Capítulo 1

Laços

 

"Como pudemos estar tão certos e tão errados?"

 

As cortinas brancas enfeitavam as janelas de vidro do pequeno restaurante à beira mar. O chão de madeira contrastava lindamente com os pequenos porta-velas de vidro que enfeitavam as mesas. Xiumin olhava entediado para as portas, olha o relógio. Já passava vinte minutos do horário combinado e nem fôra ele que sugerira o horário.

Bufa mais uma vez, passando a mão pela borda da lamparina enquanto espera, mais pacientemente do que talvez devesse, Kai aparecer. Era uma longa estrada essa que os dois caminharam até ali, se dois anos pode-se considerar longo. Ao menos Xiumin sentia que era, e agradecera cada minuto de sua existência por levá-lo até ele. Se havia algo de que se arrependia em seu relacionamento com Kai era não tê-lo encontrado antes.

Ou talvez devesse acrescentar à lista seu péssimo gosto por chegar na hora combinada nos cantos. Por que Xiumin sempre se apressava para chegar na hora, mesmo? Suspira e olha para a porta novamente, desta vez finalmente avistando o moreno, seu sorriso estonteante irrompendo no rosto, e seu passo meio desengonçado até ele. Kai tinha essa habilidade de fazer as coisas erradas e parecer que não fez absolutamente nada de mal.

Dá um beijo selinho no mais velho assim que chega. Xiumin no entanto não se contém. “Quase meia hora, Kai, sério?” O mais novo sorri, sentando na cadeira à frente. Ajeita o cabelo com as mãos antes de estender as palmas sobre a toalha da mesa, visivelmente nervoso não fosse tanto pelo sorriso.

“Eu tenho algo a fazer e preciso ser rápido. Estão nos esperando para uma festa.” Diz, vendo o rosto do menor se espantar em confusão.

“Que festa?” Não lembra-se de ter sido convidado para nenhuma festa recente, mas o mais novo tinha essa também habilidade de achar festas de última hora.

Kai ergue um dedo pedindo que espere um momento. Tira algo de dentro do bolso do casaco que Xiumin não consegue ver direito. Até porque Kai o esconde na mão e sai de sua cadeira para ajoelhar-se a seu lado. Só então Xiumin entende e muito depressa. Vê a caixinha preta nas mãos trêmulas do moreno. Ele responde, com muita emoção na voz,

“Festa do nosso noivado, se sua resposta for sim.” Diz, abrindo a caixinha e dentro surgindo uma aliança “Quer casar comigo?”

Xiumin não encontra palavras, todas se prenderam na garganta àquela visão. Pequenos gritos e vozes de espanto surgem nas mesas ao redor, já bem conscientes do pedido de casamento surgindo na mesa ao lado. Xiumin deu conta de que até alguns garçons e garçonetes pararam para ouvir a resposta.

As mãos se unem à frente da boca da emoção incontida. Já tem os olhos marejados quando responde, “Claro que aceito.”

Pula nos braços do outro sem bem se preocupar com a caixinha que Kai equilibra nas mãos. Levanta-se sem desfazer o abraço apertado e de maneira brincalhona ergue o outro de forma que tire seus pés do chão. Abraça-o firmemente agora, o queixo repousando em seu ombro. “Te amo.” E é entre lágrimas que o outro responde à mensagem. O local enchendo-se de aplausos.

“Bem...” Kai respira fundo, afastando o outro relutantemente e tirando a aliança para colocá-la em seu dedo. Olha para seu rosto molhado em seguida. “Uma festa nos espera.” Dá um sorriso maroto arrastando o mais velho consigo porta afora do estabelecimento.

/-/-/-/

A casa de praia já estava cheia com tudo o que Kai e Xiumin precisavam para comemorar o noivado. Bebidas, comida, amigos. O moreno tivera todo o tempo do mundo para armar tudo isso e ainda comprar uma aliança sem que o menor percebesse.

Xiumin trabalhava com artes plásticas e isso tornava muito mais fácil escapar de sua atenção quando se concentrava horas a fio em algum projeto artístico fosse pintura, escultura ou simplesmente resolvia pintar uma das paredes (ou várias) da casa.

Já sem o terno e com a blusa social alguns botões aberta, desensacada, Kai bebia mais e mais, desculpado pelo dia de festa, volta e meia abraçando Xiumin e volta e meia lançando algum espumante em cima de alguém. A algazarra era total, a felicidade nos olhos de Xiumin, visível. Os amigos brincavam e se provocavam, gritavam e riam, os noivos trocavam beijos demorados e frequentes. Eles eram um casal maravilhoso, podia-se dizer. Kris e Tao, no entanto, não se tocaram mais desde que chegaram.

Kris toma mais um gole lento e educado da taça de champanhe oferecida uns minutos atrás. Recolhe-se à poltrona longe das brincadeiras e risadas mantendo-se sério, ou com um daqueles curtos sorrisos no rosto, boa parte do tempo. Não atraía atenção ou estranheza dos amigos, acostumados a ele de tal forma que até o apelidaram de “the cold guy”. Tao estava sendo seu normal, um crianção diante das brincadeiras, envolvido nelas até o pescoço, e fazendo manha quando lhe negavam algo. Kai e Xiumin podiam se dizer um casal que combinava, Kris concordaria, mas ele e Tao... O que há de comum entre um homem de negócios sério que busca a estabilidade financeira e um garoto que é modelo e ator e em grande parte parecia mais uma criança gigante?

Baixa os olhos pensativo sobre a taça de champanhe. Ele e Tao nunca tiveram uma festa de noivado. Nunca houve alianças a serem trocadas. Estavam juntos há tanto tempo quanto Kai e Xiumin, começaram a namorar apenas dois meses antes daqueles dois, mas se o relacionamento dos dois amigos permaneceu aquecido com o tempo, a coberta da cama de Tao e Kris parece ter caído ao chão.

“Kris!” O louro sobe a vista e encontra ali o grande amigo de sorriso aberto que naquele momento fazia questão de escancará-lo no rosto. Chanyeol tinha um sorriso grande e orelhas de abano, os fazia chamá-lo de Dunga de vez em quando.

“Oi, Channie.”

“Tem um minuto? Tenho uma proposta para você, imperdível!”

Kris acena, não se entusiasmando a princípio. O que Chanyeol considerava imperdível em muitas situações não batia com a definição que Kris fazia da mesma palavra em seu dicionário. Observa-o rir e sentar no sofá ao lado de sua poltrona, quase na ponta de excitação, aproximando-se de Kris com os olhos cheios do brilho de quem dá uma boa notícia.

 “Consegui algo perfeito para vocês!”

Vindo de Chanyeol na certa era algo que se negaria a fazer. “O que é?”

“Soube que precisam de grana, hoje meu produtor me procurou para divulgar papéis que ele está precisando para fazer um filme.”

“Filme?”

“Vamos por partes.” Ele diz animadamente. “Tao é ator, não é?” Pergunta, recebendo um aceno afirmativo de cabeça de Kris. “Acho que não seria maior problema para você atuar com ele? Eu sei que é um homem de negócios e tal, mas não deve ter vergonha de mostrar a cara para uma câmera, não é?” Ri, mas Kris não acompanha ainda.

“A proposta é para eu atuar com o Tao?”

“Veja bem.” Ele junta as palmas das mãos como quem tenta se focar na informação a ser passada de maneira clara. “O meu produtor irá fazer um filme e precisa de atores para este filme. Será sobre um romance gay e ele quer atores que sejam um casal na vida real. Sabe? Deixar tudo mais real, essas coisas. Um casal apaixonado e que passe isso na tela.”

“Ah, sei...” Kris começa a entender, mas não parece muito entusiasmado. Chanyeol continua, alheio à sua falta de animação.

“Eu indiquei vocês.” Ele diz, abrindo largo sorriso, e diante da falta de reação do amigo prossegue. “Vocês são um casal, vocês se dão super bem, precisam de dinheiro, tudo conspira a seu favor, meu amigo! E de quebra ainda poderá ficar famoso!” Chanyeol ri da própria notícia. “Ah, e soube que eles pagam muito bem. E quando digo ‘muito’ eu realmente quero dizer ‘muito’.”

Kris está sem palavras, pesando ainda a notícia que recebera, o coração apertando. Eles não eram exatamente o que procuravam, perdidos na frieza dos dias de um relacionamento que já foi mais caloroso, mas precisavam de dinheiro e isso era uma proposta tentadora. Quanto à verdade... Há algum tempo que a escondiam mesmo dos amigos. Quem poderia dizer que um estranho notaria?

Suspira, sentindo-se um tanto dividido ao levantar a cabeça e encarar o outro. “Vou falar com Tao.”

O amigo apenas abre um largo sorriso, estendendo a ele o copo que acabara de pegar de uma bandeja como se oferecesse um brinde e tomando-o em seguida.

/-/-/-/

O casal chega ao grande apartamento cansado, Kris tirando logo o terno e indo ao quarto, Tao passando pela cozinha para pegar um copo d’água na geladeira. Não se falam, apenas andam pela casa como se tivessem ensaiado a ausência de encontros pelos corredores.

Kris tira de dentro do bolso umas folhas que Chanyeol lhe passara e suspira olhando para elas mais uma vez, pensando se deveria falar com Tao a respeito. Olha em direção à porta, o moreno saía da cozinha. Deixa os papéis sobre a cômoda e começa a desabotoar a camisa. Vê Tao entrar e sentar à beira da cama para tirar os sapatos.

“Vou tomar um banho.” Avisa, e Tao apenas concorda com a cabeça, não fazendo menção de segui-lo. Há algum tempo Tao não o acompanha mais ao banho.

Kris para à porta, pensando melhor. Volta e pega os papéis sobre a cômoda, entregando-os silenciosamente a Tao.

“O que é isso?” O mais novo pergunta, franzindo o cenho.

“É uma proposta que Chanyeol me fez hoje. Inclui você. Gostaria que analisasse.”

Kris aproxima-se de seu lado da cama, vendo-o sentado com os papéis do contrato em mãos, analisando-o pesadamente. Senta ao seu lado, as mãos suadas sobre as pernas. “É uma oportunidade de ouro, Tao.” Diz após longo silêncio, e o outro apenas responde um sim murmurado enquanto transcorre as linhas do documento. “Quer fazer isso?” Pergunta mansamente, e vê o outro parar de ler pela primeira vez para olhá-lo.

“Já nos escolheram?”

“Chanyeol disse que nos indicou, creio que temos alguma preferência.”

“Hum.” Tao volta a olhar os papéis. “Por que nós?”

Kris suspira como se estivesse prestes a dizer uma mentira, e dolorosamente estava.

“Querem um casal real para interpretar os protagonistas.” Kris morde o lábio, receoso. “Um que... Representasse fielmente um casal gay apaixonado.”

Tao quer dizer que isso não parece muito com eles, mas evita dizer aquelas palavras dolorosas. Porque embora o que desde o início considera como casamento esteja se partindo aos pedaços, ainda têm esperanças de que ele se reerga de algum lado, algum modo, que não tenham estudado ainda. Ainda que suas esperanças estejam lentamente virando pó. Balança a cabeça olhando novamente os papéis e Kris acha tortuosa a espera.

“Ok.” Fala por fim. “Vamos tentar.”

 


A/N Após anos me dedicando a escrever fanfics para o fandom SONE, recentemente me tornei fã de Exo (há quatro meses) e venho me esforçando por uma idéia para uma fanfic para eles. Espero que gostem desta, que está sendo pensada com muito carinho. >.< Cuidem bem dela, ok? rs Me digam o que acharam desse singelo começo. >.< Um beijo, e até a próxima! ^^ 

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