ele alcançou o outro, o encontrou sentado em uma cama no canto do único cômodo do apartamento, que estava com a porta aberta.
    -- Você ainda está aqui?
    --É... Sinto muito pelo que acabou de acontecer.
    Soren suspirou. 
    -- Não tem jeito... Eu não consegui ficar em nenhum emprego por muito tempo, e agora não tenho onde ficar. Eu nem tenho para onde ir, ou alguém com quem possa contar. Se ao menos eu tivesse ido a uma faculdade comum...
    -- Você não foi? Imaginei que ainda fosse estudante...
    Soren pegou o celular e ficou olhando para a foto. 
    -- Eu estudava em uma academia de dança. Tinha esse sonho bobo de ser artista. Os meus pais sempre me apoiaram, e fizeram de tudo para que eu conseguisse. Mas aí, eles ficaram doentes e... e...
    Aksel olhou para a foto. A família parecia tão feliz... Soren parecia tão feliz. Nem parecia ter sido tirada há tanto tempo assim.
    -- Eu não devia ter sido tão egoísta. Eu devia tê-los ajudado mais. Foi por isso que eu decidi abandonar tudo isso para sempre, e viver como uma pessoa normal, ter um trabalho de verdade...
    -- E você acha que eles iriam querer isso? -- perguntou Aksel.
    -- Eu...
    -- Você tem um dom. E parece que os seus pais reconheciam isso. Você disse que eles lhe deram todo o apoio... Tenho certeza de que eles não gostariam de vê-lo assim. Eles com certeza iriam preferir ver você brilhando.
    Soren deu mais uma olhada na foto. O sorriso orgulhoso de seus pais. Lembrou-se de como eles ficavam felizes cada vez que ele mostrava um passo novo de dança, de como a mãe dizia que um dia ia poder mostrar a todas as vizinhas como seu filho era talentoso. 
    -- Se você não usar o que aprendeu, tudo o que eles fizeram terá sido em vão. Venha comigo, e você irá brilhar. O suficiente para que até mesmo eles vejam, seja lá onde estiverem.
    Soren quase chorou ao imaginar.
    -- Eu... eu aceito!
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multishipper_sheep
Tem alguém lendo? Essa história tem mais de 100 views e só um subscriber (minha irmã). Se você leu, mesmo que só o comecinho, deixe um comentário, please? :3

Comments

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Mila2410 #1
Uuuhuuu! Update!
Mila2410 #2
Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii