Treze

A Soldada do Fim do Mundo

“Pra onde você quer ir?”, perguntei a ela. Seu rosto se virou e nossos olhos se encontraram. Ela era realmente linda. Seu rosto levemente redondo a dava uma expressão suave, enquanto seus olhos, enquanto sérios, lhe davam um ar misterioso. Era como o rosto de uma raposa das fábulas, pronta para pregar peças e transformar as situações mais sérias em brincadeiras. Olhou-me rapidamente e respondeu: “Pode continuar no caminho até o Treze. Quando for o momento, lhe direi pra onde ir.”

Os Centros Humanitários tinham números próprios e chamávamos cada um por eles. Treze era o Centro para onde estávamos indo, um dos mais equipados cientificamente. Foi construído no coração de uma antiga cidade, e encontrava nos inúmeros prédios ao seu redor uma forma de defesa contra os alienígenas. Havia muitas pessoas morando também na cidade ao redor, e alguns moradores do Treze ainda tentavam ajudá-las em detrimento ao seu próprio bem estar - dar materiais do Centro Humanitário para alguém de forma do mesmo era considerado traição e punido com expulsão imediata. Eu vivia no Dez, até seu ataque e destruição. Encontrei refúgio como soldada realizando missões para o Treze, de forma que ainda não sou, porém, considerada cidadã oficial do Centro. Na verdade, ao desobedecer uma missão, eu provavelmente estou decretando o meu banimento de uma vez por todas. Mas bem, que opção eu tinha?

Antes de me perder em pensamentos, percebi que ainda estávamos em perigo. Se como ela disse a morte de um atraia outros, então havia uma boa chance de sermos encontrados.
— E você acha que teremos tempos de chegar até o Treze antes de sermos encontrados por outro deles?
— Não seremos encontrados. Eu sei como despistá-los. Você nunca esteve tão segura em sua vida quanto você está agora, ao meu lado.
— Como assim? , perguntei, incerta se aquilo era verdade ou só uma frase vazia.
— Bem… Como vou explicar… , disse ela antes de fazer um pequeno intervalo, como se realmente estivesse montando as frases que ia dizer. "Não tenho motivos para esconder nada então vou lhe dizer: uma das minhas habilidades da minha Marca é meio que… Analisar a matéria. Não só isso, como ela é capaz de absorver as informações de tudo que existe. Então eu posso saber de que material algo é feito… Ou como um computador funciona… Ou até mesmo ler seus pensamentos ou ver suas memórias. Tudo isso usando a minha Marca."
— Então foi assim que você descobriu meu nome.
— Aham. Mas não se preocupe. Entrar na consciência das pessoas é meio cansativo, então eu evito.
— Como assim, cansativo?
— Pense assim: é como se eu estivesse colocando minha mão numa caixa cheia de objetos. Eu tenho que tirar o objeto, olhar pra ver se é o que eu quero, depois colocá-lo de volta. Pode ser chato. Se eu estou procurando uma informação complexa, como uma memória específica, pode demorar várias horas. Já fizemos esses testes lá no Treze.
— Mas como você faz isso? , eu fiquei honestamente curiosa. Nunca havia conversado muito com um portador de Marca, quanto mais sobre suas habilidades. Era como conversar com um personagem de quadrinho.
— Bem, o jeito que me explicaram é assim: a Marca é o meu corpo se acostumando a lidar com dimensões que normalmente não lidamos. Muitas vezes diferentes Marcas são mais familiares com uma dimensão ou outra, uma matéria ou outra. Segundo os cientistas do Treze, eu sou de alguma forma especial. Algo sobre eu ter sido muito mais exposta aos alienígenas que qualquer outra pessoa viva. O fato é, minha Marca sabe interpretar o mundo assim como eles interpretam. Na verdade, fui eu que ajudei os pesquisadores a descobrir isso, mas esses monstros não tem nada parecido com um olfato, audição, visão, nada assim. Eles interpretam o mundo através de uma dimensão que a gente deu o nome de “dimensão base”. Nela, as coisas são como bytes de informação. Pense assim: você não é capaz de me ver, mas a minha existência é como um pequeno servidor que continuamente manda para o universo informações sobre meu estado. Eu sou uma humana, uma fêmea, eu tenho 1,62m.
— Então é assim que eles nos encontram?
— Exatamente. Eles ficam procurando um sinal que diz “sou humano”. Então procura a fonte e destroi até aquela matéria mandar o sinal de que não tem mais vida. É uma forma bem mais eficiente de ver o mundo. Isso é, para uma máquina.
— E o que você pode fazer pra nos deixar seguras, então?
Como eu disse, minha Marca é capaz de interagir com essa dimensão. Então eu posso bloquear o sinal e mandar qualquer outro que eu quiser. Se eu quiser, eles vão nos ver como plantas, uma baleia, pedras. Depende só do meu desejo. Eles não são capazes de entender que é absurdo uma pedra estar se movendo em uma estrada a 100km por hora, então realmente não importa.

Ficamos alguns minutos caladas. Parei para pensar o que tudo aquilo deveria significar pra ela. De repente, não apenas o mundo mudou e tudo parece estar desabando, como ela mesma mudou - ganhou novas habilidades e novas responsabilidades. E de repente, o futuro de todos nós está em suas mãos. Eu não a julgaria de fugir de tudo isso e simplesmente deixar o mundo pra trás. Lembrei-me, porém, de outra coisa que ela havia dito, e me senti curiosa demais para conseguir me segurar.

 Você falou sobre eles não terem alma. E nós… temos?
— Não sei dizer se é uma alma ou não. Mas bem… Quando eu analiso um computador, tudo que vejo são números voando de um lado ao outro. Processos. Algorítmos. Um programa lógico. Já quando analiso humanos, há algo a mais. É tudo muito mais complexo e fluido, como se houvesse algo a mais que essa dimensão base não consegue completamente traduzir. Já eles são como computadores. São programados para matar humanos e isso é tudo que passa na mente deles. Eles nem ao mesmo tem individualidade, tudo que pensam é transmitido numa rede entre eles mesmos. As vezes, quando não estou usando minha Marca, consigo sentir suas… vozes. É aterrorizante. Percebi como sua voz se tornava mais preocupada quanto mais ela falava disso. Por um momento, penso em tudo que também passei. Será que um dia teremos paz novamente? Toda essa destruição… Um mero ato de máquinas programadas. Será que há algum motivo por trás disso tudo? Somos um sacrifício necessário?


Após um período, já somos capazes de ver os prédios na distância. Treze já não está tão longe. De repente lembro-me que os cadáveres de meus companheiros ainda se encontram na parte de trás do carro. Olho através da grade que separa o motorista dos passageiros e os vejo, sem vida, deitados no chão. Percebo o olhar da garota sobre mim.

— Alguns deles ainda não estão mortos… Não se preocupe. Quando chegarmos perto de Treze eu vou ajudá-los e você pode deixá-los nos arredores da cidade.
— Ajudá-los? , perguntei, em dúvida sobre o que ela queria dizer com aquilo.
— Sim, minha Marca é capaz de curar quaisquer danos realizados a seres vivos. Nesse exato momento estou mantendo-os vivos. Quando chegarmos e eu puder analisar-los direito, vou retorná-los a um estado saudável eles poderão continuar com suas vidas. Parei para pensar algo. A Marca dela era tão poderosa. Capaz de cura, de se comunicar com os alienígenas, nos esconder deles… Por que, então, permitiu que fôssemos atacados? Isso além da dúvida que ainda pairava sobre o que ela desejava fazer. Por um momento, retornei à minha mentalidade de soldada que servia ao Centro Humanitário e perguntei, como que a cobrando.
— E por que você não usou nenhum desses poderes pra nos ajudar?
— Eu estava presa em uma jaula desenhada especificamente para contar minha Marca. Mesmo se eu quisesse…
Parei bruscamente o carro, o sangue subiu à minha cabeça.
— Você não queria? É isso que você está dizendo? Ela soltou um longo suspiro, como uma criança que não aguenta ouvir os pais. Essa atitude de brincadeira que era mostrava ter para com a vida alheia e o mundo me irritava. 
— Eu tenho a capacidade quase infinita de regeneração. Eu tenho uma Marca poderosa que é capaz de se comunicar com aqueles monstros e extrair informação de qualquer ser ou objeto. O que você acha que eles querem fazer comigo, uma garota de 22 anos? Me preparar pra batalha, pra heroicamente sair por aí matando todos os monstros do mundo? Ou me usar como cobaia até não poderem mais? Eu não havia pensado nessa possibilidade. Imediatamente me calei e desviei meu olhar, que antes pousava nervosamente sobre seus olhos, para o horizonte. Treze. O Centro Humanitário. Para mim, um santuário. Para ela... " Você acha que não investiguei o que passa na mente de todos aqueles cientistas voluntários? De todos os militares? Nossa vida era um inferno. Era como se fossemos gado. Eu sou uma anomalia da natureza e eles vão me usar até eu não poder mais pronunciar uma única palavra, andar um único passo. Eu não vou passar por isso. Antes eles morram, antes todo mundo morra. Até meu último suspiro, eu vou ser dona do meu corpo." Maldição… Eu não podia falar contra isso. Eu também desejaria isso. Como soldada, ordens devem ser cumpridas. Mas como humana… Eu me calei. Olhei-a nos olhos novamente e tudo que pude dizer foi “tudo bem”. Continuei nossa viagem para Treze calada, incapaz de fazer uma única pergunta.

Antes mesmo de entrarmos no perímetro da antiga cidade, ela me mandou dar a volta e entrar por alguma entrada alternativa, visto que eles poderiam estar esperando para nos escoltar ao Centro. Fiz como ela me comandou e procurei outra forma de entrar. O sol já estava se pondo quando finalmente nos encontramos em uma estrada asfaltada e entre inúmeros prédios. Paramos o carro e ela, com sua Marca invisivel, retirava um a um meus companheiros do carro e os deitava no chão. Em seguida, curou-os de seus machucados e virou-se pra mim:

— Eu sei que você ainda acredita no Centro. Acredita que essas pessoas estão unidas para o bem comum. Mas isso não é verdade e eu não vou perder meu tempo em uma fantasia. Tenho lugares onde quero ir. Se você quiser ficar aqui, fique. Eu posso dirigir. Mas eu vejo que você não é só uma soldada qualquer. Dentro de você… Está algo que você esconde. E esse algo quer sair. Você não precisa mais se esconder se vir comigo. Mas ao voltar para o Centro, você voltará para a humilhação e a ser só mais uma subordinada.
— Não podemos ficar pelo menos hoje por aqui? Eu quero um tempo… Para decidir. Podemos estacionar o carro onde eles não encontrem e dormimos em algum dos prédios.
Ela parou um momento para pensar.
— Tudo bem. Amanhã cedo eu partirei. Já sei onde podemos ficar.


Entramos no carro e ela me guiou até um prédio que parecia ser uma antiga galeria, já decrépita. O nome dela estava ilegível, visto que algumas das letras haviam caído. Sua superfície externa se encontrava completamente acinzentada e o interior era completamente escuro, visto que a noite já havia chegado. Ela desceu do carro e me pediu para a seguir. Fomos entrando na galeria e a única coisa que era visível era uma pequena luz que apontava onde deveriam estar os materiais em caso de incêndio - faltavam os materiais, é claro, roubados por alguém nos últimos anos. Ela foi até esse aviso e, ao retirar o piso que estava logo abaixo dele, revelou um banheiro iluminado por velas. “Quê?”, perguntei. “Essa galeria tinha lojas com produtos caríssimos. Então ela fez todo um esquema subterrâneo de chegada de mercadoria. Alguns sobreviventes se aproveitaram disso. Eu sei disso porque fiz parte dos poucos que se atreviam em trazer comida do Centro até eles. Enfim, desça.” Desci a passagem e foi seguido dela, que novamente a fechou com o piso. Ao abrir a porta do banheiro, dei de cara com um enorme armazém ocupado por várias barracas. Ao redor de uma fogueira, um grupo de pessoas que sentava e conversava virou-se para olhar para nós.

— Quem são vocês?, perguntaram de modo hostil.
— Calma, pessoal. Sou eu. E uma amiga, de certa forma. Disse a garota. Suas expressões se acalmaram quando entenderam quem era e um sorriso surgiu no rosto de alguns. Provavelmente esperavam alguma ajuda ou comida. Logo esses sorrisos iam sumir, visto que nós mesmos estávamos mortos de fome. Alguns passos a frente, porém, as expressões se tornaram novamente hostis. Alguns pegaram armas improvisadas e apontaram para nós:
— Uma soldada do Treze? O que você quer aqui? Quer terminar de nos matar? Então venha. Acabe logo com isso. , gritou um homem mais velho. Eu não compreendi a situação - quero dizer, eu compreendo que os soldados do Treze não permitiam que a ajuda chegasse a eles, mas não é como se ativamente trabalhássemos para piorar suas vidas. Apenas lutávamos pelo nosso pão num mundo onde alguém teria que ficar sem o seu. 
— Calma, ela não está aqui para isso. Nada disso é necessário. Viemos ficar só durante essa noite. Depois vamos embora. Ao ouví-la, abaixaram as armas. Mas não deixaram de me olhar hostilmente, como se eu estivesse ali realmente para os matar. Sentamo-nos ao redor da fogueira. “Eu sei que vocês devem estar passando por dificuldades… Mas teriam algo para nos dar para comer? Estamos o dia todo sem comer nada.”
— Imagina! Não importa o quão pouco de comida tivermos, iremos sempre compartilhar com você. Depois de tudo que você fez por nós… Podemos até mesmo dar comida para uma soldada. Respondeu uma mulher, cuja fala foi seguida de risadas. Não pude me conter.
— Desculpa perguntar isso… Sei que talvez eu não deva. Mas o que foi que os soldados do Treze já fizeram com vocês? Todos me olharam. Um misto de agressividade, deboche e ódio se disseminou pelo ar e eu imediatamente me arrependi de ter feito a pergunta.
— O que fizeram? Além de nos matar, roubar de nossas plantações e continuadamente nos ameaçar? Nada demais. , disse o mesmo homem mais velho de mais cedo. 
— Calma, ela não é uma dessas soldadas. Ela é das provisórias. Não se envolve nessas atividades… Ela não sabe desse lado do Treze. Pra ela, é só mais um Centro bem equipado e envolvido em salvar a humanidade. Abaixem a guarda, nada vai acontecer enquanto eu estiver aqui. O clima se estabilizou, mas ainda havia a sensação de que eu não deveria estar ali. Sussurrei para a portadora o que ela quis dizer com eu não saber sobre “esse lado do Treze”, ao que ela respondeu que depois me esclareceria as dúvidas. “Por enquanto, foque em comer e dormir. E, obviamente, se decidir. Amanhã eu te conto tudo… Ou não.” Fiz como ela pediu - comi e imediatamente fui dormir na barraca que armaram rapidamente para nós. Sem nem mesmo perceber, caí no sono - o cansaço do dia todo havia se acumulado sem que eu ficasse consciente disso. 


No meio da noite, acordei. Ao meu lado, iluminada tenuemente, estava deitada a garota. Percebi que até agora não sabia seu nome e me fiz uma nota mental pra lembrar de perguntá-la. Eu havia decidido… Iria sim com ela. Minha vida toda, após o início dessa grande tragédia surreal, havia se resumido a servir. Agora, eu queria algo novo - e não só isso, algo que me fizesse sentir desejada, esperada. Eu quero ver o mundo ao lado de uma pessoa excepcional e fazer parte de algo excepcional.

De repente, a face que se encontrava à minha frente me rouba os pensamentos. Ela dormia em posição fetal e seus lábios se encontravam levemente abertos. Seus braços abraçavam o travesseiro e sua cabeça deitava sobre o colchão sem nenhum apoio. A presença ao meu lado parecia sobrenatural, como um anjo. E de certa forma, ela realmente o era. Ao mesmo tempo que eu me lembrava da forma rápida com que ela matou um monstro e como ela fez pouco caso com os cadáveres dos meus companheiros, eu tentava ver além. Sua atitude brincalhona, e ao mesmo tempo seu silêncio estranho; ela era uma pessoa. Ela ainda é uma pessoa claro, mas antes era apenas uma garota, mais uma garota, tentando descobrir seu mundo - provavelmente tinha amigos, saia para se divertir, interessava-se por pessoas… Assim como eu já o fui. Tentei imaginar como seria nosso encontro se ele não tivesse sido rodeado de morte, demonstração de poder e chantagem. Talvez seríamos amigas. Talvez… Mais. Quem sabe? Bonita, engraçada, misteriosa. Eu poderia a descrever como uma versão mais jovem de mim descreveria uma paixão platônica. Sorri de leve ao ter esses pensamentos - fazia um tempo desde a última vez que pude ter pensamentos tão juvenis.

Um barulho ecoa pelo armazém. Levanto-me por reflexo e levo minha mão a minha arma. Percebo que ela também acordou e olha assustada para mim. “Provavelmente não é nada”, digo, com uma postura paternal.  “Se abaix…”, ela começa a gritar, antes de ser interrompida por um enorme barulho de explosão. Eu fecho os olhos e, por reflexo, jogo meu corpo sobre o dela. Nossa barraca cai sobre nós e ouço o som de algo pesado caindo e batendo no chão. Por um momento, tudo fica escuro, e a escuridão é seguida por uma leve luz amarela que nos rodeia. Finalmente compreendo - o teto do armazem caiu sobre nós e ela nos defendeu com sua Marca. Entreolhamo-nos e percebo que nosso pensamento é o mesmo: os outros estão mortos. Com sua Marca, ela agora joga todas as pedras para longe de nós de forma brusca. Ao nosso redor, tudo que se vê são escombros. As barracas que antes estavam ali, as pessoas que conversavam, a pequena fogueira ao redor da qual eles estavam reunidos - tudo enterrado por concreto. 

“Soldada Seungwan. Agradeço por ter seguido a nossa Portadora e nos ajudado a encontrá-la pelo seu rastreador. Agora, por favor. Termine seu trabalho e traga ela para nós.”, disse alguém com um alto-falante. Finalmente percebi nossos arredores - inúmeros carros do Treze, cheios de soldados armados até os dentes. Eles sabiam que podiam machucá-la sem matá-la. Meu sangue ferveu vendo aquela cena e senti a mão da garota apertando meu punho como que para controlar a raiva. “Fica próxima de mim. Quando eu falar pra você abaixar, você se abaixa.”, ela sussurrou entre seus dentes que rangiam.“E se eu não quiser ir com vocês? O que vocês pretendem fazer?”, perguntou. O homem que segurava o alto-falante respondeu primeiramente com um sorriso debochado: “Sabemos o poder da sua Marca. Mas também sabemos que você tem um limite. Trouxemos tudo que podemos para te conter. Se você não vier por vontade própria, bem… Tenho certeza que o processo será muito pior para todos nós.”

De repente, sinto que o ar ao nosso redor se torna mais pesado. A minha visão se turva e meu corpo falha. Olhe para o lado e percebo seu olhar raivoso, sua fisionomia mudada. Em suas costas brilham duas manchas na região onde fica a escápula e suas pupilas, antes escuras, tornam-se amarelas e extremamente claras. Sinto o chão tremer e percebo que os próprios soldados, antes certos de sua vitória, começam a temer o que está a vir. “Abaixa.” Ela ordenou friamente, mas não havia necessidade. Meus joelhos perderam as forças e eu imediatamente fui ao chão. Ouvi seu grito e senti uma onda e energia sem liberada. O som de inúmeras armas transformou-se em uma muralha sonora e eu sabia que eles estavam atirando sem o menor medo de me matar. Ao meu redor eu via apenas umas barreira de luz dourada que cessava o movimento de todas as balas que se direcionavam a nós. Eu sentia a presença hostil dela, mas não era capaz de levantar meu rosto de forma a vê-la - era como se a gravidade tivesse se tornado centenas de vezes mais forte. Eu me concentrava em respirar e me manter viva; como se meu corpo tivesse sido jogado no olho de um tornado, eu perdia o ar. 

Em um momento, o barulho cessou. O brilho dourado ao nosso redor atenuou-se e os soldados voltaram à posição de descanso. “E agora? Desistiu? Podemos acabar com este jogo? Temos muito o que fazer. Para salvar a humanidade, você bem sabe.” Disse o homem do Treze. Ela não respondeu. Pendeu sua cabeça levemente para o lado, numa posição de deboche, e sorriu, transformando seus lábios em um traço jocoso em seu rosto. Ela ergueu sua mão - gesto que foi respondido pelos soldados que imediatamente preparam suas armas - e apenas colocou seu dedo indicador sobre seus lábios, como se os aconselhassem ficar em silêncio. Em seguida, virou seu rosto para o lado e colocou essa mesma mão em formato de concha sobre a orelha. Ouçam, ela dizia com sua expressão corporal.

O grito de uma águia foi ouvido na distância. Não apenas um, como vários. Ela sorriu, psicoticamente mostrando os dentes. Os soldados imediatamente olharam para os céus, aterrorizados. Ela então agachou-se ao meu lado e, colocando sua boca próxima de meu ouvido, disse: “A propósito, meu nome é Seulgi."

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Comments

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TaeSunshine
#1
Chapter 1: Nossa uma fanfic SeulRene aqui no asianfanfics e em português <3
Obrigada por postar!!! :D Gostei bastante!