Olhando para trás
Let Me Love YouPOV Yuri
Eu não sabia realmente para onde ir. Hoje não teria que virar a noite no hospital, mas também não tinha coragem de voltar para casa depois de Tiffany ter me expulsado. Nem o carro estava comigo. Ou seja, literalmente, não tinha nenhum lugar para dormir. Resolvi ir para uma das salas de descanso, havia uma mais isolada que apenas mais duas pessoas frequentavam.
Depois de um banho rápido, deitei na cama e fiquei olhando para o telhado. Deveria pensar numa forma de me aproximar de Tiffany novamente, mas eu não sabia como. Estava tudo tão confuso e ainda tão recente que nem conseguia pensar numa ideia de como me desculpar. Meus pensamentos são cortados pelo barulho da porta se abrindo. Levanto a cabeça e percebo que é Jessica.
Ela sempre era bem falante, mas talvez pela a forma como eu a tratei o dia todo ela estava surpreendentemente calada. Ainda sem dizer uma só palavra ela se aproxima e eu vejo uma garrafa de tequila e dois copos em sua mão.
- Como você... – Minha pergunta é abafada por ela apenas balançando a cabeça negativamente e me entregando um copo e já o preenchendo com o líquido da garrafa.
Passamos algum tempo apenas bebendo, sem trocar uma única palavra. O efeito do álcool parecia me fazer esquecer um pouco os meus problemas, mas quando já estava ficando meio bêbada, lembrei que não devia.
- Ela não gosta que eu me embriague. – Falei olhando para Jessica e colocando o copo de lado. Já havíamos bebido muito e eu só não estava pior porque tinha uma alta tolerância para o álcool. Ela olhou para mim sem dizer nada ainda, mas seu olhar era inquisidor, queria saber essa história. E eu contei.
Flashback
Era uma festa. Estávamos comemorando nossa aprovação no vestibular. Eu sempre gostei de beber e ela sabia disso. A euforia da aprovação acabava deixando todos mais empolgados.
Lembro de ter bebido muito e Tiffany tentar me parar. A única coisa que me fica realmente nítida era o seu olhar reprovador para o meu copo. Até que ela se afasta.
Continuo bebendo sem realmente perceber as pessoas ao redor, minha visão começa a ficar turva, então percebo Tiffany dançando com um estranho e o ciúme toma conta de mim. Marcho até ela da melhor forma que consigo andar.
Fim do flashback
- Eu não lembro de mais nada, só que no outro dia eu acordei na cama e ela estava sentada de frente pra mim apenas me encarado. – Falo olhando para o líquido dentro do copo. Jessica era boa ouvinte, apenas ficava sentada e olhando para mim esperando eu dar continuidade a história.
- Acordei com uma forte dor de cabeça e ela apenas me deu um remédio e um pouco de água. Depois me contou o que eu tinha feito. – Nessa altura, já tinha os olhos de Jessica sobre mim, conseguia sentir a curiosidade explícita em seu olhar e o meu tom envergonhado não ajudava na amenização disso.
- Eu tinha batido no cara, um soco que acabou quebrando o nariz dele, segundo o que ela soube depois e a havia pegado pelo pulso e saindo praticamente a arrastando para casa. Não bati nela, mas no seu braço havia uma marca roxa devido a força que eu usei. – Suspirei lembrando da minha reação quando ela me contou isso.
- Você não vai tentar mais nada com ela? – Jessica perguntou de forma que me surpreendeu. Antes que eu pudesse indagar alguma coisa, ela acrescenta. – Fica claro que você pensa nela constantemente até quando está bebendo para esquecê-la.
- Eu sei, mas, é difícil.
Olhando para a forma como ela se portava era meio estranho pensar porque uma garota que tinha ido fazer especialização fora voltava para essa cidade pequena.
- O que lhe fez vir até aqui? – Perguntei tentando mudar o foco do assunto.
- Eu parti por uma garota e voltei por outra.
A forma como ela falava era completamente diferente daquela Jessica feliz e sempre otimista deslizando pelo hospital com seus tênis de rodinha como se o mundo todo fosse colorido e sempre feliz.
Esperei até ela falar novamente e, pela forma como todo o seu corpo se portava de forma defensiva, ficava nítido que ela nuca havia realmente falado sobre isso.
- Apaixonei-me por uma garota antes de ir embora daqui. – Ela inicia sua história e agora era a minha vez de ouvir. Sentei-me mais perto dela e passei a fazer algo que não tenho o costume de fazer, fiquei olhando para ela, para cada detalhe. – Ela era incrível. Eu tinha duas grandes amigas e ela era uma delas. Infelizmente a outra era apaixonada por mim. Não tinha a mesma idade que nós duas, mas sempre nos seguia e a diferença de idade parecia nem existir. Até que um dia ela se declarou para mim. Foi um dos momentos mais assustadores porque eu não sabia como dizer que eu não gostava dela, mas sim da minha outra melhor amiga.
- Você ficou com ela? – Perguntei sem conter a curiosidade. Ela havia parado novamente e apenas olhava a parede como se ali estivesse um texto ou uma imagem que dissessem alguma coisa, que chamassem sua atenção.
- Fiquei com ela sim. Eu não percebi, mas fui me apaixonando por ela no decorrer dos seis meses que passamos juntas. Já estava terminando a faculdade e ela ia prestar vestibular ainda. Até que, no dia da minha formatura, o que eu acreditava ser meu verdadeiro amor, se declarou pra mim e disse que não suportava essa situação entre nós duas e por isso ia embora. Você imagina como me senti, a pessoa que eu sempre esperei que se declarasse pra mim estava fazendo isso agora e eu não podia fazer nada.
Fiquei olhando para ela. Nunca tinha enfrentado uma situação assim, pra mim sempre foi Tiffany e pronto. Sem mais pessoas, sem complicações.
- Passei a semana toda pensando no que fazer, comprei passagens, olhei Universidades nos EUA com especialização em pediatria e, no dia que ela viajaria eu estava no aeroporto de malas prontas a esperando parar irmos juntas.
Nessa parte, percebo que um pequeno sorriso se formou em seus lábios, mas tão logo ele veio, se foi.
- Para a minha namorada, nossa outra melhor amiga deixei apenas uma carta pedindo desculpas e contando tudo que nunca tive coragem de dizer. Na época eu não entendi o sentimento de deixa-la, mas depois ele me tomaria por completo.
Esse triângulo amoroso estava me deixando confusa e eu, que era curiosa demais para esperar que ela continuasse, acabei fazendo a pergunta que me inquietava naquele momento:
- Se você foi embora com a garota que sempre amou, porque voltou?
- Os primeiros meses com Yoona foram incríveis. – Percebi que era a primeira vez que ela falava o nome de qualquer uma das duas. – Nova York era incrível e eu me sentia bem com ela, era meu sonho se tornando realidade. O problema é que sonho e realidade são duas coisas um tanto distintas.
Agora ela começou a divagar sobre umas filosofias e eu me perdi nas suas palavras, embora tentasse absorve-las da melhor forma que podia.
- Eu sabia que tinha algo errado, algo que me incomodava, que me doía, mas não conseguia imaginar o que fosse. Até que eu percebi que o que estava errado era a saudade esmagadora do que eu deixei para trás. Da pessoa que eu deixei para trás. – Ela fala com uma tristeza que eu nunca havia ouvido em sua voz, já que ela era a pessoa mais otimista que eu tinha conhecido na minha vida.
- Eu sou otimista, eu acredito que tudo pode dar certo. Mas naquele momento eu percebi que Yoona era apenas meu sonho, sonho que eu construí do nada e que, quando eu consegui, não fazia sentido nenhum para mim porque quando eu viajei, sem nem perceber, eu deixei meu coração nessa cidade.
- Você teve que ir embora para perceber quem você realmente amava? – Não me contive e acabei perguntando.
- Exatamente. Tentei ligar para ela, tentei me aproximar e tudo que ela dizia era que eu terminasse meus estudos e que ela estava bem. Sabia que ela não estava bem, mas fiz o que ela queria e passei dois anos apenas estudando. Claro que meu relacionamento com Yoona não deu certo assim como nossa amizade depois disso tudo. Soube que ela fez uma viagem para cá ano passado e que, depois disso, não consegui ter contato com mais nenhuma das duas.
- Então, você já foi atrás do seu amor? – Perguntei com um pequeno sorriso. Sua história era digna de um filme, talvez se juntasse a minha e a dela pudéssemos até ganhar um dinheiro com isso.
- Ainda não. Estou com medo de tentar e não conseguir. De ser tarde demais. De ter tido apenas uma chance e ter jogado ela fora.
Ela virou dois copos seguidos da Tequila o que fez seus olhos revirarem. Ela já estava bem mais bêbada do que eu, visto que eu tinha parado fazia algum tempo e ela continuava bebendo.
- Vou lhe ajudar. Não sei como, mas vou.
Ela apenas me deu um sorriso, não sabia se pelas minhas palavras ou pelo efeito do álcool mesmo. A primeira coisa a se fazer, e agora eu estava determinada, era saber quem era essa moça.
- Então, como ela se chama?
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Hey, pessoal. Está aí mais um cap da história. Espero que gostem dele. Foi algo que eu demorei um tempo para pensar, mas gostei do resultado. A história da Sica tinha que ser contada. Sujestões e críticas são sempre bem-vindas. Enfim, até a próxima.
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