Criando Nossa Magia

Nossa Última Noite em Londres

 

Criando Nossa Magia

 

 

A bata branca e amassada abria-se desengonçadamente enquanto a dona permanecia de braços e pernas cruzados numa cadeira giratória, por trás de um balcão. Seu olhar ergueu-se para o relógio de parede branco que sinalizava 9:40 da manhã.

Aquele era seu último dia. À tarde haveria uma confraternização pela enfim formatura daquela turma e na manhã seguinte àquela mesma hora estaria num avião em direção à África. Ainda assim, tinham que estar no Hospital até meio dia para prestar a última ajuda. Naquele momento ele se encontrava bem vazio e tranquilo, sem muitas entradas ou saídas, não era um dos grandes hospitais.

Jessica aproveitava o momento para pensar. Ou não pensar, ainda não sabia bem. Passara o dia anterior e esse com as palavras da estranha na cabeça e agora parada naquele canto, parecia não conseguir pensar efetivamente em nada. Mantinha o olhar perdido no chão e só. Era isso. Seu último dia, a realização de um sonho. Ela conseguira. Não deveria estar comemorando em algum lugar junto com Taeyeon e Tiffany – que Deus lá sabe por onde se enfiaram naquele hospital? Mas ela não estava com alma para comemorar.

- Emergência!

Jessica ouviu portas se abrirem com violência e uma maca dar entrada no pequeno salão da recepção. Desfez os braços cruzados saltando imediatamente da cadeira e correndo para prestar socorro. Havia sangue, muito sangue.

- O que houve? – Perguntou enquanto encaminhava a maca com rapidez para uma sala próxima.

- Algum maluco com uma arma no centro da cidade, ainda tem mais gente por vir. – o paramédico respondeu, afastando-se para dar espaço aos médicos e explicando os dados dos sinais vitais que encontrara.

Em meio à confusão de mãos que buscavam por bolsas de sangue e por conter os ferimentos, viu o rosto da jovem que a olhava em profunda dor. Seus olhos eram carregados de sentimento e perdeu-se naquele mar por um instante. Sentiu cabeças se erguerem à medida que o paramédico terminava seu relatório. Ela também o ouvia. Eram termos técnicos, mas claros o bastante para todos os que vestiam roupas brancas ali: não importava mais o que fizessem àquela altura.

Jessica viu os rostos de seus colegas, todos ainda se encaravam tentando decidir qual o próximo passo. Ela conhecia o protocolo. Havia outros a caminho e deveriam priorizar os que tinham chances de serem salvos. O silêncio, curto silêncio daquela sala não ajudava. Logo algum dava ordens e outros obedeciam tentando fazer o que era possível. Com luvas ensanguentadas, Jessica apenas ouviu sem se mover, vendo as medidas inúteis tomadas pelos outros e desviando o olhar para a jovem em lençóis brancos e vermelhos.

Jurou ver certo brilho desaparecer de seus olhos. O rosto vermelho com mechas de cabelo desengonçadamente grudadas no rosto suado. Ela era linda, ah era. Um respirador era mantido sobre seu nariz e boca tentando ajudá-la a manter a respiração, mas os olhos... Naqueles olhos pôde ler toda a consciência de que no silêncio da sala, ela percebera que estava morrendo. Não era a primeira vez que Jessica se via frente a frente com uma situação dessas, mas era a primeira vez que a vítima a olhava tão profundamente antes de morrer e sentiu-se terrivelmente encurralada. Estudara tanto para chegar num beco sem saída.

Para se sentir... Nada.

E as que entram no hospital por um fio, sabendo que estão prestes a morrer, mas nada veem além de pessoas vestidas de branco usando termos técnicos que ela desconhece? E entendendo que talvez aquelas sejam as últimas pessoas que irá ver em vida? Não a família, não os amigos... O que elas esperam de você, Jessica?

Ou talvez sentir tudo. Todo o vazio, toda a complexidade, toda a necessidade gritante de ser útil. Dos olhos pequenos que a encaram descem lágrimas. Uma, e depois outra. Os olhos se fecham voltando a abrir. A vermelhidão, a vista embaçada...

A vista embaçada.

O vidro embaçado que não vê nenhuma luz ou nenhuma flor.

Com mãos trêmulas, Jessica arrancou com rapidez as luvas sujas das mãos depositando em uma bacia próxima e puxando para si a mão direita da jovem. Abraçando a mão fria entre as suas, tentou transmitir algum calor, alguma... calma. Ao lado seus colegas a olhavam com estranheza enquanto cumpriam o protocolo. Jessica viu os olhos da menor se abrirem em surpresa, mas sem susto ou recuo.

- Meu nome é Jessica.  Estou aqui para ajudar no que for possível. - disse sorrindo levemente. – E talvez o impossível...

A mão esquerda, frágil, ergueu-se para tentar tirar o respirador. Jessica apressou-se para ajudar.

- Yoon... Yoona. – Esforçou-se em falar fazendo Jessica aproximar-se para entender. – O quadro...

Jessica olhou para os colegas discretamente questionando-os, mas suas expressões também demonstravam não saber do que se tratava.

- Eu farei, não se preocupe. – prometeu a ela e de alguma forma a si mesma. – Vai ficar tudo bem. Ficarei aqui com você o tempo todo.

Apertou mais a mão suave entre as suas.  A troca de olhares era insistente, carente dos dois lados. Carente de atenção, de reconhecimento, de companhia.

Companhia encontrada e perdida, segundos após, nos olhos que se fecharam enquanto os dela permaneciam abertos... Talvez com alguma lágrima caindo lentamente e sem jeito.

Jessica deixou a sala em meio ao mar de pessoas que davam entrada com diferentes tipos de ferimentos e diferentes caminhos a seguir. Andou, sem olhar para ninguém, sem sentir ninguém. Fechou a porta do banheiro atrás de si e mergulhou as mãos na pia, abrindo a torneira e molhando o rosto em seguida.

- Sica?

Olhou sobressaltada para a porta, encontrando Taeyeon ainda segurando o trinco.

- Está tudo bem?

Sem responder, andou até a menor abraçando-a com força.

- Vai ficar tudo bem. – sussurrou, um gosto salgado na boca, uma incerteza de tudo.

 

***

 

Jessica afundou na cadeira giratória da pequena sala de descanso, a mesma onde contou a Taeyeon sobre Hyoyeon pela primeira vez. Taeyeon havia sido compreensiva o suficiente para cobri-la enquanto ela tentava colocar a cabeça e o coração no lugar, mas quanto mais tentava mais parecia penetrar no caos.

Era disso que Hyoyeon falava, teria passado por algo parecido? Perdido alguém assim? Como ela conseguiu entender coisa tão singela antes dela? Julgava saber o que fazia, agora não tinha mais tanta certeza.

 Um pequeno alvoroço se fez ouvir do lado de fora da sala, como se pessoas estivessem se aglomerando e falando todas ao mesmo tempo. Jessica enxugou as lágrimas e se levantou, ela ainda estava em horário de trabalho e por mais que aquilo a tivesse desestabilizado ela precisava continuar.

Deixou a pequena sala e saiu no corredor, andou alguns poucos passos até chegar à recepção. Lá de fato um grupo crescente de pessoas fazia círculo em volta de algo. Jessica temia que fosse outra pessoa em estado crítico a princípio, mas a tranquilidade e imobilidade das pessoas como se apenas observassem o alvo tirou essa perspectiva da cabeça.

Aproximou-se curiosa.

- Dá pra acreditar? – perguntou um dos colegas ao notar sua aproximação, um curioso sorriso no rosto.

- O que houve? – Jessica ainda não encontrara o motivo do tumulto.

O rapaz acenou com a cabeça para um objeto em frente e seguiu falando.

- Encontraram próximo ao local do tiroteio, tem a assinatura de uma das vítimas. É uma bela obra de arte, não? Deve ter levado muito tempo para fazer isso...

Ele parecia sinceramente impressionado, e Jessica pela primeira vez desviou a vista dele para buscar pelo objeto mencionado. E ela viu um quadro. Belíssimo quadro. Nada pequeno, mas não tão grande que impossibilitasse uma pessoa de carrega-lo sozinha. Era... Divinamente trabalhado, cada cor, cada folha de um jardim chinês em princípio de outono. O amarelo ouro, os galhos já secos de algumas árvores, o rio passando forte por debaixo de uma ponte...

Uma simples ponte, pequena e de madeira. Uma palheta vazia.

Porque tudo lembrava ela?

Seu olhar chegou à ponta do quadro, um pouco rasgado... Um nome despontava. Seo Joo Hyun.

O quadro.

Yoona.

- Encontraram algum celular? – perguntou com pressa novamente ao colega do lado.

- Parece que sim, estão tentando localizar parentes.

- Yoona... – Jessica parecia ligar os pontos.

- O quê?

- Precisam localizar Yoona.

Saiu dali sem esperar resposta nem explicar melhor. Precisava pegar o celular e encontrar a dona do quadro.

 

***

 

- Está ali.

Um dos enfermeiros apontara uma jovem próxima ao balcão da recepção. Um casaco escuro em mãos, os olhos vermelhos do choro incessante. Jessica agradeceu dispensando-o, havia pedido que contatassem Yoona e que a avisassem quando ela chegasse ao hospital.

Jessica cruzou os braços sobre o peito e aproximou-se devagar, vendo a moça desviar a vista da recepcionista e olhar para ela. Yoona olhou uma plaquinha presa na bata médica que a mulher à sua frente portava.

- Dr. Jung? – perguntou com um sotaque característico. – Disseram que queria falar comigo... Desculpe, não sou boa com o inglês...

Falava pausadamente e com dificuldade. Jessica deu um leve sorriso, tranquilizando-a.

- Não se preocupe, sou coreana. – falou na língua nativa, vendo um leve sorriso surgir no rosto da outra.

- Ah, eles disseram que eu precisava preencher alguns documentos... – disse apontando uma pequena pilha de papéis sobre o balcão. – Não tenho certeza do que significam.

- Não se preocupe, posso ajudar com eles. – assegurou Jessica. – Mas há algo mais que gostaria de falar.

Jessica acenou para que a moça a acompanhasse e após esta pegar os papéis de cima do balcão, acompanhou a jovem médica pelo corredor estreito até uma pequena sala.

A médica abriu a porta deixando que a outra entrasse e acendeu a luz, fechando a porta. A primeira coisa a chamar a atenção da moça foi o grande quadro escorado em uma das mesas. Aproximou-se a passos lentos, ágape, olhando cada detalhe como se o coração fosse sair pela boca.

Jessica notou a alteração, cortando o silêncio da sala.

- Trouxemos para cá para não correr o risco de ser danificado, mas o tempo que ficou na recepção estava atraindo muitos olhares. Ela tinha bastante talento... Sinto muito pela perda.

Yoona aproximou-se mais do quadro, tocando-o com a ponta dos dedos em grandes círculos pelas folhas das árvores e o rio. Lágrimas começaram finalmente a escorrer pelo rosto, novamente, abundantes.

- Ela falou comigo antes de... Antes de morrer. – Jessica continuou, mantendo uma distância respeitosa. – Ela falou de um quadro e que deveria entregar a você, por isso pedi para entrarem em contato. Não sabia do que ela estava falando até ele chegar ao hospital...

- Fica na China... – a outra falou depois de um tempo, a voz baixa mas audível. – Esse lugar do quadro existe. Os chineses dão muito valor aos jardins como uma forma de entrar em contato com a natureza e assim manter o equilíbrio espiritual.

Yoona parou com os dedos sobre o nome assinado na base do quadro. Retirou-os depois de um tempo abraçando-se como se tivesse frio e então recuando alguns passos, olhando o quadro como um todo.

- Comemoramos um ano juntas com uma viagem à China e esse jardim ficava perto de onde nos hospedamos... – Yoona continuava com um olhar perdido no quadro, no passado.  – Gostávamos de ir lá passar a tarde e boa parte das nossas lembranças desse passeio estão ligadas a esse jardim... Quando voltamos à Coréia eu disse que gostaria de poder ver esse Jardim todos os dias se possível...

Yoona deixou sair um riso fraco, como se lembrasse de algo engraçado.

- Eu sabia que ela andava aprontando alguma. Resolvemos visitar Londres para o nosso segundo aniversário dessa vez e ela alugou esse ateliê pelo tempo que ficaríamos aqui. Sempre trancada nele e sem me deixar ver o que ela fazia... Não era ela, sempre me deixava ver o que ela pintava...

Yoona voltou a chorar, agora mais intensamente.

- Vale a pena agora? – perguntou à médica silenciosa atrás dela. – Vale a pena agora ter um quadro desses sem ela aqui?

Jessica encarou o quadro antes de responder.

- Ela fez questão de que ele chegasse às suas mãos... Acho que essa é uma memória que ela gostaria que você mantivesse. Memórias de quando vocês estavam juntas e felizes.

Yoona baixou a cabeça.

- Foi minha idéia vir a Londres...

- Não se culpe. – Jessica saiu do seu lugar arriscando tocar o ombro da moça para tentar confortá-la. – Londres permitiu essa obra de arte.

As duas olharam novamente as folhas das árvores amarelas.

- E enquanto o embaçamento impedir de ver as luzes através da neblina, é a arte que vai manter a possibilidade de sorrir...

Jessica nem sabe como aquelas palavras saíram simplesmente dela. Yoona a olhou curiosa por um tempo, voltando a olhar o quadro em seguida.

- Talvez. Talvez esteja certa.

 

***

 

- Jessica eu tenho uma má notícia pra você. - Taeyeon sentou-se na cadeira ao lado enquanto tomava um pouco do drinque que havia acabado de pegar em uma bandeja de algum garçom que passava.

Já era comemoração dos formandos e todos já tinham pego diplomas e tudo mais, mas Jessica continuava ali, a única ainda sentada, com o olhar fúnebre e ausente do mundo ao redor. Ergueu a vista para a menor ao lado com uma sobrancelha levantada em questionamento.

- Se você não for ver aquela mulher hoje eu vou matar você com os maiores requintes de crueldade e abandonar no primeiro rio que encontrar. – O tom de voz dela era absurdamente sério, ainda assim Jessica suspirou, olhando os dedos entrelaçarem-se numa brincadeira silenciosa.

- Discutimos a última vez que nos vimos, Taeyeon...

 - Mais um motivo para não deixar que aquela tenha sido a última vez, anda levanta. – disse sem paciência, deixando o copo na cadeira vazio ao lado e levantando-se puxando Jessica da cadeira. Para sua surpresa, o gesto foi acompanhado de um tapa na bunda. – Agora só me apareça aqui na hora de se preparar pra partir pro aeroporto. Vai! Não vou repetir.

- Taeyeon... – Jessica reclamou, passando a mão no cabelo.

- Jessica... Você passou o dia pensando nessa garota, se ficar aqui eu vou enlouquecer com você! Portanto me faça esse favor e vai! Vai com Deus e seja feliz, anda...

Taeyeon empurrou Jessica discretamente para fora da comemoração e colocou algumas notas dentro do bolso da amiga, acenando em seguida para um taxi que parou em frente às duas.

- Pra pagar o taxi, caso não tenha. Agora vai! – Taeyeon praticamente a forçou a entrar no taxi.

Derrotada, Jessica olhou mais uma vez a amiga.

- Obrigada, Tae.

- That’s my girl! – disse com seu sotaque coreano fortíssimo fazendo a outra rir. Vendo em seguida ela dar instruções ao motorista e o carro sumir de sua vista.

- Muito bem, onde eu estava? – Pensou Taeyeon consigo mesma – Ah claro, Tiffany.

 

***

 

O lugar estava lotado... Jessica não sabia como ainda conseguira ingressos para entrar, aqueles deviam ser os últimos. Olhou para todos os lados no teatro lotado e não conseguia ver lugar onde sentar. No palco, o grupo já se apresentava. Ela reconheceu alguns rostos do ensaio do dia anterior, mas não viu aquele rosto em especial que procurava. Talvez ela não aparecesse em todas as danças?

Ela precisava arranjar um lugar pra sentar, já começava a chamar atenção ali de pé no meio do corredor. Buscando novamente com a vista, encontrou finalmente numa das últimas fileiras uma cadeira vazia. Pedindo licença e desculpas por atrapalhar o show, tentou chegar o mais rápido possível ao lugar vazio, sentando-se ao mesmo tempo em que a música parava e as luzes se apagavam no teatro.

Jessica sentou na cadeira, quieta, imaginando o tempo de duração que aquele show teria, quando viu alguém surgir em uma armação metálica com largos degraus sobre o palco. O público, juntamente com as pessoas ao seu lado, imediatamente começara a vibrar. Música eletrônica soara no ambiente fazendo a dançarina iniciar passos de hip hop. Ela pouco sabia de música e dança, mas já vira às vezes na televisão do hospital comentar esses tipos de dança...

Assim que os holofotes se focaram nela, ela a reconheceu. Era ela, Kim Hyoyeon. Irrepreensível.

Vestia um conjunto preto, o decote da blusa e o cabelo preso permitindo perfeita visão do pescoço, a calça com cortes nas laterais provocantemente mostrando as pernas bem feitas de anos de dança, e uma bela jaqueta vermelha com detalhes negros.

Ela estava pronta para matar, e Jessica sentiu-se afundar na cadeira com aquela visão.

E então a musica se transformou para uma pop romântica e um dos dançarinos surgiu num figurino que combinava com o dela, mas Jessica pouco lhe deu atenção. Descendo os dois pela escada com grande habilidade enquanto dançavam, Jessica sentiu sua respiração acelerar.

Ela era linda, linda dançando, aquele rosto expressivo... Aquela certeza no olhar que parecia dizer “é isso que amo fazer”... Tudo a encantava.

A música novamente mudara para estilo eletrônico e enquanto o casal mudava os passos, lentamente Jessica começou a ouvir um som distinto vindo da plateia, como se todos começassem a gritar a mesma coisa. A princípio ela teve dificuldades de entender, mas assim que o refrão atingiu mais pessoas tornou-se claro: gritavam por “Kim Hyoyeon”.

Jessica olhou em volta todas aquelas pessoas que pareciam conhecer o trabalho daquele grupo de dança tão bem, gritando o nome da lead dancer com familiaridade e paixão, e Jessica afundou ainda mais na cadeira, vendo a música voltar à pop romântica anterior e o casal terminar num abraço que – ela não pôde negar – deu inveja.

A dupla curvou-se em agradecimento, saindo do palco provavelmente para se preparar para nova entrada. Jessica soltou o ar preso dentro de si. Nunca pensou que alguém pudesse emocionar daquele modo apenas através de uma simples dança... Tudo o que ela aprendera estava errado.

 

***

 

- Dom Juan! – Sooyoung pousou o braço sobre os ombros da menor. – Ela está totalmente nas suas mãos...

Hyoyeon iria perguntar, mas ao ver o olhar da mais alta fixos em alguém um pouco à frente, ela virou-se para ver quem era, já sabendo quem encontraria. Não conseguiu evitar um pequeno sorriso surgir no canto da boca.

- Posso confessar minha inveja? – brincou Soouyoung.

- Depois, tenho um encontro agora. – Hyoyeon devolveu a provocação, ganhando um “ouch” dolorido da amiga.

Aproximou-se vendo a outra um pouco desconcertada, mãos nos bolsos, sem saber muito o que dizer. A proximidade das duas encontrou o silêncio, e como sempre Hyoyeon a salvava da atmosfera angustiante.

- Desculpe por ontem, me intrometi demais na sua vida.

Era sincero, mas Jessica balançou a cabeça, encarando o chão e permitindo-se sorrir antes de voltar a encará-la.

- Foi a melhor coisa que poderia ter dito.

Hyoyeon a olhou curiosa, mas por um tempo não disseram nada. Jessica respirou fundo antes de continuar.

- Está livre? Com fome? Conheço um bom restaurante aqui perto.

- Depende, você paga? – brincou Hyoyeon mantendo a expressão séria e vendo Jessica abrir a boca sem formular palavra. – Estou brincando, vamos.

Riu, apontando o caminho e convidando-a a acompanha-la. Jessica suspirou, sorrindo timidamente. Estranho como... Como ela conseguia sempre acabar ficando à vontade com ela.

 

***

 

Fora uma noite tranquila, onde as duas conversaram sobre os mais diversos assuntos na pequena mesa próxima a uma das janelas do restaurante. Era pequeno, acolhedor, bem iluminado e decorado. Dava uma vida ao lugar, e ter Hyoyeon por perto era simplesmente ter a certeza de que até então ela tinha meramente existido, como diria o grande Oscar Wilde.

Viu Hyoyeon encarar atentamente a taça vazia de vinho que Jessica consumira e a encarou divertida, imaginando o que ela estaria aprontando agora. Acompanhou com o olhar a outra passar a mão pela frente da taça e dentro dela surgir uma flor branca. Jessica riu, observando seu semblante radiante.

- Isso não funciona comigo duas vezes. – brincou, fazendo pouco caso.

- Oh, é mesmo? Deixe-me ver se melhoro então. – disse, passando novamente a mão pelo copo e fazendo a flor sumir, mas em seguida com um hábil movimento de mãos, fazendo surgir nas duas palmas unidas um conjunto de flores das mais variadas cores.

Jessica não conteve o espanto dessa vez.

- Como faz isso?

- Mágica é para se ter fé, não conhecer. Só assim é verdadeira. – disse fazendo das flores um buquê e entregando à outra.

Jessica levou o conjunto de flores ao nariz, ainda intrigada.

- Mas você conhece o segredo.

- Eu crio mágica. Qualquer um pode aprender, se começar por acreditar nela.

- Pode me ensinar então?

Hyoyeon pareceu pensar um tempo na proposta.

- Talvez um dia... Quando estiver pronta para criar sua própria magia.

Palavras... Que Jessica não queria correr o risco de esquecer. Suspirou olhando as flores.

- É nossa última noite juntas. – forçou um sorriso sobre o ar triste.

- Que está dizendo? Não existem últimas noites.

Viu-a levantar-se da mesa e estender a mão.

- Vamos?

- Pra onde?

- Onde quisermos.

 

***

 

- De todos os lugares de Londres, você escolhe meu quarto de hotel. Isso é estranho e perturbador, sabia? – brincou Hyoyeon, abrindo a porta para a outra entrar e acendendo a luz. – Ah, acho que entendi. Sou muito perfeita, não é?  - falou jogando-se na cama tendo o cuidado de manter os pés ainda calçados para fora do colchão. – Está buscando falhas? Apesar de que se eu fosse uma serial killer você estaria ferrada agora.

- Porque está nervosa? – Jessica perguntou.

- Eu não estou nervosa. – Hyoyeon respondeu, curiosa.

- Você disparou a falar a ponto de quase se atropelar nas palavras.

- Mania minha... – respondeu a loura ficando calada.

Jessica sorriu, sabendo ter acertado em cheio. Viu um porta retratos em cima da cômoda e puxou-o para si. Um rapaz jovem sorria, havia alguma semelhança com Hyoyeon.

- Quem é esse?

- Meu irmão.

- Onde ele está agora?

- Coréia... – Hyoyeon suspirou. – Sinto falta dele. Ainda bem que amanhã voltamos e essa saudade pode ser resolvida. Toca numa banda, é até talentoso. – Levantou-se da cama se aproximando da outra. – Vai pra África amanhã não é?

Jessica balançou a cabeça afirmativamente, deixando a foto de volta no lugar.

- Aconteceu algo hoje no hospital. – disse, brincando com os dedos.

Hyoyeon parou a alguns passos de distância, ouvindo seu relato. Ao terminar ela tinha um olhar reflexivo.

- Ela vai ficar bem.

Jessica a olhou questionadoramente.

- Yoona. Ela vai ficar bem. – reafirmou Hyoyeon.

- Como tem tanta certeza? – Jessica olhou pela janela, a noite intensa lá fora.

- Porque é o único jeito de sobreviver. – disse atraindo o olhar da mais velha. – Somos forçados pelo tempo a ficar bem ou sucumbir.

- Você já passou por essa situação? Desculpe se estou sendo intrusiva...

- Já sim. – Hyoyeon cortou com um sorriso – Anos atrás fiquei bem doente, e os médicos disseram que eu não sobreviveria. Hoje sou uma Dancing Queen. – riu com gosto.

- Como se recuperou?

- Eu não sei. – Hyoyeon balançou a cabeça pensativa. – Um dia a TV estava ligada num programa de dança e contrariando a todos disse que era aquilo que eu queria ser, não importa onde. Se aqui ou em outro lugar... Era o que eu queria fazer.

- Outro lugar?

- Últimos dias não existem... – explicou Hyoyeon. – Apenas trocamos de espaço.

Jessica nada disse, vendo Hyoyeon dar mais alguns passos em sua direção. Ela estava deveras deslumbrante, ou seria a cabeça dela criando coisas? Criando magia?

Desviou o olhar para o chão e de volta para ela. Os olhos vivos, na boca um sorriso de derreter... O coração já começava a bater mais rápido. Desviou novamente a vista e recuou um pouco, até sentir uma mão em seu rosto. Voltou a olhar para ela.

- Faça o que tem vontade. – disse acariciando o rosto da maior – Eu quero a mesma coisa.

A voz rouca era irritantemente convidativa. Sem pensar mais ser era o correto ou não, Jessica quebrou o espaço ainda existente entre elas buscando seus lábios. Deixando-se abraçar, aquecer, consumir. Permitindo-se encontrar a paixão que há muito não sabia por onde andava, e se encontrava ali.

Naquele quarto de Londres.

Naquele espaço.

 

***

 

- Eu disse... Eu disse que ela ia acabar suspirando o nome dela pra todo canto, eu disse! – Taeyeon reclamava sentada no meio das duas meninas: Tiffany do seu lado direito, Jessica do esquerdo, recostada na janela do avião.

- Deixa ela, Tae. – riu Tiffany.

Jessica não se incomodou com as amigas, que continuaram discutindo divertidamente nas poltronas ao lado. Olhava pela pequena janela a cidade de Londres cada vez mais distante. O sol iluminava a grande cidade pela qual se apaixonara, de alguma forma. Tocou o vidro lembrando da noite no ônibus, três dias antes. Sorriu.

Começou a desenhar no vidro mesmo que não fizesse qualquer efeito de tão impecavelmente limpo. Não importa. A arte não a achava louca, estava ali do seu lado.

Ali e no pequeno cartão com uma rosa que ela deixara sobre a mesa de cabeceira do hotel antes de sair.

O mesmo que Hyoyeon agora lia, com um largo sorriso no rosto, o pequeno enunciado em inglês e coreano.

 

“Let’s create our own magic”.

“Vamos criar nossa própria magia”.

 

_________________________________________________________________________________________________________________________

 

Agradecimentos:

 

Diéfani Favaretto, pela Betagem.

Thaisse Christina, pelo Roteiro.

Daiane Marques, pelo Design de Capa.

 

Nota: Nunca estive em Londres ou lugar parecido e peço desculpas se alguns lugares ou situações aqui descritas sejam incomuns na citada cidade. Para mim, pelo pouco que conheço, é uma das cidades mais lindas européias e definitivamente gostei de poder usá-la como fundo para uma de minhas fanfics.

 

Vídeo do Solo da Hyoyeon descrito na fanfic: http://www.youtube.com/watch?v=BWP-uzMc0LY

 

Espero que todos tenham gostado e que tenha valido a pena a leitura do início ao fim. =)

Um beijo, um abraço e vamos criar nossa própria magia! ^^ 

Fui! o/

 

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Comments

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KaiKimTaeNy #1
Chapter 3: Cabô? ai ;-;
Que fic hein... wow *-*
byunbunny
#2
Chapter 3: o que posso dizer?!
Hyo mtu Don Juan, pfvr -v-
cara, muito lindo unnie *-*
Hyo ensinou muitas coisas valiosas à Jessica...acredito que marcou a vida da Sica *-*
Tão bem escrito *-* me senti em Londres xD
TaeNy fofas, Sooyoung sempre Kkab tbm u.u
UYASYASGUYASGUYGASUYGSA
amei <3
HyoSic é divo u.u
Catalyst
#3
Chapter 3: Ah!!
Bem que poderia ter continuação, né?
kkkkk
xxo
Catalyst
#4
Chapter 3: Oh God!! Só vc mesmo para me fazer parar os estudos >.<
Confesso.. Que fiquei esperando a Hyo entrar como um dos pacientes TT__TT Alivio me definiu quando não apareceu kkkkk
Tae como sempre sendo linda!! E Tiffany apenas um sopro na imaginação da galera(curti) :P
Agora sim temos algo pesado.. diferente de coleção kkkkk Brinks!!
Amei cada momento desse último cap!!
Hyo divando na dança e todas babam!! ;)

Posso dizer que 'Nossa última noite em Londres' foi perfeito?
Tudo perfeito!! Cada segundo e cada personagem :D
Vou ali procurar a minha magia kkkkkk
ps: vc errou meu nome u.u

kisses <3
CathLis #5
Chapter 3: Simplesmente perfeito! HyoSic é meu segundo couple preferido com a Sica e eu estava ansiosa pela atualização. Parabéns Nicole, como sempre, fez um ótimo trabalho! (Ah, e esperando por mais HyoSic e por uma YulTi que é um couple que tenho paixão, pode ser? kkkkk)Desde já, obrigada. ^^
EvelynYH
#6
Chapter 3: Como não se apaixonar por essa história? X___X HyoSic tão lindas.
O modo como a Hyo fez a Sica refletir, nossa, foi tão profundo, e a Sica se deparando com aquilo à sua frente foi de arrepiar, talvez agora a Sica veja sua profissão da maneira que a Hyo vê a sua.
Ahhh X__X YoonHyun, quase choro com minha Seo ali, a Sica confortando ela e depois a Yoong contando a história do quadro, OMG, que dó X__X Be strong, Yoong baby X___X
E o final, HyoSic *¬* E Sica suspirando pela Hyo haha, agora tá achando ruim, Tae? E você que fica sempre falando da Fany Fany? Haha. Mas valeu pelo empurrão, Tae, fazendo a Sica ir até a Hyo kkkk.

Achei a história linda, Nic, o que a Hyo falou foi demais "Não existe último encontro, existe mudança de espaço" *__* E quem sabe elas não se encontrarão novamente em algum momento no futuro? ^^ Final lindo S2
hanhammie #7
Chapter 3: AI NIC QUE COISA MAIS LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA. Eu amei essa história <3 Espero que possamos apreciar mais de suas histórias por aqui, você descreveu Londres bem nas passagens que precisou falar sobre caracteristicas físicas da cidade. E adorei a forma na qual você utilizou a personalidade da Hyoyeon, tão madura, centrada, encantadora. E também derretendo o gelo do coração da Sica <3 Amei a história e obrigada por ter se esforçado por ela. Até a próxima. SDDS IDENTIDADE.
lesbioung
#8
Chapter 2: Nossa, fiquei hipnotizada lendo! Apenas perfeito, pfvr. Gostei muito da personalidade das duas. E teve espaço até para TaeNy, haha. Lindo!
Sinceramente, estava precisando ler uma fic HyoSic de tão alto nível assim!!!
Espero pela atualização!! *-*
KaiKimTaeNy #9
Chapter 2: Cadê atualização? ÇÇ