Overture

Stained Glass - PT

                                                                          You hold me without touch        Você me segura sem tocar

You keep me without chains       Você me mantem sem correntes

I never wanted anything        Eu nunca quis alguma coisa

                                                              so much than to drown in your love        tanto quanto afogar no seu amor

                                                                                  and not feel your rain        e não sentir sua chuva

 

[letra de Gravity – Sara Bareilles]

Partículas de pó flutuavam preguiçosamente pelo ar como a luz do sol de outono entrava pelas janelas com vitrais - cobrindo o chão de madeira golpeado com uma colcha de retalhos de cores vivas e luz vibrante. O único som na sala era o de lápis ébano em suave papel de desenho. Seu caderno de desenho equilibrado em um joelho, Jongin encostou-se à parede, uma perna esticada à sua frente dele. Sua mão direita se movia suavemente sobre o papel, criando uma rede intrincada de linhas. Não demorou muito para que os traços de lápis meticulosamente trabalhados começassem a assemelhar-se ao contorno da janela em sua frente.

Jongin não era paciente com a maioria das coisas na vida, mas quando se tratava de desenho, ele se fez desacelerar , se concentrar e tentar se conectar com qualquer coisa que estivesse desenhando - ele raramente desenhava pessoas, porque  elas eram muito incômodas. Elas pediam por comida, bebida, e às vezes até mesmo dinheiro. Mas o pior era quando queriam conversar. Jongin apenas queria desenhar - não precisava das outras encheções de saco. Tinha sido mais fácil apenas parar de desenhar pessoas depois de um tempo. Ele preferia capturar coisas bonitas no papel e ele tinha um fascínio especial por janelas e luz. Então, quando  descobriu esta sala de ensaio abandonada há vários dias e viu os vitrais, sabia que voltaria aqui. Não importa o quê, ele tentaria recriar esses blocos  vermelhos, azuis, verdes e champanhe de vidro; ele tentaria recriar os anjos estilizados ali retratados. Não importa o que.

Jongin nunca se apressava quando desenhava, porque sabia que correr significava erros e erros significavam tempo desperdiçado consertando as linhas bagunçadas. Então, seu corpo instintivamente desacelerava quando ele pegava um lápis de desenho. Ele estava cuidando de uma leve ressaca de alguma bebedeira que tinha participado na noite anterior, mas ele nunca deixa o desconforto físico ficar no caminho de sua técnica de desenho. Ele desenhava cuidadosamente em uma área de moldura da janela quando seu lápis de repente parou de se mexer, pairando acima do papel.

Era a voz mais difícil de ignorar e melodiosa  e que ele já escutou. Deixando sua mão cair silenciosamente no chão ao seu lado, Jongin fechou os olhos e deixou a musica desconhecida e notas  tomarem conta dele. A voz do cantor invisível era clara , pura e rica e parecia de alguma forma insinuar-se, e preencher cada fissura invisível e cada fenda de seu coração há muito tempo endurecido...

Something always brings me back to you    Algo sempre me traz de volta para você

It never takes too long     Nunca demora muito

            No matter what I say or do     Não importa o que eu diga ou faça

                  I still feel you here 'til the moment I'm gone         Eu ainda sinto você aqui até o momento que vou embora

You hold me without touch        Você me segura sem tocar

  You keep me without chains       Você me mantem sem correntes

  I never wanted anything        Eu nunca quis alguma coisa

so much than to drown in your love      tanto quanto afogar no seu amor

and not feel your rain        e não sentir sua chuva

Set me free, leave me be     Me liberte,me deixe estar

I don't wanna fall another moment into your gravity    Eu não quero cair novamente em sua gravidade

Here I am and I stand so tall      Estou aqui e me ergo bem alto

I'm just the way I'm supposed to be      Eu sou apenas do jeito que deveria ser

But you're on to me and all over me     Mas você esta em mim e ao meu redor

 

Ele não sabia as palavras ou a música, mas algo sobre a voz do cantor e as palavras da canção chamava uma parte dele que  pensou que tinha sido enterrada a muito tempo. Ele não tinha certeza se queria que essa parte voltasse à vida novamente, mas não conseguia mais parar de ouvir aquela voz do mesmo jeito que não poderia parar seu corpo de levar oxigênio para seus pulmões. Assim, ele ignorou sua cabeça, que estava dizendo a ele para colocar seus fones de ouvido e bloquear a voz aveludada e angelical com o vocal alto e furioso de Korn em Let's Get this Party Started ou talvez Rage Against  the Machine  em Killing In The Name Of. Qualquer coisa, menos isso. Mas o coração de Jongin poderia ser uma coisa teimosa e ambos iPod e fones permaneceram em seu bolso enquanto ele permitiu que as palavras infiltrassem em sua consciência:

You hold me without touch        Você me segura sem tocar

You keep me without chains       Você me mantem sem correntes

I never wanted anything        Eu nunca quis coisa alguma

so much than to drown in your love        tanto quanto me afogar no seu amor

and not feel your rain        e não sentir sua chuva

 

Jongin quase nunca tomou qualquer interesse em outras pessoas e suas vidas, então ele não poderia explicar por que ele precisava saber como era o cantor. Não era o seu jeito de forma alguma - o que ele estava fazendo mesmo? Cuidado para não fazer barulho, Jongin esticou o pescoço para o lado para que ele pudesse vislumbrar o dono daquela sublime voz . A cantor, obviamente, não tinha notado Jongin sentado na parte de trás, obscurecido atrás de pilhas de carteiras arrumadas , e Jongin queria que continuasse assim.

 

Ele não era muito alto. Pequenos ombros, quadris estreitos. Mas a voz rouca, melodiosa e poderosa que projetava daquela delicada figura era tudo menos pequena. Cabelo liso e escuro, caia sobre sua  testa pálida, apenas encostando no par de sobrancelhas fortes. Seu nariz era bem definido e proporcional e seus lábios eram grossos de uma forma quase sensual. Finalmente, Jongin estudou seus olhos - ele sempre deixa olhos de uma pessoa por último porque eles lhe diziam mais sobre a pessoa e na maioria das vezes, Jongin realmente preferia não saber nada sobre as pessoa. Os grandes olhos do garoto eram do tipo que poderiam olhar diretamente em sua alma se você deixasse, e Jongin sabia que ele nunca poderia conhecer esse cara face-a-face, porque ele não seria capaz de suportar esse olhar. Seus olhos brilhavam com sinceridade e bondade e alguém tão gasto como Jongin não tinha porquê chegar perto de alguém assim.

Completamente inconsciente de que estava sendo observado, o cantor olhava para algumas folhas de papel enquanto ele cantava a delicada melodia, seus olhos se fechavam de vez em quando. De pé a cerca de 6 metros de distancia da janela, o menino continuou a cantar a canção de novo e de novo, memorizando as letras e as notas - hesitando as vezes quando ele esquecia as palavras ou quando ia um pouco fora do tom. Enquanto ele estava ali, banhado pela luz dos vitrais de anjos, Jongin estudou-o. Ele observou, hipnotizado, enquanto o garoto fechava os olhos e emoção impregnava suas expressões:

Set me free, leave me be     Me liberte,me deixe estar

I don't wanna fall another moment into your gravity        Eu não quero cair novamente em sua gravidade

 

Sentindo um pouco como se ele mesmo estivesse caindo, Jongin pegou o lápis e começou a desenhar ...

 

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Kyungsoo tinha inventado pelo menos sessenta maneiras diferentes de matar Kim Minseok, porque era sua culpa que Kyungsoo agora tinha que reservar pelo menos duas a três horas por semana para ensaiar uma canção que ele teria que apresentar solo na frente de uma platéia. Solo! E ele tinha sérios problemas com medo de palco. Era tranquilo quando estava cantando em um grupo, como com a igreja ou coro estudantil; mas quando Kyungsoo tinha que ficar sozinho em um palco com os holofotes sobre ele, sempre era possuído pelo pânico e precisava de toda sua determinação apenas para ficar em pé lá e tentar fazer as palavras saírem. Então foi por isso que ele atualmente queria acabar com a vida de Minseok.

Seu melhor amigo de seis anos, Minseok sempre conseguiu convencê-lo a fazer as coisas que ele realmente não queria fazer e não têm tempo para fazer- desta vez, acabou sendo se apresentar para o Festival da Noite do Clube de Drama. A próxima vez que Minseok tentar arrastá-lo para outro projeto, Kyungsoo iria ser firme e dizer a ele para cair fora. Ele só ... tinha que descobrir como fazer isso. Mas ele descobriria. De alguma forma. Talvez. Quem ele estava tentando enganar ?! Ele nunca seria capaz de dizer não a Minseok. Fazendo um ruído de desgosto em sua cabeça, Kyungsoo trouxe sua atenção de volta para Sara Bareilles '' Gravity 'e tentou não pensar sobre como ele teria que cantar na frente de 200 pessoas dentro de um mês. Solo. Deus o ajude.

A janela de vitral projetava lindas sombras   no chão e ,praticamente enfeitiçado por sua beleza, Kyungsoo teve que forçar-se a voltar para o maço de papéis diante dele. Ele tinha sido tão sortudo de encontrar esta sala de ensaio, e ainda mais sortudo por encontrá-la vazia- justamente quando ele precisava. Mas ele não conseguia entender por que ele estava cometendo tantos erros hoje. Ele sabia bem a canção, ele a amava na verdade, então por que ele estava cometendo tantos erros? Não havia ninguém ali além dele,  então por que ele não conseguia se concentrar? Balançando a cabeça frustrado, Kyungsoo mergulhou nas folhas de música, tentando não se distrair com a forma como o chão parecia ter sido espirrado inteiramente com brilhante cores aquarela.

Enquanto isso, em outra parte da sala, um lápis se movia com confiança sobre o papel ...

 

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Era quinta-feira à noite, e Jongin sempre jogava sinuca com Kris e Tao nas noites de quinta. Crawling do Linkin Park estava tocando no fundo e enquanto Jongin normalmente gostava da música, a voz de Chester Bennington apenas ralava em seus nervos hoje à noite. Imagens de um menino  cantando em sombras de vitrais começaram a se infiltrar em sua mente e Jongin rapidamente expulsou-as. O ar estava branco com fumaça de cigarro e fedia com o odor agridoce de cerveja derramada. Eles só tinham estado ali por meia hora e Jongin já queria sair. Tudo era sempre o mesmo.

Era sempre o mesmo bar - que o primo, Ace,  de trinta e poucos anos de Kris era dono. Ele era chamado, surpresa surpresa, Casa do Ace. O homem podia ser generoso com o seu álcool, mas não era muito grande na imaginação. Era sempre a mesma garçonete. Lauren, muito maquiada, com curvas e 27 anos, já tinha dado em cima de Jongin uma vez esta noite, acariciando seu pescoço e oferecendo para levá-lo para jantar quando ela não estivasse trabalhando. Ele tinha estremecido logo que suas unhas vermelhas entraram em contato com sua pele tatuada. Já era ruim o suficiente quando as pessoas o tocavam, mas ele odiava especialmente quando as pessoas o tocavam sem aviso prévio. Ela tinha uma coisa por suas tatuagens e o dizia toda vez que o via. Ela tentou sua sorte com ele cada vez que eles vinham aqui - não importava se os funcionários não eram autorizados a sair com os clientes e não importava se Jongin   havia deixado bem claro que ele não estava interessado. Ele realmente tinha que parar de vir aqui.

Kris e Tao foram contornando a mesa de sinuca lentamente, medindo ângulos e batendo quadris indiscretamente enquanto gravitavam um em volta do outro. Jongin tinha assistindo os dois lançarem faíscas um no outro por meses - ele queria que eles  transassem de uma vez para que todos pudessem seguir com sua vidas. Ele assistiu com indiferença como a brasa laranja escuro queimava no final de seu Marlboro, observava como as ondas brancas de fumaça com cheiro de nicotina dançava em sua frente. Até mesmo a nicotina inundando seus pulmões lhe ofereceu pouca diversão essa noite.

Com um movimento entediado de seus olhos, ele se virou para sua Corona, que estava suando delicadamente sobre a mesa redonda desgastada. Empurrando a fatia de limão dentro da garrafa, ele tomou um gole da cerveja e se virou para olhar para fora da janela enquanto o amargo líquido dourado pálido bateu no fundo da sua garganta. Tinha uma parada de ônibus bem em frente ao bar e as pessoas estavam entrando no veículo. Conforme o ônibus ia embora, Jongin percebeu uma figura saltando das sombras. Ele estava correndo nas pernas não muito longas - mochila balançando contra suas costas, e ele só parou quando percebeu que o ônibus tinha se misturado com o tráfego e não tinha esperança de chamar a atenção do motorista. Frustração estava estampada por todo o corpo do menino quando ele levantou os braços e gritou algo que parecia ... um explosivo ‘Aish! '. Então ele abruptamente se sentou no banco da parada de ônibus e olhou seu relógio.

Jongin não podia vê-lo claramente do outro lado da estrada, mas ele viu o suficiente para convencê-lo de que era o menino da sala de ensaio. Aquele com a voz de um anjo. Sr. Me-Liberte. Fazia dois dias desde que ele o tinha visto pela primeira vez, mas ele não tinha sido capaz de expulsar seu rosto e voz de sua mente. Ele se virou para olhar Tao e Kris flertando sobre seus tacos; em seguida, ele se virou para olhar para o rapaz sentado sozinho no ponto de ônibus. Chegando a uma decisão, ele deu uma última tragada no cigarro e apagou-o no cinzeiro cheio.

 

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Kyungsoo acelerou na esquina bem a tempo de ver as luzes da parte de trás do ônibus insultando-o quando fundiu-se com o tráfego. "Aishhh!" Kyungsoo fez um som e gesto de frustração antes de se sentar no banco, inquieto com  aborrecimento. Não haveria outro ônibus nos próximos trinta minutos! Se não tivesse se oferecido para ajudar o diretor do Centro Comunitário com os trabalhos extras de limpeza, ele não estaria abandonado aqui no escuro. Sozinho. Droga, ele estava sozinho. No escuro. Sozinho. Completamente sozinho.

Kyungsoo sempre ficava receoso quando tinha que estar em qualquer lugar escuro e deserto e ele estava se afogando em um oceano de arrependimento porque ele tinha feito aulas de coro no ensino médio em vez de karatê. Ele tinha plena certeza de que não poderia cantar até que alguém se submetesse à ele se tentassem assaltá-lo. E enquanto estava chutando-se mentalmente, alguém se sentou ao lado dele no banco. Como ele poderia ter ficado tão distraído a ponto de não notar alguém se aproximando? Ele poderia ter sido assassinado fácil assim, enquanto estava ocupado lamentando sobre suas escolhas de vida.

Ele não conseguia ver o rosto do estranho, mas em sua visão periférica, ele podia ver que todo o pescoço do rapaz era mapeado com elaboradas tatuagens.  Ele tinha cabelos loiros e um gorro de cor escura. O odor de fumaça de cigarro se agarrava a roupa do cara, formigando desagradavelmente nas narinas de Kyungsoo. A luz era muito ruim então ele não poderia ter certeza, mas talvez tenha visto um piercing no lábio do rapaz. De qualquer maneira, Kyungsoo tinha visto o suficiente para acelerar seu pulso e apertar seu estômago com medo reprimido.

 Disse a si mesmo com firmeza, NÃO ENTRE EM PÂNICO.ELE NÃO É UM PSICOPATA TATUADO QUE VAI TE ROUBAR E TE DEIXAR MORTO POR AÍ. Quem ele estava tentando enganar? O cara tatuado era totalmente um psicopata que iria  roubá-lo e matá-lo e ele nem tinha tido a chance de dizer adeus a seus pais. Ele estava tão ferrado. Adrenalina percorreu os músculos de seu corpo compacto e ficaram tensos, preparando-se para correr. Os olhos dele estudaram os arredores e viram o sinal néon azul e rosa do outro lado da rua: Casa do Ace. Havia pessoas dentro do bar. Refúgio! Ele tinha que, de alguma forma ,chegar até aquele bar.

Conforme os calcanhares de Kyungsoo se levantaram do chão e o resto dele se preparava para seguir, o desconhecido disse: "Você estuda no Garnier, não é?" Kyungsoo sabia que deveria ter corrido, mas algo sobre aquela voz de chocolate tranquila o fez ficar. O bom senso e a voz irritante de sua mãe lhe disse que ele não deveria estar tendo uma conversa com um estranho tatuado, mas por razões desconhecidas até por Kyungsoo , ele ficou mesmo assim.

"Sim, eu estuno no Garnier. Você estuda lá também?" Kyungsoo imaginou que ele deveria frequentar a mesma faculdade de Artes.

“Estudante de Artes Visuais”

"Oh. Eu faço Música . Hum ... Nós não nos conhecemos, não é?" Kyungsoo perguntou nervosamente enquanto ele tentava não encarar as tatuagens intrincadas que adornavam as costas da mão do menino. Ele deu uma risada baixa e se virou para olhar para Kyungsoo. Tinha uma mandíbula masculina, olhos sonolentos, e as maçãs do rosto esculpidas, e tudo apenas se adicionava para criar um rosto perigosamente atraente. Kyungsoo estava  estranhamente intrigado demais com o rosto do estranho.

"Puts, não. Não, nós não nos conhecemos. Mas eu vi você por aí." Ele tinha um jeito de falar que atraiu Kyungsoo da forma mais estranha.

"Eu sou Kyungsoo." A simpatia natural de Kyungsoo veio à tona quando ele sorriu e se apresentou - embora um pouco nervoso.

"Jongin." O menino deu uma espécie de semi-sorriso. Kyungsoo imaginava que pessoas como Jongin não sorriam adequadamente de qualquer maneira, porque não era uma coisa descolada ou intimidadora de se fazer. E, em seguida, ambos ficaram quietos porque - o que havia para se dizer, realmente? Mas o silêncio não era exatamente desconfortável. Era apenas ... silêncio, Kyungsoo pensou. Agora, se ele conseguisse pelo menos se segurar para não perguntar coisas estúpidas que poderia levá-lo a ser espancado, ou pior, morto.

"Então, como você ...?" Kyungsoo apontou para o próprio pescoço desajeitadamente e gemeu interiormente. PORQUE ELE SEMPRE FAZIA AS PERGUNTAS IDIOTAS NOS PIORES MOMENTOS?

 "Você quer dizer as tattoos?" Jongin pareceu surpreso e então riu, "Eu acho que ninguém nunca me perguntou isso."

"Eu não tive a intenção de perguntar! Eu estava pensando em voz alta e ... posso desperguntar a pergunta porque foi rude e invasivo e podemos apenas fingir que eu não perguntei, por favor?" Kyungsoo sentiu-se murchando de vergonha conforme as palavras saíam de forma apressada, em pânico.

 "Eu não vou te machucar, então apenas relaxe, ok?"

"Eu não disse que você ia me machucar." Kyungsoo disse rapidamente.

"Você não precisava." Jongin riu novamente. Ele parecia achar Kyungsoo muito engraçado. "Eu tinha 18 anos e era estúpido. Meus amigos foram todos fazer uma então eu fiz  também."

"Mas é tão grande, por que você faria uma desse tamanho se estava fazendo apenas por causa do seus amigos? Você estava em uma gangue? Eu estou fazendo isso de novo ... Por favor ignore esta última pergunta. Desculpa."

"Não, está tudo bem. Eu não estava. Não estava em uma gangue, quero dizer. Mas nós fizemos umas merdas realmente idiotas na escola. Sobre a tatuagem, bem, você não pensa o mínimo suficiente quando tem 18. Eu realmente me arrependi enquanto estava pintando porque doía pra caralho. E eu tive que voltar lá algumas vezes porque foi todo o meu pescoço e braço esquerdo. "

"Mas e seu peito, costas e  outro braço?" Kyungsoo parecia curioso, em vez de julgar e Jongin gostava disso. Ele gostava bastante. Não importa quão surreal era estar sequer discutindo suas tatuagens com um completo estranho em uma parada de ônibus em primeiro lugar.

"Eu tinha sentido dor suficiente a essa altura. Além disso, eu fiquei sem dinheiro." Lá estava risada baixa novamente.

"Eu provavelmente não teria sequer conseguido passar da letra E. Eu tenho tolerância zero para a dor." Kyungsoo apontou para tatuagens no dedo de Jongin que pareciam soletrar E-X-I-T em caligrafia angular.

"As endorfinas entram em ação depois de um tempo e não dói tanto."

"O problema seria me fazer concordar em  deixar alguém perto de mim com uma agulha ,em primeiro lugar."

 "Sim ... Você realmente não parece do tipo que faz tatuagens." Jongin disse e Kyungsoo riu.

"Não. Não, eu definitivamente não sou do tipo que faz tatuagens."

 "Então por que você está aqui fora tão tarde? Eu nunca vi você por aqui."

"Bem, eu ,normalmente, estaria a caminho de casa nesse horário, mas eu perdi o ônibus das 21h30. Ajudo no centro comunitário em Carrington Street, com as aulas de canto."

 "Isso paga bem?"

 "Não. É um centro comunitário - eles não podem pagar muito, mas eu gosto de ensinar. Oh Deus, isso soa tão ridículo..."

Antes que Jongin pudesse responder, houve uma súbita explosão de barulho quando as portas do bar se abriram. Dois corpos masculinos, altos sairam em direção à calçada e Jongin sorriu em reconhecimento - eram Tao e Kris. Os postes de luz refletiam fracamente em seus cabelos loiros espetados conforme eles cambaleavam ligeiramente ao longo da calçada. Eles deviam ter bebido algo mais forte do que cerveja depois que ele saiu. Os dois rapazes estavam andando pelo beco quando Kris inesperadamente o entrou, arrastando Tao pelo cotovelo.

"Oh." Kyungsoo fez um pequeno som de surpresa quando suas bocas se fundiram em um beijo tórrido. Deve ter parecido sórdido, um beijo entre dois homens em um beco escuro ... e ainda assim não havia nada desagradável no beijo. Apenas parecia ardente. Apaixonado. Suas bocas perseguiam uma a outra e suas mãos ... Kyungsoo não queria saber o que suas mãos estavam fazendo e ele rapidamente desviou o olhar, sentindo-se envergonhado de si mesmo por se intrometer em um momento tão particular. No minuto em que ele desviou o olhar do encontro íntimo do beco, seus olhos encontraram os de Jongin. O outro garoto estava observando-o atentamente.

"Eu ... hum. Eu não estava esperando que se beijassem. Eu não pretendia assistir." Kyungsoo gemeu por sua incrível capacidade de dizer as piores coisas nos piores momentos. Por que ele não poderia apenas aprender manter a boca fechada?

 "Eles são meus amigos. Tao e Kris." Jongin mal tinha visto seus amigos se beijarem - ele ficou muito cativado pelas emoções nuas passando pelo rosto expressivo de Kyungsoo. Surpresa. Dúvida. Admiração.  E, finalmente, o constrangimento. O que Jongin não tinha visto, porém, eram sinais de aversão ou repulsa. E ele gostava de Kyungsoo ainda mais por isso.

"Então suponho que eles estejam namorando, né?" Kyungsoo disse um pouco envergonhado.

"Não estavam quando eu deixei o bar há dez minutos." Jongin disse ironicamente e tirou o gorro  bagunçando seu cabelo dourado pensativo. "Mas eles estão trabalhando nisso há meses - Eu nem sei por que levou tanto tempo para chegarem nessa fase, negação, eu acho.". Bem, isso foi apenas outra coisa estranha de estar discutindo com um estranho em uma parada de ônibus, mas Jongin nem estava mais surpreso.

Kyungsoo observava disfarçadamente enquanto Jongin puxava o gorro cinza carvão de volta e cobria a maior parte de seu cabelo loiro. De qualquer maneira que olhava para ele, achou Jongin fascinante e isso deveria preocupá-lo porque ,alô? Tatuagens, piercings - e quem saberia quais outros piercings não-vistos ele poderia ter? E desde quando Kyungsoo achava tatuagens atraentes? Antes que ele pudesse se questionar mais, porém, Jongin perguntou-lhe sobre o seu curso e por que ele tinha escolhido o programa vocal e conversaram com facilidade até o ônibus das 21h50 se aproximar do ponto de ônibus.

“Bem, esse é o meu”

"Meu também." Jongin mentiu. Ele não sabia em que parte da cidade ele acabaria e como faria pra chegar em casa a partir de lá, mas  não se importava muito no momento. Ele só sabia que ele queria passar mais tempo com Kyungsoo e assim ele embarcou em um ônibus que ele não deveria sequer ter entrado. Era tarde, então havia muitos lugares vazios no ônibus e Kyungsoo se sentou em um banco do lado da janela - ele sempre se sentava no banco da janela, se pudesse escolher, porque ele gostava de olhar para o mundo e imaginar como as pessoas viviam suas vidas. Jongin pensou em perguntar se estaria tudo bem se ele se sentasse ao lado de Kyungsoo mas no final simplesmente deslizou casualmente ao lado dele, suas coxas vestidas de jeans quase se tocando. Retomando de onde pararam, Jongin e Kyungsoo conversaram sobre tudo e sobre nada até que chegaram a parada de Kyungsoo ,cerca de 15 minutos depois.

"Você vai estar naquele ponto de ônibus na próxima quinta-feira?"

 "Sim, com certeza estarei. Toda quinta-feira. Mas eu costumo pegar o ônibus das 21h30."

"Talvez nos encontremos, então?"

"Seria legal" Kyungsoo sorriu para ele enquanto se levantava. Jongin virou seu corpo de modo que seus pés ficassem no corredor e Kyungsoo poderia se espremer para passar por ele. As coxas de Kyungsoo encostaram brevemente contra o ombro esquerdo de Jongin e a ligeira pressão era ... boa. Boa não era uma palavra que existia no vocabulário de Jongin mas parecia a palavra certa para descrever a rápida sensação de ter o corpo de Kyungsoo em contato com o seu.

Jongin deslizou para o banco da janela e olhou para fora. Kyungsoo estava descendo do ônibus e virou à esquerda, inadvertidamente, indo na direção da janela de Jongin. Ele logo avistou Jongin observando-o através do vidro manchado, e ergueu a mão para acenar para ele. Jongin levantou a mão e, após um momento de hesitação, colocou a palma da mão contra o vidro. Kyungsoo parou de andar e só encarou  ele através do vidro, uma expressão pensativa no rosto. Jongin olhou de volta, os olhos intensos e os lábios sem sorrir. E, em seguida, o ônibus estava se movendo, e pela segunda vez naquela noite, Kyungsoo assistiu um conjunto de luzes traseiras a distância, à deriva, mais e mais longe dele.

Dentro do ônibus, Jongin xingou em voz baixa. Por que esse menino o afetou tão profundamente? Ele era o completo oposto de tudo que  conhecia e ele deveria ficar bem longe dele. Havia algo intrinsecamente puro sobre Do Kyungsoo e Jongin não tinha o direito de bagunçar a inocência daqueles olhos arregalados. Mas Jongin conhecia seu coração - o que restava dele pelo menos - e ele nunca foi do tipo de ouvir a sua cabeça, e esperava que não acabasse machucando o garoto. Era a última coisa que  queria. Ele realmente precisava ficar longe dele. Arrastando sua palma cansadamente pelo rosto, pegou o celular e ligou para o segundo contato.

"Kris, vocês ainda estão naquele beco?"

 "Que porra é essa, Jongin? O que você viu?"

"O suficiente. Então, eu meio que preciso de um favor - você pode me buscar? Eu estou meio sem recurso". E Jongin segurou o telefone longe de sua orelha por alguns segundos enquanto Kris soltava uma série de palavrões. Então, calmamente, disse a Kris onde encontrá-lo antes de mover o telefone longe de sua orelha novamente quando Kris começou outro discurso.

"Certo, okay, obrigado. Então você vai vir me buscar, certo? Vejo você em breve. Sim, sim, eu sei que eu lhe devo almoço e jantar por isso. Droga, Kris."

 Quando ele guardou seu celular, ele olhou através da vidraça diante dele - tentando concentrar-se nas formas escuras e luzes multicoloridas da noite do lado de fora para que ele visse seu próprio reflexo, ou as imagens fantasma do menino que estava sentado no lugar em que ele agora se sentava.

 

 

 

 

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Muito obrigada para Adele por me deixar traduzir essa história que gosto tanto, ela é um amorzinho e espero não decepcionar :3

aqui é a expressão do Jongin quando ele olha para Kyungsoo da janela do ônibus,segundo ela

até o próximo capitulo ^~^

 

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