Capítulo 2
TelepatiaBarulhos vinham do alto, assustadores para Hyoyeon. Para aos pés da escada expandindo a mente para alcançar o que estava acontecendo; tiravam coisas do quarto de Taeyeon. Ela sobe as escadas correndo, a mochila sendo dispensada nos degraus, tombando alguns, a meio caminho. Passa pela porta onde o pai a olha surpreso por esta chegar mais cedo. Então era assim que ele demonstrava querer confiança? Escolhe um dia em que Hyoyeon está longe para dar fim às coisas de Taeyeon?
Hyoyeon agarra sem piedade aquele estranho que larga no chão algumas roupas. O tom rígido do pai mandando-a parar não a comove. Coloca o homem pra fora do quarto e empurra o pai junto, trancando a porta. Seus pedidos para que abra a porta são em vão, a mente de Hyoyeon explode do lado de dentro, “Como pode jogar tudo fora? Quer fingir que ela nunca existiu? Que nada aconteceu?”
Os pensamentos vindos do pai parecem abrandar do outro lado da porta. “É claro que não, Hyoyeon. Mas nós temos que aceitar essa perda...”
“Cale-se!” Após a ordem, um ensurdecedor bloqueio se segue. O pai a chama, mas não encontra resposta ou qualquer campo de pensamento. Cansado, destruído, suspira, olhando um pouco envergonhado o homem que esperava por ordens pacientemente no corredor. “Podemos entrar em contato novamente outro dia?” Ele lhe devolve um sorriso pacífico. “Claro, usem o tempo que precisar. Não é uma perda fácil, sr. Kim.” Apertam-se as mãos em acordo e ele o observa descer a escada. Não, não é uma perda fácil.
No quarto, Hyoyeon bloqueia-se por fora e por dentro, cansando-se. Não permite que outros a leiam, não se permite ler ninguém. E de repente naquele silêncio auto-imposto no quarto de Taeyeon ela tem um insight. Era aquela a vida de Taeyeon dia após dia naquele quarto, aquele eterno silêncio e o não saber se tem alguém atrás da porta, ou o que dizem mesmo estando à sua frente. Aquele descontrole de emoções e pensamentos que todos têm acesso, mas em troca ganha apenas aquele vazio. E também de repente Hyoyeon se permite chorar, porque ela não suporta sentir-se em tal situação mesmo por aqueles míseros minutos ali dentro.
Enrola-se ao lençol de Taeyeon, acomoda-se em sua cama e molha seu travesseiro. Nunca antes tão intensamente presenciara as coisas do seu lado, e mesmo assim sabe que seu sofrimento não dura, pois seu silêncio é voluntário. O de Taeyeon não o era. Era verdade não ser possível tirá-la daquele poço em que se encontrava? Qual a utilidade, Deus, de criar alguém assim, incapaz de ser ajudado?
Ouve aos poucos a chuva batendo na janela, e lembra de como aconchegava Taeyeon sob uma coberta para que não sentisse frio. Chora em lembranças, mas também lembra que Taeyeon fazia um sinal para a coberta. Lembrança tão distante que Hyoyeon quase a esquecera. Taeyeon deixara tal sinal, pois os pais não apoiavam que ela não se esforçasse por usar a mente. Hyoyeon pensa novamente, Taeyeon é a chave.
Adormece sentindo o aperto no peito e o cansaço das lágrimas. Acorda horas depois, sentindo o corpo quebrado e as coisas em casa mais calmas. Aparentemente seus pais já dormiam. Seus pais. Reconhece agora serem os únicos parentes que lhe restaram naquela casa e isso quase a faz chorar novamente. Ah, sente-se tão fraca.
Claro, os pensamentos suicidas de Taeyeon não eram nenhuma novidade. A vigilância havia sido triplicada por isso, Hyoyeon havia intensificado suas tentativas por isso. Pelo visto havia sido apenas um peso a mais. Naquela noite ela não vira nenhum pensamento suicida. Distraída? O pensamento lhe passou despercebido? Taeyeon havia aprendido a ocultá-lo? Havia sido algo de último momento? Não sabia dizer, as perguntas lhe correm sucessivamente sem encontrar respostas.
Levanta-se levemente sobre o colchão, um cotovelo apoiando o peso do corpo. Olha aquele quarto abandonado sentindo talvez ser tortura permanecer ali, não querer desfazer-se dele, mas ali havia a resposta para Taeyeon em algum lugar. Aquele quarto era o mundo da irmã. Desce da cama deixando o lençol arrastar pelo chão, olha para todos os lados enxugando um pouco o rosto e pensando por onde começar.
Joga-se ao armário e procura em meio às roupas por algo, cada peça que vira Taeyeon usar, cada uma que sabia o quanto gostava ou odiava. Com frequência a mãe comprava roupas para Taeyeon, não a levava. E Hyoyeon sabia do gosto da irmã por coisas mais neutras ao invés daquelas peças rosas com bichinhos fofos na frente como aquela blusa que pega agora. Descarta como o restante, os olhos vermelhos dificultando imensamente sua tarefa.
Passa à sua cama, debaixo da cama, gavetas do criado-mudo. Encontra apenas folhas de papel ofício contendo palavras desorganizadas e escritas à força contra o papel. A severidade das linhas e seu descuido mostrando o estado emocional da pessoa que o escreveu, provavelmente em um acesso de raiva ou desespero. E Hyoyeon senta-se no chão, recostada à cama, com aquele papel em mãos a morder a boca, porque Taeyeon ali grita com os pais e grita com ela também. Não aguenta o silêncio em que vive, silêncio esse que Hyoyeon vive há tão poucos dias naquele quarto e começava a aprender a também odiar. E sentiu por todos os dias que forçou Taeyeon a odiá-la porque não era seu intuito.
Nunca fora seu intuito, Taeyeon. Quando serei livre? A pergunta com que termina a folha dói, e Hyoyeon amassa-as num abraço contra o peito e o choro que lhe volta já amigo, doloroso. Essa ansiada liberdade nunca lhe chegou, senão na ilusória liberdade do suicídio. Sente engasgar-se, o coração inchado não cabe mais dentro do peito. Tem o olhar molhado perdido no teto, e é com surpresa que sente vibrar o aparelho esquecido no bolso da calça. Abre a mensagem com alguns toques na tela. Era Yuri.
“Como você está?” A mensagem lhe chega de madrugada, preocupada como Yuri sempre se mostra ser, e Hyoyeon se sente tão mal e tão perdida ao dizer à melhor amiga, “Sozinha.”
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Hyoyeon coloca outra colher de comida à boca. Simplesmente não queria enfrentar os olhares todos do refeitório, então transfere a bandeja com comida para o lado de fora, uma mesa de pedra ao ar livre. O silêncio e o vazio do lugar naquele horário de almoço lhe são grande conforto.
Passaram-se alguns dias e ela faltara esses dias para garantir que a desocupação do quarto de Taeyeon não faria mais parte dos planos paternos. Enterrara-se em dívidas de provas e trabalhos para os professores, e apesar de tudo a maioria o ignorava. A pena se fazia sentir e às vezes Hyoyeon agradecia ao enervante sentimento o fato de não ter ninguém cobrando-a o que se tornou tão mundano.
Ela se questiona, intensamente, que há de importante agora em tudo o que ficou? Estudar, estudar para ser alguém. Arranjar um emprego. Arranjar uma família. Esquecer o passado. Se matar por um baixo salário e morrer de velhice. Parecia tudo tão saboroso antes, tão insignificante agora que uma das pessoas que queria ao seu lado ao passar por tudo isso voluntariamente desfez-se de todos os planos não necessariamente pronunciados.
Vira-se depressa e de repente, encontrando ali um dos professores de Geografia que lhe sorri levemente com as mãos nos bolso do paletó cinza claro. Hyoyeon retribui, amargamente e sem vontade. Volta a atenção para o prato enquanto ele se senta timidamente do outro lado da mesa.
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