Três

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Eu cheguei na quinta. Após achar um apartamento em um lugar perto do centro de Goiânia, qual foi minha primeira parada? O aniversário de 20 anos do Kanye, claro. Kanye fez questão de mandar o convite pelos correios: um envelope preto com aqueles selos de tinta, que usam para cartas reais. “Sempre cheio de frescura”, pensei.

E aqui eu estava. Sendo agarrada por braços fortes, sentindo o cheiro do perfume madeira, a barba mal feita me fazendo arrepiar o pescoço. Era o Kanye, me fazendo sentir vontade de fazer coisas com ele que eu nunca havia sentido antes. Antes que ele pudesse fazer o frio na minha barriga aumentar mais ainda eu me afastei, dizendo a ele o quanto estava com saudade enquanto o observava mexer no cabelo macio que não importava o quanto ele bagunçasse, sempre voltava à posição normal. Quando avistou a Larissa, Kanye a abraçou tão forte que fez a menina sair do chão. Só observei a cara das entojadas morrendo de inveja, ao lado. Com o Guilherme, foi um aperto de mão seguido de um abraço meio constrangedor, como se os dois estivessem dizendo “somos muito machos”. Mas logo o Kanye mostrou que não tinha mudado nada quando apertou as duas bochechas do Guilherme, dizendo o quanto ele estava bonito, com aquela voz irritante.

— E falando em beleza, Laisa você está de parabéns viu — ele mordeu o lábio inferior enquanto me olhava de cima a baixo.

— Olha quem fala não é Kanye — Larissa disse, cutucando a costela dele, para não perder o costume das gracinhas que ela sempre fez. Kanye fez uma carinha de dor, apertando os olhos e esfregando a nuca com as mãos.

Ficamos conversando por mais alguns minutos, os quatro, rindo um pouco mais alto que o normal. Os amigos do Kanye, principalmente as meninas, nos olhavam uma vez ou outra parecendo estarem incomodados com a situação. De vez em quando aparecia uma ou duas meninas com roupas provocantes para nos servirem bebidas. Mais tempo passou e parecia que nossas conversas não tinham hora para acabar; a não ser que algum evento na entrada da festa tirasse nossa atenção.

— MAS QUE PORCARIA É ESSA? — Gritou a menina morena, cabelos pretos longos e soltos, que estava vestida em um short jeans de cintura alta e um top cropped brilhante. O traseiro dela foi o que chamou mais atenção dos meninos da festa, que olhavam para ela como se fosse uma refeição. Ela parecia uma mistura de Nicki Minaj com Kim Kardashian.

— Senhora, como eu disse antes, eu preciso-

— Eu não quero saber seu idiota! Eu não preciso disso, não sou obrigada a isso — A voz da garota ecoou por todo o salão. Por algum motivo, ela não parecia estar nem um pouco feliz com o recepcionista da festa.

— M-Mas senhora, sem o seu nome não será possível que você entre na festa.

— Rá, você está brincando não é? — ela pega a prancheta com a lista de convidados da mão do recepcionista. — Está vendo isso aqui? Isso aqui é um lixo. Li-xo, entendeu? Eu não sou dessas meu filho — E ela empurra a prancheta no peito do homem, bate uma palma e balança a cabeça. — Eu vou entrar e vai ser agora. - Kanye coça a cabeça, ri e olha a cena com atenção.

— Senhora, por favor — Ele impede a menina de passar, levantando o tom de voz. — Eu só preciso constar se você está na lista, então coopere, por gentileza!

— MAS VOCÊ ESTÁ LOUCO? — ela grita, acentuando bem a última palavra. O homem arregala os olhos, abraçando a prancheta. — Você sabe com quem está falando? — ela diz, estalando os dedos duas vezes.

— É justamente isso que eu gostaria de saber minha Senhora. O seu nome. Para checar se está na listinha para poder entrar na festinha — O recepcionista diz pausadamente e em tom de zombaria, como se estivesse falando com uma doente mental. Quando a menina estava pronta para levantar a mão e bater na cara do homem, uma voz interrompe os dois.

— Ana Luíza Crispim — diz o garoto moreno de terno e gravata, um pouco mais baixo que a menina, usando lentes de contato azuis e óculos Ray-Ban de lente transparente, com um jeito de andar meio suspeito. Confesso que ele parecia um pouco o Michael Ealy, só que mais baixo e sem a mandíbula tão definida.

— Ah, agora sim. Ana Luíza Crispim, bem aqui — o recepcionista riscou a lista. — Entre, por favor, senhora — E a menina entra jogando o cabelo na cara do homem, andando como se estivesse subindo no palco do seu próprio show. O garoto moreno a cumprimenta com dois beijos no rosto, oferecendo uma taça de champanhe a ela. Ela pega e bebe tudo em um gole só, em seguida, olha em nossa direção.

— G-Gabriel, aquela é...? — ela gagueja, com uma postura totalmente diferente, parecendo um pouco assustada. O garoto moreno se vira em câmera lenta, um sorriso se formando lentamente em seu rosto. Ele me observa por alguns segundos antes de assentir com a cabeça, segurando o pulso de Ana Luíza.

— Ela mesma — Ele diz, deixando Ana Luíza em choque. A taça de champanhe cai no chão vagarosamente, como se o tempo estivesse parando. Kanye sorri torto, sussurrando para si mesmo.

— Finalmente chegaram.

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