Um brinde.

Sede de vingança.

Capítulo I - Um brinde.

Parte I 

Em alta velocidade, a Mercedes prata passava entre os carros como se estivesse em uma corrida, o moço bem vestido de dentro do carro estava concentrado na pista deixando rastros de mal humor para trás. Seu nome era Tae Min He, um jovem charmoso de 20 anos, cabelo arrumado, olhos castanho escuro e puxados, ele acelerava a cada rua que passava, o motor transmitia toda sua raiva que Tae Min não ligava em esconder.

Parou seu carro em frente a um imenso prédio, o lugar era chique, os vidros eram como espelhos, ele saiu do carro chamando atenção de muitos olhares, estava de óculos, um terno dos mais caros e uma maleta preta. Logo o manobrista apareceu pedindo-lhe a chave, ele o entregou e subiu as escadas arrumando seu terno, andou elegantemente até o pátio daquele enorme prédio, passou por muitas pessoas e as cumprimentou mesmo sem nunca na vida ter conhecido alguma delas. Por onde passava todos o olhavam, estavam curiosos para saber de qual empresa ou fábrica aquele aparentemente simpático rapaz era herdeiro. Ele chegou até a recepção, entregou algo ao porteiro e saiu em direção ao elevador, isso o fez parecer sócio dali. Chegou até o 10º andar e a porta se abriu, saiu e logo a sua frente uma elegante festa acontecia, salão largo e cores claras faziam sorrisos falsos enfeitaram caros vestidos de seda, seu riso sarcástico no canto da boca deu a entrada a seu plano finalmente em prática, era o começo de tudo para ele, tudo que desde pequeno o fez treinado para se vingar.

Cumprimentou mais rostos por onde passou, entrou no banheiro e esperou até que esvaziasse o lugar. Abriu a maleta e tirou alguns papéis até chegar ao fundo falso onde guardava alguns instrumentos que iria "tocar" durante a festa. No meio estava uma arma pequena, no lado um vidro com algo mortal dentro, e do outro uma seringa já preenchida. Abriu uma possível tampa no relógio e derramou nele o pó branco do vidrinho. Um senhor entrou no banheiro falando no celular e o surpreendendo, por pura sorte ele guardou tudo e fechou o relógio sem que o velho desatento percebesse.

Depois de algum tempo voltou para a festa e um homem robusto apareceu em sua frente para puxar conversa :

- Olá rapaz, ou devo chamá-lo de "futuro dono de Cezzar" ?

Tae Min He sorriu e respondeu sem interesse mesmo sentindo seu sangue ferver por terem o confundido.

- Deve me chamar pelo meu nome, não tenho relação familiar com o aniversariante, sou só mais um convidado curioso como você.

O homem ficou sem jeito, mas continuou a atormentá-lo, enquanto isso das escadas no final do salão palmas surgiram e desceu um senhor que aparentava ser de idade avançada, porém de postura correta e olhar suspeito, Tae Min olhou entre os ombros do homem que falava sem parar e apenas prestou atenção em cada passo e movimentação daquele senhor, ele deixou o homem falando sozinho e deu a volta até chegar em um grupo formando em volta do homem que descia com dois seguranças em sua volta. Todos os chamavam de Dong Chansung, o dono da 2º empresa de vinhos mais famosa do mundo, Dong caminhou junto com os seguranças até onde estava a mesa central, decorada com muitos vinhos de todos os anos e marcas fabricadas por sua empresa, pegou uma taça e a ergueu para o alto dizendo a todos os convidados palavras sem sinceridade aos ouvidos de Tae Min He.

- Obrigado a todos que estão aqui hoje, nunca imaginei que um dia estaria aqui com vocês comemorando 60 anos de vida e 45 de énologo, espero ainda ter o privilégio de ver a nossa família crescer e fazer de Cezzar a primeira empresa de vinhos mais famosa do mundo. Um brinde, a todos que fazem dessa empresa um sucesso.

Muitos brindaram e Tae Min ficçou o olhar no vinho que um dos garçons despejou na taça de Dong depois de seu discurso. Antes que o aniversariante derramasse uma gota daquele vinho especial em sua boca, a alta sirene de fora do prédio tirou a atenção de todos. Do elevador um jovem saiu ofegante, correu até onde Chansung estava e cochicou algo em seu ouvido que o fez derrubar a taça fazendo todos se assustarem com o barulho que fez ao deixá-la cair em pedaços no chão, sua face que era de felicidade ficou séria, deixando a todos confusos e aglomerados.

- Peço desculpa a todos, mas não poderei continuar festejando com vocês, minha esposa está no hospital e não vejo razões para comemorar.

Rapidamente Chansung saiu com seus seguranças, Tae Min He estava furioso, seu plano havia falhado, ele saiu da festa sem que ninguém percebesse e na porta do prédio passou entre muitas pessoas que cercavam a entrada, haviam muitos jornalistas curiosos e ele teve de correr de algum deles.

No carro resmungava palavras para si mesmo com um sorrisinho de lado enquanto acelerava. - Droga, eu gastei meu pó mágico a toa.

 

Parte II 

Lembranças, momentos do passado e vozes aterrorizavam a mente de Min He, tirando sua atenção enquanto dirigia. Freiou bruscamente quando percebeu que o sinal estava no vermelho, chocando o corpo para frente. Ajeitou-se e deu um suspiro tentando tirar de seu peito aquela agonia que nunca o deixou em paz.

Ao lado uma jovem moça caminhava vagarosamente pela calçada, ela parecia pensativa, ele não deixou de notar em sua beleza, a jovem tinha cabelos negros e ondulados, sua pele clara transmitia toda sua formosura e seu rosto perfeito não alojava um sorriso, mas sim uma expressão confusa e distraída. Algo prendeu Tae Min He o fazendo admirá-la por alguns segundos, logo o sinal abriu e ele avançou virando o carro na próxima esquina ainda observando aqueles passos lentos que a jovem dava, percebeu que atrás daqueles passos alguém a seguia como um cachorro. O homem tinha olhos fundos e machucados por todo o rosto, o cabelo estava desarrumado e a barba mal feita, levava em suas mãos uma faca escondida entre a manga da blusa, parecia tremer e ser inadequado para algo fora da lei. Sem pensar muito o homem agiu e ela foi puxada para trás ficando mais próxima do bandido, sem reação não fez questão de gritar ou de clamar por vida, apenas ficou parada mesmo sentindo a faca em suas costas a cutucando, isso surpreendeu o homem que estava confuso com aquela situação.

- Não está surpresa ? Não tem medo de morrer ?

Ela respondeu com um sorriso irônico o deixando irritado, antes que ele pressionasse ainda mais a lâmina naquela suave pele, foi surpreendido por Tae Min He que o puxou pelo pescoço o imobilizando com os braços, o homem não conseguia respirar e apenas caiu deixando com que Min He ficasse no comando, levantou as mãos e quando parecia se render uma Van em alta velocidade parou ao lado dos três, o homem rapidamente empurra Tae Min para longe enquanto corre para dentro do veículo com a ajuda de seus cúmplices encapuzados que o esperavam com a porta aberta. Min He ainda caído esperou a ajuda da jovem salva pelo herói, mas seu olhar parecia longe e ele teve de se levantar sozinho.

- De nada. - ironizou ele. - Meu nome é Tae Min He e o seu é ... ? Ela não respondeu nada, apenas se virou caminhando pelo mesmo caminho que percorria antes, o deixando aborrecido. Ele voltou em direção ao seu carro estacionado perto dali, se virou ao ouvir alguém chamá-lo.

- Ei! Jae Min Ho, espera ... - ofegante aquela mesma moça parecia mais consciente e falante que antes. - me faça um favor.

- TAE Min HE. Corrigiu ele.

- Vai me ajudar ou não ?

- Acho que vou começar a cobrar por esses favores. O que é agora, mais algum estranho que precisa ser salvo ?

- Preciso de uma carona até um lugar, me levaria ?

Tae Min He se virou como se a ignorasse, segundos depois ele parou o carro ao lado dela enquanto dizia : - Entre antes que outro cara tente te matar.

Percorreu um longo caminho por Seul e não hesitou em fazer algumas perguntas a ela.

- Não ficou com medo daquele homem ? Você teve chances para fugir ou gritar por ajuda, por que não fez isso ?

- Não sei. Talvez porque minha vida não tem me agradado ultimamente, viver ou morrer não faz muito sentido quando se está morto por dentro e sozinho por fora.

Essas palavras definiam muito bem o que Min He sentia: sozinho e sem razões para viver uma vida de escolhas corretas, não havia limites em suas decisões, ele apenas fazia o que tinha vontade sem se importar se sairia morto ou vivo de todas suas aventuras. Ela o informou quando chegou ao seu destino, saiu e o agradeceu com um sorriso nada convincente.

Percebeu que não havia perguntado o nome daquela moça que aparentava ter a mesma idade que ele, Min He então saiu do carro e notou que estava em frente de um cemitério, confuso correu atrás dela, caminhando sobre muitos túmulos e lápides dali.

Parou em frente a algumas pessoas de preto que rodeavam um caixão, no meio um grito chamou-lhe atenção. Era de uma criança, Min He se aproximou lentamente daquelas pessoas e encontrou o menino que tanto chorava, ele estava abraçado com a moça que a pouco tempo estava em seu carro, ela estava ajoelhada e o apertava como se quisesse roubar para si toda a tristeza que o menino transmitia em lágrimas. O garoto afastou-se dela e gritou enquanto jogavam areia sobre aquele corpo no caixão agora enterrado.

- Mãe, não se vá, você prometeu que faria tudo que não fizeram por mim, então, porque morreu ? Não me deixe sozinho.

Os olhos de Tae Min He lacrimejaram e uma lágrima correu, aquele pequeno rosto molhado de lágrimas à sua frente trouxe a ele suas piores lembranças amontoadas pelo tempo.

 

  

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