Metrô

Description

 

- É sua estação Chen.
- Meu nome é Jongdae, não Chen.
- E o meu é Minseok, não Xiumin. Até amanhã JongDae.
- Até amanhã Minseok. 

 

Foreword

 

Metrô

Ao vender o meu carro eu tive que aprender a andar de metrô. No começo foi um sacrifício, porque eu me perdia todo dia, mas depois de uma semana eu peguei o ritmo. Meu trabalho era meio longe, e ao parar de andar de carro, percebi que podia ver muitas mais coisas do que antes, além de não ter que procurar lugar para estacionar. 


A primeira vez que eu o vi, estava se encolhendo no banco, pelo frio de final de tarde de um inverno rigoroso. As bochechas proeminentes estavam rosadas, e o gorro não me deixava ver a cor de seu cabelo. 


A segunda vez foi exatamente igual a primeira. Mesmo banco, mesmo vagão, mesmo horário, mesmo jeito de se encolher. Encarava tão fixamente o chão que eu também comecei a encarar, procurando o que chamava tanto sua atenção.


Depois da segunda vez, houve uma terceira e uma quarta. Logo eu o via todo dia útil, as vezes em lugares diferentes, mas sempre no mesmo vagão.


Ele não parecia me ver. Depois que o inverno acabou, e as roupas se tornaram mais leves, pude ver como aquele garoto com rosto de criança realmente era chamativo. Os cabelos ruivos, a pele branquinha, os olhos grandes e a boca rosada. Não era segredo para ninguém que aquele garoto definitivamente faz meu estilo. 


Com o tempo, passei a chamá-lo de Xiumin, depois de ficar escrevendo numa folha de papel, nomes que combinassem com a expressão concentrada que fazia ao jogar no celular. Xiumin foi o nome circulado. Até hoje não sei onde a folha foi parar. 


Meus amigos me chamavam de louco, depois que descobriram que "o tão famoso Xiumin" era na verdade, minha paixonite de metrô e que eu nunca tinha trocado nenhuma palavra com ele. Bom, eu não precisava.


Eu aprendi tudo o que uma pessoa bem atenta pode aprender sobre outra no metrô. Eu sei que ele gosta de café, por muitas vezes tê-lo encontrado com um copo na mão e com uma expressão feliz de quem ganhou o dia. Percebi que ele gosta mais do frio, mesmo sendo extremamente sensível a isso, já que no calor, ele parecia ficar mais emburrado. Percebi também que ele não sabia disfarçar qualquer sorriso, e por isso, quando uma estudante tropeçou e caiu no meio do vagão, a risada dele foi a coisa que mais chamou atenção, ria tanto que os olhos estavam lacrimejados, pediu desculpas diversas vezes e ajudou a moça com o rosto vermelho a se levantar, mas ainda tinha um sorriso no rosto. Foi nesse mesmo dia que ouvi pela primeira vez sua voz.


O garoto não parecia ser acostumado a carregar guarda-chuva, porque já o peguei muitas vezes molhado, com a bolsa de couro pingando. Nesses dias ele entrava marchando no vagão, me fazendo rir contido.


Já fazia quase um ano que me encontrava com Xiumin de segunda à ta, quando ele desapareceu. Eu fiquei preocupado, era óbvio, e me martirizei por não ter pego seu número enquanto ainda podia. Comecei a ir para o trabalho mais cedo, já que não conseguia ter uma boa noite de sono de qualquer maneira, e foi aí que reencontrei o dono das bochechas mais fofas da Coréia. 


Eu não tive coragem de pedir o seu número, como pensei que teria, caso o visse mais uma vez. De qualquer modo, nesse horário o metrô estava mais vazio, e eu comecei a sentar ao lado de Xiumin. Foi assim que eu descobri como ele odiava acordar cedo, já que passava a viagem inteira com um bico nos lábios. 


Como Xiumin descia depois de mim, eu podia passar metade da viagem olhando seu rosto, já que ele sempre pegava no sono. Apesar de aparentemente não parecer ser acostumado a acordar ainda mais cedo, não tinha olheiras.


Algumas semanas depois peguei Xiumin com os olhos marejados, abraçando os joelhos, pouco ligando para o olhar das outras pessoas que pareciam condenar a maneira "inapropriada" que o garoto agia. Depois desse dia, Xiumin pareceu emagrecer, e minha vontade de falar com ele e perguntar o que estava acontecendo aumentava cada vez mais.
A fase demorou alguns meses para passar, mas finalmente ele pareceu manter um peso estável. Xiumin voltou a rir, e por mais que tivesse emagrecido, as bochechas continuavam grandes.


No dia em que se completava dois anos em que o vi pela primeira vez, Xiumin parecia tão entediado quanto uma pessoa podia ser, sugava o canudinho do copo de suco, mesmo não tendo mais nada, fazendo barulho. Parecia ser a única distração que tinha, ri baixo com aquilo. Sentei ao seu lado quando o vagão esvaziou ainda mais, e ofereci um dos meus fones de ouvido para ele. Xiumin sorriu, aceitando, e largou o canudinho. Deus sabe como meu coração pulou ao ver ele me aceitar como "companheiro de viagem", mesmo que eu já o considerasse ainda há muito tempo. Prestava atenção nos pés do ser ao meu lado, que balançavam no ritmo da música, até que ele me cutucou. 


- É sua estação Chen. - Ele falou baixo, me entregando o fone e voltando a sugar o canudinho. Ergui a sobrancelha, eu não me chamava Chen.


- Meu nome é Jongdae, não Chen.


- E o meu é Minseok, não Xiumin. Até amanhã JongDae. - Sorriu, dando um tchauzinho com a mão enluvada. Andei à passos mecânicos para fora, antes que a porta fechasse, e parei do lado de fora, vendo-o se afastar.


- Até amanhã Minseok. 

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