*Daehyun’s P.O.V*

Daehyun abriu os olhos lentamente, olhando para uma parede alva como a neve, o que lhe transmitiu uma sensação de paz. Ao virar a cabeça para o lado, reparou que o que tinha visto antes afinal não era uma parede, mas sim o tecto. Sentou-se rapidamente na maca, olhando para os fios que o ligavam a uma máquina e para a camisa branca até ao meio das pernas que tinha vestida. Impressionado, arrancou os fios e tentou levantar-se, quando foi surpreendido por uma mão que lhe agarrou o pulso firmemente. Olhou para trás e viu que Taemin era o dono da mão, o que o fez imediatamente sacudir o braço bruscamente para se libertar do seu aperto, emitindo um rugido baixo e ameaçador. Ao fazer este movimento, reparou que alguém estava deitado no sofá que se encontra por detrás de Taemin. Era Yoon, que tinha a cabeça encostada às costas do pequeno sofá e as mãos juntas sobre o colo, com uma expressão pacífica no rosto.

Daehyun olhou-a enternecido, quase esquecendo que Taemin ainda se encontrava no quarto. Pelos vistos havia muita coisa a explicar entre eles.

- O que estou aqui a fazer ? – perguntou agressivamente, claramente não agradado pela presença do seu inimigo.

- Bem, isto é um hospital, o que achas ? – retorquiu Taemin asperamente. – Mas não agradeças a mim… Agradece a ela – e fez um gesto com a cabeça em direção dela. – Ela fez questão de ficar aqui a noite toda até acordares.

Para Daehyun compreender melhor a situação, Taemin levou os seus dedos às têmporas dele e deixou fluir as memórias de quando o encontraram, de como o levaram para o hospital e o que aconteceu até ele acordar. Tendo terminado isto, Taemin voltou a sentar-se ao lado de Yoon no sofá e colocou a cabeça dela encostada ao seu ombro.

- Que estás a fazer ?

- A tentar reconquistá-la. Sabes perfeitamente de quem ela era em primeiro lugar… Sabes perfeitamente quem a protegeu desde sempre… Não vou abrir mão dela.

- E quando desapareceste ? Quem é que achas que ficou com ela dia após dia ? Tu simplesmente foste apagado das memórias dela ! Aliás, até fizeste questão de desaparecer !

- Fi-lo para apagar a porcaria que fizeste - disse Taemin calmamente, mas a força das suas palavras fez Daehyun ficar mudo. - Não podia deixar nenhuma ponta solta se a quisesse proteger. Podes dar-te por agradecido por também não te ter apagado, mas podes ter a certeza que não era só da mente dela que o fazia...

Daehyun permaneceu mudo após isto, olhando para eles os dois como se tivesse voltado 2 anos atrás. Afinal Taemin era o bom da fita e ele, Daehyun, só tinha conseguido destruir a vida de Yoon. "Se eu não tivesse estes malditos poderes, nunca teria sido levado pelo Alfa e nada disto teria acontecido...", pensou isto mais do que uma vez nos últimos 2 anos e voltara a pensá-lo agora. Baixou a cabeça e confessou:

- Sabes que eu fiz tudo o que pude por ela neste tempo. Nunca me importei com ninguém como me importo com ela, mas parece que o meu trabalho está feito e terminado agora que chegaste - suspirou, enquanto Taemin ouvia atentamente sem mostrar qualquer expressão. - Agora já só tenho que me importar com metade do problema...

Daehyun voltou a deitar-se na maca, enquanto Taemin fechou os olhos e encostou a sua cabeça à de Yoon, tentando procurar conforto para dormitar. Pelos olhos dele, parecia que tinha ficado a noite toda acordado à espera que Daehyun despertasse.

- Sabes... - começou Taemin após vários minutos de silêncio. - Eu amo-a de verdade... Só fiz o que fiz para a proteger de tudo o que pudesse fazê-la sofrer nestes anos. Apenas voltei a dar-lhe a memória porque está na hora de ela ser protegida a sério... Ordens superiores, não tem nada a ver com querer separá-la de ti. Apercebi-me que ela iria sofrer menos se soubesse da verdade do que se voltasse a sofrer às tuas mãos ou às de Yena ou de qualquer um da tua agência.

Seguiu-se uma longa pausa, como se Daehyun estivesse a pensar ponderadamente em cada uma das palavras de Taemin e olhou para Yoon. "Sim, ela está bem contigo. Ela sempre fez as escolhas certas..."

- Compreendo... - murmurou, e após isto o quarto mergulhou no silêncio.

*Yoon’s P.O.V*

Yoon tinha tido uma noite mal dormida, devido a todas as preocupações que estava a enfrentar naquele momento. Os médicos, ou melhor os agentes médicos da ala hospitalar da sede Coreana da organização em que Taemin trabalha garantiram-lhe que apenas lhe tinha sido injetada morfina suficiente para o fazer adormecer por umas quantas horas e que tinha apenas alguns arranhões, mas nada de especial. Mesmo sabendo isto, ela não conseguia tirar da cabeça que ele não estava bem de todo, sentindo-se culpada pela situação, apesar de ela não ter culpa diretamente.

E a maior preocupação na cabeça dela era Youngjae, o seu coração apertava cada vez que pensava no irmão e no seu paradeiro. "Para onde é que aquela louca o levou ?", pensou inúmeras vezes naquela noite, tendo pesadelos com cenários horríveis que podiam ocorrer ao irmão. Acordou por duas vezes a chorar, ao que Taemin acudiu, sempre vigilante. Ela nem tinha noção se o acordava ou se ele já estava acordado, só sabe que sempre que acordava, quer estivesse a chorar ou não, ele estava lá, o que era bastante reconfortante.

Voltou a acordar do seu estado de dormência pela enésima vez naquela noite, mas desta vez foi devido a umas vozes... Estava demasiado dormente para as distinguir até que finalmente tomaram a forma das vozes de Daehyun e Taemin. Yoon manteve os olhos fechados e sentiu a sua cabeça a ser movida, pousando no que parecia ser o ombro de Taemin. O que as vozes diziam ainda continuava indistinto para os seus ouvidos apesar de sentir a vibração da voz de Taemin na sua cabeça, mas ela sentia-se confortável apoiada nele e recusava-se a sair daquele transe. O seu corpo moldava-se tão bem ao dele que só de estar encostada sentia que estava no sítio certo. Coisa engraçada este destino.

Após um longo silêncio, finalmente Yoon conseguiu entender o que as vozes diziam pois já se sentia mais desperta.

- Sabes... – ouviu Taemin começar, sentido a vibração da sua voz. - Eu amo-a de verdade... – “De quem é que ele está a falar ?”, pensou ainda com os olhos fechados. - Só fiz o que fiz para a proteger de tudo o que a pudesse fazer sofrer nestes anos. Apenas voltei a dar-lhe a memória porque está na hora de ela ser protegida a sério... Ordens superiores, não tem nada a ver com querer separá-la de ti. – o seu coração começou a bater cada vez mais depressa ao ouvir o que ele tinha dito. - Apercebi-me que ela iria sofrer menos se soubesse da verdade do que se voltasse a sofrer às tuas mãos ou às de Yena ou de qualquer um da tua agência.

Seguiu-se uma longa pausa, e Yoon aconchegou-se ainda mais para junto de Taemin.

- Compreendo... – murmurou Daehyun, o que pareceu terminar a conversa.

Yoon sabia que o que havia entre ela e Taemin antes de tudo aquilo acontecer era mais forte e maior do que o que sentia por Daehyun, e tudo voltou a ser como antes. A química que houve no seu reencontro foi indiscutível, mas não o poderia dizer nem mostrar, não aqui e nem tão cedo. Preferia deixar essas coisas para quando voltasse a encontrar o irmão, agora ele era a sua prioridade, teria que deixar assuntos amorosos para depois. Continuou de olhos fechados e tentou voltar a dormir. Só teria que pensar nisso depois de Daehyun ter alta.

No dia seguinte

Depois daquela noite, Yoon manteve uma distância de segurança entre ela e Taemin, para evitar qualquer asneira ou bocas por parte de Daehyun. Ele tinha tido alta no dia anterior e os três deslocaram-se directamente para os dormitórios da agência de Taemin. Este deu-lhe uma chave quando chegaram ao pé de duas portas.

- Esta aqui é a tua nova casa – apontou para a porta que se encontrava atrás de Yoon. – Se precisares de alguma coisa, a minha casa é esta aqui.

- Bem, parece que somos vizinhos… - murmurou com um pequeno sorriso, segurando nas chaves e claramente satisfeita.

- Ahem, eu não queria interromper maaaas… Maninha, abre a porta, por favor, estou a morrer de fomeee~ - “Este Jung Daehyun… O que faço da minha vida…?” Yoon abriu a porta e ele estava prestes a entrar e foi impedido por Taemin quando este o agarrou pela parte de trás do colarinho da camisola.

- É que nem pensar ! Ela é uma rapariga, precisa de ficar sozinha ! – arrastou-o para dentro da casa dele, enfiando de seguida a cabeça pela porta e sorrindo-lhe como se pedisse desculpa antes de fechar. Yoon só pôde rir com a cena hilária e entrou na que agora ia ser a sua casa.

 A casa que lhe tinha sido dada era muito parecida com o quarto em que tinha estado anteriormente com Taemin, tirando o quarto que era mais feminino com alguns toques subtis de azul-turquesa espalhados pela colcha, cortinados e outros acessórios mínimos. Foi à cozinha, dando razão a Daehyun pois ela também estava esfomeada. Abriu o frigorífico e viu que tudo o que ela gostava e costumava comer estava lá dentro.

- Parece que alguém andou a pesquisar os meus gostos… - murmurou, lembrando-se depois que Taemin a conhecia e bem.

Preparou uma refeição simples e finalmente aquela foi a altura em que ela teve tempo para parar e pensar. Como e onde estaria Youngjae ? A mãe e a Sunhwa estavam a salvo ? Será que elas andavam à procura deles ? Quando é que poderia falar com Annie e Sunnie ? Ao pensar nestas coisas todas, a tristeza assomou-lhe ao peito e controlou-se para não chorar. Agora não, ela teria que ser forte e passar isto. Teria que proteger ao máximo os que mais gosta. Terminou de comer e dirigiu-se a casa do Taemin, certa de que teria que buscar respostas às suas perguntas.

*Taemin’s P.O.V*

Taemin fechou a porta atrás de si, olhando com uma expressão dura para Daehyun. Dirigiu-se imediatamente à cozinha e confecionou algo rápido para eles os dois, que ambos absorveram como se não comessem há dois dias, o que era tecnicamente verdade; Taemin só se tinha preocupado em deixar Yoon alimentada, esquecendo-se completamente de si. Arrumou a cozinha e dirigiu-se para a sala, onde estava Daehyun em pé como se estivesse à espera de alguma ordem.

- Temos que falar… Onde raio está o Youngjae ?

- Se eu soubesse, podes ter a certeza que não estava aqui – retorquiu Daehyun. – Aquela… Aquela…pessoa levou-o e escondeu-o e agora tudo o que podemos fazer é procura-lo.

- Sim, e novidades ? Até aí não é nada de novo meu caro…colega – Taemin sentou-se no sofá que se encontrava perto deles e convidou Daehyun a fazer o mesmo com um simples gesto de mão, ao que ele obedeceu. Não ia armar-se em esperto em território inimigo, só se fosse burro. – Se queres tanto o bem dele e de Yoon como dizes, temos que o encontrar e depressa. Mas como ?

- Usa-me – afirmou determinadamente. – Eu posso tentar localizá-lo através das minhas fontes… Não digo que será seguro, porque neste momento já me devem ter marcado como renegado, mas definitivamente vou conseguir…

- Não confio em ti, como já sabes, mas praticamente fizeste o que eu não pude durante estes últimos 2 anos. Vou-te dar o voto de confiança… Mas já sabes, se fizeres algo mal, não vou hesitar em acabar com o mal pela raiz… - o seu tom era baixo e ameaçador, mas Daehyun não se moveu nem um milímetro e continuou com o seu olhar desafiante. O momento foi interrompido pela campainha. Taemin levantou-se, olhou pelo óculo na porta e abriu a porta a Yoon. Esta entrou e reparou na atmosfera tensa que estava na sala, mas decidiu ignorar e sentou-se imediatamente num lugar livre ao lado de Daehyun.

- Tenho umas perguntas para te fazer… - começou mal se sentou.

- Sou todo ouvidos – respondeu Taemin, sorrindo.

- A minha mãe e a minha irmã… Como estão ? Elas provavelmente andam à minha procura, o que lhes digo ? É melhor voltar a casa, não achas ?

- Ei, ei, ei, calma ! – interveio Daehyun, fazendo-a acalmar-se. – Uma de cada vez, se não o teu pequeno cérebro esquece-se de respirar – ela semicerrou os olhos de modo ameaçador e ele riu-se na cara dela, enquanto Taemin escondia o sorriso.

- Como estava a dizer… Como estão elas e por acaso andam à minha procura ?

- Elas estão seguras, podes estar descansada… Há pessoas da minha agência a vigiá-las – declarou Taemin.

- Ainda bem… - respondeu ela claramente aliviada.

- Mas…não podes voltar a casa, nem podes entrar em contacto com elas tão cedo.

- O quê ?! Mas elas devem andar à minha procura e…

- Está tudo controlado, não te preocupes… Uma pessoa da minha agência ficou responsável de explicar a situação à tua mãe… Ela vai compreender, tenho a certeza – fez uma longa pausa, antes de continuar o seu discurso. – E devo avisar-te que partimos dentro de dois dias…

- Partir ?! Para onde ?! – disseram Yoon e Daehyun ao mesmo tempo, admirados.

- Para a América… Agora que descobriste os teus poderes de novo, precisas de ser treinada para os aprenderes a controlar, e todos nós fomos treinados na América… Vai ser duro e difícil, especialmente porque não vais poder contactar com ninguém directamente…

- O quê ?! – gritou Yoon. – E a minha família ?! E as minhas amigas ?! E o Youngjae ?!

- Quanto ao teu irmão não te preocupes… - começou Daehyun, trocando um olhar cúmplice com Taemin. – Eu fico cá e trato de descobrir o paradeiro dele. Prometo que mal o descubra que vos aviso, custe que custar – Yoon respirou fundo e voltou-se de novo para Taemin.

- E a minha mãe e as minhas amigas… Posso estar com elas uma última vez e despedir-me ? – ela agarrava a bainha da camisola com força para não chorar. Reparando nos seus nós dos dedos lívidos de tanta força que fez, Taemin mordeu o lábio por a obrigar a fazer isto.

- Podes… Mas não lhes expliques totalmente o que se está a passar… É a única coisa que te peço…

- Obrigada… - Yoon levantou-se rapidamente, e saiu porta fora. Taemin ficou a olhar para a porta como se estivesse na esperança de que ela voltasse, mas Daehyun chamou-o.

- Quando decidiste estas coisas todas ? Só me queres afastar dela ou quê ?!

- Eu… Eu não decidi nada… Foram eles – respondeu desagradado.

- Se continuares a ser uma marionete nas mãos deles, vais acabar como eu – disse Daehyun com um sorriso triste.

- A minha ideia é fazer esta última missão e deixar a agência. Decidi isso quando comecei a namorar com ela…

- E se eles tentarem impedir-te...?

- Não há nada que me impeça, Jung Daehyun – a determinação na sua voz era patente, como se estivesse disposto a tudo para conseguir viver a sua vida calmamente com ela.

E mais um capítulo completo ! :D Obrigada a todos os que têm acompanhado ^^