Mais uma manhã fria se iniciava em Seoul, Coreia do Sul, o inverno havia chego, assim como Kwon Yuri, que finalmente voltara de Paris, após sua graduação em História. Yuri teria uma entrevista importante hoje, para a escola mais cobiçada da cidade, mas ao contrário de sua notável inteligência, Yuri era toda atrapalhada e obviamente se encontrava quase atrasada. Corria pelas ruas movimentas de Seoul, quase esbarrando pelas pessoas, parecia que seus pés não tinham freios, ou tinham. Um grande baque se fez presente fazendo Yuri parar de bunda no chão e piscando tentando entender o que acontecera, ajeitara os óculos de grau em seu rosto e avistara uma jovem loira de terno também com a bunda no chão, suas pastas todas espalhadas, mas a jovem nem ligou, preferiu olhar mortalmente para a morena que engoliu em seco.

— D-desculpe! — Yuri se levantou rapidamente e estendeu a mão para a loira que olhou da mão da morena para a morena. — Me deixe lhe ajudar, por favor.

— Escuta aqui, ô garota. — A loira afastou sua mão, levantando-se sozinha enquanto juntava suas próprias coisas. — Eu podia até te chamar de cega, mas agora eu vi que o incompetente mesmo é o seu oculista. — Assim que pegou sua bolsa, a desconhecida olhou a morena de cima a baixo, ainda caída no chão e a encarando. — Troca esse grau, senão vai acabar matando meia cidade, queridinha. — E então seguiu seu caminho, deixando Yuri completamente chocada com seu mau humor.

— Isto foi Lúcifer me respondendo? Ou alguém muito irritada por natureza? — Yuri perguntou para si mesma, ainda boquiaberta e olhando para a loira que se perdia dentre a multidão, balançou a cabeça de maneira frenética. — A ENTREVISTA! — Yuri novamente começa a correr. Arrumou a mochila em suas costas e tentava não esbarrar nas pessoas. — DROGA DROGA DROGA! — Levaram mais dez minutos para a morena chegar ao local da entrevista, ao chegar lá pega sua garrafa de água e toma por inteiro seu conteúdo, a mulher da administração então pedira para Yuri entrar, a morena assentiu e agradeceu, ao adentrar a sala do Diretor Choi arregala os olhos, era A Diretora, e não O Diretor.

— Você é... — Vasculhou o nome da morena pela folha de papel. — Kwon Yuri, certo? — Yuri assentiu, timidamente. A diretora fez sinal para que se sentasse na cadeira em frente a sua mesa, assim que o fez ela pôde continuar. — Então, senhorita Kwon, é o seu primeiro emprego?

— Sim! — Yuri exclama sorrindo. — É o meu primeiro emprego fora os estágios.

— Bom, então não vou pegar muito pesado. — Riu, tentando descontrair a morena. — Primeiro, eu gostaria que você me falasse um pouco sobre você, pra que eu a conheça um pouco melhor.

— Obrigada, e bem... Primeiramente, eu sou uma pessoa descontraída, não gosto de brigas e prefiro a calmaria, estou sempre disposta a tentar melhor os meus métodos de ensino para poder dar as melhores aulas para os meus alunos e bem... Costumo ser rígida com datas de provas, trabalhos e apresentações. — Yuri disse sem nervosismo e com calmaria.

— Fico feliz em saber disso! — Sorriu a diretora. — Mas, agora, eu gostaria que você me apontasse a sua maior qualidade e o seu maior defeito. Se é que você acha que possui defeitos...

— Luto pelo o que quero e pelos meus direitos e digamos que eu seja um pouco... Atrapalhada. — Sorriu amarelo com a última parte.

— Certo... E o que te motiva a trabalhar nessa escola? Quais seriam seus objetivos nessa instituição?

— O que mais me motiva a querer trabalhar aqui é a sede que os alunos têm pelo conhecimento, minha amiga dava aula aqui até algum tempo e me indicou a escola, fiquei fascinada por essa instituição, gostaria de ter a chance de poder mostrar a eles o que eu sei e os ajudar com suas escolhas, a formação do caráter e muito mais.

— Você acha que se sairia bem em situações desconfortáveis, onde tivesse que lidar com pessoas de gênio forte? — A morena automaticamente lembrou-se do “acontecimento” na rua, minutos atrás.

— Sim, basta ter calma com essas pessoas, muitas vezes devemos vos explicar com um tom de voz baixo, deixá-los falar o que pensam e ai sim mostrar aonde é o erro ou o que o induziu ao erro. — Sorriu em pensar que se a mulher não tivesse saído, teria o feito assim.

— Ótimo, voltando às questões de cunho pessoal, o que você costuma fazer em seu tempo livre?

— Leio livros, saio com alguns amigos, vejo filmes... Dependendo do dia preparo adiantadamente minhas aulas e corrijo trabalhos.

— Pra finalizar, quero que me dê um bom motivo para que eu escolha você dentre todos os outros candidatos à vaga.

— Porque eu acredito que posso dar tanto conhecimento quanto os outros candidatos, mas com métodos diferentes, que os farão lembrar disto para provas importantes ou para exemplos em suas vidas, meu método entra em ajudar no caráter do individuo, na formação de suas decisões sejam quais forem. — Yuri sorriu levemente.

— Muito bem, senhorita Kwon. — A diretora levantou-se de sua cadeira e apertou a mão da morena. — Foi um prazer conhecê-la, iremos lhe contatar até o fim da semana, certo?

— Certo! — Yuri levantou-se da cadeira. — Muito obrigada, Srta. Choi! O prazer foi meu. — Sorriu e fez uma reverência, em seguida se retirando da sala.

Assim que Yuri saiu da escola, sentiu-se cheia de confiança com a entrevista. Enquanto passava pelas ruas movimentadas, a passos lentos, pensamentos otimistas percorriam sua mente. No caminho da volta pra casa, colocou seus fones de ouvido, dando passos firmes enquanto escolhia uma música aleatória.

— A música dos vencedores! — Sussurra para si mesma, ao ligar a música sente-se livre, leve e solta, disposta a ir dançando para casa, remexia os quadris juntamente com os ombros e ia sorrindo, segurando-se para não canta, porém a morena na hora do refrão final deixou-se levar pela música. — It's the eye of the tiger, it's the thrill of the fight! — Começou a dar socos pelo ar. — Risin' up to the challenge of our rival! — Colocou as mãos ao lado cintura e começou a marchar. — And the last known survivor stalks his prey in the night! — Preparou-se para o solo. — And he's watchin' us all in the eyeeeeeeeeee of the tiger! — Girou calcanhares e começou a marchar para trás. — The eye of the tigeeeer! — Pouco sabia que logo atrás dela vinha uma jovem loira a passos rápidos, distraída no celular, novamente um baque que levou ambas as moças ao chão.

— Ah, mas não é possível... Eu devo ter MUITA má sorte! — Reclamou a loira com as mãos no rosto, antes de dar um longo suspiro. Assim que Yuri percebeu que havia caído por cima de alguém, se afastou rapidamente, tirando seus fones de ouvido.

— Seja você quem for... — Yuri começa um pouco nervosa. — Poderia me alcançar os meus óculos, por favor? Eu não to vendo é nada. — passava a mão pelo chão procurando pelos óculos, que estava ao lado da loira.

Ao olhar em volta, a loira percebeu que os óculos da jovem distraída estavam completamente estilhaçados.

— Olha, minha filha... Não acho que você vá querer eles de volt- — Finalmente olha para ela, reconhecendo suas roupas e sua fisionomia. — AH, VOCÊ É A CEGUETA DE HOJE MAIS CEDO! — Exclamou, boquiaberta.

— Er... Bem... Desculpe garota de mais cedo, perdoe-me por minha imprudência, mas sim. Eu quero meus óculos, se não, não vou chegar em casa hoje. — Yuri sorriu amarelo. — Por favor, você poderia me passá-los?

A loira olhou para a pilha de caquinhos e novamente para Yuri, não sabendo se ria ou se chorava. Respirou fundo, ignorando as poucas pessoas que passavam olhando pras duas sentadas no chão.

— Digamos que... Que você tenha quebrado seus óculos. 

— Droga. — Suspirou pesadamente. — Olha moça, eu sei que você deve estar louca pra rir da minha cara ou já está rindo tão baixo que eu não escuto, mas... Você poderia pegar o meu celular e fazer uma ligação pra mim? Cega desse jeito eu não vejo nem as teclinhas do inferno e ainda pra ajudar o celular é touch screen.

— Ótimo, me dê seu celular então. — Cruzou os braços, segundos depois percebendo o que tinha dito. — Aish... — Vasculhou as coisas da morena, até encontrar o celular. — Tá, e eu ligo pra quem?

— Para TaeYeon, explica que o meu óculos quebrou, diga aonde estamos e pede pra ela vir me buscar. — Yuri diz um pouco mais calma, agora sorrindo levemente.

— Ótimo. — A desconhecida achou o nome na agenda e colocou o telefone perto do ouvido, esperando. Após longos segundos, a loira desistiu, desligando e ligando de novo. Mas, novamente, ninguém respondeu a ligação. — Aigoo! Essa Taeyeon não tá atendendo. — Yuri passou as mãos no rosto, tentando se acalmar.

— Ferrou. — Respirou fundo. — Não chego em casa hoje, mas que beleza! Que hora boa pra TaeYeon sumir! AISH DANSHIN MALDITA! — Bate no chão tentando abaixar sua frustração. — Obrigada por tentar moça. — Abaixou a cabeça.

— Por nada. — Sorriu a desconhecida, se levantando rapidamente, alegre por poder ir embora. Quando pegou sua bolsa, virou-se novamente, olhando para a morena ainda no chão. Não podia deixá-la ali, cega e potencialmente frágil no meio da rua, mesmo que quisesse. Viu as horas em seu relógio e suspirou, revirando os olhos e se aproximando novamente de Yuri. — Olha, — A morena levantou a cabeça assustada, pensou que a loira já havia ido embora. — me diz onde você mora? — Abriu a própria bolsa, retirando sua carteira. — Eu posso te pagar um táx- — Arqueou as sobrancelhas ao ver que não tinha nem um tostão furado. — Não, eu não posso te pagar um táxi... MALDITA TIFFANY! Sempre me roubando. — Fechou os olhos, suspirando com força. Olhou para baixo, encarando Yuri que estreitava os olhos cada vez mais, tentando enxergar o rosto da loira no meio daquela visão turva. — Mas, ainda sim, onde você mora?

— Você não precisa se preocupar comi- — Lembrou-se que estava praticamente cega na rua e com uma desconhecida. — Em Gangnam, você vai me ajudar a chegar em casa? — A loira segurou a mão de Yuri e a ajudou a levantar, em seguida a ajudando a por a mochila nas costas e deu-lhe o celular em sua mão esquerda.

— E eu tenho escolha? — Assim que a morena se pôs de pé, a desconhecida se posicionou ao seu lado. — Me dê o braço. — Yuri assentiu, apoiando seu braço esquerdo ao dela.

— Qual é o seu nome? — Yuri pergunta acompanhando a loira, a mesma a guiava tentando não bater nas outras pessoas. — Se não for incomodo perguntar, claro.

— Jessica. E o seu? — Olhou para os lados, certificando-se de que estava indo pelo caminho certo.

— Yuri. — Sorriu. — Você estava atrasada mais cedo, correto? Ér... Desculpe por mais cedo e por agora. — Mordeu o lábio inferior.

Jessica riu fraco antes de responder.

— Estava, como sempre. E não se desculpe, pra você pelo menos isso foi muito útil. Vai ganhar uns óculos novos.

— Vou? — Franziu o cenho. — Não precisa pagar pelos óculos, Jessica, eu iria ao oculista nesta semana de qualquer maneira. — Sorriu docemente e virou o rosto para a estranha. — Você só acelerou a data em que eu iria, é claro.

— Eu? Te dar um óculos novo, garota? — Riu. — Por favor, só falei o óbvio! Se não consegue enxergar nem um palmo na frente do nariz, certamente vão te dar um óculos novo. — Sacudiu a cabeça. — É cada uma...

— Mas quanta ironia nesse coração, moça. — Yuri balança a cabeça em reprovação. — Entendi mal, me desculpe... Mas não quer dizer que alguém aleatório vá me dar um óculos. Tenho cara de mendiga? — Perguntou e rapidamente complementou. — Não responda.

— Tá, e essa tal de Taeyeon, não é sua mãe? Ela é o quê sua, afinal? — Yuri riu da pergunta antes de responder.

— Minha melhor amiga, divido apartamento com ela. — Respondeu calmamente. — Você mora com alguém Jessica?

— Com a minha irmã mais nova. — Respondeu a loira, pairando o silêncio logo depois.

Assim que as duas chegaram ao bairro de Gangnam, Yuri apontou para seu prédio, fazendo Jessica suspirar. A morena morava no décimo quarto andar. Ajudou Yuri a entrar no elevador, e, quando chegaram ao seu andar, a abrir a porta.

— Obrigada por me ajudar a chegar aqui, Jessica. — Yuri agradeceu sorrindo. — Por mais que sua pessoa tenha usado muita ironia com a minha, sei que não é todo mundo que faria isto, se eu puder fazer algo por você me avise. — Yuri estendeu a mão para o "vulto" que via.

— Sim, tudo bem. — Jessica olhou em volta, notando que não havia ninguém em casa, ou pelo menos na sala de estar. Olhou para o relógio de parede e seus olhos se arregalaram. — OMO, EU TENHO QUE IR. — Antes de fechar a porta da frente, botou a cabeça para dentro de novo. — E, quando você arranjar óculos novos, vê por onde anda, garota! — Bateu a porta, deixando Yuri sozinha, com a mão ainda estendida no ar.

— Aish garota mal educada. — Yuri cambaleou pela sala até tropeçar no sofá e cair nele, pouco a morena imaginava que cairia em cima de um corpo. — OMO ASSALTANTE, POLÍCIA, POLÍCIAAAAAAAAAAAA!

— CALA ESSA BOCA, INFELIZ! — A morena ouviu a voz de Taeyeon, logo sentindo uma mão tapando seus lábios. — SOU EU, YURI! TÁ CEGA OU QUÊ?! — Virou o rosto da morena para si, percebendo que a mesma estava sem seus óculos.

— Pior que eu to cega mesmo. — Yuri lamenta e sai de cima de TaeYeon. — Eu te liguei duas vezes onde você estava? Por pouco não fiquei presa no centro, cega e sozinha!

— Eu tava aqui! E dormindo, eu nem sei onde tá o meu celul- — Olhou para a mesinha de centro, encontrando o aparelho. Sorriu amarelo. — Mas, peraí, como você chegou aqui em casa cega desse jeito?

— A moça que esbarrou em mim me trouxe. — Yuri respondera. — Era meio mal educada, mas fora uma boa pessoa me trazendo até aqui.

— Que bom que nada te aconteceu. Mas, e esses óculos, perdeu eles em algum lugar?

— Eles quebraram. — Yuri suspirou. — Mas ao menos acho que fui bem na entrevista! — Sorri largamente. — Acho que irão me contratar, Taengoo!

— Que ótimo, Yuri-ah! — Abraçou a amiga. — Mas precisamos dar um jeito nesses olhinhos...


——


Tiffany esperava Jessica calmamente, no lugar de sempre onde ficavam no shopping. Olhou as horas no celular e suspirou, já esperando que a mais velha fosse se atrasar.

— Fany-ah! — Escutou a voz da loira, que finalmente resolveu aparecer. Colocou sua bolsa no encosto da cadeira e se sentou, tentando recuperar a respiração.

— Quem diria, se atrasou apenas dez minutos, unnie! — Tiffany comenta sorrindo. — Já pedi o de sempre para nós, mato e frango frito e nem venha me olhar torto, não importa se tem outro nome, é mato e frango frito! — Completou ao notar o olhar torto da irmã, Tiffany nunca dizia o nome certo da comida.

— Eu poderia ter chegado mais cedo, mas eu tive que fazer uma boa ação. — Revirou os olhos só de lembrar. — Porque sou uma ótima pessoa.

— Você? — Tiffany se engasgara com o suco. — V-você? Uma boa pessoa? Você tá me zoando? — Perguntou incrédula. — Por acaso ajudou uma velhinha a atravessar a rua? Como uma boa "escoteira?" — Tiffany começou a rir.

— Engraçadinha. — Forçou uma risada. — Eu esbarrei duas vezes em uma fulana aí e ainda tive que levar ela em casa porque na segunda ela quebrou os óculos.

— Coitadinha. — Tiffany comenta olhando para a irmã, que apenas assentia enquanto fazia bico. — Dela, é claro. Aturou você por minutos intermináveis. — Jessica a olhou incrédula. — Eu entendo a dor dela. — Tiffany diz assentindo e começa a rir alto quando Jessica lhe acerta um tapa em seu braço.

— Devia era ter me agradecido! Quer dizer, ela agradeceu, mas qualquer um teria deixado ela lá, sozinha. Pensando bem, eu também ia deixar ela lá sozinha. — Franziu a testa, pensando na situação. — Mas eu estava em um bom dia, então não deixei.

— Ela devia ser atraente, pelo visto. — Tiffany constata. — Jessica Jung nunca está em um bom dia, a não ser que ela durma até meio dia. — Deu ombros. — Você fez certo, ajudar o próximo é sempre o correto! Mas mudando de assunto rapidinho... Eu consegui o seu ingresso para a minha peça — Tiffany bate palmas, entusiasmada. — Vai ser daqui a cinco dias, não pense em faltar.

— Meu lugar é na frente, não é? — A loira arqueou uma sobrancelha.

— Mas é claro que é! — Tiffany fala com desdém. — Eu sou a estrela dessa peça, minha irmã é a convidada especial. — Mas uma reverência com as mãos para Jessica. — Você vai sentar ao lado da escritora da peça e de uma amiga dela, tudo bem? Agora me conte como fora a reunião com aqueles sócios?

— Foi chata. É sempre chato, não posso fazer nada. E, já que eu vou me sentar do lado dessa tal escritora, posso bater um papinho com ela caso eu não goste da peça? Porque já que você é a atriz principal, a peça vai ser boa. Mas se não for boa, a culpa é toda dela. — Olhou em volta. — Tiffany, você tem certeza que já pediu?

— Sim, eu já pedi, Jessica. — A morena revira os olhos. — E não, você não pode. Tem que prestar a atenção em sua belíssima, nobre e elegante irmã! — Sorri largamente. — Chama o garçom, Sica. Tenho aula a tarde não posso perder.

Jessica olhou para todos os lados, procurando alguém que se parecesse com um garçom.

— Moço! — Assim que o rapaz se aproximou, Jessica começou a falar. — Minha irmã pediu já faz um tempo, e ainda não chegou.

— Quais eram os pratos?

— Mato e frango frito. — Disse sem perceber o que tinha dito, com Tiffany rindo ao fundo.

— Ér... Isso não consta no cardápio, senhorita. Talvez esteja se referindo às porções de coxa de galinha e sala ao molho? — Jessica franziu a testa.

— E não foi isso que eu disse?! Aigoo! Apenas faça o seu trabalho, seu incompetente! — O garçom abaixou a cabeça, envergonhado.

— Eu sinto muito, vou trazer. — Saiu rapidamente, antes que Jessica resolvesse falar mais alguma coisa.

— Quem diria que Jessica Jung pediria mato e frango frito para o garçom e ainda o chamaria de incompetente. — Tiffany fala ainda rindo. — Ai, ai! — Até lágrimas caíam dos olhos da morena. — É por isto que eu lhe amo unnie! Você sempre me faz rir!


——


E os cinco dias se passaram em um simples piscar de olhos. De repente Jessica já estava na porta do teatro, entregando seu ingresso e indo sentar-se em seu lugar. Enquanto cruzava o estreito corredor entre as poltronas, notou que as mesmas estavam numeradas.

— Droga, qual era o número do meu lugar? — Resmungou baixo. Quando chegou até a fileira da frente, viu que só restava um lugar vazio, e deduziu que fosse o seu. Foi até lá silenciosamente e sentou-se, não se importando nem um pouco com duas mulheres que conversavam nas poltronas dos dois lados da sua.

— Não ria do meu óculos! — Yuri dizia resmungando. — Sou Potterhead até morrer. Viva a Grifinória! — Yuri colocou a mão no peito. — Fica falando mal do meu óculos alá Harry Potter, porque você gosta da Sonserina. — Rosnou para a amiga.

— Sangue ruim! — TaeYeon falou de volta para Yuri. — Eu sou de sangue puríssimo, minha querida! Não preciso do Harry Quatro-Olhos Potter. — Disse com desdém. — Voldemort é o poder!

— Harry derrota Voldemort no sétimo livro e no oitavo filme! — Yuri vira a cara para TaeYeon. — Sem contar os comensais da morte! Sra.Weasley mata Bellatrix. — Yuri manda um beijo no ar para TaeYeon que fica mais irritada ainda.

— Voldemort mata os pais do Harry! E não fale da minha ultimate bias Bellatrix... EU MATEI SIRIUS BLACK! HAHAHA. — Gritou fazendo a voz da personagem original enquanto olhava para Yuri, terminou mostrando a língua.

— NÃO FALA DO SIRIUS! — Yuri aponta para TaeYeon.

— NÃO FALA DA BELLATRIX ENTÃO!

Jessica revirou os olhos, já que, devido àquela gritaria, não poderia tirar um leve cochilo antes de a peça começar. Colocou as mãos nos bolsos de seu casaco e encolheu-se em sua poltrona, deslizando suas pernas pelo chão. Até que sentiu seu pé bater em alguma coisa, olhou para frente e viu que o palco era bem próximo da primeira fileira. Riu sozinha, torcendo para que nenhum dos atores falasse cuspindo. Se bem que um belo jato de saliva naquelas duas que não paravam de falar um segundo não seria nada mau, pensou.

— Voldemort também mata o seu queridinho Cedrico Diggory. — TaeYeon fala irônica.

— Assim como Voldemort tinha medo de Dumbledore. — Yuri retruca.

— Dumbledore foi morto pelo Snape.

— Que Amava a Lily. — Yuri sorriu.

— Que é só um filme... — Disse Jessica, suspirando.

— O QUÊ?! — E só então a loira percebeu que tinha pensado alto demais. Sentiu aqueles dois pares de olhos sobre si.

— Um filme não, meu bem! — Yuri rebateu. — Oito filmes, sete livros e a melhor história de bruxos de todos os tempos! — Yuri apontou o dedo na cara de Jessica, ainda não havia a reconhecido. — Ela é uma trouxa, Tae.

— Trouxa! Sangue ruim! — TaeYeon olhou Jessica de cima a baixo. — Mortal insignificante.

— Ah não... — Jessica rangeu os dentes, se ajeitando na poltrona. — Olha aqui, VAI CHAMAR DE TROUXA A SUA AVÓ, SUA VESGA MAL EDUCADA! E VOCÊ, — Se virou, apontando para Yuri. — SUA QUATRO OLHOS PETULANTE, SOQUE OS OITO FILMES, OS SETE LIVROS E TODAS AS VARINHAS NO SEU RAB- — Engoliu as palavras ao reconhecer o rosto da garota cega do outro dia. — Espera aí, eu... Eu te conheço... — Pôs a mão na boca, alterando sua expressão chocada rapidamente para risos escandalosos. Taeyeon olhava para Yuri, completamente confusa. — Ai, minha filha, sério que você foi arranjar essa coisinha cafona pra pôr na cara? Não tinha coisinha melhor do que esse fundo de garrafa não?

— E eu te conheço? — Yuri pergunta com desdém. — O que eu ponho ou não na cara é problema meu. — Apontou para si. — E DAS MINHAS VARINHAS, CUIDO EU! INTROMETIDA BARATA! VOCÊ NÃO TEM CULTURA!

— VESGA É VOCÊ! NOS RESPEITE! — TaeYeon olhou torto para Jessica. — Sangue ruim, cérebro cheio de bosta, trouxa. — Olhou enojada para a mesma. — Jogaria a maldição de Avada Kedavra em você. — Rosnou. — Ou a maldição de Cruciatus.

— Primeiro, — Jessica respirou fundo, ainda virada para Yuri. — sim, você me conhece, e se não fosse por ESSA CABEÇA DE BOSTA AQUI — Apontou para si mesma, olhando para Taeyeon. — não teria nem chegado em casa sozinha. — Yuri arregalou os olhos, reconhecendo a voz de Jessica e o característico mau humor. — Segundo, diz pra essa sua amiguinha aqui que ela COM CERTEZA deve estar no lugar errado, porque se você tá aqui, do meu lado deveria estar a roteirista da peça da Tiffany. — Yuri olhou para Taeyeon, que ria fraco. Algumas pessoas já comentavam sobre a pequena discussão da fila da frente, já que nenhuma das três fazia a menor questão de abaixar o tom de voz.

— Só que EU sou a roteirista, meu bem! — A loira se virou para ela, franzindo a testa.

— J-j-j-jessica? — Yuri perguntou analisando o rosto da mulher. — Nossa, você é bem diferente do vulto. — Fala boquiaberta.

— É claro que eu sou diferente, você é mais cega que um morcego, mulher. — Jessica sacudiu a cabeça.

— Você conhece ela, Yuri-ah? — Taeyeon perguntou, desacreditada.

— Sim, eu não lhe disse que uma mulher me trouxe em casa? — Yuri ignorou o comentário de Jessica. — Foi ela. — Apontou para Jessica e virou o rosto para a mesma. — Você já pensou em ir num psicólogo? Acho que sua fúria deve ter algum motivo.

— Fúria? Eu? Você e essa estrábica me chamam de trouxa na minha cara por nada e eu que sou furiosa?! — Taeyeon olha para Yuri, tentando não rir.

— Você não entendeu o porquê de Trouxa. — Yuri balança a cabeça em reprovação. — Trouxa em Harry Potter significa pessoa não-bruxa. — Sorriu. — E sim fúria, acho que possa ser algo do seu interior, quem sabe, ou talvez seja do seu natural ser assim. — Diz em tom pensativo.

— Ah, então é isso... — Disse Jessica, sem jeito.

— É, é isso. E mesmo assim não justificou em nada você ter nos ofendido. — Continuou Taeyeon, fazendo a loira a olhar lentamente.

— Aish, ok, eu sei que ofendi. E admito que entendi errado. Mas, mesmo assim, isso ainda não cura o seu estrabismo. Ofendi você uma ova, só disse verdades. — A loira deu de ombros. Quando Taeyeon ia dar uma boa resposta, as luzes se apagam, silenciando todo o teatro.

Após alguns minutos, holofotes iluminaram as cortinas, que aos poucos foi se afastando até revelar o cenário. Um casal de atores apareceu, dando início ao que parecia ser uma briga. Jessica suspirou, esperando que Tiffany fosse aparecer, preferia vasculhar o cenário em busca da irmã do que prestar atenção nos diálogos. Foi assim por boa parte do espetáculo, até que a loira fechou, já não estava entendendo metade da história e aquilo já começava a lhe dar sono. Mas ficou assim por pouco tempo, pelo menos até ouvir a voz estridente e inconfundível da irmã.

— Você disse que me amava! — Tiffany exclama em um tom nervoso. — E todas as vezes que você disse que era você como Hermione era para Rony! — Nesta hora TaeYeon faz o sinal positivo para Yuri que devolveu o gesto, Jessica revirou os olhos tentando se concentrar em sua irmã. — Eram... Mentiras? — Pergunta incrédula.

— Não, não eram. — O ator passou a mão pela testa. — Eu realmente te amei, minha querida. Mas eu não posso continuar isso por mais tempo, não é justo, eu não posso abandonar minha família, minha esposa, nossos filhos, tudo o que construí. Eu sei que fui covarde, mas eu realmente não posso te envolver ainda mais nisso. Tudo não passaria de um escândalo ainda maior no final. — Ao ver Tiffany soluçando, ele se aproximou. — Não, não chore! Não torne as coisas mais difíceis ainda...

— FECHA ESSA MATRACA! — Tiffany estapeia o homem diretamente na cara. — MENTIROSO! CAFAJESTE! INTERESSADO EM MOÇAS INDEFESAS! QUEBRADOR DE CORAÇÕES! VAGABUNDO! — Tiffany então começou a chutar o homem, fazendo TaeYeon se apoiar em suas mãos e olhar fascinada pela morena atuando. — QUERO QUE VOCÊ VÁ PRO INFERNO, VOCÊ, SUA FAMÍLIA, SEUS FILHOS, SEUS CACHORRO, SEU PAPAGAIO, ATÉ A XUXA E A SASHA! — As lágrimas na face da morena não paravam de cair, a mesma tinha um olhar furioso.

— ISSO AÍ, NÃO DEIXA BARATO NÃO! — Normalmente, Jessica não gritaria em um ambiente assim, mas a situação era totalmente propícia. Algumas poucas pessoas também se manifestavam no fundo do teatro.

— M-m-mas... Q-qual é a necessidade disso? — Disse o ator com a voz fraca, se encolhendo no chão.

— A NECESSIDADE, QUERIDINHO É DE QUE VOCÊ, FILHO DE UMA MÃE SANTA, ME USOU COMO SEU BRINQUEDINHO, COMEU E JOGOU FORA! — Chuta o homem no chão. — HASTA LA VISTA, BABY! — Começara a correr para a direção aonde era a saída, porém, no meio do caminho havia um grande frio, que obviamente não deveria estar ali. Tiffany acaba por tropeçar no fio, caindo diretamente na platéia. Bem, na platéia não, em cima de TaeYeon basicamente, antes da moça desmaiar olhara para a face da mulher a sua frente que a olhava preocupada. — Jesus amado... — Tiffany desmaia nos braços de TaeYeon.

Uma hora mais tarde, Jessica, Yuri e TaeYeon se encontravam no hospital esperando por notícias de Tiffany. Jessica era a mais nervosa, sua irmã, seu ponto alto e baixo, seu bebê, desmaiada e com um corte na cabeça, sua preocupação era notável para as outras duas moças, que tentavam pensar em algo para acalmar a jovem.

— Er... Quantos anos a Tiffany tem? — Yuri perguntou sorrindo amarelo.

— Ela tem vinte e dois. — A loira respondeu com o olhar fixo, esfregando as próprias mãos.

— Ela tem telefone? — Taeyeon mal terminou a frase e Yuri já tinha lhe dado um tapa no ombro, a repreendendo.

— Tem. É um iPhone branco. — Respondeu, fazendo as outras duas se olharem, estava tão abalada que nem a pergunta entendeu direito.

— Ela é uma boa atriz, não é mesmo TaeYeon? — Yuri comenta pensativa. — Sabe descer um barraco, acho que sei as fontes dela. — Disse olhando para Jessica.

— Sim, claro que é. Você deve ter muito orgulho dela mesmo. — Acrescentou Taeyeon.

— Olha, vocês não tem que fazer isso. Eu tratei as duas super mal, principalmente você, — Se virou para Yuri. — desde que te conheci, e só porque a minha irmã tá nesse hospital vocês não precisam ficar fazendo a fina comigo não...

— Queremos ajudar você, Jessica. — Yuri põem a mão no ombro da loira. — Sem ressentimentos ao que passou, afinal quem vive de passado é museu e nem a TaeYeon que é uma velha está considerando ficar chateada com você. — Yuri sorriu para a loira que a olhava sorrindo levemente.

— Com licença, alguma de vocês é Jessica Jung? — Um homem, que aparentava ser o médico, apareceu na sala de espera.

— Eu, eu sou Jessica Jung, eu! — A loira se levantou em um pulo.

— Ah, que ótimo. Sua irmã passa bem, senhorita Jung. — Tiffany apareceu ao lado de uma enfermeira, com um curativo na testa. — Foi só um desmaio e ela acabou se machucando com o impacto quando caiu na poltrona.

— AI MEU DEUS! — A loira correu até a irmã, abraçando a mesma, a ponto de sufocá-la. — MENINA, VOCÊ QUER ME MATAR É?! — Apoiou as mãos nos ombros de Tiffany. — COMO QUE VOCÊ ME CAI DAQUELE PALCO E QUASE QUEBRA A CABEÇA?!

— Senhorita, é recomendável que faça silêncio no hospital... — A enfermeira disse calmamente, mas Jessica pareceu não escutar.

— ESCUTA AQUI, SE VOCÊ TIVESSE SE MATADO, EU ME MATAVA JUNTO E IAM AS DUAS PRO INFERNO, EU IA RECLAMAR TANTO NO SEU OUVIDO QUE ATÉ O CAPIROTO IA QUERER NOS MANDAR PRO PARAÍSO! — Tiffany a escutava calmamente.

— Eu não morri, irmã. — Tiffany sorriu levemente. — Tropecei em alguma coisa. — Suspirou. — E acabei com a apresentação, pra variar. — Abaixara a cabeça.

— Ah não esquente com isso, eles continuaram quando nós saímos. — Yuri disse tentando amenizar a situação, Tiffany olhou confusa para Yuri e TaeYeon.

— A propósito eu sou Kwon Yuri e esta aqui é... — Fora cortada por TaeYeon.

— Kim TaeYeon, roteirista da peça e um ótimo partido para damas de vinte e dois anos que acabam de cair do palco para o meu colo. — A menor piscou, deixando Tiffany atônita e Jessica com uma cara de poucos amigos.

— Er... Prazer, Tiffany Jung. — Tiffany tinha uma feição curiosa. — Desculpem por eu ter tirado vocês da peça. — Abaixou a cabeça. — Eu realmente não vi aquele fio.

— Ahhh não tem problema, TaeYeon me fez ler aquele roteiro todo então eu já sabia o final. — Yuri sorriu gentilmente. — Bem... Vocês estão com fome? Passamos um bom tempo aqui... Quem sabe vocês queiram comer conosco.

— Comer? Com vocês? — Jessica olhou para as duas, mas principalmente para Taeyeon, estreitando os olhos para a mais baixa. — Tá... Mas VOCÊ! — Apontou para Taeyeon. — Nada de gracinhas com ela! — Abraçou Tiffany. — Ela tá com a testa deficiente, não se aproveite disso.

— Não se preocupe, não faria nada que ela não permitisse. — Taeyeon sorriu largamente.

Uma hora mais tarde, todas as quatro moças se encontravam em um restaurante, jantando calmamente, conversavam aleatoriamente, com Tiffany contando como fora os ensaios da peça, TaeYeon explicando o final da peça para todas e Yuri tentando ser gentil com Jessica, a mesma mal dava o braço a torcer.

— Então... Vocês três brigaram por causa de Harry Potter? — Tiffany riu com gosto.

— Não briguei com ninguém, não sou obrigada a entender de tudo. — Jessica deu de ombros. — Elas que quase me crucificaram! — Apontou para as outras duas.

— Claro, você disse que todos os oito filmes, sete livros e as varinhas eram insignificantes e ainda mandou eu enfiar tudo no local aonde o sol não bate. — Yuri respondeu, Jessica fazendo bico.

— Uma das poucas vezes que a minha irmã grita em público fazendo altos barracos, eu não vi. — Tiffany constata. — Isto com certeza deu um bafão! — Os olhos da moça brilhavam.

— E você não escutou dos bastidores? — Taeyeon perguntou, chocada. — O teatro inteiro parou pra assistir.

— Aish, grande coisa. Tudo um bando de pé rapado, pobre não pode ver um barraco que já faz rodinha no meio. Foi só uma amostra grátis de exaltação, só isso. — Disse Jessica, naturalmente.

— É, mas falando de barraco... O que acharam da minha atuação? — Tiffany perguntou sorrindo. — Tentei por em pratica tudo o que aprendi com a minha maninha. — Encostou a cabeça no ombro de Jessica. — Oh Grande Mestra dos barracos. — Sorriu divertida ao ouvir a irmã bufar.

— Sua atuação? — Disse Taeyeon. — Ela foi... — Suspirou antes de terminar a frase. — Extremamente cativante. — Jessica limpou a garganta.

— Você foi ótima, digna, maravilhosa e estava linda. — A loira se virou para a irmã, ajeitando o cabelo da última para trás das orelhas. — Só não fez melhor por causa do fio demoníaco que deve ter sido implantado no palco por alguma invejosa.

— Aposto que foi a Suzy. — Tiffany rosna. — Ela não gosta da minha pessoa e ficou rindo de mim porque eu fazia a "outra". — A morena colocou as mãos na cintura. — E ainda por cima disse que eu nunca vou arrumar partido com essa aparência. — Olha incrédula para a irmã. — Eu sou feia, gorda ou patética? — Pergunta olhando nos olhos da irmã.

— Permita-me dizer, Tiffany. — Disse Taeyeon, fazendo com que todas a olhassem. — Que quando eu procurei “perfeição” no dicionário, seu nome constava nos significados. — Piscou mais uma vez, fazendo Yuri cobrir o próprio rosto.

— Hum... Obrigada. — Tiffany sorriu para TaeYeon. — Escreve peças há muitos anos? — Pergunta. — Essa foi a minha primeira atuando, para um projeto da minha faculdade. — Comenta ainda olhando para a moça.

— Me diga que sua irmã não gostou da cantada e eu estou ficando louca, por favor. — Yuri sussurra quase inaudível para Jessica.

Taeyeon sorriu antes de responder.

— Sim, já tem um certo tempo. E pode apostar que, se depender de mim, você ainda vai ser a personagem principal de mais um monte delas.

— Olha, filhinha, esse seu fogo no rabo te dá sempre ou é só de vez em quando? — Jessica rosnou.

— Mas que má educação Jessica. — Tiffany a repreende em voz baixa, a fazendo a olhar com desdém. — Deixe a moça conversar comigo, eu não tenho mais dezessete anos. — Vira-se de volta para TaeYeon. — Você tem quantos anos mesmo? — Sorriu docemente para a mais baixa.

 — Ok, eu acho que ela realmente gostou. — Yuri comenta sussurrando para Jessica.

— Não curti. — Respondeu para a morena, cruzando os braços enquanto observava as duas.

— Eu até curti, TaeYeon é encalhada. — Sussurra para Jessica.

— Mesmo? Não parece. — Jessica franziu a testa. — E... E você? É encalhada também?

— Eu? — Yuri indaga. — Sou tão encalhada quanto ela. — Deu ombros. — Acho que as mulheres não gostam de nerds viciadas em Harry Potter. — Sorriu fraco. — E você?

— E-eu? Eu não tenho ninguém, mas... Eu não sou encalhada. — Sacudiu a cabeça. — Eu sou autossuficiente, só isso.

— Ao menos você não esbarra nos outros por ser uma cegueta. — Yuri comenta. — Ou é uma quatro olhos, e bem... Você é bonita. — Sente as bochechas ganharem um tom leve de vermelho. — Muito bonita. — Abaixa a cabeça.

— Ah, sim... O-obrigada, eu acho. — Jessica evita olhar para Yuri. — Você também não é de se jogar fora... Apesar de ser cega que nem um morcego. Ah, e esses óculos não são tão ruins assim.


——


Três meses se passaram desde a semana conflitante de Kwon Yuri, onde a mesma conhecera as irmãs Jung. Neste meio tempo, sua amiga Taeyeon, se deu tão bem em sua vida amorosa que já tinha engatado um namoro com a irmã mais nova de Jessica, coisa que Yuri não duvidou nem um pouco que aconteceria. Já a morena, apesar de ainda solteira, também estava feliz. Tinha sido contratada e já exercia seu emprego de professora de História na escola. Já que sua amiga agora era namorada de Tiffany, a última passou a frequentar a casa das duas constantemente, e era muitas vezes acompanhada de Jessica, que gostava de estar por perto apenas pra ficar “de olho” no que Taeyeon pudesse aprontar com a irmã caçula. Assim, as quatro nunca perderam o contato umas com as outras.

Neste momento, todas as quatro estavam no cinema, assistindo um filme – para o azar de Jessica. – de terror.

— Elas podiam ter escolhido um filme melhor. — Yuri comenta para Jessica. — Já que iam ficar se pegando assim, ao menos que nos deixassem escolher.

Uma música de suspense começava a tocar no filme, ficando cada vez mais alta e assustadora.

— Ai, credo... Não tinha uma coisinha melhor não? — A loira já reclamava, se virando para Taeyeon e Tiffany. — Poxa, vocês são um casal, cadê a comédia romântica, o filmezinho da Barbie. Vocês tão loucas, é?

— Sica, se quer ver uma comédia romântica olhe para a gente e não para o filme. — Tiffany diz e ri com a cara de frustração da irmã. — Terror é melhor, as pessoas se concentram mais em gritar com o filme do que nos olhar na pegação, então não, não estamos loucas.

— Aigoo... — Jessica cruzou os braços e se encolheu na poltrona, olhando para Yuri logo depois. — Se você me ouvir gritar, quero que guarde isso só pra você, eu tenho uma reputação a zelar.

— Tudo bem... — Yuri olha para Jessica. — Quer que eu te dê a mão? — Pergunta fazendo Jessica a olhar incrédula. — Quando você sentir medo você pode aperta-la.

A loira olhou para o filme e para a morena de novo, considerando a proposta.

— Tá... Mas, se sair daqui sem dedos, a culpa vai ser toda sua. — Yuri riu, sentindo seus dedos entrelaçarem-se aos dedos gelados de Jessica.

— Dá-lhe, Kwon Yuri! — Disse Taeyeon, que tinha parado para observar as duas.

— Volte a beijar sua namorada e me deixe em paz. — Yuri diz olhando torto para TaeYeon. — Tudo bem... Terror nem é tão ruim as- — Um grito no filme ecoou pelo cinema fazendo Yuri e Jessica gritarem e se abraçarem.

— É ruim sim! — Disse a loira, escondendo o rosto entre o pescoço de Yuri.

— Aish nem é, fui pega desprevenida! — Exclamo enquanto passava o braço pelos ombros de Jessica. — Segure a mão esquerda. — A loira prontamente o fez.

— Você se importa se eu dormir no seu pescoço? — Yuri a olhou, espantada. — É que eu não quero ficar olhando pra essa pouca vergonha do lado e nem pra essa chacina desenfreada na frente. Então...

— Vai me deixar sozinha com estas duas taradas e este filme? — Yuri pergunta incrédula antes de bufar. Jessica fez um bico enorme olhando para o filme. — Ok, durma.

Em alguns segundos, a loira já estava adormecida em seu ombro, sua respiração em contato direto com a pele do pescoço de Yuri. De repente, a mão de Jessica foi se afastando da sua e sentiu o braço da loira agarrar sua cintura. Yuri não conseguia nem mais prestar atenção no filme direito. Yuri começou a de certa forma tremer, a loira se aconchegara mais em seu ombro. Colocou a mão que segurava o ombro de Jessica nos cabelos da loira e começou a acaricia-los. Sentia-se bem, apesar de estar nervosa.

— Olha, Tiffany, que bonitinho! — Sussurrou Taeyeon.

— Awnnn, eu não te disse que essas duas ainda iam namorar? — Tiffany sussurrou para TaeYeon também apreciando a cena.

— Cuidem da vida de vocês. — Jessica disse, sem se mexer, assustando as outras três que pensavam que ela estava dormindo, principalmente Yuri. — E me deixem dormir...

— V-você já não estava dormindo? — Yuri perguntou em um tom nervoso.

— E eu estou, isso é tudo um sonho. Boa noite, Yuri-ah. — Respondeu rapidamente.

— Jessica... — Yuri chamou pela loira que levantara a cabeça. — Quer sair daqui? — Jessica a olhou, curiosa. — O filme tá chato e ver as duas ali na pegação também... Então... Quer andar um pouco por ai?

— Quero. — Sorriu. Yuri não sabia o que pensar, já que a via sorrindo tão pouco. — Me leve pra longe daqui. — Fez questão de olhar para a irmã.

— Então... Vamos lá! — Yuri exclama sorrindo e se levantando.

— Ô, COVER DE HARRY POTTER, DA PRA ABAIXAR A CARECA? — Um homem do fundo gritou. Yuri apenas suspirou.

— E VOCÊ, SEU COVER DE EXÚ CAVEIRINHA, VAI GRITAR É COM A SUA MÃE! — Jessica se virou para homem, furiosa.

— MAS VOCÊ TÁ GRITANDO TAMBÉM! — Respondeu uma voz feminina.

— CALA ESSA BOCA, SUA PIRRALHA REMELENTA! A CONVERSA NÃO CHEGOU NO CHIQUEIRO! — A loira apontou para a criança. Yuri pegou Jessica pela mão e saiu rapidamente do cinema, antes que a loira fosse apedrejada.

— Isto foi... — Yuri puxou Jessica pela mão e olhou para ela. — Muito gentil da sua parte. — Yuri sorriu largamente e voltou a puxar Jessica para voltarem a andar. — Vamos?

— É que... Aish, sei lá, aquele idiota ficou fazendo piadinhas. Ninguém além de mim pode fazer piadinhas com os seus óculos. — Yuri a olhou, curiosa.

— E porque você pode e eles não? — Yuri arqueou as sobrancelhas.

— P-porque... Porque... Porque as minhas são infinitamente melhores! É por isso. — Sorriu amarelo. — E a daquele cara foi só ridícula, apenas.

— Cegueta... Mais cega que morcego... Quatro olhos... — Yuri passou o braço pelos ombros de Jessica. — Diga que você ficou com ciúmes por alguém ter me insultado. — Sorriu.

— Eu? Jessica Jung? Ciúmes? De você? — Riu de leve. — É claro que não... — Olhou pro chão.

— Então se alguém me chamasse de cegueta e mais cega que morcego você ficaria bem? — Yuri indaga divertidamente.

— N-não, quer dizer... — A morena riu ao vê-la se confundir. — Não é que eu vá ligar, na verdade eu ligo, mas é que... É que... AISH! Ninguém pode te xingar além de mim! Por que você não entende isso?! — Cruzou os braços.

— E por que só você pode me xingar? — Perguntou sorrindo largamente. — Por que apenas Jessica Jung pode me xingar? — Coloca a mão no queixo.

— Porque... Porque... Porque... — Suspirou alto. — QUE DROGA, YURI! Essa é a parte que você me beija! Por que você nunca faz nada direito?! — A loira jogou os braços no ar.

— V-v-você quer q-que eu te b-beije? — Yuri pergunta com os olhos arregalados. — Bem eu pensei que isso ia demorar mais tempo, porque você parece ter algum tipo de raiva comigo, eu não se- — Calou-se ao sentir a loira puxando-a pelo colarinho, engoliu em seco.

Yuri fechou seus olhos ao sentir os lábios de Jessica nos seus. Devagar, inclinou o rosto para o lado, enquanto a loira parecia muito mais apressada, já movimentando a língua em sua boca. A morena apoiou suas mãos na cintura de Jessica, aproximando o corpo da outra ao seu. Aos poucos, Jessica soltava o colarinho de Yuri e apoiava seus braços nos ombros da mesma.

— MAS GENTE! — Exclamou Taeyeon, saindo do cinema com Tiffany. — Depois ainda falavam de nós!

— Shiu! — Tiffany sussurra. — Deixa elas se pegarem, nós temos coisas melhores para fazermos.

— Coisas melhores? Que coisas melhores? — Perguntou a menor.

— Nos pegarmos também! — Tiffany exclama como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Os banheiros daqui são enormes. — Sorriu em malícia.

— São enormes mesmo? Nossa, então você vai ter que me mostrar... — Sorriu de forma igual.


——


E cinco anos se foram. Daquele tempo pra cá, muita coisa já havia mudado. Principalmente Yuri, que havia se mudado do apartamento que dividia com Taeyeon para ter sua própria casa. Seu relacionamento com Jessica tinha evoluído muito desde a quase confissão no cinema, desde muito antes Yuri já sentia que era de Jessica como Jessica já era dela. Durante todo esse tempo, as duas conviveram sobre o mesmo teto, vivenciando praticamente tudo juntas. A essa altura, o temperamento de Jessica, além de ter sido bastante amenizado, já era considerado um charme para Yuri. O que não quer dizer que Jessica tivesse parado de fazer piadas com o óculos de Harry Potter, que já havia sido trocado por modelos muito mais modernos, mas permanecendo com o mesmo formato característico.

Hoje era um dia especial, o aniversário de Yuri. Jessica fez um esforço colossal pra que acordasse antes da morena, e sorriu satisfeita ao ver que a mesma ainda dormia ao seu lado. Ainda era de manhã quando a loira saiu da cama sorrateiramente e foi até a cozinha. Afinal, qualquer namorada prepararia um digno café da manhã nessa data especial. Qualquer namorada, exceto Jessica, que preferia evitar incêndios e acabar com toda a magia daquele dia. Foi até o telefone e pediu comida, nada mais prático de se fazer.

Quando voltou para o quarto, Yuri ainda dormia. Jessica sorriu por seu plano estar dando certo até então. Foi até o armário e pegou a sacola do presente, rindo baixinho só de imaginar a surpresa que Yuri teria. Colocou a sacola perto da cama e se deitou novamente, decidida a acordar a namorada.

— Yuri-ah... — Passou as mãos pela cintura da morena, chamando-a ao pé do ouvido. Mas Yuri continuava adormecida. — Yuri-ah. — Afundou o rosto no pescoço dela, a chamando um pouco mais alto, depositando um pequeno beijo no local logo depois. Mas nenhum sinal de ter acordado, sua respiração permanecia a mesma. Os olhos fechados. — Yuri-ah... — Sacudiu um pouco o ombro da morena, voltando a olhar para seu rosto. E nada. — Aish... Yuri-ah! — Disse, em um tom mais alto, mas mesmo com isso nada de Yuri acordar. — Ok, você pediu isso. — Deu peteleco na testa da morena, fazendo a mesma abrir os olhos automaticamente.

— Eu juro por Deus que não comi o sorvete todo! — Yuri disse sobressaltada, mas ao ver que a namorada tentava segurar o riso suspirou aliviada. — Bom dia Sica-ah! — Beijou-lhe a testa. — O que temos de importante para hoje? Você acordou antes, aconteceu algo? — Franziu o cenho.

— Não sei... É que, assim, acho que nasceu uma menina hoje, sabe... — Disse Jessica, esperando que Yuri fosse lembrar do próprio aniversário.

— Quem? — Yuri pergunta e começa a pensar. — O aniversário da Tiffany é em Agosto... Nós estamos em dezembro... — Pisca confusa. — Quem? — Yuri pega o óculos na cabeceira da cama. — Ahhh bem melhor pra enxergar você! — Sorri.

— Meu Senhor... — Jessica fechou os olhos e sacudiu a cabeça, decepcionada. — VOCÊ nasceu hoje, sua lerda!

— Mas hoje é dia qua- — Olhou para o calendário ao lado na cama. — Uhhh é mesmo. — Olha para Jessica. — É por isso que você acordou mais cedo? — Passou o braço pelos ombros de Jessica em seguida a puxando para mais perto. — É uma surpresa maravilhosa e um grande presente saber que você pode acordar antes da sete da manhã, eu realmente achei que isto ia contra as leis da física!

— Só não vou lhe dar uma boa resposta porque hoje quem tá ficando velha é você. — Jessica sorriu, mesmo insatisfeita com a piadinha. Deu-lhe um selinho rápido e se sentou na cama. — Mas, sabe o que tem hoje além de envelhecer?

— É claro que eu sei! — Yuri se senta também. — É o dia que você faz, ou tenta, fazer menos piadinhas! — Sorriu. — E também você fica um doce de pessoa... — Se aproximou de Jessica e lhe deu um selinho. — É quando seu veneno miniminiza! — Riu com gosto da cara de frustração de Jessica.

— Ok... — Respirou fundo. — Além disso, meu amor, — Sorriu. — também é o dia em que você ganha presentes! — Se aproximou da ponta da cama e pegou a sacola. — Na verdade, um presente, que é meu, que é mais importante e que é mais legal do que os outros que você possa ganhar. — Retirou a caixinha de dentro da sacola e entregou para Yuri. — Meus parabéns!

— Ai meu Deus eu não acredito! — Yuri exclamou animada e começou a analisar a caixinha. — Você comprou os ingressos do próximo jogo futebol do meu timão, eu não acredito! — Abriu a caixinha, analisou o presente e olhou ora para Jessica e ora para o conteúdo. — Isto é algum tipo de sacanagem com a minha cara? — Perguntou arqueando as sobrancelhas.

— Ahh, Yuri-ah, você sabe... Eu sou o melhor presente de todos! — Diz Jessica, com um sorriso de orelha a orelha. Yuri olhou para ela e depois para a caixinha, que continha uma foto de Jessica. — Mas... — Chamou a atenção da morena. — Essa é a só a primeira parte do seu presente, meu amor. — Yuri suspirou aliviada. — A loira se aproximou, retirando a foto de cima da segunda parte do presente, fazendo o queixo de Yuri cair. — Viu só! Não é lindo?! — Bateu palmas, animada.

— Isto é outra sacanagem com a minha cara? — Pergunta e começa a rir alto. — Não, você não me deu lentes de contato de presente, nãããão. — Jessica olhou séria para Yuri, que teve o queixo caído. — Mesmo assim, obrigada meu amor. — Beijou a testa de Jessica. — Com o primeiro eu vou passar a noite toda na cama, com o segundo... — Deu um sorriso amarelo, mas engoliu em seco ao ver o olhar mortal de Jessica em si. — Eu vou usar para mostrar para todo mundo que a minha namorada tem um ótimo bom gosto para presentes. — Abraçou Jessica e então sussurra para si mesma. — Armaria naam...