Nocturne

Stained Glass - PT

Kyungsoo e Jongin ficaram no parque até quase uma da manhã, coxas e ombros se encostando, os dedos entrelaçados, enquanto eles preenchiam algumas lacunas sobre a vida um do outro. Estava silencioso, tão silencioso, e os únicos sons eram as inclinações, altos e baixos de suas vozes roucas e os silvos metálicas dos últimos grilos de campo. Logo, o tempo seria frio demais para qualquer tipo de música dos insetos. O braço esquerdo de Jongin se sustentava sobre os ombros de Kyungsoo de uma forma que ele disse a si mesmo que não era possessiva, mas parecia muito como isso de qualquer maneira.

"Está ficando tarde. Eu acho que deveria ir para casa." Disse Kyungsoo, sua voz misturada com notas de pesar.

"Você pode ficar um pouco mais?" Jongin não disse 'comigo', mas podia sentir as palavras ecoando dolorosamente em seu peito.

"Talvez apenas um pouco mais, mas amanhã é sábado - Tenho ensaio do coro às 9 da manhã e quando eu tenho menos de 7 horas de sono, minha voz fica ruim. Eu estou no Garnier Choral Society, eu te disse?"

"Não, mas eu deveria saber que você seria um menino do coral," disse Jongin provocando.

"Não faça soar como algo ruim" Kyungsoo olhou para ele meio irritado.

"Eu não disse com essa intenção, eu juro. É só que você é faz o curso de Música. Não é muito difícil supor que você estaria no coral."

"Mas eu não gosto do termo 'garoto do coral'. Isso me faz sentir como se eu devesse estar vestindo túnicas brancas e agindo todo puro e inocente, com uma auréola brilhante sobre a minha cabeça. Isso não é quem eu sou."

"Hum ... Eu acho que pelo número de vezes que você me beijou, eu meio que percebi isso." Jongin riu, o riso tão profundo e baixo em sua garganta que fez Kyungsoo sentir como se uma centena de borboletas estivessem voando e batendo suas asas em sua barriga.

"Eu também não sou impuro." Kyungsoo resmungou, esticando suas pernas e olhando para seus pés.

"Eu nunca disse que você era." Jongin disse pouco antes de beijar com ternura Kyungsoo no lugar onde sua mandíbula encontrava as linhas pálidas e finas de seu pescoço. Kyungsoo se virou para ele , sua expressão intensa quando se inclinou para frente e pegou os lábios de Jongin com os seus. O ar frio da noite beliscou a bochecha e nariz dos dois, mas tudo que  notaram foi o calor enquanto  exploraram a boca um do outro, línguas flertando e provocando, um braço segurando outro.

No final, foi Jongin que se afastou. Se fosse qualquer outra pessoa, haveria algum intenso, mas impessoal tatear de mãos bobas e talvez um passeio rápido até uma cama disponível para uma transa sem alma. Mas este era Kyungsoo e ele não queria isso  com Kyungsoo. Ele realmente não sabia o que queria com Kyungsoo, ou o que queria dele. Mas Jongin sabia que o outro menino merecia mundos a mais do que o que tinha feito com outros caras no passado. De alguma maneira ele sabia que com Kyungsoo, ele não iria acordar sozinho na manhã seguinte - vazio e quebrado.

"Por que você me chamou pra sair hoje à noite, Jongin?"

"Eu não quero falar sobre isso, Kyungsoo. Sinto muito, mas ... Eu só não quero pensar sobre isso novamente. Nunca."

"O que eu quis dizer foi por que eu? Por que você veio atrás de mim?" Kyungsoo brincava com os dedos de Jongin enquanto observava-o atentamente.

"Eu não sei ao certo. Eu só queria vê-lo. Ninguém mais. Só você."

"Nós mal nos conhecemos." Kyungsoo traçou o ‘E’ preto no dedo indicador de Jongin.

"Não é sobre a quanto tempo nos conhecemos, Kyungsoo. Você me faz sentir como se todo o resto simplesmente parasse, e só existisse nós dois. E por um tempo, eu posso esquecer tudo o que está me perturbando." Jongin suspirou em frustração: "Eu não estou fazendo qualquer sentido."

"Eu acho que entendo." Kyungsoo disse suavemente antes de esfregar o nariz contra o pescoço de Jongin e suspirar quando o braço de Jongin o abraçou. Silenciosamente, sentaram-se lá por um tempo a mais, apenas deixando o mundo parar enquanto respiravam os aromas um do outro e memorizavam a forma como suas palmas sentiam-se uma contra a outra. Pele contra pele. Kyungsoo podia sentir o pulso de Jongin contra sua bochecha quando ele contraia ritmicamente sob as linhas escuras e delicadas da tatuagem de asas de anjo. Podia ouvir o barulho suave de ar quando Jongin descansou sua bochecha contra o topo de sua cabeça e suspirou com o que soou como alívio ... ou talvez mesmo felicidade.

 

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"Eu te busco às sete?" Jongin perguntou quando eles pararam na beira do gramado da frente de Kyungsoo. Ele havia estacionado sua moto no final da rua e caminharam até a rua tão silenciosamente quanto podiam. Kyungsoo concordou com a cabeça, sorrindo, e eles trocaram um beijo final prolongado antes dele  se dirigir para a porta da frente. Trancando a porta rapidamente, ele foi até a janela e olhou para fora nas proximidades. Jongin ainda estava ali, como uma sentinela - quase um anjo da guarda.

Um anjo tatuado.

 As palavras eram sussurros na mente de Kyungsoo e ele estremeceu na virada irracional e brega que seus pensamentos tinham tomado.     Balançou a cabeça - dizendo a si mesmo que realmente precisava dormir um pouco.

"Do Kyungsoo." Kyungsoo endureceu assim que seu pé direito estava prestes a pisar no primeiro degrau.

"Umma, você está aqui." Chocado com a presença inesperada dela na semiescuridão, foi o melhor que Kyungsoo conseguiu pensar. Quando ela surgiu das sombras, Kyungsoo percebeu sua testa franzida e sua boca contorcida e sabia que teria que aguentar agora.

"Quem era aquele garoto que você acabou de beijar?"

"Ele é ... alguém da faculdade. Ele faz Artes Visuais". Kyungsoo disse cautelosamente e se preparou para uma palestra longa e barulhenta sobre por que ele não deveria estar beijando meninos cobertos de tatuagens. Pelo menos sabia que não seria uma palestra sobre beijar garotos em geral, porque já tinha sobrevivido a essa palestra de dez dias, quando tinha dezessete anos. Fazia quatro anos desde que sua mãe tinha descoberto sua orientação ual e ela tinha aceitado há muito tempo. Ela aceitou, relutantemente, depois que percebeu que nenhuma quantidade de discussão iria convencer seu filho que ele gostava de garotas.

"Quem são os pais dele? O que eles fazem?"

"Eu não faço ideia?" Kyungsoo estava confuso, onde estava a palestra sobre tatuagens?

"Você não tem idéia sobre a origem dele e  está beijando ele em esquinas escuras no meio da noite?"

"Com toda a justiça, Umma, estava muito bem iluminada e foi na frente da nossa casa, e não em uma esquina escura da rua."

"Não seja insolente comigo, Soo." Ela deu a ele um olhar temível, mas Kyungsoo podia sentir seus músculos gradualmente relaxando. Ela não estava mais chamando ele pelo nome completo. Aparentemente, ainda havia esperança para ele.

"Por que esse garoto tem o cabelo loiro? Será que ele não sabe que asiáticos parecem estúpidos com cabelo loiro?"

"Mas Umma, metade da indústria kpop tem cabelo loiro."

"Como eu disse, estúpidos." Ela revirou os olhos expressivamente antes de retomar seu interrogatório. "Por que você não me disse que saiu?"

"Era mais de dez horas e você estava dormindo. Eu não queria perturbá-la."

"E me deixar morta de preocupação durante uma hora e meia é ,de alguma maneira, melhor?" O sarcasmo praticamente escorria de sua voz e Kyungsoo sentiu que tinha cerca de 5 centímetros de altura.

"Eu achei que você me ligaria se precisasse de alguma coisa."

"Eu liguei para você quatro vezes, Soo."

"O quê? Você ligou? Mas o meu celular não tocou."

"Seu celular tocou. No seu quarto. Eu finalmente percebi durante a quarta chamada que eu podia ouvir ruídos do seu quarto. QUANTAS VEZES EU JÁ TE DISSE PRA NÃO SAIR DESSA CASA SEM SEU CELULAR?!

"Desculpe, Umma. Não foi de propósito. Eu estava com pressa." Kyungsoo foi lembrado da expressão perturbada de Jongin e seu pedido para ele descer rapidamente, e não tinha arrependimentos sobre esquecer seu celular. Kyungsoo nunca poderia se arrepender de Jongin. Suas orelhas iriam se recuperar da agressão que estavam prestes a suportar. Elas iriam se recuperar bem.

 

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Enquanto a moto de Jongin baleava pelas ruas desertas, sua mente parecia estar girando em círculos igualmente rápidos; e todos os círculos o levavam de volta para o garoto com a voz do anjo. Kyungsoo era o epítome de tudo que Jongin normalmente evitava nas raras vezes que saía com alguém. Ele não era gasto como Jongin. Ele não evitava se conectar com outras pessoas e suas vidas, e não rejeita intimidade como Jongin habitualmente fazia.

E, embora o passado de Jongin estivesse sujo com lances casuais que ele abandonava sem nenhum escrúpulo, ele sabia, sem dúvida que Kyungsoo não era o tipo de pessoa que você poderia facilmente abandonar sem olhar para trás. Sempre tinha sido tão cuidadoso para escolher as pessoas que estavam tão emocionalmente desconectadas quanto ele então não conseguia entender por que estava tão atraído por Kyungsoo. Tudo nele irradiava expectativas. Compromisso. Afeto. Tudo isso eram coisas que Jongin temeu e evitou por anos. Mas, apesar de sua cabeça estar lhe dizendo para correr o mais rápido que possível na direção oposta, seu coração se recusou terminantemente a ouvir e continuou a descongelar e ficar mais e mais conectado.

Enquanto caminhava na corda bamba entre não sentir nada e sentir tudo, Jongin deu um alto suspiro frustrado e acelerou ...

 

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"O que diabos tem de errado com sua voz?" Minseok perguntou quando eles saíram da sala de ensaio juntos. Eles tinham acabado de passar uma hora ensaiando Adieu, My Sweet Amaryllis. Era uma bela música acapela envolvendo apenas um pequeno número de cantores , Minseok e ele, ambos os tenores, tinha estado um ao lado do outro na formação como sempre ficavam.

"É uma longa história, mas a única parte que você precisa saber é que eu só tive 5 horas de sono. Você sabe o que isso faz com a minha voz."

"Idiota." Minseok reclamou.

"Não me chame de idiota. Umma já me chamou nada menos que onze vezes durante a palestra de uma hora que ela me deu às 2 da manhã. Eu não preciso de você me chamando de idiota também, Kim Minseok."

"Onde diabos você foi que fez a Omoni gritar com você às duas da manhã?  Isso tem algo a ver com aquele cara tatuado que faz Artes?" Minseok estreitou os olhos inteligentes.

"Esqueça isso." E então Minseok foi momentaneamente distraído quando Luhan apareceu do nada e abraçou-o por trás, braços em torno de seus ombros.

"Pare com isso!" Minseok falou irritado "As pessoas podem ver." Sua voz soava indignada mas Kyungsoo não perdeu a faísca de prazer em seus olhos antes que ele saísse da jaula dos braços de Luhan.

 "Como foi o ensaio?" Luhan perguntou alegremente enquanto passava um braço em volta dos ombros de Minseok e caminhou em ritmo acelerado com eles.

"Sem complicações." Kyungsoo disse.

"O de sempre, exceto que a voz de Soo estava ruim. E você sabe que Soo nunca deixa sua voz se destruir nos dias de ensaio." Minseok disse provocando.

"Interessante! Me conte mais!" Luhan disse curiosamente pouco antes de seu estômago começar a roncar alto "Ugh, eu não tive tempo para comer antes de sair de casa. Choco-pie, alguém? Não?" Ambos Kyungsoo e Minseok levantaram uma mão para indicar que não.

"Então gente, preciso de um favor. Mas eu vou precisar que vocês não julguem." Kyungsoo deixou escapar.

"Isso soa...ameaçador." Luhan franziu os lábios, pensativo antes de empurrar a Choco-Pie inteira em sua boca, pequenas migalhas de chocolate e biscoito caíam de sua boca estofada enquanto comia.

 "Eu preciso que vocês me busquem em casa esta noite e me deixem em outro lugar.”

"Bem, isso não soa nada suspeito." Minseok balançou a cabeça em descrença.

"Umma ficou um pouco exaltada esta manhã por isso é provavelmente melhor se ela me ver saindo com vocês. Eu quero dizer, ela conhece vocês desde sempre, e mais importante, vocês não tem cabelo loiro."

 "Ohoooo! Cabelo loiro! Espere, quem tem o cabelo loiro? Achei que você tinha saído com o cara tatuado na noite passada?" Luhan perguntou distraidamente enquanto abria a embalagem de outro Choco-Pie.

"O mesmo cara. Eu acho que as luzes da rua deviam estar muito fracas e estávamos muito longe da janela da sala. Umma nunca mencionou as tatuagens e eu espero que ela não descubra tão cedo."

"Ok, nós ajudaremos. Com uma condição. Temos que conhecer o cara tatuado". Minseok anunciou firmemente.

"Isso é chantagem!"

"Você quer a carona ou não? Quero verificá-lo eu mesmo, e ter certeza de que meu melhor amigo não está namorando um gangster ou um drogado ou alguém com um transtorno mental escondido."

 "Primeiro de tudo, nós não estamos namorando, embora eu esteja trabalhando nisso. E em segundo lugar, ele não é nem um gangster nem um viciado e ele é perfeitamente são. E mesmo se ele tivesse um transtorno, O QUE ELE TOTALMENTE NÃO TEM, você faz Artes Cênicas, Seok, NÃO psicologia."

"Ok, então talvez ele não tenha quaisquer problemas de sanidade ou vício, mas eu ainda quero ter certeza de que ele não tem piolhos ou algo igualmente nojento." Os lábios de Minseok foram fixados em uma linha com determinação.

"Ei!" Kyungsoo golpeou o braço de Minseok com uma pilha enrolada de partituras.

"O queeeê? O cara é coberto de tatuagens! Eu esperaria sua higiene pessoal ser duvidosa na melhor das hipóteses."

"Não há nada de errado com a higiene pessoal dele. E ele não tem piolho!" Kyungsoo disse, quase ferozmente.

"E como você sabe disso?" Xiumin arqueou uma sobrancelha muito curiosa, e observou Kyungsoo da mesma maneira que um falcão  persegue sua presa.

"Eu só sei." Kyungsoo disse teimosamente. E ele firmemente manteve contato visual com Minseok em vez de olhar para longe como ele normalmente teria feito.

"Eu só sei? Essa é a sua resposta? Você tem que estar brincando comigo, Soo! Essa é a pior resposta que eu já ... espera! Vocês dois ficaram? É assim que você sabe que ele é limpo? VOCÊS COM CERTEZA FICARAM! CERTO?! CERTO ?! "

"Luhan, por favor." Minseok agarrou-o pelos ombros e deu-lhe uma pequena sacudida, "Mantenha.A.Porra.Do.Controle" Em seguida, ele voltou sua atenção inabalável para Kyungsoo e perguntou calmamente: "Bem? Vocês dois ficaram?"

"Isso não é da sua conta...porra."

"Você acabou de xingar Minseok? Cara, eu quero conhecer o seu amigo tatuado. Se ele pode fazer você se levantar até contra Kim Minseok, eu definitivamente quero conhecê-lo. Vou até mesmo verificar a cabeça por piolhos como um bônus. "

 "ELE NÃO TEM PIOLHO, CARALHO!"

"Você xingou de novo!" Luhan cantou enquanto Minseok permaneceu em silêncio, com uma expressão preocupada no rosto.

 "Vocês vão me buscar às 6 ou o quê?" Kyungsoo suspirou cansado.

 

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Jongin acabou acordando meio-dia. Enquanto estava deitado lá, esperando seu corpo livrar-se dos vestígios residuais de sono, lembrou o tempo que ele passou com Kyungsoo na noite anterior e sorriu. Cambaleando em seu quarto por volta das duas e meia da manhã, Jongin estava tão exausto que só tinha tomado uma ducha apressada, vestido as roupas de dormir e desabado na cama. Só agora percebeu que vestiu a calça listrada de pijama. Ele estudou as estreitas listras pretas e pratas no tecido azul safira, e se perguntou como era a calça de pijama listrada de Kyungsoo. Era parecida com a dele? E então estava sorrindo novamente. Sendo bobo por causa de Kyungsoo. Mais uma vez. Que porra ele estava tentando fazer? Alguém como Kyungsoo não era para alguém como ele, e ele realmente deveria deixar o menino quieto, Jongin pensou. Mas pegou o telefone, de qualquer maneira.

Jongin: Ei, onde você está?

Kyungsoo: Cheguei em casa poucos minutos atrás, estava prestes a te mandar uma mensagem. Sobre esta noite, há uma mudança de planos.

Jongin: Quer dizer que você não pode ir?

Se Jongin fosse do tipo de usar emoticons, teria inserido uma cara triste no final da sua pergunta. Mas ele não era do tipo e então só esperou cautelosamente Kyungsoo responder ,na esperança de que ele não estava prestes a cancelar o encontro deles.

Kyungsoo: Eu posso ir! Só preciso que você me busque em um lugar que não seja minha casa.

Jongin: Você está bem? Aconteceu alguma coisa depois que eu saí ontem à noite?

Kyungsoo: Você poderia dizer isso. Umma nos viu e passou uma hora palestrando sobre por que beijar asiáticos loiros estúpidos nas esquinas é uma coisa idiota de se fazer. Uma! Hora! Inteira! ~~(>_<)~~

 Jongin: Asiáticos loiros estúpidos? Tenho até medo de perguntar.

Kyungsoo: Você está ocupado? Posso te ligar agora?

Jongin: Claro.

E enquanto Jongin esperava Kyungsoo ligar, podia sentir os lábios formando um sorriso. Sendo bobo por causa de Kyungsoo. Mais uma vez ...

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