Horns

Freak Love

Acordei com alguns fios castanhos sobre meu rosto, quais não eram meus. Ainda sonolenta, os assoprei e me virei na cama, para então ter a bela visão que tenho todas as manhãs.

Stephanie dormia tranquilamente. E como na maioria das vezes em que acordava antes dela, fiquei alguns minutos admirando seu rosto. Meus olhos vagavam por cada linha de sua face. As que eu vi se formarem e moldarem, envelhecerem junto as minhas. De uma pequena garota, até a mulher que ela é hoje, em todos os seus sentidos. A mais bela mulher.

Ela respirava serenamente, até que levei meus dedos até seu rosto, deslizando a ponta deles por sua bochecha por breves segundos, pois ela acordou logo em seguida. Seus olhos se abriram lentamente e lá estava a se formar aquele sorriso que até hoje me causa borboletas em todo estômago. Eu apenas imitei seu gesto involuntariamente. Meu coração sempre batia mais rápido com aquele sorriso, não importando quantas vezes eu o visse, quanto tempo se passasse. Seus efeitos sobre mim sempre eram nesse nível. Sua mão pousou sobre a minha ainda em seu rosto e a levou até sua boca, a beijando suavemente de olhos fechados.

– Bom dia.

A mesma voz rouca de sempre, ressoando em meus ouvidos. Respondi tão baixo quanto ela e senti seus lábios sobre os meus, num beijo lento e cheio de carinho, qual era meu estimulo pra começar o dia. Sua mão segurava meu rosto com a mesma delicadeza de sempre, arfava levemente dentro de minha boca. Assim que nossas línguas se tocaram, uma voz no pé da cama fez com que nos separássemos rapidamente.

– Ehhh, não façam isso, ainda mais tão cedo. Tem uma criança aqui. – Disse a pequena aligátor que estava sentada quase no fim da cama, ainda com o semblante sonolento. 

– Aw, desculpe, Yoong. Esquecemos que você estava aqui. – Respondeu Stephanie rindo junto comigo, então ela olhou o celular em cima da cômoda ao lado da cama e se voltou para a pequena menina. – Durma mais um pouco, ainda é cedo. – Assim que Yoona - ainda com expressão de desagrado - voltou a se deitar, Stephanie veio até mim e depositou um rápido beijo em meus lábios. – Volte a dormir também, amor. Já está na minha hora.

– Você tem mesmo que ir? – Perguntei baixinho, voltando a relaxar na cama.

– Se você não quiser que nós duas morramos de fome, tenho sim.

Murmurei baixinho e fechei os olhos, isso até ouvir meu nome ser chamado. – Você leva a Yoona mais tarde? Vou passar na casa do meu pai quando sair da empresa. – Balancei a cabeça positivamente e logo ouvi seus passos em direção a porta, até que saísse do quarto.

 

 

– Taetae! Taetae! – A estridente voz de Yoona e seus braços me chocalhando na cama me fizeram acorda quase imediatamente.

– O que foi, Yong? – Perguntei me virando na cama e puxando o cobertor para me cobrir, mas Yoona o segurou na ponta. – Já é tarde, vamos sair. Vamos no parquinho!

– Quê? Que horas são? – Perguntei mais pra mim mesma do que para Yoona, que provavelmente nem ouviu minha pergunta. Me virei ainda de olhos fechados e só os abri para me surpreender com o tanto que dormir. – Quase onze horas.

– Parquinho?

 

 

– Yoona, não! Não suba ai! – Gritei em reprovação para Yoona, que insinuava querer subir em uma arvore ali perto. Lentamente, ela voltou para o balanço do parquinho, com um bico nos lábios.

Com um sorriso fraco, voltei a descansar no banco, inclinando a cabeça para trás. A noite passada foi longa. Stephanie e eu fizemos um bolo com Yoona, brincamos tanto que não percebemos o tempo passar, quando vimos já era bem tarde. Isso explica o meu cansaço hoje. Só não entendo como Yoona não se cansa nunca.

Fechei os olhos e fui me deixando levar pela paz daquele momento, revendo minhas memórias lentamente.

Já se passaram tantos anos, tantos. Quase dez. Hoje posso dizer que sou confiante e independente. Stephanie me ajudou tanto, que eu sei que jamais poderia agradece-la por tanto, mesmo que ela diga que não preciso agradecer. Que ela fez tudo isso por mim porque me ama.

Hoje eu me vejo como uma pessoa de verdade, alguém que respeita e merece respeito – mesmo não recebendo, de fato -. Eu aprendi a aceitar meus demônios, minhas imperfeições e meus chifres. Meus chifres não são uma coisa ruim. Não é uma imperfeição. É uma parte de mim, e aceitar isso me fez forte como sou hoje. E diferente do que eu pensava, ele não cresceu desde a minha adolescência, continua até hoje do mesmo tamanho.

Conviver com o fato de que ser diferente sempre vai ser motivo pra ser odiada, me fez a mulher que sou hoje. Esses anos me ensinaram a ignorar a intolerância das pessoas, nessa caminhada repleta de pessoas cheias de ódio, Stephanie sempre esteve comigo, segurando minha mão. Ela me dava sustento para não olhar para o lado ruim das coisas, e sim para o bom.

 

Levei um pequeno susto com o toque de meu celular, qual me despertou. Vi que era uma de minhas amigas e atendi.

– Fala, Yuri.

– Ei, Tae. – Me cumprimentou com uma voz estranhamente animada. – Como cê tá? E a Steph? – Ouvia uns múrmuros do outro lado da linha, atrás da voz de Yuri, mas os ignorei. – Estou bem, tô aqui no parquinho com a Yoona. – Fiz uma pausa para bocejar. – Stephanie ainda está no trabalho.

– Dormiu bem?

– Ah, sim... É que Stephanie e eu ficamos brincando com Yoona ontem e não vimos a hora passar. – Ouvi uma rápida risada do outro lado e em seguida a voz que reconheci como a de Jessica. – A Jessica tá ai?

– Hã? Ah, não, não tá. – Ela respondia cortadamente, como se algo estivesse a atrapalhando. Logo retomou nosso assunto. – Se só com a Yoona você já fica acabada assim, imagina quando a Stephanie engravi- Espera, Sica!

– Pensei que você tinha dito que a Jessica não estava ai. – Disse segurando o riso. Os murmurinhos do outro lado da linha continuavam, assim como a voz de Yuri brigando com quem provavelmente seria Jessica.

– Enfim... Você vai estar ocupada hoje a noite, Taengo?

– Não vou não, por que?

– Você pode me encontrar naquela pub perto da faculdade da Soo? Tenho uma coisa pra te contar. – Disse com a voz carregada de alegria.

– Você não pode dizer por aqui?

– Sim, pedir pra você me encontrar na pub é uma desculpa pra gente beber juntas. – Ouvi sua risada e a acompanhei. – Tá pior que a Hyoyeon. Não faz nem uma semana desde a última vez que a gente saiu pra beber. Assim vou ficar mal acostumada.

– A Hyo toma pinga no café da manhã, não me compare com ela. – A gargalhada estridente de Jessica soou ao fundo e afastei o celular do ouvido rapidamente, sentindo um desconforto ali, logo continuei para não correr o risco de ficar surda. – Bom, a noite a gente se encontra lá então, umas oito e meia tá bom pra você?

– Claro. Agora tenho que desligar. Até a noite, Taengo.

– Até. – Finalizei a ligação e aproveitei para ver a hora no visor do celular. Ainda era cedo para levar Yoona para casa, então apenas fechei os olhos novamente depois de ver a pequena brincando no escorregador.

 

 

– TAETAE! – Pulei do banco no mesmo instante em que ouvi meu apelido ser gritado. Após me recobrar do susto, olhei para trás, de onde haviam me chamado e me deparei com Stephanie rindo descontroladamente. – Steph! Por que fez isso?

– Eu também não sei, mas foi engraçado. – Respondeu limpando do olho uma lágrima que sequer existia. Ela parecia estranhamente animada. – Onde está Yoona?

– Ela tá brinc– Minha voz sumiu assim que procurei por Yoona pelo parquinho e não consegui a encontrar. Preocupada, comecei a olhar em todas as direções, sentindo a palpitação forte do coração pelo medo de perder a aligátor. – Tae?

– Eu... Eu... – Começando a me sentir mal, olhei para Stephanie, que parecia estar entendendo o que havia acontecido, pois uma expressão de reprovação se formava em seu rosto. – Ela estava brincan–

– TAETAE!

– YAH! Já chega! – Gritei de volta após o susto que Yoona me deu, aparecendo do meu lado. – Onde você se meteu?

– Eu fui comprar sorvete. Você só ficou aí toda largada no banco, pensei que tinha morrido. Tentei te acordar mas nem parecia que você estava respirando. – Respondeu e lambeu seu sorvete de casquinha. – E de onde você tirou dinheiro pra comprar sorvete?

– Do seu bolço.  

Já ia perguntar se aquela anã havia me roubado, quando Stephanie puxou o celular da bolça, chamando minha atenção. – Já está na hora de levar Yoona. Vamos?

 

 

– Obrigada por cuidar da Yoona pra gente, nós realmente precisávamos desse tempo sozinhas. – Disse minha amiga Sunny após me soltar de seu aconchegante abraço. Stephanie brincava com Yoona alegremente. – Hmm... Yuri me chamou pra beber naquela pub perto da faculdade da Soo, me pergunto se você e Sooyoung gostariam de ir também?

– Pode ser, mas não poderemos ficar até tarde, já sabe... Yoona tem que dormir cedo. – Concordei levemente com a cabeça, ignorando o fato de que Yoona dormiu horas depois do que devia na noite anterior quando eu e Stephanie cuidamos dela. – Que horas vocês vão estar lá?

– Oito e meia. – Nesse meio tempo Stephanie já havia se despedido de Yoona e agora estava do meu lado, parecendo um tanto impaciente.

– Parece bom pra mim. – Respondeu Sunny sorrindo, e antes que eu pudesse responder, Stephanie me arrastou para a porta, se despedindo de Sunny em meu lugar, que não entendeu nada mas sorriu em resposta.

–Stephanie! O que foi? Qual é o problema? – Perguntei assim que saímos do apartamento de Sooyoung e Sunny, com Stephanie me arrastando até o elevador.

– Nenhum, é que meu pai queria falar com você. É importante. – Por um instante meu corpo se encheu de preocupação, mas ao ver o sorriso que Stephanie tentava ocultar, o medo foi se dissipando.

– O que ele quer?

– Não posso dizer. Ele quer falar pessoalmente pra você. – E não conseguindo conter seu sorriso, me puxou ainda mais rápido pelo corredor. Hoje todos estavam cheios de novidades para mim, aparentemente.

 

 

O familiar cheiro da casa de meu sogro chegou ao meu nariz assim que pus o pé na sala de estar. Fazia algum tempo desde que eu não ia até lá, mas tudo continuava do jeitinho que sempre esteve, disso podia ter certeza.

Tirei os sapatos e Stephanie deixou sua bolça em cima do sofá, segurando minha mão logo em seguida e me puxando mais adentro da casa depois d’ela dizer que seu pai deveria estar no laboratório. Ela tinha um suave sorriso no lábios. Um realmente feliz e sereno, que estava anestesiando de paz todo o meu ser.

O atrito do chão frio contra meus pés e a mão quente de Stephanie na minha me trazia tanta nostalgia. Lembrava-me de quando corríamos pela casa e brincávamos de pique esconde, mesmo já sendo duas adolescentes. Isso um pouco depois dela e o Dr. Hwang terem voltado da viagem.

Aquele mesmo chão frio de sempre, de todas as vezes que visitava aquela casa. E o mesmo tato suave em minha mão que aquecia meu coração.

Ouvi alguém cantarolar, a medida que me aproximava do laboratório do Dr. Hwang, qual ficava no subsolo da casa. Stephanie apertou minha mão suavemente e me direcionou um sorriso antes de abrir a porta do laboratório.

– Taeyeon! – Mal entrei e senti os braços de meu sogro rodeando meu corpo num abraço confortante. Todos pareciam estranhamente animados hoje, o que estava me deixando bem confusa. – Da última vez que nos vimos você era apenas uma garotinha. Uma bem pequena! – Disse o homem de cabelos grisalhos depois de se afastar. O olhei desconsertada e um sorriso nasceu em minha boca.

– Mas não faz nem um mês desde a última vez que vim aqui.

– ...E você ainda continua do mesmo tamanho. – Respondeu se afastando, sentando-se na escrivaninha que estava do outro lado do cômodo. Olhei para Stephanie e ela também sorria. Acho que meu sogro estava enlouquecendo. – Venham aqui as duas. – Pediu animadamente, puxando duas cadeiras ao seu lado para nós.

Após nos sentarmos, Dr. Hwang passou as mãos pelo rosto e suspirou pesadamente, sem tirar o sorriso do rosto. Ele e Stephanie não paravam de trocar olhares suspeitos e eu estava cada minuto sem entender nada, até que ele finalmente se direcionou para mim.

– Taeyeon, querida, sei que se passaram muitos e muitos anos. Não sei se você ainda tem esperanças nesse belo coraçãozinho, depois de tanto tempo. Mas hoje eu posso dizer, posso dizer que consegui.

– Como assim? Do que você tá falando? – Um riso nervoso me escapou e de repente eu me sentia estranha.

– Eu descobri como retirar seus chifres sem que isso te prejudique. – Respondeu com um grande sorriso e então minha ficha caiu, logo ele continuou animadamente. – Bom, não é cem por cento de certeza que não haverá sequelas, mas não será nada que possa te atrapalhar realmente. Veja. – Ele puxou um caderno cheio de anotações, desenhos e algumas fotos, fazendo várias explicações de quais sequelas poderiam ficar com a retirada de meu chifre e como isso seria feito.

Mas eu não conseguia pensar direito, não conseguia raciocinar. Tudo o que ele dizia chegava aos meus ouvidos como um zumbido sem sentido que meu cérebro parecia se recusar a entender.

O fato é que, depois de tantos anos, eu me acostumei com meus chifres.

Me acostumei a sofrer por ser diferente. Por ser quem eu sou.

 

Flashbacks de todas as dificuldades que passei durante todos esses anos por causa dos chifres. Por um segundo me imaginei sem eles. Me imaginei sem ser odiada por praticamente todos que me conheciam de vista. Me imaginei com mais amigos, com pessoas que se importam comigo. Me imaginei sem dor, essa que sofri por anos.

Mas ainda não conseguia me imaginar sem meus chifres.

 

Eles são parte de mim. Eu nasci com eles e morreria com eles. Eles não me fazem mal e nunca fizeram, a culpa do meu sofrimento é das pessoas. Da ignorância delas. Mas meus chifres, não. Eles separaram as boas pessoas das más. Eles me mostraram quem são amigos de verdade, por quem se vale a pena pôr a mão no fogo.

Yuri. Jessica. Sooyoung. Sunny. Hyoyeon. Stephanie.

Elas me aceitaram assim. Elas são reais, são verdadeiras amigas. Algo que as pessoas que me julgam pelos meus chifres jamais serão, mesmo que eu fosse “normal”.

– Taeyeon?

Levantei o olhar me deparando com as feições cheias de expectativa de Stephanie e meu sogro.

– Não quero tirá-los. – Eles me olharam como se eu estivesse louca e então Dr. Hwang apoiou sua mão em meu ombro, com um sorriso nervoso no rosto. – Não se preocupe, Taeyeon. As sequelas, elas não são coisas realmente.... – Ele parou de falar gradativamente assim que comecei a balançar minha cabeça negativamente com expressão séria.

– Você não precisa tomar essa decisão agora, Taeyeon. Podemos esperar até que você entenda a importância disso.

– Não. – Respondi convicta e o sorriso que eles tentavam abrir se fechava rapidamente. Agora eles me olhavam totalmente sérios. – Por que? – Stephanie se pronunciou pela primeira vez.

Nossos olhos se encontraram e vi o quão confuso os seus estavam. – A pergunta deveria ser: porque eu tiraria?

– P-para ser aceita, oras. Pra que as pessoas parem de te julgar e se aproximem. – Disse totalmente desconsertada. – A questão não é fazer novos amigos, Steph.

– Claro que não. Não estou falando disso.

– Stephanie...

– Taeyeon.

 

[...]

 

 

– Por que eu iria querer ser “aceita” por pessoas que fizeram aquilo comigo? Que riram de mim, que me humilharam, me machucaram. Eu não me importo de ser anormal. – Falava alterada, andando em círculos pela sala de nossa casa. – Você não gosta de mim? Não gosta do que eu sou? É isso? – Perguntei olhando fixamente em seus olhos, que agora denotavam tristeza.

– Claro que não é isso! – Gritou quase que imediatamente, me segurando pela gola de minha blusa. Minha raiva sumiu quase que instantaneamente. Segurei seu rosto entre minhas mãos fazendo carinho em suas bochechas. – Não... Não chore. Desculpe. Eu não quis gritar.

– Não. Me desculpe você, Tae. – Colocou suas mãos sobre as minhas em seus rosto e me olhou enquanto ainda chorava, o que estava machucando meu coração. – Eu só não suporto a ideia de você ter que sofrer mais por causa dos seus chifres. Odeio como as pessoas te olham sem sequer te conhecer. Você nunca foi o monstro que elas dizem.

– E sobrevivi. Sobrevivi a tudo isso. Isso me fez a mulher que sou hoje. – A olhei com ternura. – E você foi meu maior amparo para tudo isso. – Afundou o rosto no vão do meu pescoço, fundindo suas lágrimas com minha pele.

Passamos vários minutos assim até que Stephanie se acalmasse, então segurei seu rosto entre minhas mãos novamente e lhe dei um breve beijo antes de voltar a falar. – Eu mesma me esqueço dos chifres, Steph. Eles já não são mais um incomodo pra mim. Você entende? Eu não posso culpa-los pela frieza das outras pessoas. 

– Sim, eu entendo. – Já mais calma, nos afastamos sorrindo uma para a outra e novamente eu sentia aquele frio na barriga que só Stephanie me faz sentir. – Amanhã passamos no meu pai de novo e conversamos com ele.

Balancei a cabeça positivamente e fui em direção ao banheiro. – Agora vamos tomar banho. Daqui a pouco vamos na pub.

– Fazer o que lá?

– Yuri me chamou pra beber, disse que precisava me contar algo. – Stephanie me olhou com um sorriso reprovador antes de me seguir. – Ela está andando muito com a Hyo, e ainda está te levando pro mal caminho.

– Acho que já sou bem grandinha pra decidir minhas amizades, amor. – Assim que desferi essas palavras, Stephanie deixou uma tapa estralado na minha nuca. Voltei meu olhar para trás, com um bico formado em meus lábios, fingi dor passando os dedos em minha nuca.

– Se demorar muito, vou ir tomar banho primeiro. – Respondeu fazendo pouco caso e minha mente byuntae começou a funcionar. – Poderíamos ir juntas, então... – Lhe lancei meu melhor sorriso ertido.

– Agora não, baby. Senão acabaríamos perdendo a hora. – Piscou o olho e já podia me sentir mais quente. – Quem sabe na volta. Agora vá tomar banho. – E então fui empurrada para o banheiro.

 

 

 

Entre conversas e risadas, Stephanie, Jessica, Sooyoung, Sunny e eu ficamos um bom tempo na pub. Até que Sooyoung e Sunny tiveram que ir embora porque já estava ficando tarde e Yoona precisava dormir.

Eu já estava um tanto alterada, vendo dobrado e afins. O gosto da cerveja ainda queimava em minha garganta e já não tinha mais vontade de beber. Jessica começava a tombar a cabeça para os lados, com os olhos quase se fechando. Yuri e Stephanie quase não beberam e não paravam de conversar um minuto sequer, pareciam tão animadas, como se estivessem planejando algo. Eu estava começando a me sentir cansada.

Até que Yuri se virou para mim, como se tivesse se lembrado de algo. – Taengo! – Disse animadamente, despertado Jessica que estava dormindo calmamente em seu ombro e a fuzilou com o olhar de cobra, mas a morena nem ligou.

– O que?

– Agora, o motivo pelo qual te chamei! – Disse com um brilho no olhar. – Oh, é verdade. Pensei que tínhamos vindo aqui só pra beber, já que até agora você não disse nada realmente importante. – Respondi com a voz grogue, sarcasticamente. Jessica riu do cenho franzido e as sobrancelhas juntas da namorada em uma expressão de raiva, e então esta logo continuou.

– Enfim... Eu estive tentando por muito tempo, como prometi... – Seus olhos voltaram a brilhar e acompanhado dele, um ar de suspense como se estivesse prestes a me contar o maior segredo da humanidade veio junto e isso estava me matando. – Fala logo, mulher!

Yuri segurou minhas mãos em cima da mesa e então todas estavam sorrindo para mim, enquanto eu ainda estava num mar de confusão. Pelo menos até Yuri continuar a falar. – Consegui uma entrevista de emprego pra você na minha empresa! E é quase certeza que vão te contratar.

Todo o cansaço deixou meu corpo e logo eu estava pulando e gritando junto com as outras três, recebendo vários olhares estranhos das outras pessoas que estavam na pub. Stephanie me abraçava e pulava junto comigo, me dando vários beijos no rosto, até que percebi estar esquecendo de algo. – Yuri, Yuri! – Me olhou ainda sorrindo, abraçada a Jessica. – E quanto aos meus chifres?

– O que tem?

– Como assim “o que tem?”? – Perguntei e não sabia dizer se ela estava se fazendo de sonsa ou realmente não havia entendido, porque seu rosto era de total alegria. – Eles me aceitaram mesmo sabendo disso?

Agora a ficha de Yuri pareceu cair e ela soltou um grande “Oh”, antes de voltar a sorrir levemente. – Sim.

Não preciso dizer o quão forte minha felicidade voltou após ouvir sua resposta. Eu estive anos e anos esperando uma oportunidade de emprego, ou pelo menos de tentar uma entrevista, porque a maioria das pessoas não quer alguém com chifres como encarregado em sua empresa, obviamente. Mesmo com a quantidade de cursos que fiz, com meu alto conhecimento, tudo que eles viam era um par de chifres. Até mesmo pra terminar o ensino médio foi difícil.

Laçando o pescoço de Yuri num grande abraço, não conseguia parar de agradecê-la. Minhas lágrimas de alegria molhavam sua blusa enquanto ela apenas repetia “não foi nada”. Logo senti Jessica e Stephanie nos abraçando e rindo. Acho que esse é um dos momentos mais felizes da minha vida.

Algumas horas mais tarde já estávamos todas bem alteradas e felizes por conta da bebida. Como nenhuma de nós veio de carro, não seria problema. Além de não morarmos muito longe dali.

Stephanie e eu nos despedimos com longos abraços em Jessica e Yuri e seguimos para casa de mãos dadas, roubando beijos uma da outra de vez em quando, rindo sem motivo algum. Só de ver o brilho nos olhos de Stephanie e seu bom humor já era motivo para o meu riso se prolongar.

Entramos em nossa casa aos beijos. O único som do recinto era de nossos passos atrapalhados, quais foram ofuscados pelo nosso beijo lento e profundo. Nossa respiração se misturava e nossas línguas se abraçavam em fervor. Minhas mãos apertavam sua cintura a esfregando contra a minha, o que já estava começando a me deixar tensa, porém logo nos separamos alguns centímetros por vontade de Stephanie, que me olhava ternamente. Seu carinho em minha nuca me causava arrepios em todo corpo.

– Por que todos parecem tão felizes hoje? Especialmente você. – Disse com um sorriso brincalhão, procurando acalmar meus hormônios. – Quer me dizer algo? – Perguntei num sussurro, colando nossas testas, fitando seus lábios entre abertos, tão convidativos.

– Bom... Na verdade, sim. Espere aqui. – Se afastou com um breve sorriso após me dar um pequeno beijo.

– Onde você vai? – Perguntei quando a vi entrar em nosso quarto. Andei lentamente até lá, mas antes que pudesse chegar até o cômodo, ela apareceu em minha frente. – Eu te disse pra esperar. Você é uma menina muito teimosa. – Disse segurando meu nariz. Apenas sorri para ela e voltamos a nos encarar. – Então, o que você tinha pra me dizer?

 Seu olhar era cheio de determinação e esperança. – Já fazem muitos anos, você sabe. – Começou a dizer sem jeito. – Eu... Eu acho que te amei desde a primeira vez que te vi, quando te ajudei a levantar do chão e a tirar fotos sem que ela ficassem borradas. – Pausou dando uma fraca risada, a correspondi com o coração explodindo em ternura pela forma tímida em que ela se pronunciava.

– Sim...

– Só Deus sabe como foi difícil ficar longe de você todos aqueles meses quando viajei, mas como isso me ajudou em entender o que sentia por você, e planejar o que faria quando voltasse. – Seu sorriso morreu um pouco enquanto falava e o fantasma da dor que senti naqueles meses passou rapidamente por meus olhos, mas este logo se foi quando o rosto de Stephanie tomou seu sorriso de volta.

– A cada dia eu sinto que te amo mais do que no anterior, e a cada dia eu quero mostrar isso, mas parece impossível. Então eu estive pensando por um bom tempo. Em como você faz com que eu me sinta, no que você causa dentro do meu peito, no quão preciosa você é pra mim. Em como eu te amo. Como sempre te amei.

– Eu também amo você, Steph... – Sussurrei ao fim de sua fala, deslizando meus dedos por seus cabelos.

– É impossível ficar sem você, Taeyeon. – O som opaco da silenciosa noite contrastava com os batuques do meu coração apaixonado. – Eu quero eternizar isso.

Dito isso, Stephanie se ajoelhou em minha frente calmamente. Com nossos olhares acorrentados em chamas de paixão e corações agitados, ela segurou delicadamente minha mão e a levou até seus lábios, beijando-a silenciosamente com os olhos cerrados.

Um frio percorreu toda minha espinha dorsal quando nossos olhos se encontraram novamente, como se uma corrente elétrica estivesse passando por meu corpo. Sua mão esquerda que até então estava atrás do corpo, se abriu em minha frente, relevando uma pequena caixinha. O fruto de minha emoção começava a embaçar minha visão e um sorriso brincava na borda de meus lábios.

 

Parece que as coisas estão dando certo pra mim.

Finalmente.

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