Primeiro Encontro

My First and Last

Passou a correr o mais rápido que podia quando sentiu a chuva engrossar, como não tinha mais como correr sem se molhar todo, parou em frente a uma cafeteria colocou os óculos de volta que na correria tirou para que não caísse, encarou o céu por uns segundos e por fim constatou que a chuva não pararia tão cedo. Suspirou cansado, como diria ao seu superior que tinha pegado o ônibus errado além de ter na pressa pego a pasta errada e esquecido a que iria precisar na reunião em casa, só tinha percebido isso quando olhou a pasta para conferir se estava tudo certo com a papelada, já estava no ônibus não tinha mais como voltar, Mark iria lhe matar.

 

Mark Lee era seu melhor amigo, o mais velho odiava atrasos e mais ainda irresponsabilidades, ele iria ter um surto psicótico. Como todas as outras vezes em que o Lee mais novo fazia algo que o outro julgasse errado.

 

Entrou no estabelecimento que era bastante bonito, amava lugares com decorações rústicas, o cheiro gostoso de café lhe acalmou um pouco. Procurou por uma mesa perto da vitrine para ver a chuva, tirou o paletó deixando no encosto da cadeira, fez seu pedido assim que um dos garçom veio lhe atender.

 

Estava esperando seu pedido quando começou a tatear as mãos pelo corpo tentando ver se pelo menos tinha lembrado de pegar o celular ou se não o deixou cair no caminho, o achou por sorte no bolso, passou o pano que usava para limpar os óculos para secar um pouco o eletrônico, o que não ajudou muito mas sorriu aliviado quando o ligou e notou que não tinha dado nenhum problema, não iria se surpreender caso tivesse perdido o aparelho.

 

Começou a digitar o número já tão conhecido por si.

 

— Por favor não atende, por favor não atende — suplicava com a voz baixa e chorosa, afrouxando a gravata.

 

Não queria ter que ligar para o canadense no entanto se não fizesse o mais velho iria ficar mais puto consigo, teria que pelo menos avisá-lo que não iria conseguir chegar a tempo.

 

Alô? — ouviu do outro lado da linha a voz do amigo — Donghyuck? Me diz que você já está aqui com a papelada tudo certinho.

 

— É….como posso dizer?— passou a mão pelos fios castanhos até parar em sua nuca e a coçar de leve.

 

— Não me diga que ainda não chegou — ouviu o Lee suspirando do outro lado da linha, o outro parecia ter esperanças de que fosse uma mentira — onde tu tá?

 

— É que começou a chover..e... tô numa cafeteria a duas quadras daí. Só que eu estava com muita pressa e acabei pegando a pasta errada e...

 

Puta merda! Será que uma vez na vida você pode ser responsável? Não é tão difícil assim, é?!?

 

— Desculpa hyung…. eu não fiz por mal e também não posso controlar o tempo.— Donghyuck falava manhoso como se aquilo fosse lhe salvar de um sermão.

 

Você nunca faz por mal e por um acaso você já ouviu falar em previsão do tempo? Passa todo dia no jornal — o coreano achava impressionante como o amigo conseguia controlar a voz mesmo quando estava perdendo a paciência.

 

— Prometo que isso não vai mais se repetir —diz manhoso 

 

Não prometa o que não pode cumprir. — outro suspiro. Donghyuck o chamaria de velho por estar sempre suspirando, isso se não tivesse com o emprego nas mãos do outro — Mas tudo bem. Eu vou dar um jeito, deve haver alguma cópia por aqui.

 

— Obrigado Mark, eu te amo muito — disse alegre. Fez um aceno com a cabeça em forma de agradecimento ao garçom que levara o seu pedido.

 

Não se engane Donghyuck, não estou fazendo isso por você.

 

— Mesmo assim saiba que eu te amo — levou o copo à boca, solvendo um pouco do líquido escuro — vou esperar um pouco até a chuva passar e logo vou… — escutou o som que indicava que a chamada tinha sido encerrada — grosso! Eu ainda tava falando, tsk — estalou a língua indignado com o amigo — nem pra dizer tchau — guardou o aparelho no bolso da calça.

 

Alternava sua atenção entre o céu e o movimento dos automóveis na rua através da vitrine, porém algo muito mais interessante não passou despercebido, um rapaz loiro saindo de um carro vermelho correndo com algo embaixo da camisa, em direção a entrada da cafeteria. O rapaz entrou no local e Donghyuck o viu andar em câmera lenta como em uma bela cena clichê dos filmes românticos, enquanto retirava então o que escondia embaixo da camisa, cumprimentando alguns funcionários com um sorriso.

 

Não tirou os olhos do loiro desde quando pisara o pé dentro da cafeteria, o outro era bastante atraente e bonito, o viu sentar-se em uma mesa próxima ao balcão no lado oposto à saída. O loiro checava o livro procurando algo, que ao que tudo indica não encontrou, pois, logo fez uma expressão aliviada, começando a folhear até parar para ler em uma das páginas, o loiro sorria amigável para o garçom que o atendia e logo após o pedido, retornou ao livro sem mais distrações. 

 

Donghyuck precisava concordar que achou fofo a forma como o rapaz fazia caretas à medida em que lia.

 

Depois de tanto olhar o outro percebeu que ele conhecia todos os funcionários e alguns clientes, conversava sempre com sorrisos, principalmente com o garçom que lhe atendeu, hesitou um pouco antes de finalmente tentar se aproximar.

 

— Oi? —sorriu simpático estava de alguma forma nervoso

 

O loiro olhou para si e depois deu um sorriso sem mostrar os dentes, parecia não estar muito à vontade

 

— Oi...— disse baixo com a voz rouca — perdão, mas nos conhecemos? — perguntou quando percebeu que o outro não iria embora, fechando então o livro e o pondo na mesa para depois encarar o moreno que estava em pé bem à frente.

 

— É….na verdade não… — tentava limpar a mão que soava muito disfarçadamente — mas...é...que...eu vi que você tava lendo Shakespeare e… — foi se calando aos poucos, não entendia nada de literatura só falou aquilo por que tinha lido o nome do título em letras grandes quando chegou perto o suficiente. Percebeu que o loiro olhou o livro e em seguida deu um suspiro, longo ao ver do Lee.

 

— E… você chega assim do nada, sem ser chamado, só porque viu uma pessoa lendo um livro?

 

— O que?

 

— Perguntei se…

 

— Eu escutei — cortou o outro — peço perdão por ter te incomodado, só gostaria que me dissesse qual o nome. — apontou para o livro, fazendo o loiro erguer uma das sobrancelhas e soltar uma risada nasal.

 

— Não tem internet em casa pra pesquisar? — perguntou sem tirar o sorriso debochado do rosto. 

 

Donghyuck deu um suspiro e pensou: 'como pode ser tão bonito e ao mesmo tempo tão idiota?.'

 

— Obrigado pela forma tão educada em que respondeu minha pergunta, se eu soubesse que seria respondido assim, não perderia meu tempo. — respondeu um pouco rude mesmo que sem querer

 

O loiro corou um pouco parecia ter se arrependido de ter respondido daquela maneira o moreno, mas ninguém poderia lhe julgar, não gostava que invadissem seu espaço, Donghyuck acharia fofo as bochechas pintadas de rosa do rapaz se não estivesse com vontade de o enforcar.

 

Donghyuck decidiu então voltar à sua mesa quando ouviu a voz rouca e um tanto baixa do outro lhe chamar.

 

— Sonetos de Shakespeare

 

— Hm?...o que?

 

— O livro — abaixou o olhar, os dedos remexiam inquietos sobre a mesa — o nome... é 'Sonetos de Shakespeare' — Donghyuck realmente o achou muito fofo com as bochechas coradas, queria poder apertá-las

 

— Ahn...obrigado...— Não tinha mais o que dizer, usara o livro como desculpa para se aproximar do loiro

 

— Me desculpe… por…por.

 

— Tudo bem, já passou — o jovem lhe olhou nos olhos e sorriu, com aquilo Donghyuck se aproximou novamente da mesa do outro só que dessa vez se sentando — do que se trata? — o rapaz o encarou com um semblante confuso, pareceu não ter entendido — o livro.

 

— Ah! — o loiro olhou o livro dando um sorriso sem mostrar os dentes. O Lee achou adorável o ver sorrindo — os sonetos têm diferentes histórias e personagens, mas a que eu estou lendo é o meu favorito, o soneto 18 que está entre os mais famosos e conhecidos dos 154 sonetos de William Shakespeare, nesse poema conta sobre o amante do eu-lírico. No soneto, o eu-lírico compara o seu amor com um tempo de verão, e argumenta que o amor da pessoa amada é melhor que o verão. — disse aquilo tudo olhando o livro, quando voltou sua atenção para o Lee, percebeu que o moreno estava lhe olhando com um sorriso no rosto, aquilo lhe fez encolher um pouco os ombros, tímido.

 

— Nossa que... profundo?

 

— Sim…

 

— Você explica muito bem — sorriu, estava encantado com a descrição

 

— Obrigado

 

— Meu nome é Donghyuck, Lee Donghyuck, prazer — se apresentou por fim com um sorriso, esticando a mão para que o outro retribuísse o comprimento, o que não ocorreu — e o seu…? — perguntou depois de um tempo sem resposta apoiando o rosto na mão que estava estendida

 

— Park Jisung — apresentou-se, pegando o livro para voltar a lê lo

 

— Que nome bonito — falou com um sorriso

 

— Obrigado…? — o loiro estranhou de primeira, já que em sua concepção seu nome é um dos mais comuns de toda a Coréia.

 

— O que mais gosta de fazer nos tempos vagos? Além de ler.

 

— Eu danço

 

— Sério? nossa que incrível, eu dançava no meu tempo de universitário — comentou com um sorriso nostálgico

 

— No seu tempo de universitário? — aquilo pareceu interessar o Park, que fechou o livro para encarar o Lee em sua frente

 

— Sim, eu tava num grupo e tudo mais, mas depois o grupo acabou

 

— Por quê?

 

— Precisávamos encarar nossas responsabilidades, então decidimos acabar com o grupo

 

— Entendo… 

 

— E você tá em algum grupo?

 

— Sim, nós ensaiamos cinco vezes na semana — orgulhou-se

 

— Wow, não é muito não?

 

— Sim é, mas estamos nos preparando para uma apresentação importante

 

— Isso é incrível, me convida?

 

— Talvez eu te convide — falou sorrindo

 

— Espero o convite, então — sorriu junto do loiro — o que você cursava? 

 

— Eu não. Tive que esquecer disso por conta dos gastos — disse com a voz tristonha mesmo não querendo demonstrar

 

— Entendo, mas o que você gostaria de cursar?

 

— Não sei, acho que dança mesmo — Donghyuck iria responder mas foi interrompido pelo garçom que trouxe o pedido do Park

 

Conversaram até muito tempo depois da chuva cessar, descobriu que Jisung era mais novo, tinha um irmão mais velho e trabalhava ali na cafeteria só que estava no seu dia de folga e também dava aulas de dança para crianças três vezes por semana, e como o Park amava livros e não perdeu a oportunidade de recomendar alguns a Donghyuck

 

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