Sentei-me no chão ao lado do sofá a observar o Himchan. Finalmente tinha adormecido. Ouvi a porta de casa a abrir, olhei para lá e vi a Sun Ah e o Daehyun a entrarem animados. Abanei os braços no ar, fazendo sinal para que baixassem o tom de voz, o que os deixou curiosos. Aproximaram-se de mim na tentativa de entenderem o que estava a aprontar.

- Ahhh! O Himchan está aqui! Passou-se alguma coisa? – Sussurou Sun Ah, empoleirando-se nas costas do sofá para observar na perfeição a cara do Himchan.

- Podemos falar mais tarde? Agora definitivamente não é a melhor altura para conversas. – Respondi sem tirar os olhos do meu melhor amigo que dormia como um bebé indefeso.

- Sendo assim nós vamos para o nosso quarto para vos deixar à vontade. – Disse o meu irmão enquanto arrastava a Sun Ah para o quarto contra a vontade dela.

- Larga-me imbecil! Não percebes que também quero ficar ali? – Gritava a Sun Ah, fazendo força na direção oposta ao quarto. Mas nada feito, o Daehyun acabou por levar avante.

Acordei algumas horas depois com a cabeça apoiada na ponta do sofá e um cobertor por cima dos ombros. Levantei-me devagar, sem fazer qualquer tipo de barulho, espreitando por cima das costas do sofá. Vi o Himchan de volta do fogão, o que me despertou a curiosidade. Aproximei-me dele pé ante pé, fazendo o mínimo de barulho possível e assim que estava próxima o suficiente... “BUH!” gritei mesmo junto ao ouvido dele fazendo-o saltar de susto.

- YAH! Para que foi isso? – Olhei para a cara dele e a únia resposta que me saiu da boca foi uma gargalhada completamente descontrolada. – Boo Na, para com isso. Não tem graça! – Pediu-me, mas só fazia com que me risse mais e mais. Sentei-me no chão com as mãos na barriga, tentando controlar o riso, mas só me ria ainda mais. – A sério que não vais parar com isso? – Respirei fundo, na tentativa de parar o meu riso.

- Him... é que tens massa no cabelo! – Apontei para a cabeça dele, controlando-me para que o riso não viesse ao de cima novamente.

- Mas como é que isto veio aqui parar? – Ele olhou para cima, procurando a massa com os olhos, levando as mãos à cabeça para a tirar assim que a sua busca teve sucesso. – A sério que vais continuar a fazer pouco de mim? – Abanei a cabeça e o riso voltou a surgir sem aviso. – Depois não digas que não te avisei! – Ameaçou-me ele. Baixou-se de modo a ficar ao mesmo nível que eu e começou a fazer-me cócegas na barriga. Tinha mesmo de ser logo ali? Num dos sítios mais sensíveis do meu corpo? Ele conhecia-me na perfeição, disso não restavam dúvidas.

- Já chega Himchan! Chega! – Gritei, ao mesmo tempo que ria e chorava. Tentei arrancar as mãos dele do meu corpo, mas não teve qualquer efeito. Como podia vencer contra a força de um rapaz?

- Era mesmo disto que estavas a precisar! – Afirmou ele ao rir-se comigo e a fazer cada vez mais cócegas, sem sequer pensar em parar. Já sem forças, deixei as minhas costas embaterem no chão frio, rendendo-me. Parei de espernear e bracejar e sorri ao ver o sorriso de alegria que se tinha formado na sua cara, fazendo-o parar e olhar para mim sem entender bem o que se tinha passado. Na verdade estávamos demasiado perto um do outro, petrificados a contemplar o olhar um do outro.

- H-H-H-Him... – Gaguejei assim que consegui sair daquele momento de hipnose. Ele aproximava-se cada vez mais de mim, sentia a  sua respiração tocar nos meus lábios, as suas mãos por dentro da minha camisola, entrando em contacto direto com a minha pele. – Sai de cima de mim! – Ordenei, empurrando-o para trás. – Ouviste aquilo?

- Sun Ah’s POV –

Ouvi um barulho vindo do outro lado da porta do meu quarto. Olhei para a cama da Boo Na, ainda estava feita. Ela dormiu fora de casa? Ou talvez... com o Himchan? Não pode ser, ela não me pode fazer uma coisa dessas! Corri rapidamente até à porta. O barulho do outro lado aumentava cada vez mais. Parecia a minha irmã a rir e a gritar, tudo ao mesmo tempo. Abri a porta devagar, com medo da possibilidade de ver algo que não devia. Espreitei com o olho esquerdo, consegui ver um clarão vindo da cozinha. O barulho tinha terminado, e por isso avancei devagar para ver o que se tinha passado até conseguir ver as costas do Himchan, o que me fez dar um passo para trás para que ele não se apercebesse da minha presença. Okay, é só o Himchan... Mas... Por que raio está ele baixado? Voltei-me outra vez para o lado em que o tinha visto inicialmente, agora aproximando-me um pouco mais perto. Ele está sentado em cima de alguém... Uma rapariga... Aproximei-me mais 10cm para a frente... Boo Na? OH MEU DEUS! Corri imediatamente para o meu quarto, fechando a porta sem sequer me importar com o barulho que tinha causado. Enfiei-me dentro dos cobertores, com a respiração ofegante. Levei as mãos ao peito, na esperança de conseguir controlar a respiração. O que é que aqueles dois estavam a fazer ali no meio da casa? Será que a Boo Na gosta dele? Não pode ser, por favor, diz-me que estou errada! Por favor Boo Na, diz-me. Pode ser qualquer um, menos ele! Por favor... por favor Boo Na... o Himchan não.. por favor...

-x-

- Ouvi o quê? – Perguntou-me ele, olhando instantâneamente para trás e tirando rapidamente as mãos daquele local supostamente proibido.

- Não deve ter sido nada... – Respondi, sem tirar os olhos da porta do quarto da Sun Ah. – Olha o que estás a fazer! – Avisei levantando-me rapidamente para desligar o fogão.

- Parece que a massa está pronta! Vamos comer? – Peguei em dois pratos e dei-os ao Himchan para que ele servisse a comida, e enquanto esperava fui encher os copos com água. 

- Him... – Murmurei, capturando a sua atenção. – Não queria tocar neste assunto... – Vi-o a fazer um movimento de aprovação com a cabeça. Baixei os olhos, perdendo a coragem de falar daquilo olhando-o nos olhos. – Queres que vá amanhã contigo à morgue? – Mantive a cabeça baixa, sem olhar uma única vez para ele, até sentir umas mãos agarrarem na minha, o que fez os meus olhos olharem instantânemante. 

- Não te preocupes comigo, por favor. – Pediu-me sorrindo levemente. – Eu vou sozinho, fica aqui com os teus irmãos.

- Tens a certeza? Eu sei que não os devia deixar sozinhos ao fim de semana, mas neste momento o mais importante é apoiar-te. 

- Tenho mesmo a certeza. Assim que chegar venho aqui ter contigo, pode ser? Ahhh, e levo a Hyun Ji comigo para ficares mais descansada, okay?

- Humm! – Respondi, já mais descansada e levando o garfo à boca.

Himchan’s POV

Assim que saí logo de manhã a Hyun Ji já estava à porta à minha espera, o que me deixou aliviado. Na verdade o que menos queria naquele momento era ficar sozinho. 

- Finalmente desceste! Só te queria avisar que não posso ir contigo. Desculpa-me!! – Pediu ela aflita por não cumprir a promessa de me acompanhar. – Podes vir a minha casa comigo? Há uma coisa que precisas de saber.

Acompanhei-a e pouco mais de 3 minutos chegámos à casa dela, mais precisamente a casa da Hae Mi e do Junhong, que tinham acolhido a Hye Jin lá.  Assim que entrei vi a Hae Mi agarrada ao irmão, a chorar. 

- O que aconteceu?! – Perguntei aflito por os ver naquele estado. Agachei-me ao lado dos dois e abracei-os para os acalmar. Alguns minutos depois Zelo já estava recomposto para falar. 

- Vamos sentar-nos, é melhor. – Disse-me. Dirigiu-se ao pequeno sofá e eu segui-o automaticamente. – Ontem houve vários atentados. Já sei que um foi na fábrica onde trabalham os teus pais. Lamento imenso... – Ele pegou-me na mão e continuou o seu discurso. – Temos que ser fortes, está bem? – Afirmei com a cabeça, ainda não etendendo completamente o que ele me queria revelar. – O facto é que um outro sítio onde isso sucedeu foi na fábrica onde o nosso pai trabalha. – Ao ouvir isto, fiquei logo alerta. Olhei imediatamente para a Hae Mi que continuava a chorar. Ela já tinha perdido a mãe quando era pequena, não podia perder também o pai. Levantei-me, e fui para perto dela.

- Hae Mi, levanta a cabeça e escuta-me bem. – Esperei que ela fizesse o que lhe tinha mandado e procurei dizer as palavras certas para não lhe tocar na ferida. – Tens que ser forte, sabes disso, não sabes? Tens ali o Jun, ele precisa de ti, sempre precisou. Não podes ir abaixo agora. Vamos levantar a cabeça e enfrentar isto como adultos, pode ser? – Ela murmurou um “sim” e abraçou-me, secando as lágrimas. 

- Himchan, vamos? Também tenho de ir ao hospital para confirmar se é o meu pai ou não. A Hye Jin contou-me que lá ias, por isso é que ela te trouxe aqui. – Levantei-me juntamente com a Hae Mi e dirigi-me à porta, seguido pelo Junhong. 

Acenámos às duas raparigas que ficaram dentro da casa e proseguimos o caminho até ao hospital. Quando chegámos lá demos os nossos nomes na receção e esperámos algum tempo. O primeiro nome a ser chamado pelo médico foi o do Junhong. Seguimos o médico que nos levou até ao destino.

- Sr. Choi, há duas pessoas aqui com o nome do seu pai... Uma está internada, outra já faleceu. – Explicou o médico, meio hesitante por estar a revelar duas hipóteses tão negativas.

Chegámos a um lugar com uma placa a dizer “Morgue” causando-me arrepios na espinha. Agarrei na mão do Jun de forma a transmitir-lhe um pouco da minha força. Entrámos numa das salas, onde tinha vários corpos deitados e tapados, ao que me parecia estarem mortos. Aproximámo-nos de um, e o médico disse algo como “Diga-me se este é o seu pai”. Levantou devagar o lençol que lhe tapava a cara. Antes de poder ver a cara do corpo falecido vi o Zelo cair de joelhos, o que me fez pensar o pior. Olhei vagarosamente para a cara agora destapada. Não era o pai dele, graças a deus. Senti uma réstia de esperança dentro de mim. Talvez os meus pais apenas estivessem magoados, talvez não lhes tivesse acontecido nada. Assim, depois do Junhong confirmar que aquele não era o pai, fomos até a um dos quartos ver se o senhor internado era de facto o pai dele. E para felicidade do Jun lá estava ele, são e salvo, com uma ligadura enrolada na cabeça. 

- Jun, parece que agora chegou a minha vez. Fica aqui com o teu pai, eu vou rápido, okay? – Disse-lhe, sorrindo por ver que tudo tinha terminado bem para o lado dele. 

- Não te martirizes tanto, os teus pais também estão bem. Eles não te iam deixar neste mundo sozinho, não achas? – Concordei com ele e segui o médico, que me levou novamente para o sítio de onde tinha saído há poucos minutos atrás.

Desta vez a sala onde entrei era diferente, tinha apenas dois corpos, provavelmente seria o homem e a mulher que tinha de confirmar serem ou não os meus pais. Assim que o médico levantou o lençol levei as mãos ao chão, sentando-me, perdendo as forças.

- Sr. Kim? Você está bem? Sr. Kim? – Ouvia chamarem-me ao longe, cada vez mais longe... Cada vez mais longe... Até começar a perder os sentidos e terminar com aquela réstia de esperança dentro de mim.