TaeYeon

“Entrar no campo de batalha... É o mesmo que assoprar velas no seu aniversário.” Voltei meus olhos para ela e lá estavam, seus lindos e confusos olhos negros. Notei a dificuldade de entender minhas palavras.

Não foi difícil de sorrir com a visão de seus lábios vermelhos, que agora enrugados mostravam um lindo rosto aborrecido enquanto fazia beicinho. Minha vontade era de desfazê-lo com meus próprios lábios.

“Eu não entendi o seu ponto, Tae.” Desviei os olhos de sua boca quando ouvi seu suspiro derrotado. Abafei meu riso enquanto me repreendia por permitir tais pensamentos.

Caminhávamos lado a lado, enquanto o sol insistia em queimar o topo de nossas cabeças. A bola laranja no ponto mais alto do céu continuava impiedosa como todos os dias naquele verão, minha pele exposta ardia ao contato com os raios, até sob a sombra das arvores ou prédios não nos víamos livres do bafo quente que escapavam e nos abraçava como o inferno abraçaria seus filhos. Eu quase podia sentir minha pele se desfazer na alusão de chamas que subia do asfalto.

Mas ironicamente, nada disso importava. A única razão estava ao meu lado, a única que mantinha meu coração batendo.

“TaeTae? Você sabe que eu não entendo essas suas filosofias.” Sua rouca voz invadiu meus pensamentos. Trazendo-me de volta a tempo de sentir um leve puxão no braço direito, o único calor invasor que meu corpo aceitava. O seu toque. O que fazia meus pulmões arfarem em busca constante de oxigênio.

“Quer dizer... Não pense demais.” Paramos quando nosso destino foi alcançado. Encarei o rosto mais belo que já vira, o mesmo que agora carregava vincos de preocupação. “Desvie todo o barulho e preocupação...” Sorri antes de virar e observar o que lhe causava tanto medo. O que me deixara devastada. “Feche os olhos e deseje.”

Segurei sua mão e com um aperto firme busquei mais do que passei conforto. Tentei manter o sorriso confiante. Tentei ser o seu porto seguro, como sempre fui.

“Visualize o que te faz bem.” A vi fechar os olhos. Tudo o que eu mais queria era tê-la, dizer o que nunca fui capaz de falar, abraça-la e a impedir de ir. “Ou visualize quem você ama.” É você, Fany-ah! É você quem eu sempre vejo, quando meus olhos se fecham.

Prometa que vai voltar. Prometa que você vai voltar para mim.

“Você sempre faz isso.” Não percebi, nem sei por quanto tempo eu fique a observando. Mas quando ouvi sua voz novamente, lá estava. Seu lindo sorriso, o responsável por levar meu coração. Mas, além disso, eu vi. Seu olhar confiante. Ela estava pronta para ir.

Só que eu não. “Eu vou sentir sua falta.” Eu não podia falar, eu não conseguia confessar. Fany-ah, eu te entrego meu coração. Cuide bem dele e o traga de volta, quando você puder me amar como eu te amo.

“Adeus, TaeTae!” Quando me disseram que as palavras podiam ser espada encravando na carne, eu nunca quis imaginar que fosse verdade. Um último abraço.

Antes que eu a puxasse para junto de meu corpo, ela se jogou. Fomos melhores amigas por tanto tempo. Sempre juntas. Nem mesmo quando descobri meu amor por ela, mesmo assim eu permaneci. E agora nos despedíamos. Sem prazo de volta. Sem promessas de um dia nos encontrarmos.

“Adeus, Fany!” Senti meu peito rasgar, minha garganta ardia como se o sol morasse agora dentro de mim. Por meses não ousamos falar sobre o ‘adeus’, nem agimos como se fossem nossos últimos dias juntas. Mas tudo o que eu mais desejava nesse momento era correr o mais rápido e o mais longe possível.

As previ chegar. Lágrimas que só permitiria sair quando sozinha, mas a dor era grande demais eu não conseguiria segura-las por muito tempo. Apertei meus braços em volta de sua cintura e escondi meu rosto entre seus fios negros. Ela também estava chorando, eu podia sentir seu corpo tremer entre meus braços. Eu podia ouvi-la.

“Tiffany querida! Está na hora, vamos?” Quando ouvi o Senhor Hwang a chamar, minha única reação foi de aperta-la mais. Segurar em meus braços e não deixa-la ir.

O conforto para meu coração era que ela também não queria ir. Seus braços me apertavam cada vez mais. Era doloroso, o ar agora vinha com dificuldade, mas só de tê-la comigo. Já era o suficiente.

Tiffany

“Entrar no campo de batalha, é o mesmo que assoprar velas no seu aniversário.” O quê? Por que ela sempre faz isso? O que ela tá tentando me dizer? TaeTae, por favor!!

Ela estava me olhando, eu sei disso, ela sempre faz depois do seu momento filosófico. E eu ainda sou a melhor da turma. Não entendo e o pior que tudo faz sentido depois. Eu só queria entender, pelo menos uma vez.

“Eu não entendi seu ponto, Tae.” Eu me rendo. Ela fala que não quer me ridicularizar, ‘apenas me fazer pensar além das palavras. ’ Por que não podemos ser como pessoas normais? Eu só não quero poder chorar em seus braços e você fica aí falando essas coisas sem sentido.

“TaeTae? Você sabe que eu não entendo essas suas filosofias.”  TaeTae!! Por que você apenas não me abraça e diz que vamos nos ver um dia? Ou prometa que seremos melhores amigas, mesmo com oceanos e continentes entre nós. Estou com medo, Kim TaeYeon!

Eu tenho medo de te perder. Medo de que não sejamos mais as mesmas, de que você encontre outra pessoa, que você se esqueça de mim.

Senti nossos braços roçarem, foi nesse segundo que me dei conta. Ela não segurava minha mão, sempre andávamos de mãos dadas. Seu calor sempre me reconfortou. Segurei seu braço e o puxei para mim, percebi quando ela reagiu ao toque. Como eu posso ser tão burra, ela está sofrendo tanto quanto eu. TaeTae?!

“Quer dizer. Não pense demais” Como podemos não pensar? O que eu deveria pensar? Pare com isso e me abrace! Não vê onde estamos e o que isso quer dizer? Tudo o que eu preciso ouvir é que vamos ficar bem. “Desvie todo o barulho e preocupação...” Tae! Eu estou desesperada. Você não vê? Pare de falar. “Feche os olhos e deseje.” Desejar? Você não faz ideia do que eu desejo.

Senti seus dedos buscarem minha mão. Lá estava o toque que eu mais desejava naquela tarde. Deixei minha mão relaxada ao lado de meu corpo, nosso tempo estava acabando. Logo terei que ir e não vamos ter tempo o suficiente para dizer ‘Adeus!’, nunca será o suficiente para o que nos aguardava.

Seu calor era tão familiar. Tão bom. Lá estava o que eu precisava a certeza de que ficaríamos bem. Será difícil, mas podemos superar.

“Visualize o que te faz bem.” Eu tenho direito a esse desejo. Fechei meus olhos e ouvi sua risada escandalosa, vi os dias que passamos juntas rindo e chorando. Você me faz bem, Tae! Você sempre foi minha luz guia. Minha felicidade. “Ou visualize quem você ama.” O barulho a nossa volta tinha cessado e enquanto ela segurava minha mão firmemente eu não estava mais preocupada.

Qual a diferença Tae? Você me faz bem e é você quem eu amo.

E lá estava. Mas uma vez me vi leve, sorri internamente. Ela conseguiu. De novo ela levou minha preocupação, mas uma vez ela me fez sentir protegida.

“Você sempre faz isso.” Olhei para seu rosto de bebê, olhei diretamente nos olhos que sempre me confortaram me deram forças e me viram nos melhores e piores estados. Mas dessa vez eu vi. Ela estava se segurando para não chorar, ela queria ser forte, mas não estava conseguindo.

“Eu vou sentir sua falta.” A hora chegou, agora que diríamos adeus e quebraríamos nossos corações. Eu estava deixando para trás minha melhor amiga, a única pessoa que me entende.

“Adeus, TaeTae!”  Senti meu coração rachar. Podem me chamar de louca, mas eu o ouvi quebrar. Por que essa dor tão grande? Estaríamos nos falando o tempo todo. Mas por que sinto como se meu coração tivesse se soltado e pulado nos braços dela?

Por que ele faria isso primeiro que eu? Sem nem pensar duas vezes me joguei. Por favor, não me deixe!

“Adeus, Fany!” Não! Não diga isso. Que essa não seja a última vez que nos vemos. Não fale como se esse fosse nosso último encontro. Somos melhores amigas, lembra? Prometemos nunca abandonar uma à outra. Diga! Apenas diga.

Lágrimas. Elas estão vindo. O que representava toda a dor, que espremia meu coração e que me tirava o ar. Eu não pude segurar, quando seus braços me seguraram pela cintura, elas fugiram. Sem pensar duas vezes, como bandidos ao verem a grade de sua cela aberta.

Senti seu perfume tão familiar, o mesmo que sempre me recebeu nas noites de tristeza. Segundos eternos passaram e meu corpo tremeu quando tentei reprimir os soluços. Não diferente dela. E só assim pude perceber que também chorava.

“Tiffany querida!” Ouvi a voz tão característica de meu pai “Está na hora, vamos?” Que me lembrava, era a hora do último ‘adeus!’ o que só aumentou a sensação de que as coisas mudariam radicalmente daqui para frente. De que as coisas não seria como imaginávamos.

E o aperto firme de seus braços em volta de meu corpo, só piorava meu estado. Já sabia que ia ser duro, mas não esperava por essa dor lacerante, dessa falta de ar e desse medo pelo desconhecido.

TaeTae, eu estou com medo!

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Como prometido TaeYeon não ficou para ver Tiffany embarcar. As duas caminharam para lados opostos, ambas com rostos banhados em lágrimas, com os corações partidos. Seus passos seguindo caminhos diferentes, caminhos distantes. Para um dia quem sabem se encontrarem novamente.

“Nem sempre recebemos o primeiro pedaço do bolo.”

A milhas de distancia. Em uma tentativa falha de entender o que significava aquele sentimento. Encolhida na própria dor, uma separação nunca fora tão dolorosa, uma dúvida nunca fora tão dilacerante.

“Um soldado ferido sente toda essa dor?”

Caminhando por ruas incertas e agora encarando o céu livre de nuvens.

Olhando uma última vez para baixo.

Dois corações se despediam e agora abraçavam a incerteza do futuro!