Chapter I

Erased
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YUNIE

Março de 2011 – Seoul – South Korea

O banco do lado de fora do hospital era cada vez menos confortável. Minhas mãos estavam tremendo enquanto seguravam o quinto café daquele fim de tarde. ChanYeol falava alguma coisa, mas eu não era capaz de ouvir.

Ele era a única pessoa que eu tinha, era por quem eu estava sendo apoiada cada vez que eu afundava um pouco mais e perdia a esperança que me restava. Mas eu não podia ouvi-lo naquele momento, ouvia apenas os altos e marcantes batimentos cardíacos que ecoavam em meus tímpanos. E tudo isso porque eu sabia que a qualquer momento sairia por aquela porta de vidro esbranquiçada e pesada a pessoa pela qual eu estava esperando por tanto tempo. Eu não podia me concentrar em mais nada.

Aquela manhã começara agitada logo que acordei com a breve ligação de pessoas não muito importantes, mas que me diziam as coisas mais sérias, talvez graves.

Diziam-me que aquele era o dia em que as coisas seriam decididas. Sim, era o dia que a sentença seria dada. Eu estava perdoada, ou eu estava condenada.

Era assim que eu enxergava a situação. Ou as coisas dariam certo, e eu estaria livre da dor e sofrimento e ele estaria de volta, ou então eu não teria o direito de encontrá-lo nunca mais. Não havia um meio termo. Se eu tentasse forçar uma situação, as coisas ficariam bagunçadas, complicadas, difíceis, rapidamente. E eu não queria causar isso a ele. Já bastava tudo aquilo.

Ele tinha acordado há pouco mais de uma semana, talvez duas, e por isso não me permitiram visitá-lo. Não tinham conseguido falar com ele sobre muita coisa. Mas devido sua recuperação que caminhava até que bem, ele sairia naquele dia. Porém, nada estava garantido, ele continuaria fazendo acompanhamento médico em sua própria casa. DoMi estava bancando recursos caros.

Eu... ChanYeol e eu. Devíamos ficar longe e não devíamos influenciar, forçar, ou induzir nada. Só deveríamos estar ali para o que quer que acontecesse.

Eu tinha ciência de que era mais provável de que tudo acabasse ruim, pois a vida não é como em filmes onde os finais são felizes, onde se tem uma segunda chance. Ou em um jogo que após o game over há a opção para recomeçar. Mas eu não podia evitar confiar na pequena possibilidade de termos um bom final, aquele em que eu o abraçaria, e que ele me perdoaria. Eu dependia do pouco de esperança, eu dependia do fio cada vez mais fino que me prendia a ele, ao passado. Nosso passado. Nossas lembranças.

Já era tarde e isso me deixava ainda mais nervosa. Eu queria prestar atenção no que o moreno alto ao meu lado dizia, mas não conseguia. No momento em que aquela porta abriu, eu fui afetada por uma breve dispneia enquanto ansiava ver o que eu tanto esperara. Alguns rostos pouco reconhecidos e então aquela figura mais que apenas familiar. Senti como se não houvesse ar, como se não houvesse atmosfera.

Seu olhar estava um pouco cansado, porém ainda sim mostrava que estava acordado e com vida, com mais vida, diferente do que eu encarara por semanas e semanas intermináveis. Isso me aliviou.

Eu poderia desmaiar por falta de ar, mas queria ver mais um pouco daquela cena. Calmamente ele puxou o ar para os pulmões como se sentisse falta daquilo – não mais que eu naqueles mesmos instantes –. Eu me dei o direito de fazer o mesmo, o imitando. Meus olhos estavam fixos sobre ele.

 Não percebi, mas eu já estava de pé, e meus olhos marejavam, as lágrimas pinicavam. Eu sentia necessidade de tomar alguma atitude, fazer alguma coisa, me mover. Dei um passo, mas a mão de ChanYeol segurou meu braço. Soube claramente porque ele estava fazendo isso, e lhe agradeci mentalmente mesmo que estivesse contrariada ao limite imposto.

Sem dar mais atenção ao garoto ao meu lado voltei meu olhar para o que me interessava mais que tudo naquele momento, aquele outro garoto que estava liberto daquele hospital melancólico.

Seu rosto delicado e levemente mudado pelo tempo abriu um sorriso sem muito humor respondendo a mulher ao seu lado, e em seguida seus olhos percorreram todo o local até pausarem em mim. Senti meu peito ser domado por uma onda perplexa de esperança, mas de uma só vez, como um choque. Involuntariamente meus lábios se abriram e eu queria gritar seu nome, chamá-lo de volta para mim, mas não tinha força o suficiente. Estava paralisada. Pois eu ainda não sabia o que estava acontecendo de verdade e qualquer ação minha dependia daquela decisão tomada pelo acaso, destino ou o que quer que fosse.

E então, qual era minha sentença?

Soube a resposta assim que o olhar dele friamente desviou de mim, sem uma reação ou uma demonstração de que eu significava algo. Apenas continuou seu caminho. Foi o suficiente para me fazer entender o que estava decidido, me fazer perder o chão.

Por mais que já soubesse que isso aconteceria, teimava em esperar que eu ainda fosse algo para ele, que eu ainda existisse nele. Mas este era o meu castigo. Agora eu era ninguém, apenas mais um rosto na multidão, um rosto desconhecido, alguém sem nenhuma importância.

Quando dei por mim, já estava ajoelhada ao chão e o café escorria ao lado de minha mão apoiada no cimento do chão frio, do mesmo jeito que as lagrimas escorriam pelo meu rosto. Soluçava. ChanYeol estava ao meu lado e eu finalmente pude ouvi-lo, ele me dizia:

– Yunie... Estou aqui, não vou te deixar. – me abraçou. – Sempre estarei aqui.

 

⋯❖⋯

 

Já fazia algum tempo que ChanYeol tentava me acalmar, havia me voltado ao banco e me abraçava com cuidado. Reprimi todo o meu choro agonizante em seu peito.

O que pude ver num dos intervalos do meu rosto enterrado na blusa de ChanYeol, foi a mulher adiantando seus passos dirigidos até nós. Poderia ser mal educada, rude, ou qualquer coisa, mas eu não queria tirar meu rosto da onde ele estava e não o fiz. Um pouco pior, tapei com força meus ouvidos para não ouvir o que ela tinha a dizer, mas isso não adiantou nada. Trinquei os dentes quando não fui capaz de fazer as palavras dela serem omitidas.

Eu sabia que ela não era ruim. Ela era muito gentil. DoMi era uma mulher até que muito boa pelo o que estava fazendo, mas eu a odiava naquele momento. Odiava muito. Nós havíamos combinado coisas, planejado coisas para caso as coisas dessem errado, como estavam dando, e havíamos concordado sobre tudo, mas agora eu não queria mais. Agora que tudo havia mesmo dado errado. Queria descordar de tudo que devia ser o certo a fazer.

Ela falava com ChanYeol por saber ou perceber que eu não queria falar sobre nada, não queria nem pensar naquilo, mesmo que não tivesse como. Quando terminou, apenas disse adeus, até mesmo para mim que não respondi, mas resmunguei derramando mais lágrimas. Ela pediu desculpas. Odiei DoMi um pouco mais, sem razão alguma. Retirou-se, retornou para onde ele estava, para o carro branco, que logo deu partida, abandonando o estacionamento.

Eu queria correr atrás daquele carro, mesmo parecendo uma louca.

Meu coração tentava acabar comigo de dentro para fora, me fazendo pagar por não tê-lo ouvido. “Foi um erro! Foi um erro! Foi só um maldito erro! Deixe-me concertar!” eu gritava sem som, sem uso do meu corpo ou voz, apenas com minha mente e meu choro, para o acaso, destino ou o que quer que fosse. Para meu coração. Para LuHan, DoMi e o seu carro branco. Para as árvores de galho seco que nos cercavam, a neve derretida, o café derramado, as pessoas de branco, as paredes cinzentas. Para todos os lados e direções. Eu queria apenas gritar, gritar sem parar, o mais alto que eu conseguisse.

Eu queria gritar que eu não tinha culpa, eu queria gritar que eu não tive escolha, que eu não queria ter partido, que eu queria ter ficado. Queria gritar para ele, LuHan, para que ele me perdoasse, para que ele voltasse para mim.

Queria que ele saísse do carro e dissesse que aquilo era uma farsa armada para me deixar arrependida. Que por sinal estava dando muito mais que certo. Uma brincadeira estúpida de muito mal gosto, mas que era apenas uma brincadeira. Que ele ficaria, que estava tudo bem, que estava tudo certo, que estava tudo intacto.

Mas o mundo estava contra mim, jogando todo o peso sobre mim. O peso daquela culpa.

A dor era a punição.

Estava assistindo LuHan ir embora, me deixando assim como eu fui capaz de

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