Intermezzo

Stained Glass - PT

Jongin suspirou aliviado quando o Acura RSX azul de Kris apareceu em vista. Ele havia descido na parada seguinte à de Kyungsoo - um subúrbio chamado Epperton, que ele nunca tinha sequer ouvido falar até hoje. Tendo se vestido para uma noite no bar, Jongin tinha deixado sua casa usando jeans desbotado e uma blusa branca com manga comprida fina e capuz para aguentar o frio do carro à porta, da porta ao carro. Não tinha se vestido para enfrentar o frio ar da noite de outono por um longo período de tempo em um ponto de ônibus. Desesperado para se aquecer, Jongin tinha começado a esfregar as mãos vigorosamente e soprando elas, assim como correr no lugar e saltar de vez em quando. Baforadas de vapor branco apareciam ems volta de suas mãos e rosto quando ele fez o seu melhor para gerar tanto calor quanto possível. Não podia acreditar que estava congelando sua bunda no final do outono em um local estranho, por causa de um menino que ele só conheceu pela primeira vez naquela noite. Ele nunca fez uma merda dessa e ainda assim, não sentiu um grão de arrependimento enquanto  enfiou as mãos no bolso da frente de seu capuz e pulou.

Quando o cupê de Kris tinha finalmente parado ao lado do banco onde estava sentado, Jongin entrou na parte de trás o mais rápido possível. Conforme suas mãos começaram a descongelar, ele observou que tanto Kris quanto Tao pareciam perfeitamente sóbrios. Tudo aquele cambaleado pra fora do bar anteriormente tinha provavelmente sido apenas dois caras desequilibrados por causa da vontade. Jongin sentiu-se bastante desequilibrado também, balançou a cabeça como se isso fosse, de alguma forma esvaziar todas as visões do rosto de Kyungsoo olhando para ele da rua. Seus olhos tinham sido ... Mas Jongin nunca terminou esse pensamento porque se forçou a voltar ao presente.

"Eu pensei que vocês nunca iriam chegar aqui. Eu juro que minhas bolas e pau  estavam prestes a ficar azul de frio."

"Explique-me novamente porque eu estou te buscando em algum subúrbio sem-nome no meio da porra da noite?" Kris levantou uma sobrancelha sarcástica para Jongin enquanto  ele se acomodava no banco de trás.

"É complicado."

 "É sobre um menino, é o que é." Tao riu maliciosamente, seus olhos com forma de amêndoas cheios de travessura com a luz da lua refletindo os pequenos aros de prata em sua orelha.

 "Eu nunca disse isso."

 "Você está em um subúrbio sem nome no meio da noite. O que mais poderia ser?" Tao disse sabiamente e Kris murmurou em concordância.

"Ok, tudo bem. Era sobre um menino."

 "A questão é, qual menino?"

 "Ele faz Música na Garnier."

"Isso não me convence que valeu a pena o meu tempo para dirigir todo o caminho até aqui para te pegar." A voz de Kris pingava com sarcasmo enquanto ele mantinha os olhos na estrada.

"Nós estávamos conversando no ponto de ônibus em frente ao Ace. Seu ônibus veio e eu não tinha terminado de falar, então eu entrei com ele. Só que eu normalmente não pego ônibus ... Então eu pensei que eu deveria te ligar no caso de eu acabar no próximo estado. "

"Isso era pra ser engraçado? Porque cara, realmente não é." Mas Kris riu de qualquer maneira.

 "Então, quem é esse cara?" Tao inclinou seu braço contra a traseira de seu banco do carro e se virou para olhar para Jongin. Como sempre, os olhos de Tao eram astutos e não perdiam nada.

"Eu o vi cantar uns dias atrás, ele é realmente bom e vocês estavam -.. Sei lá o que era que vocês estavam fazendo - flertando? De qualquer forma, eu estava entediado e eu o vi do outro lado da rua e decidi ir falar com ele. Eu estava curioso. "

"Eu. Não. Flerto." As palavras de Kris eram como pedras frias caindo na água, uma de cada vez. Jongin podia jurar que ouviu Tao bufar sarcasticamente, mas ele não ia apontar o fato porque ainda precisava de Kris em um razoável bom humor até que ele deixasse Jongin em casa.

"Se você diz."

 "Você nunca fica curioso." Tao declarou com firmeza enquanto dava Jongin um olhar afiado. "Você é uma das pessoas mais descuriosa que eu conheço."

"Eu não acho que descurioso é uma palavra real, mas sim ... Eu não sei. Há algo sobre Kyungsoo. Eu não consigo explicar ."

 "Você deve ter namorado três caras este ano que você não dava a mínima de uma forma ou outra. E de repente, um menino do coral te deixou curioso? Você está apaixonado, Kim Jongin?" Kris parecia sinceramente intrigado, ao invés de zombeteiro.

"Eu.Não.Amo". Desta vez foram as palavras de Jongin que caíram como pedras frias em água parada. Mas ,no fundo, ele estava tudo menos calmo. Tudo era um emaranhado de emoções confusas e tudo o que ele viu foi Kyungsoo. Mudando rapidamente de assunto antes que ele acabasse admitindo algo que ele não queria admitir, Jongin perguntou: "Então, vocês dois estavam se beijando no beco huh?"

"Não estamos discutindo isso." Kris parecia inflexível e Tao apenas deu um sorriso enigmático para Jongin que prometia: Eu vou te dizer mais tarde.

Felizmente eles mudaram o assunto para outras coisas. Jongin fingiu não perceber como Tao descansou os dedos no assento do motorista para que eles  tocassem a borda da coxa de Kris. Assim como ele fingiu não ver Kris sutilmente mover sua coxa mais perto da mão de Tao. Assim como ele tentou fingir que não era assombrado pela intensidade do olhar de Kyungsoo e o toque mais leve de anseio que ele tinha visto nos belos olhos do outro garoto, quando tinham se olhado através do vidro da janela do ônibus . Jongin fingiu que não sentiu nada certo até o momento em que seu corpo se rendeu ao sono.

 

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"Então, eu falei com esse cara tatuado na noite passada." Kyungsoo anunciou com naturalidade e saiu seguramente do caminho quando um gole de Gatorade jorrou da boca de Minseok.

 "Você fez o que ?!”

"Soo, eu já te disse mil vezes para não falar coisas pra ele quando ele está bebendo -... Você sabe como ele é impressionável. Ele encharca tudo em seu caminho, eu juro por Deus. Sorte sua saber desviar, eu vi o jeito que você saiu da frente um pouco antes de ele cuspir. Impressionante." Luhan disse com admiração e Kyungsoo riu em resposta. Minseok e Luhan estavam juntos há dois anos e eles pareciam gostar de encher o saco um do outro , mas sempre foi feito provocativamente e parecia fortalecer seu relacionamento. Seu comentário atrevido lhe valeu um soco forte no braço de seu namorado e um irritado "Besta!".

"Quem é esse cara tatuado e por que você estava falando com ele?" Minseok soava indignado antes, mas agora ele só parecia preocupado.

"Ele estuda aqui. Ele é faz Artes".

 "Eu não me importo onde ele diz que estuda, Soo. O que você estava fazendo falando com ele?"

 "Ele tinha um braço fechado e seu pescoço estava ... seu pescoço estava todo coberto de tatuagens também."

"Ok, me dizendo exatamente o quanto da  área do corpo dele é coberta de tatuagens não está ajudando, Soo. Por que você está iniciando conversas com indivíduos tatuados em primeiro lugar e - espera, ele é um er ?!"

 "Ah, não. Eu tenho quase certeza que ele não é. Ele foi bem legal, na verdade. Nós só conversamos. Foi divertido, Seok."

 "Eu não gosto disso."

"Bem, se ele queria me esfaquear e roubar, ele teve vinte minutos inteiros enquanto estávamos sentados no ponto de ônibus. Mas ele só queria saber por que eu escolhi o programa vocal."

"Ele pediu seu número? Por favor, me diga que você passou seu número pra ele?" Luhan perguntou antes de dar outra mordida enorme em seu sanduíche.

 "Não encoraje ele!"

"Não, eu não passei. Mas agora queria ter passado. Ele disse que talvez encontrasse comigo no ponto de ônibus próxima quinta-feira. Eu estou meio ansioso para isso."

"Não faça isso, Soo." Minseok deu-lhe um olhar crítico. Não que Minseok fosse realmente tão tenso e preconceituoso. Era mais que Kyungsoo era um pouco ingênuo e excessivamente confiante, enquanto o cara que Kyungsoo havia descrito francamente parecia um figurante do Miami Ink. Era uma receita para o desastre e Minseok sempre tinha protegido seu melhor amigo e  não pretendia parar agora.

"Não faça o quê? Mas eu não estou fazendo nada. Eu preciso chegar em casa depois das  aulas de canto não é como se eu pudesse decidir não pegar o ônibus. Ele disse que poderia estar lá, isso é tudo. O que há de errado com isso ? Ele provavelmente não vai nem aparecer." Kyungsoo disse calmamente - tentando não pensar sobre o quanto ele realmente queria que Jongin aparecesse. "Só não faça nada estúpido, Soo, por favor?" Minseok suspirou resignado.

"Não se esqueça de passar seu número de celular, cara." Luhan disse amavelmente antes de ganir quando Minseok beliscou sua coxa. Enquanto Kyungsoo ria das travessuras de seus amigos, ele esperava que ele realmente tivesse uma chance para dar Jongin seu número de telefone.

 Foi apenas meia hora mais tarde que Kyungsoo percebeu que tinha indiretamente falado 'não' a Minseok pela primeira vez em anos. Um sorriso lentamente se estabeleceu em seu rosto. Dizer não sem realmente dizer não? Fez ele se sentir bem.

O que não era tão bom era a forma como o rosto de Jongin continuava aparecendo em sua cabeça sempre que tinha um momento de silêncio , quando ele estava caminhando para aula, ou sentado no ônibus, ou à espera do início de uma palestra. Ele não conseguia ficar longe de quão perdido Jongin tinha parecido quando ele olhou para ele através da janela ,sua palma e os dedos longos e elegantes pressionado contra o vidro. Ele não podia esquecer o quão perdido ele parecia e não conseguia esquecer a ânsia que ele sentiu quando seus olhos se encontraram. Ele tinha que vê-lo novamente. Ele tinha que saber.

Pelo o resto de ta-feira e segunda-feira e terça-feira, ele procurou os corredores, por onde ele rotineiramente passava, por cabelos loiros e tatuagens no pescoço ... e não achou nada. Na segunda-feira à noite, enquanto esperava o ônibus que o levaria para casa, Kyungsoo passou os dedos pelo cabelo e suspirou. Ele realmente desejava que ele tivesse dado à Jongin seu número de telefone.

 

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Jongin cochilou intermitentemente durante a maior parte de suas palestras na ta-feira, que foi nada fora do comum para ele em qualquer dia da semana. Ele habitualmente passeavam pelos corredores como um sonâmbulo. Olhos baixos, Jongin normalmente era completamente indiferente aos rostos e vidas dos estudantes que andavam pelos corredores com ele. Mas hoje, Jongin encontrou-se procurando nas multidões o rosto de Kyungsoo. Não importa o quanto ele vasculhou o campus, porém, ele não encontrou vestígios do menino com voz de anjo naquele dia, ou na segunda-feira. Frustrado, ele repreendeu a si mesmo mentalmente. Por que ele não tinha pedido a Kyungsoo seu número de telefone?

Se Jongin usasse um relógio,  ficaria verificando os tiquetaques a cada poucos minutos. Mas ele não usava um relógio então foi reduzido à olhar para o relógio de parede a cada dez minutos em vez disso. E ele não cochilou nesta palestra porque tinha que sair assim que a aula acabasse. Não que ele pudesse ter dormido de qualquer maneira , seus músculos estavam zumbindo, seus sentidos vivos. Ele não conseguia se lembrar de quando tinha se sentido tão envolvido com qualquer coisa nem com qualquer pessoa. Primeiro ano do ensino médio, talvez? E como havia ele sido basicamente uma bagunça nos últimos dias por causa de um inocente menino do coral? Foi um pouco demais para Jongin processar, mas o que quer que fosse, ele precisava vê-lo, pelo menos, mais uma vez.

Quando o professor dispensou a turma, foi um dos primeiros a disparar de seu assento - passando pelas pessoas para chegar até a porta. Sem se importar com o que qualquer um pensava, Jongin se movimentou através de um mar de irritados 'Ei!'s quando esbarrou em pessoas sem se preocupar em parar e pedir desculpas. Ele só murmurou o ocasional "desculpe" em sua busca para alcançar a escada do primeiro andar. Subindo os próximos quatro lances de escadas, desviando dos obstáculos humanos o melhor que podia, Jongin continuou dizendo a si mesmo que iria chegar em tempo.

Ele parou na frente da porta e se curvou, mãos nos joelhos enquanto respirava profunda e torturadamente por alguns segundos. Quando  finalmente parou de ofegar, abriu a porta silenciosamente e para seu alívio, a sala ainda estava vazia. Apenas algumas cadeiras empilhadas perto da parede de trás, ao lado da janela de vitral. O sol da tarde tinha pintado no chão com fortes cores brilhantes e não havia nada além de silêncio na sala.

Jongin rapidamente acomodando-se no fundo da sala para que ficasse escondido fora de vista. Então ele esperou. Kyungsoo tinha entrado às 16h30 na semana anterior e ele tinha chegado dez minutos mais cedo. De acordo com o relógio de parede, ele ainda tinha 20 minutos. Era o tempo suficiente, Jongin pensou enquanto tirava seu bloco de desenho e deixou as pontas dos dedos patinarem lentamente sobre o papel baunilha pálido. Era algo que ele sempre fazia antes de começar uma nova obra ,um pequeno ritual. Ele adorava a textura suave, mas um pouco granulada do papel grosso de desenho. E a ação de tocar o papel em branco que ele logo marcaria com lápis ou tinta ou pinceladas era uma ação que o focava e concentrava como nada mais poderia.

Tirando o gorro e colocando-o em seu colo, Jongin deu uma olhada longa, estudando a janela antes de seu lápis começar a voar ...

 

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Tinha sido um longo dia de palestras e Kyungsoo só queria ir para casa e rastejar até sua cama e nunca mais sair. Mas ele tinha uma palestra às 18h e uma hora e meia para preencher, por isso ele colocou suas fantasias sobre seu colchão e travesseiro macios em espera enquanto ia em direção à sala de treino do terceiro andar para ensaiar para sua apresentação do Clube de Drama. Se ele estivesse realmente com sorte, a sala com o painel do vitral pode até estar vaga.

Kyungsoo abriu a porta cautelosamente e ficou feliz de não encontrar ninguém dentro. Foi arrumando suas folhas de música em um amontoado de mesas perto da janela quando avistou um pedaço de papel de cor creme pesado exposto no topo de uma das mesas dobráveis. Intrigado, ele o pegou cuidadosamente com as duas mãos para que o papel não amassasse no centro.

Era um delicado desenho a lápis de um anjo - o anjo da janela de vitral. E acima do desenho tinha sido escrito de forma simples, em letras pretas, fortes e artísticas:

 Para o menino que canta

Kyungsoo sentiu seu pulso acelerar. Ele estava aqui? A pessoa que tinha desenhado a bela criação em suas mãos? Seus olhos viajaram ao redor da sala, mas ele não podia ver ninguém. Então, quando seus olhos deslizaram sobre as pilhas de cadeiras na parte de trás da sala, viu a ponta de um all star azul marinho. Havia provavelmente centenas de alunos no campus usando all stars azul, mas o único par que ele  realmente tinha notado, foram os que Jongin usava.

Kyungsoo pensou sobre se ele deveria ir lá e vê-lo, porque ele realmente queria vê-lo - oh como ele queria ver Jongin. Mas Jongin , se realmente fosse Jongin, tinha escolhido  deixá-lo um desenho em vez de dizer 'oi' ,talvez ele não quisesse que Kyungsoo soubesse que ele estava lá. Ele só teria que confiar que Jongin iria aparecer no ponto de ônibus na quinta-feira à noite. Assim, ele ignorou sua necessidade de ver o outro garoto. Reunindo com força toda sua concentração, Kyungsoo dedicou tudo na uma hora que ele tinha para cantar à sua frente. Talvez fosse porque ele pensou que Jongin estava lá assistindo ele, mas Kyungsoo mal cometeu algum erro naquele dia e sua voz expressava ainda mais emoção do que normalmente quando ele fechou os olhos e sonhou com tatuagens e cabelo loiro e o menino na janela de ônibus ...

Poucos minutos depois que Kyungsoo saiu da sala, Jongin levantou-se de seu esconderijo. Ele tinha guardado seus materiais de arte e agora estava balançando os dedos e o pulso da mão direita - doloridos depois de uma hora e meia de trabalho quase ininterrupto. Enquanto caminhava passando as cadeiras onde Kyungsoo havia cantado de forma tão linda, Jongin parou no meio do passo quando ele vislumbrou uma folha de papel de nota azul-alinhado em uma das mesas dobráveis. Seu estômago em nós, Jongin pegou e leu as palavras escritas em um surpreendentemente rabisco desarrumado:

Para o garoto que desenha

Obrigado

(617) 418-1418

E, em seguida, a sala tranquila foi preenchida com os sons da solitária e quente risada gutural de Jongin.

 

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Kyungsoo não tinha visto qualquer sinal de Jongin desde quinta-feira passada e  não tinha recebido mensagens no seu celular também. Ele tinha seu número há dois dias, por que não tinha enviado mensagens ou ligado? Talvez não tivesse sido Jongin na sala na terça-feira na verdade, ele suspirou desanimado. Ou talvez ele não tivesse visto o bilhete que ele deixou? E se ele não viesse para o ponto de ônibus? E se ele nunca mais o visse? E, oh, Deus, por que ele estava agindo como uma adolescente apaixonada?

Apesar de seus pensamentos mexidos e inseguranças, Kyungsoo manteve seu rumo e continuou a pisar seus pés na calçada. Quando o ponto de ônibus finalmente apareceu em sua vista ele arfou baixinho quando viu uma figura longa, magra encostado na parede clara, do abrigo do ponto de  ônibus. A iluminação dos postes era fraca, mas Kyungsoo poderia facilmente visualizar o cabelo loiro e os intrincados desenhos sobre o pescoço do menino.

“Hey” Jongin sorriu.

“Hey” Kyungsoo respondeu.

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