Notas Perdidas - "Eu quis dizer..."

Notas Perdidas

POV de Yongguk

Observei enquanto Sara tentava parecer acima da situação mas eu sabia bem que ela estava tão desconfortável quanto a amiga que ela tentava distrair.

Perguntava-me quando é que as coisas teriam descarrilado para Leo e Minah. Parecia que eu estava mais fora dos acontecimentos do que eu pensava. Não que me importasse.

“Muito bem, parece que os grupos estão formados.” Ouvi o professor, “Podem juntar-se aos vossos designados grupos, espero o melhor de vocês…” continuou, assinalando para mim e os outros que tinham vindo comigo.

“Estes alunos estão aqui para ajuda e guia apenas, não irão, e repito, não irão fazer o trabalho que vos compete a vocês fazer. Cada um deles foi o aluno vencedor do projeto que lhe foi entregue no ano anterior ao vosso, por isso, sabem bem o que é esperado de vocês e que competências devem demonstrar. Dêem-lhes ouvidos.” Disse enquanto nos entregava uma folha com indicações do que deveríamos guiar os grupos. “Podem tratá-los como vossos colegas mas não se esqueçam de que é um privilégio poder usufruir da sua ajuda… e do seu tempo.” Terminou, direcionando olhares com significado a alguns alunos.

Soltei um riso abafado enquanto ele saía da sala e observei alguns grupos que se juntavam em mesas.

“Muito bem…” levantei a voz para que todos na sala me ouvissem. A sala ficou silenciosa mais rápido do que eu esperava. Digamos que tinha um tom de voz singular e às vezes esquecia-me de tal.

Aclarei a voz e continuei, ignorando algumas expressões… e a cara de incómodo de Sara.

“Kwon Group fica com Himchan Sunbae, Sol Enterprises, Hakyeon Sunbae,” apontei para a mesa onde Hakyeon se sentou e rapidamente se apresentou “Grupo Daesun…” Olhei para a mesa onde Sara e Minah se sentavam em espectativa.

Sorri, e Sara abriu os olhos em surpresa. Esperava o pior. Eu.

“Hongbin Sunbae.” Terminei e ela soltou um suspiro. Passei pela mesa onde Hongbin se sentava enquanto seguia para me juntar ao meu grupo e dei uma palmada penosa no ombro do meu colega.

“Boa sorte.” Gargalhei e sentei-me com o grupo que me fora destinado. Não me dei conta de que quem precisaria de sorte, seria eu.

Leo sentava-se confortavelmente do outro lado da mesa, de braços cruzados.

Limpei a garganta, tentando ignorar a expressão de desagrado na sua cara, e comecei a ler os pontos na minha ficha.

“Espero que todos tenham entendido o que foi dito até agora. Já tiveram tempo para ler as vossas folhas, alguma dúvida?” Tentei que alguém para além de mim falasse. Sem resultados.

“Muito bem, vou tomar isso como um não. Decidam então um dia ou dois por semana para trabalharmos nos vossos pontos fracos e dêem-me uma ideia.” Terminei, levantando-me para verificar os outros grupos e olhei involuntariamente para Sara que falava relaxadamente com Hongbin.

Ouvi uma cadeira arrastar e vi Leo levantar-se para pegar na sua mala. Respirei fundo, sem paciência. Já esperava alguma atitude da parte dele, na verdade, até vinha demorada.

“Precisas de ir a algum sítio?” Tentei, recostando-me na cadeira.

“ Não tenho perguntas.” Continuou a caminho da porta.

“Tens alguém à tua espera?” Continuei, tentando reforçar a minha ideia.

“O que tens a ver com isso?” Disse abrindo a porta da sala sem olhar para trás.

“A aula não acabou.” Franzi o sobrolho reagindo ao seu tom áspero. “Temos pontos a decidir.”

A turma toda observava-nos, não sabia se pela atitude do Leo ou pelo meu tom de voz. O desrespeito que ele tinha pelos colegas e por mim fazia o meu sangue borbulhar. Tentei manter a calma e a voz num tom leve mas as palavras que ameaçavam querer sair não me soavam de todo amigáveis.

“Parece que percebi mal. Pensei que os trabalhos fossem individuais.” Respondeu, fingindo-se confuso. Ele sabia como esgotar a paciência de qualquer um.

Respirei fundo e forcei o meu tom a manter-se neutro. “Leo, por favor, vou ter de te pedir que te voltes a juntar aos teus colegas.”

Leo fingiu verificar as horas e começou por pedir desculpa antes de ser interrompido por uma voz feminina.

O passo dele parou e manteve-se no mesmo sítio, ainda que sem olhar para trás.

Ele sabia bem a quem pertencia a voz.

“Yongguk Sunbae podes nos esclarecer uma dúvida. O Hongbin Sunbae não parece estar a par.”

Leo sorriu vitorioso.

Se pensava que se tinha livrado de mim, estava enganado.

“Minah podes nos dar um minuto? …”

“Sunbae,” Ela interrompeu. “O professor deixou bem claro que estão aqui para ajudar. Se o aluno não aceita ajuda… a menos que estejas a pensar fazer o trabalho por ele, estás livre de qualquer dever.” Continuou, sem levantar o olhar dos seus livros, deixando a turma toda em silêncio.

“Há que saber escolher prioridades.” Terminou num tom sereno, como se não tivesse acabado de socar Leo no estômago em poucas palavras.

A porta atrás de mim fechou num som ensurdecedor e Leo tinha desaparecido.

Suspirei.

No entanto Minah tinha razão.

Peguei os meus papéis da mesa e dirigi-me ao rapaz alto com uma expressão frustrada que se encontrava encostado à mesa onde me esperavam.

“Hongbin…” comecei quando a porta da sala se voltou a abrir para dar passagem ao mesmo rapaz. Sem a sua expressão convencida habitual, Leo passava por entre as mesas com um passo pesado, rapidamente aproximando-se de mim com uma expressão pouco afável.

“O que é que ele está a pensar fazer?” Franzi o sobrolho involuntariamente.

De cara irritada vi-o passar por mim e estender o braço.

Em poucos segundos Minah foi arrastada para fora da sala pelo rapaz de cabelos escuros.

Surpresos com tudo o que estava a acontecer em tão pouco tempo, ninguém reagiu.

“L-Leo!” Tentei impor-me sem entender bem o que se estava a passar.

“O que é que acabou de-“ disse mais para mim do que para quem pudesse ouvir.

“Não vale a pena.” Sara interrompeu num tom indiferente. Olhei para ela, não esperando esse comentário da sua parte.

Não fazia sentido. Mas Leo era famoso pelas suas atitudes descontroladas.

“Hongbin não te importas de aguentar um bocado enquanto eu…”

“Enquanto tu te metes em assuntos alheios?” Sara interveio antes que eu pudesse terminar.

Senti uma pontada de irritação ao perceber ao que ela se referia. Obviamente ela preferia deixar de parte o pormenor de que tinha sido o seu pai a fazer o pedido para que eu a ajudasse na integração na nova escola.

“Desculpa?” Baixei o tom para que apenas ela me pudesse ouvir.

“Não é um hobby teu?” Levantou o olhar até mim, mantendo a sua expressão fria.

Mas ainda que ela tentasse, eu conhecia-a melhor que qualquer outra pessoa. Talvez por ela não ter crescido tanto como eu esperava.

Criança. Pensei.

Mas uma coisa era certa. Eu sabia como deixá-la desconfortável.

 “O que é que tu sabes?” Virei-me para ela, impondo a minha posição.

Sara ajeitou-se na sua cadeira, agora desconfortável. Sorri interiormente.

“Sei que os devias deixar falar.” Respondeu rapidamente, virando-se novamente para os seus apontamentos.

“Eu quis dizer….” Baixei-me até a minha cara estar a poucos centímetros da dela. “O que é que tu sabes sobre mim.”

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CaesarCristina
Hi Hii! I'd love to read your opinions on my story, so don't forget to leave you comments!

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