Alguns dias se passaram sem que Hyoyeon voltasse a aparecer pela escola. Preocupava Yuri, mas fôra ela quem cortara contato. Sabia onde estava, no entanto, isso lhe dava alguma segurança. Mas ao caminhar pelos corredores daquela escola tanto tempo sozinha é que percebe quanto do seu tempo era ocupado por Hyoyeon, pela melhor amiga, pela louca companhia que ria e muitas vezes embarcava em suas trapalhadas e a deixara pela última vez chorando apegada a um livro e um mundo de objetos que não eram dela. Pretendia mudar o mundo, não percebera que com isso mudara completamente, totalmente, transformara-se quase em Taeyeon tentando entendê-la.

Assustava Yuri, a deixava quieta, pensando, tanto que não encontrara energia suficiente para fazer os frequentes trabalhos na “prática” e os primeiros artigos escolares assinados por Kwon Yuri estranhamente começaram a surgir.

Ela se alongava à borda da piscina enquanto pensava ainda em todas essas coisas e olhava todos aqueles alunos nas arquibancadas. As perguntas sobre Hyoyeon parecem nunca cessar, nunca perder o interesse. A garota telepata que perdeu a irmã sensorial e pareceu “enlouquecer” junto. As pessoas podiam ser bem cruéis, e Yuri sabia se manter longe delas, mas ela devia admitir que aquela sociedade tinha apenas dois lados. Se ela não estava com Hyoyeon, era com aquelas pessoas que estava. Suspira, colocando as mãos na cintura.

Dois dedos acham caminho para as laterais do corpo de Yuri e tentam fazer ali alguma tentativa de susto, que a morena reage com um olhar lento e nada surpreso, totalmente entediado. “Oi, Yoona.” A outra nadadora se coloca ao seu lado começando seu próprio alongamento. “Você já foi mais divertida.” “Você já foi mais gorda.” Yoona para, piscando confusa para a amiga ao lado. “Eu nunca fui gorda.” Yuri lhe devolve um sorriso ligeiro acompanhado de um falso piscar de olhos. “Eu nunca fui divertida.”

“Noss…Deixa eu sair daqui que pode ser contagioso.” Diz, afastando-se até um grupo de meninas. Yuri suspira, sossegada que agora tem liberdade para voltar a pensar, as mãos ainda sobre a cintura, mordendo o lábio volta e meia.

“Kwon Yuri.” Ela recebe um chamado, volta a atenção para onde veio a energia. Uma garota se aproximava, um objeto em mãos. “Você é Kwon Yuri, não é?” Yuri a olha de cima a baixo com o cenho franzido e cara de poucos amigos. Ela era popularmente conhecida como melhor amiga de Kim Hyoyeon e não raro tinha sido alvo de perguntas indecentes e impróprias sobre ela por toda a escola, até mesmo de gente que nunca vira na vida. Não à toa recebe esta também com um pé atrás. Acena apenas com a cabeça, a expressão nada receptiva.

“Sou Choi Sooyoung, me disseram que você é a melhor amiga de Kim Hyoyeon. Deve saber como encontrá-la.”

“E por que eu lhe diria?”

“Por que preciso entregar isso a ela.” Yuri vê o objeto em suas mãos, mas não o entende. Ergue o olhar confuso para a morena. “Pode ajudar no projeto.”

Yuri respira fundo.

Aproxima-se da outra o suficiente para diminuir seu campo de pensamento e permitir uma conversa particular. “Você concorda com o que ela está fazendo?” Pergunta, crítica.

Sooyoung é pega de surpresa, mas responde no mesmo tom. “Ela não está machucando ninguém, está?”

“Está tentando acabar com a nossa cultura, regredindo nossa linguagem a uma anterior, que só sensoriais usavam.”

Sooyoung parece refletir ainda, há peças de informação que ainda se juntam na cabeça. “O livro? Ela me falou que era como sensoriais se comunicavam...”

“E quer que voltemos a usá-lo.” Yuri ri com desdém.

“Se ela acha que pode dar certo para ensiná-los, deixe que use. Por que a relutância?”

“Claro! É ela convencer todo mundo a aprender e o fim do nosso mundo tem data marcada! Podemos perder nossa habilidade sabia? Ou atrasar o desenvolvimento da Evolução.”

Sooyoung está estupefata. Aproxima-se ainda mais, rígida, seus olhos congelantes diante da outra. “Acha mesmo que você é a única nesse pedaço enorme de terra que tem orgulho da Evolução? Acha que tem tanta gente assim disposta a descer do salto para ajudar um sensorial? Adivinha: não teve nenhum a descer por Taeyeon, por que acha que será diferente agora? Hyoyeon já está mais sozinha do que pode estar, e olhando ao redor aqui comigo...” Sooyoung aponta para as pessoas nas arquibancadas. “Você acha que isso vai mudar?” Yuri não diz nada, emutecida pela lógica daquela afirmação. A raiva ainda a consome, mas Sooyoung não tem pena de prosseguir. “Hyoyeon pode estar a caminho de algo grande, talvez não pra você, não pra Evolução, mas pra alguém que precisa muito para não desistir da vida.” Termina em fúria, a respiração acelerada já chamando atenção das pessoas em volta. “Por isso... Ajudaria muito se você pudesse descer alguns degraus de pedestal para ao menos me permitir ajudar, já que você não quer seu nome envolvido.”

Yuri permanece quieta, a respiração pesada e a raiva ainda evidente, mas não contrapõe mais nada. Sooyoung, no entanto, ainda espera. “É sua amiga, Yuri. Que droga…”

“Eu sei que é minha amiga.” Responde rispidamente, respirando fundo em seguida e levando o dedo indicador pouco acima do centro dos olhos, fechando-os. Um mapa com a visualização do trailer começa a se formar e Sooyoung o observa atenta para aprendê-lo. Leva também um dos dedos à têmpora e fecha os olhos guardando bem a imagem na memória.

“Obrigada.” Diz, sinceramente, mas Yuri nada responde. Permanece ali, a respiração pesada, a cabeça a mil, enquanto Sooyoung desaparece com o objeto entre as arquibancadas. Ela não sabe se fez o certo, mas o que foi feito está feito.

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Hyoyeon ergue a vista do livro, o sol iluminando as páginas num gesto dourado, sente alguém entrar em seu campo de pensamento. Franze um pouco o cenho, permite-se um receoso sorriso no canto da boca. Sooyoung?

Levanta-se, deixando o livro aberto no chão sob o sol, os tênis coloridos fazem percurso até a porta. A morena ergue a cabeça, um sorriso surgindo no rosto ao vê-la. Hyoyeon desce as pequenas escadas, parando sem saber o que dizer à que chega. Surge um pequeno silêncio como se a maior parasse para tomar fôlego, o objeto em mãos chamando atenção de Hyoyeon.

“Yuri me disse que estaria aqui.” E para Hyoyeon a afirmativa é quase como um consolo, Yuri ainda pensava nela. Controla as emoções que lhe fazem surgir filmes na mente, observa Sooyoung esperando-a continuar. “Acho que isso pode te ajudar.”

Estende a Hyoyeon um pequeno disco, a loura o recebe olhando-a questionadoramente.

“É um DVD antigo, talvez um dos primeiros que os Sensoriais fizeram antes da Evolução.” Sooyoung explica, vendo Hyoyeon analisar o objeto em mãos. “Um dos poucos que achei ainda prestando para assistir.” Admite, um pouco culpada. “Não entendi nada dele, mas imaginei que como você está estudando a língua, pode se sair melhor do que eu. Talvez haja algo aí que te ajude.”

Dá um sorriso sem graça, de quem sabe que pode ser de muito pouco ou nenhuma