Sentada no banco de trás da viatura Taeyeon tentava manter o autocontrole, o guarda apenas havia deixado ela na viatura onde duas mulheres se encontravam, uma delas sorriu para Taeyeon e voltou a olhar para frente. A policial se espreguiçou no banco do passageiro, a motorista parecia uma louca estava murmurando “palavras” incoerentes, Taeyeon imaginou que fosse de alguma língua estranha, quem era ela para questionar? O que deixou Taeyeon preocupada foi ver a placa que indicava a entrada a Jeunju ficar para trás e cada vez mais distante.

-Por que estamos saindo da cidade? – Perguntou olhando para ambas.

-Porque sim Taeyeon, é uma longa história – a mulher virou e fitou Taeyeon com um sorriso acolhedor – mas com sorte teremos muito tempo para eu te contar.

-Quem é você? – Taeyeon não gostava nada desse tom intimo que ela usava.

-Pode me chamar de Narsha – então ela soltou o sinto e com uma rapidez impressionante passou para o banco de trás junto com Taeyeon – e ela é Hyori, estamos aqui para te ajudar e proteger.

-Do que você está falando? Que maluquice é essa? Me deixem sair daqui, vocês não podem simplesmente me sequestrar e dizer que estão me ajudando! E, aliás, eu sei me proteger sozinha. – Cruzou os braços, chutando o banco da frente impacientemente.

-Isso não um sequestro! Céus, como você é cabeça dura! Estamos tentando te ajudar, é difícil entender, eu sei, já estive no seu lugar antes – ela suspirou olhando para a carranca e cara de desinteresse da adolescente – Não podemos te deixar ir, porque não, você não sabe se proteger sozinha, não do que nós estamos tentando proteger você e mais alguns adolescentes.

-Proteger do que? Tem algum tipo de maníaco atrás de adolescentes como eu?

-Sim, pode-se dizer que sim... – Taeyeon abriu a boca tentando argumentar – mas não apenas um... Há muitos deles.

-Deles? Quem são eles? – Já estava perdendo a paciência e odiava quando isso acontecia porque a fazia perder o controle.

-De algumas pessoas malvadas.

-Pessoas malvadas? Você só pode estar brincando! Não me trate coma uma criança! – Hyori riu ainda olhando para frente e se desculpou após receber um olhar desaprovador de Narsha pelo retrovisor, ela voltou a fazer o que estava fazendo antes, murmurar e murmurar.

-Eu não posso dizer agora, mas eles são os piores seres que já vi, e desde que formaram um “exercito” se tornaram um pouco poderosos demais e nós precisamos combater entende?

-Não, eu não entendo! – Taeyeon balançou as mãos no ar – com todo o respeito, mas você é louca! Com todo esse papo de pessoas malvadas, exercito e tudo o mais...eu quero voltar para casa agora!

-Você precisa de ajuda Taeyeon, não podemos te deixar ir – o olhar de Narsha parecia triste e autoritário – não temos outra saída.

-Me ajudar em que?

-Você por acaso não pode fazer coisas, digamos, especiais? - Bingo! Taeyeon estava assustada – tudo bem, eu também posso fazer coisas especiais, assim como Hyori e muitas outras pessoas que você vai conhecer hoje.

-Especiais? – Taeyeon levou a mão ao rosto, enxugando as partículas de suor formadas em sua testa – minha mãe sabe que estão fazendo isso?

Hyori finalmente olhou para trás com um ar preocupado.

-Bem, nós meio que fizemos sua mãe e todos que você já conheceu... Como posso dizer, eles não sabem quem você é, você nunca existiu – Narsha disse séria.

-O que?! – Gritou.

-Nos desculpamos por isso, mas como já disse, nós precisamos proteger você, e as pessoas que você ama também.

-Você está me dizendo que com um passe de mágica vocês apagaram a minha existência?

-Com um feitiço...

-Vocês são loucas ou o que? Me deixem sair agora!

Seja lá o que aquelas duas estavam dizendo, Taeyeon não colocava muita fé, afinal nem as conhecia, Narsha falava tanto nessas pessoas malvadas e sobre protegê-la, mas podia ser muito bem uma pessoa malvada e querer mata-la, aquele era o momento perfeito para ter o que sua mãe costumava chamar de anomalias.

-Eu sei o que está tentando fazer, Hyori está te bloqueando, por quê? Ela é uma bruxa e até que você saiba controlar isso – fez uma pausa dramática - não vai ter seus poderes de volta.

Taeyeon abriu a boca em um “O” perfeito, e cruzou os braços emburrada enquanto Narsha falava e falava.

-Estamos indo para Chojayeon-ui – Narsha falou.

-Hm? Esse lugar não existe, nunca ouvi falar.

-Claro, fazemos questão de deixar o lugar escondido, onde eles, aqueles desertores desgraçados – bufou – nunca entrarão! – Disse convencida – Vamos pegar um ônibus para lá, falta apenas mais uns minutos.

-Isso é loucura – Taeyeon sussurrou a si mesma, todas as baboseiras que Narsha falou entrou por um ouvido e saiu pelo outro... Vampiros, bruxas, lobisomens e tudo o mais? Se o lugar para onde iria tivesse mais gente como aquelas duas, ela tinha certeza que estava indo a um manicômio.

Quando a viatura parou Taeyeon teve o instinto de correr, ou pegar seu celular e ligar para a policia, ou para sua mãe e avisar sobre esse sequestro relâmpago, mas mudou de ideia quando Narsha pediu para que ela se afastasse e Hyori começou a falar e falar alto, coisas que Taeyeon jamais entenderia e então o carro simplesmente sumiu, dando lugar a uma poeira brilhante e branca que logo desapareceu. Chocada? Puft! Isso era pouco, Taeyeon não conseguia proferir uma sequer palavra, ou mexer um músculo.

-Espero que esteja mais convencida agora – Narsha piscou – vamos, precisamos nos reunir com os outros.

Hyori lhe entregou um pequeno papel, e elas seguiram até um bando de adolescentes barulhentos e estranhos, as duas se afastaram, deixando Taeyeon sozinha com seus botões. Um ônibus finalmente apareceu e em fila todos os adolescentes entravam, e sentavam em seus assentos numerados, Taeyeon sentiu-se estranha, segurando firme seu papel com o número 25 imprimido, olhou para os lados, todos aqueles rostos perdidos, debochados e desconhecidos a fez sentir saudades de casa, e ela nem ao menos havia partido ainda. Eles também a olhavam curiosos. Por fim encontrou seu lugar, ao seu lado sentou uma garota alta e pálida, segurava na mão uma espécie de bebida extremamente vermelha, ela percebeu os olhos de Taeyeon e lhe ofereceu, assustada ela recusou.

-Prazer, sou Seohyun – ela disse levantando a cabeça, seus olhos tinham um tom avermelhado, algo que Taeyeon jamais havia visto antes, ficou um bom tempo perdida os olhando.

-O prazer é meu, sou Taeyeon – estendeu a mão, quando elas se tocaram Taeyeon sentiu um frio na espinha, sua pele também era fria, mas a de Seohyun era fora do normal.

-Minha mão é bem fria não é? – Ela perguntou quando percebeu a reação da outra.

-Um pouco – respondeu envergonhada querendo abrir um buraco na terra e se enfiar lá dentro.

-Um pouco? – Ela riu – está tudo bem, eu tenho a pele muito fria e gosto disso, odeio calor.

-Realmente sua pele é muito fria – rendeu-se por fim e a outra fechou sua garrafa e a guardou dentro da bolsa sorrindo.

-É sua primeira vez aqui? – Perguntou se arrumando no banco.

-Sim... Longa história, aquelas duas doidas me sequestraram, não consigo entender nada e me sinto perdida com toda essa história – bufou – é sua primeira vez também?

-Não, já estive em Chojayeon-ui  ano passado, é um lugar ótimo, acredite – ela olhou em volta, nem todos tinham entrado no ônibus ainda – Jesus, esse povo é muito lento – reclamou.

-Como é lá? – Taeyeon se arrumou apoiando os pés na beira do assento.

-Bom, é estranho no começo, mas eles ajudam cada aluno a descobrir quem eles são, pode apostar que eu era como você, mas agora que sei o que sou a vida se tornou bem mais fácil. – estalou os dedos.

-Do que está falando? – A confusão dentro da cabeça de Taeyeon a fez querer vomitar.

-Pessoas especiais Taeyeon, quando chegarmos lá eles te explicam melhor  – se deu por vencida ao ver a cara de paisagem de Taeyeon – ah finalmente – levantou os braços quando o ônibus começou a andar – Ei bruxa! – Acenou.

-Eai vampira! – a garota loira sentou-se no banco ao lado, havia uma borboleta gigante em seu ombro, Taeyeon se forçou a acreditar que talvez fosse seu bichinho de estimação quando viu Seohyun chamando a borboleta de Soo – quem é ela?

-Taeyeon, essa é Hyoyeon – as apresentou.

-É um prazer – Taeyeon estava confusa com essa história de uma chamar a outra de bruxa ou vampira e as duas continuarem normais como se nada tivesse acontecido, se alguém a chamasse de bruxa ela teria certeza de garantir um belo barraco, até se lembrar de tudo o que Narsha dissera e que ela não prestou atenção e lembrou-se da viatura que sumiu de forma misteriosa, ou aquilo era um sonho maluco ou sua vida e todas as suas crendices estavam para mudar.

A viagem era realmente longa e assustadora, estava escuro e tudo que se podia ver em volta eram árvores e mais árvores e só se podiam ouvir os murmúrios e roncos de alguns alunos. O céu não estava muito estrelado, mas a lua brilhava cheia entre algumas nuvens. Taeyeon olhou para os lados, uma garota a observava a alguns bancos atrás, ela era bem branca e tinha os cabelos escuros e usava uma jaqueta preta, as unhas compridas e rosas, com um olhar assustador, do seu lado uma garota dormia com a cabeça apoiada em seus ombros, usava luvas e tinha os lábios quase da cor cinza, em outro banco, outra garota a encarou e sorriu, essa era pequena e diferente da outra ela parecia ser gentil, então ela apoiou a cabeça no banco e fechou os olhos, Taeyeon voltou a olhar para a outra, ela continuava do mesmo jeito, a mais velha deu de ombros e voltou à atenção a seu iPod, que por sorte estava em seu bolso, escolheu uma música qualquer, se ajeitou no banco e tentou dormir, hora ou outra Seohyun acordava reclamando de fome e de como aquela bebida avermelhada, que Taeyeon sentiu um horror imenso ao descobrir ser sangue, estava ruim e que ela precisava logo de sangue novo ou enlouqueceria de fome. Depois de Hyoyeon resmungar para ela calar a boca e dormir, Taeyeon, depois dessa noite maluca, finalmente conseguiu também entrar na Terra dos sonhos.

Lá atrás, Tiffany estava entediada, não conseguia dormir a dias e sentia-se incomodada por não saber para onde estava indo, seu pai não explicou nada quando a colocou nesse ônibus, apenas disse que seria o melhor para ela, desistiu de tentar descobrir, tudo o que sabia é que estava indo a uma espécie de internato. Com a cabeça apoiada em seu ombro, sua melhor amiga, Jessica, dormia como uma pedra, ao contrário de Tiffany, mesmo preocupada e ansiosa tudo o que ela tinha que fazer era dormir, dormir era a resposta para tudo. E Tiffany invejava muito isso, odiava suas olheiras fundas causadas pelas noites em claro, tudo que queria fazer era fechar os olhos e apagar por dias.

Mas no momento tudo o que queria fazer era chegar logo a esse tal internato que ela nem ao menos sabia o nome, só sabia que ficava em Chojayeon-ui, lugar esse que ela nunca ouvira falar e que significava literalmente “sobrenatural”, tudo era muito estranho, mas mesmo assim, quem era ela para julgar o momento? Só tinha que ter paciência e esperar até que chegassem.

Não muito longe dali estava Sunny, que estava apenas com os olhos fechados e sabia muito bem para onde estava indo, afinal era seu segundo ano lá, ao seu lado uma garota alta e morena dormia desajeitada no banco com a língua para fora, era Yuri, que com seu jeito estranho e barulhos que fazia ao dormir e o ser no banco de trás que não parava de mastigar, estava irritando Sunny até a morte, a baixinha já estava perdendo a paciência, então subitamente Yuri acordou e espreguiçou-se, olhou para os lados e para a nervosa Sunny ao seu lado e sorriu. A baixinha sorriu de volta, no banco de trás, Yoona se alimentava sem parar e quando viu que Yuri acordara começou a passar comida para a morena, que agora também mastigava sem parar, Sunny revirou os olhos, seria uma longa viagem.