Notas Perdidas - "Sem mentiras."
Notas PerdidasApós o meu pequeno discurso eu sabia que não o veria o resto do dia. Provavelmente já tinha saído da escola e não voltaria até amanhã.
Mas estava enganada.
Leo voltou a entrar na sala como se de uma tempestade se tratasse. Olhou para Yongguk como se o desafiasse a pará-lo mas não era para ele que se dirigia. Esperei o ataque como se já o tivesse previsto. E não resisti.
A mão de Leo prendeu o meu pulso e puxou-me até ao corredor sem me dar opção. Não que eu tivesse outra escolha. Ou aceitava ou causaria uma cena maior na sala.
Parámos à entrada do edifício e ele olhou para mim por alguns segundos antes de me dar uma chance de o seguir.
O pátio estava vazio e o céu ameaçava a maior chuvada até então. Ou talvez fosse apenas a maneira como me sentia que distorcia a minha visão do momento.
Leo olhava para o chão cerrando os punhos e abrindo, como num ato involuntário.
“Se precisares de tempo para te acalmares…” disse desviando o olhar como se me custasse vê-lo neste estado.
O seu olhar rapidamente levantou do chão até encontrar o meu. O meu coração começou a bater descompassadamente.
Quem estava a tentar enganar… a verdade é que me custava mesmo.
“Eu não entendo-“ a sua voz falhou “Eu não entendo o que se passa.” Começou novamente depois de inspirar fundo.
“Não sei de que falas.”
“Sabes muito bem do que falo.” Ameaçou encurtando a distância entre nós de maneira a que um passo apenas eliminasse completamente o espaço restante.
“Achas que eu não reparo na maneira como me tens atacado ultimamente? Não basta o que me fizeste?”
“O que fiz… fiz te um favor.”
“Basta!” Quase gritou jogando as mãos à cabeça. “Eu não acredito que as pessoas ainda te veem como a menina inocente que finges ser!” Soltou uma risada amarga virando-se de maneira a que eu só lhe visse as costas. Voltou a inspirar. “A sério.” Continuou o seu monólogo.
Não disse nada. Não o interrompi. Ouviria tudo até ao final… Porque era a primeira vez que ele verdadeiramente falava desde aquele dia.
“Todos acham que sou eu o idiota. Eu sou o mau da fita. Aposto que não disseste a ninguém o que realmente aconteceu.” Voltou a virar-se para mim com um expressão incrédula. “Certo?”
Não entendia se ele queria mesmo uma resposta da minha parte. Mas de qualquer maneira eu não abriria a minha boca.
Deixou cair os braços em sinal de desistência. “Não que tenham algo a ver. Ainda que o interesse na cara deles seja óbvio.”
Leo cada vez me parecia mais fora de si. Instável.
“Estás a analisar-me outra vez?” Mostrou um sorriso falso. “Achas te no direito?” Voltou a aproximar-se.
Dei um passo atrás, afastando-me, mas ele rapidamente voltou a ganhar terreno. ”Achas que tens direito a ter opinião depois de tudo?”
Um passo mais e o espaço entre nós era inexistente. Estava tão próximo que eu sentia a sua respiração pesada contra a minha.
“Eu acho que me deves uma explicação.” Ele disse, impondo-se.
“Eu disse tudo-“ Leo semicerrou os olhos e mordeu o lábio, sem paciência.
“Uma explicação que faça sentido.” Forçou, aproximando os seus lábios dos meus.
O seu olhar, que não deixava a minha boca, agora procurava o meu.
“Sem mentiras.”
Disse antes de me beijar.
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