Pequenas conchinhas

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Baekhyun não conseguia conter a ansiedade que estava dentro de si, queria sair contando para todos que ouviu seus pais dizendo que iriam para um lugar que haveria um mar. E com isso, suas tardes haviam sido tomadas por uma agitação descomunal, estava tão ansioso e feliz porque veria o mar pela primeira vez em seus oito anos de vida.

Tanto que teve um momento em que não se aguentou, contando para todos os coleguinhas de classe, que também ficaram felizes pelo menino e claro, queriam ir visitar o mar junto a ele, quem é que não gostaria de tirar um tempo de lazer? Sair da rotina, ainda mais quando se é criança e filho único.

Quando seu pai foi buscá-lo na escola, um de seus colegas acabou perguntando se era realmente verdade se Baekhyun iria ver o mar, e o pai dele apenas assentiu, olhando com pesar para o filho que havia ficado cabisbaixo por ter sido pego naquilo.

Seus pais não sabiam que ele já estava sabendo daquilo.

E quando chegou no carro, a reação do seu pai foi apenas suspirar sem ao menos trocar uma palavra com o filho.

— Como soube? — Perguntou ao chegar em frente a casa, Baekhyun encarou o pai por um momento, engolindo o seco.

— Eu estava brincando de pique esconde então eu ouvi você e a mamãe falando que iriam viajar e que ficaríamos perto do mar. — Desabafou, percebendo o pai assentir com a cabeça.

— Tudo bem, mas não comente com a sua mãe. Ok? Ainda estamos organizando essa viagem.

— Tudo bem pai.

Baekhyun saiu do carro após ter conversado com o seu pai, correndo para a casa onde sorriu ao sentir o cheiro de almoço fresco.

— Oh, cadê o seu pai? — Indagou ao se aproximar.

— Ele teve que voltar para o trabalho. — Respondeu, dando um beijo na bochecha da mulher que apenas assentiu com a cabeça e respirou fundo, voltando para a mesa na tentativa de organizá-la.

O almoço foi calmo, mas Baekhyun não era bobo e muito menos insensível, sabia muito bem que tinha algo errado com aquelas reações e o modo que seus pais estavam agindo, mas era só uma criança e não sabia muito como podia funcionar para eles estarem daquela forma. E com isso em mente, permaneceu quieto em seu quarto, tentando não trazer nenhuma dor de cabeça a mais para a sua mãe que parecia cansada de tudo.

 

[...]

 

Os dias foram se passando, a situação estava cada vez mais complicada. Seus pais não demonstravam mais nenhuma alegria igual antigamente, o peso estava tão grande que por um momento Baekhyun pensou que o problema fosse consigo, até então um dia ver sua mãe gritando com o seu pai, ouvindo a conversa percebeu que a situação estava mais tensa do que o normal.

Como não era uma criança boba, sabia que o dinheiro era um dos meios mais fácil de não passar dificuldade financeira, mas ao ouvir seu pai falando o quão necessitado estavam, pensou seriamente em seus brinquedos, roupas e comidas que sempre pedia para sua mãe comprar.

Aquilo caiu como um peso em seus pequenos ombros, tanto que quando foi ver já estava oferecendo seus brinquedos por alguma quantia qualquer de dinheiro, mas claro sem seus pais saberem.

Dessa forma, Baekhyun apenas ficava em seu canto, evitando puxar qualquer assunto e dar algum tipo de preocupação com os mais velhos, mas seu coração se tornou mais agitado ao ver sua mãe arrumando as roupas em uma mala.

— Mãe, o que é isso? — Baekhyun perguntou preocupado, pouco se importando com a educação ao entrar no quarto sem avisar.

— Oh Baek, já está acordado? — Perguntou ignorando a pergunta do filho.

— Mãe, nós iremos viajar? — Perguntou sorrindo de lado, talvez aquele fosse o momento que tanto ansiou e por um momento até chegou a esquecer.

— Sim, nós vamos. — Respondeu sem sorrir. — Mas sem o papai. — E no momento em que ela falou aquilo, Baekhyun sentiu seus olhos arderem como nunca antes, correndo o mais rápido que pode para fora do quarto.

Não soube exatamente quanto tempo passou trancado em seu quarto, encolhido na cama, abraçando seu travesseiro com a estampa de um desenho que deixou de gostar há muito tempo. Mesmo com a mãe batendo em sua porta, não se importou naquele momento, apenas pensando se aquilo era certo, não tinha porque seus pais se separarem quando se mostravam tão felizes por mais que nas últimas semanas tudo havia desandado.

Mas não podia se envolver nos problemas de seus pais, era apenas uma criança. Tendo isso em mente, se levantou lentamente da cama, limpando as bochechas que naquela altura do campeonato já estavam completamente vermelhas, fazendo companhia para os seus olhos.

— Mãe. — Baekhyun murmurou ao abrir a porta, olhando para o corredor vazio. — Mãe. — Aumentou um pouco a voz, vendo a progenitora aparecer no corredor, correndo em sua direção, se abaixando para ficar na altura do filho, o recolhendo em um abraço carinhoso.

— Me desculpe, eu tentei fazer dar certo... — Ela murmurava rente ao ouvido do filho que apenas assentiu com a cabeça. — Nós iremos para a casa da vovó, seu pai falou que você queria ver o mar, certo? Lá nós poderemos ver o mar de perto, você poderá visitá-lo todos os dias.

— É sério mamãe? — Com aquilo, Baekhyun sentiu um peso sair de suas costas, pelo menos a sensação de nem tudo está perdido havia saído de seus ombros, tentando ser forte diante a própria mãe.

Iria sentir falta do seu pai, da união que era... Mas amava sua mãe mais que tudo, e a felicidade dela naquele momento eram as coisas mais importantes e sabia que voltando para a casa da vovó ela poderia descansar enquanto ficava perto da sua progenitora.

— Quando nós iremos? — Perguntou curioso.

— Amanhã mesmo, eu comprei as passagens e vou ir comprar algumas coisas para a minha mãe que ela irá gostar. — Riu baixinho. — Então você vai ficar e conversar com o seu pai enquanto eu estiver fora, tudo bem?

— Sim.

Baekhyun apenas observou a mãe se afastar, limpou o suor de suas mãos na calça de moletom que estava usando e caminhou em direção a sala, encontrando o pai em frente ao notebook, mas no momento em que viu o pequeno Baekhyun se aproximando, respirou fundo e se afastou momentaneamente do aparelho.

— Já está sabendo? — Inquiriu direto.

— Sim, mas por que papai?

— Baek, agora você não irá entender... Mas saiba que eu amo muito você e que sentirei muito a sua falta, e não se esqueça de me telefonar ouviu? — Comentou se aproximando, apertando o filho em um abraço.

— Eu queria que nós todos fossemos pra casa da vovó. — Murmurou baixinho, sabia que não deveria estar falando daquela forma, pois não é como se eles fossem voltar atrás naquela altura do campeonato.

— As coisas são difíceis, um dia você irá entender. Será um garoto lindo e inteligente, então quero que você cuide da sua mãe. Tudo bem? — Ele falou rapidamente, vendo o filho assentir com a cabeça o mais breve possível.

— Eu tenho que terminar um relatório, suba para arrumar suas coisas.

Baekhyun suspirou e voltou para o seu quarto, onde se trancou pelo resto da tarde, sentindo-se triste por ter que ficar longe de seus amigos, do seu pai e principalmente do lar onde nasceu e estava crescendo.

Mas não podia demonstrar isso, tinha que ser um garotinho forte, o suficiente para sua mãe não se sentir culpada sobre a separação.

 

[...]

 

Baekhyun estava perplexo, aquele lugar todo era incrível, a ilha era maravilhosa, tinha água para todos os lados, e com isso fazia seu coração se encher de alegria e ansiedade, sempre ouvia sua mãe contar o quanto o lugar em que ela cresceu era mágico e maravilhoso.

E de fato era mesmo.

Quando desembarcou, invés de se sentir cansado ou até mesmo zonzo, sentia-se em completa combustão de sentimentos, tinha vontade de correr para a casa de sua avó, trocar de roupa e ir ver o mar de perto, uma coisa que tanto ansiou por semanas.

Isso até mesmo havia feito o pequeno Byun esquecer o real motivo de terem se mudado.

— Fico feliz que esteja animado, querido. — Sua mãe murmurou enquanto chamava um táxi.

 

[...]

 

Havia passado duas semanas desde que se mudou para a casa da avó, era tão bom que não sabia dizer se sentia saudades de quando estava na cidade, havia feito alguns colegas na nova escola e falava com seu pai a cada três dias para ver se estava tudo bem e não sentir tanta falta dele.

Mas a saudade era compensada pelos belos sorrisos que sua mãe lhe dava, aquilo não tinha preço.

E como prometido, ia visitar o mar todos os dias, pois não era muito longe de onde morava, depois de alguns dias explorando as ruas, viu que havia uma passagem que interligava uma rocha com uma água totalmente cristalina, conseguindo ver diversos peixes e pedras tão bem trabalhadas, sabia que aquilo não era comum, pois quando havia ido para o mar nadar um pouco com a sua mãe, por mais que a água fosse clara, não conseguia ver pedras, só alguns peixes que tinham a coloração mais escura.

Depois de passar um tempo sozinho naquela gruta, viu que aquele poderia se tornar seu esconderijo de paz caso um dia realmente precisasse. Com isso em mente, anotou seu nome no chão com uma pedra.

— Ah tão geladinha. — Baekhyun murmurou sorridente, tirando sua camisa e bermuda para poder entrar na água e por sorte conseguiu ficar na beirada, mas não tinha coragem o suficiente para ir mais a fundo, não havia crescido o suficiente para conseguir se debater na água.

Ficou mergulhando um pouco, tentando brincar com alguns peixes que lhe rodeavam, pouco se importando por suas mãos já estarem enrugadas e seus cabelos mais duros do que uma pedra.

Pensando nisso, mergulhou por um momento, indo para outra parte da gruta, tendo coragem o suficiente para alcançar aquele cristal com uma forma de lua, poderia fazer um colar para sua mãe e quem sabe procurar alguma outra pedra para dar à sua vó.

Baekhyun fechou os olhos e se movimentou igual um peixinho para o lado que a pedra estava, e no momento em que a pegou e abriu seus olhos por um segundo, gritou.

Sentindo a água entrando em seu pulmão pouco a pouco, se debateu por um momento e sentiu aquela coisa lhe segurando pelo braço, o puxando para cima.

Quando recuperou seu fôlego novamente, correu para a terra, vendo aquela coisa escondida com a metade da cabeça para fora da água e o corpo totalmente para o dentro.

— Baekhyun do céu. — Falou consigo mesmo, rindo. — Você está criando até criaturas mágicas em sua cabeça.

O menino balançou sua cabeça algumas vezes, ciente de que tudo aquilo não passava de algo criado em sua cabeça, e ficou triste por um momento por ter perdido a pedra da lua, abriu os olhos novamente e quando olhou para o lugar de antes, se engasgou duas vezes.

A primeira era porque aquela coisa era real, e a outra era que ele estava sorrindo para si com os dentinhos faltando e pôde notar de longe uma presa nascendo de um de seus dentes. Caso não fosse por ter aquela coisa no lugar de suas pernas, o acharia extremamente fofo.

— Q-q-quem é você? — Baekhyun gaguejou ao perguntar, mas tinha que ter coragem o suficiente por aquela coisa ter invadido o seu novo espaço.

— Você está na minha casa. — A coisa falou com uma voz extremamente fofa, fazendo Baekhyun tossir mais uma vez.

— Claro que não, eu venho aqui há dias e nunca te vi aqui. — Respondeu levantando a cabeça.

—Porque eu me escondia. Mas quando eu te vi tentando pegar minha pedra, não consegui me manter longe.

— Não é sua, é do mar. O que você é? — Indagou curioso, tinha uma breve noção do que ele poderia ser... Mas não podia ser real, manteria aquilo longe mesmo sabendo que poderia ser algo criado de sua mente.

— É minha sim. — O garoto aumentou seu tom de voz, formando um beicinho. — Eu fiz ela, você não tem direito de pegá-la. — Apontou o dedo para Baekhyun, deixando o garoto notar as escamas que havia em seu pulso.

— Minha mãe falou que não podemos mentir, por que você está mentindo? — Perguntou com a mão na cintura, vendo o garoto abrir a boca para começar a chorar e por puro instinto começou a olhar para os dentes que ainda estavam em formação.

— Eu não estou mentindo, pare. — A coisinha havia falado. — Eu sou um tritão, tenho sete luas então você de alguma forma me deve respeito, seu humano. Bem que papai falou que eu não podia me misturar com gentalha. E naquele momento começou a bater sua cauda em direção a Baekhyun, o molhando novamente, mas invés do garoto ficar bravo, ele apenas ria com aquilo.

— Pensei que essas coisas não existissem. — Baekhyun falou. — Isso só existia em contos de fadas…

— Há muitos de nós, mas meu pai não me permite me socializar muito. Eu tenho que completar dezesseis luas para poder ser um tritão de verdade, por enquanto me chamam de peixinho em formação. Mas eu não gosto de ser comparado a um peixinho, olhe para as minhas escamas, são mais belas que a desses peixes. — Ele começou a falar, Baekhyun apenas o ouvia, era tanta informação que até pensou se realmente deveria respondê-lo.

Até porque a cauda do garoto era realmente uma coisa linda e surpreendente.

— Já falaram que você fala demais? — Baekhyun perguntou, se sentando no chão e colocando seus pés na água. — Como você se chama?

— Não sei. — Ele falou naturalmente, fazendo o garoto arregalar os olhos.

— Como não? Todos nós temos que ter um nome, eu me chamo Baekhyun.

— Eu não tenho um nome, papai nunca me falou sobre isso. — Explicou calmamente, fazendo o garoto assentir com a cabeça.

— Então irei colocar um nome em você. — Baekhyun sorriu glorioso. — Eu irei te chamar de Jongdae, como a estrela da manhã. — Baekhyun sorriu largo, vendo o pequeno tritão assentir diversas vezes com a cabeça.

— Eu gostei desse nome, muito obrigado. — Agradeceu gentilmente, repetindo algumas vezes seu novo nome, na esperança de decorá-lo o mais rápido possível.

— De nada, Dae. Eu sou o mais velho, então você pode me chamar de hyung ok? — Falou glorioso. — Nós também podemos se tornar amigos, eu moro aqui em Jeju faz pouco tempo.

 

E com isso, Baekhyun se animou em ter feito um amigo um tanto diferente, mas ao mesmo tempo especial, este que adorava ouvir e até mesmo falar, contou sua vida inteira para ele, da mesma forma que Jongdae contou-lhe como era viver na ilha, as conchas que pegava, os corais que ele provocava, e até mesmo havia contado que quando seu pai o levou para passear em outras redondezas, e como havia conhecido dois golfinhos que cantaram para si.

Mas Baekhyun de fato não esperava que sua amizade com Jongdae fosse evoluir tanto, até o ponto de trazer algumas coisas pessoais para a gruta, brinquedos, toalhas, travesseiros para poder ficar confortável, por mais que o tritão nunca tivesse tentado sair da água, brincavam como podiam, sempre deixando um sorriso escapar de seus lábios ao contar algo novo, até mesmo Baekhyun que com a quantidade de coisas que aprendia na escola, tentava passar para o garoto que parecia ter uma inteligência incrível, pois apenas com três explicações ele conseguia entender do que o assunto se tratava.

Seja lendo livros, lhe amostrando weebtons infantis e até quando pegou o celular da mãe para mostrar uns vídeos para o tritão que sorria com aquilo tudo. Jongdae sempre presenteava o humano com conchas e até mesmo algumas pérolas simples, apenas para demonstrar o quanto gostava da amizade dele.

E a cada encontro, Baekhyun via que seu amigo não era só real, mas que também poderia fazer da sua vida um conto de fadas tão real quanto bonito.




 

Foreword

[BaekChen|Kids!Au] Baekhyun se surpreendeu ao conhecer um pequeno tritão ao se banhar em águas salgadas, porém, acabou tornando aquele garoto seu mais novo melhor amigo.

Ψ Fantasia Ψ Tritões Ψ.

 

 

 

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