Hyoyeon segurava o colar com força e chorava silenciosamente. Eu queria abraçá-la e limpar suas lágrimas, mas não tinha certeza se podia fazer isso. Em vez disso, fiquei sentada ao seu lado. Pouco após ter aberto a caixa, a pernas dela haviam bambeado e por isso ela estava sentada em um banco, numa área mais afastada da porta.

_A última coisa que eu queria era fazê-la chorar no seu aniversário – eu disse com delicadeza, e Hyo deu uma risada seca.

_Isso acontece todo ano Yuri. Por isso eu estava aqui fora. Toda ano, desde que eu me lembro, Hayoung acordava cedo e pulava na minha cama. Ela... Ela... – ela não terminou o que estava falando.

_Eu sei como se sente – comecei – Eu também sinto-

_Não, você não sabe! – exclamou me interrompendo – Eu sou culpada por ela ter morrido, se eu tivesse ido no lugar dela...

_Você não sabia, não tinha como saber.

_Mas eu podia-

_Hyoyeon – a interrompi – Não foi culpa sua. Não foi...

Antes que me desse conta, eu chorava junto com ela.

_Eu era sua irmã mais velha! Meu dever era protegê-la mesmo que eu saísse machucada.

_E eu era mais velha que vocês duas, éramos como irmãs. Meu dever também era proteger Hayoung, assim como você. Mas você está mal e me sinto pior ainda por isso. Por favor Hyo, pare de chorar um pouco. Você sabe que Hayoung não gostaria de ter ver assim.

Hyoyeon ficou em silêncio, seu choro parando aos poucos, como o meu.

_Você não parece ficar mal quando eu fico mal – ela disse e eu sabia onde isso ia terminar, em uma briga, como sempre. Eu só queria que as coisas entre nós voltassem ao normal. Agora que ela estava com Jéssica eu não poderia simplesmente roubá-la. Ela era minha melhor amiga e só isso. Eu lutaria contra o que sentia até o fim.

_Eu não queria que nós ficássemos desse jeito, não sei o que deu em mim. Só estava com tanta raiva...

_Raiva de quê Yuri? Eu deveria estar com raiva. Você me evita, não fala comigo.

_Não estou falando disso, mas eu me sinto mal por isso também. Eu estava com raiva de mim mesma, não queria sentir tanto ciúme de você e Jéssica.

_Eu e Jéssica? – me perguntou incrédula.

_Mas eu sei que é diferente Hyo – continuei – Agora eu sei que mesmo que vocês namorem vamos continuar a ser amigas, como sempre. Isto é, se você quiser.

_É claro que quero Yuri. E sobre eu e Jéssica...

_Sim?

_Nada – ela disse, e pude ouvir uma pontada de tristeza em sua voz.

Antes que eu pudesse pensar em algo, Hyoyeon deitou sua cabeça em meu ombro, olhando para o céu.

_Yuri – me chamou.

_Diga.

_Não faça isso de novo. Não mude de repente e me deixe sem saber o que fazer. Você é importante demais para simplesmente me abandonar assim.

_Eu não vou – respondi, enlaçando sua cintura com meu braço – Nunca mais.

Dei um leve beijo em sua testa, e ficamos assim por um tempo. Era incrível como meus sentimentos haviam amadurecido, mas não haviam mudado. Eu sentia meu coração bater descompassado naquele momento, sentia seu perfume doce invadir minha mente. Eu ainda amava aquela garota, mais do que antes.

Após um tempo, fomos ao banheiro e ao estarmos apresentáveis de novo, sem maquiagem borrada ou cara de choro, voltamos para festa. Assim que apareci novamente no estúdio Kate veio falar comigo.

_Onde estava? Você sumiu por quase uma hora!

_Acabei encontrando alguns amigos no caminho, eles não me deixavam ir embora! – exclamei.

_Sua amiga Sun é muito engraçada – disse sorrindo.

_Onde ela está?

Kate apontou discretamente para o centro do estúdio e achei Sun, dançando no meio da multidão com um cara que eu conhecia, mas não me lembrava de onde. Dançamos, apresentei Kathryn a algumas pessoas, bebemos, dançamos mais... A festa de Hyo havia sido ótima, há um tempo eu não ia a festas como aquela. Ser uma cantora dá mais trabalho do que parece.

A noite passou e por volta das quatro da manhã nós fomos embora para nossa casa. Dividimo-nos em táxis e eu estava em um deles, sozinha com Kathryn.

_Vai dormir lá em casa? – perguntou, quando estava em frente a seu prédio.

_Acho melhor não, tenho algumas coisas para resolver amanhã.

_Tudo bem – respondeu me dando um longo beijo de boa noite – Boa noite Yul.

_Boa noite.

Caminhei até meu prédio, e quando abri a porta do apartamento não parecia ser tão tarde. Quase todas as luzes acessas, e Taeyeon que havia passado mal durante a festa, estava deitada no sofá dormindo. Meu quarto era o último do corredor, e para chegar nele eu passava pelos outros quartos, o que me permitia ver o que todas faziam. Seohyun tentava colocar Yoona embaixo do chuveiro já que ela estava bêbada; a porta de Jéssica estava fechada e com a luz apagada o que significava que ela já estava dormindo; Jessica, a única que não dividia um quarto com ninguém estava de toalha, provavelmente esperando um banheiro ficar livre; e Hyoyeon estava tomando banho. Com os quatro banheiros ocupados, fiz a mesma coisa que Tiffany, e me deitei em minha cama. Ao contrário do que pretendi, não tomei banho, dormi pouco depois de colocar a toalha.

Acordei pela manhã sentindo minha cabeça doer bastante. Eu não lembrava direito sobre ontem a noite, e de repente tudo veio a minha mente. A festa, minha conversa com Hyoyeon, o quanto eu havia bebido na noite anterior. Eu tinha uma resistência alta, o que me fazia beber muito sem perceber, mas não me impedia de ter uma grande enxaqueca no dia seguinte. Levantei-me lentamente para fechar a cortina do quarto, quando notei que estava vestida. Uma camiseta e um short cobriam meu corpo, ao contrário de quando havia ido dormir. Sem me importar muito com isso, fechei a cortina e me deitei na cama, sem perceber que havia deitado na cama errada.

Comecei a sentir um perfume diferente e notei que era a cama de Hyo. Olhei o relógio e vi que já eram onze horas da manhã. Onde ela estaria há essa hora? Perguntei-me. Logo minha pergunta foi respondida, uma sonolenta Hyoyeon entrou no quarto e se jogou em cima de mim.

_Não consigo... Respirar... – falei brincando, enquanto Hyo ria comigo.

_Está na cama errada senhorita Yuri – disse, e começou a me empurrar para fora da cama dela.

_Deite na minha, a sua é mais confortável.

Pensei que ela fosse mesmo fazer isso, mas ela puxou o cobertor que me cobria e se deitou ao meu lado.

_A cama é minha, você que saia.

Ignorei seu comentário e tentei voltar a dormir, mas minha dor de cabeça não deixava.

_As meninas já acordaram? – perguntei após desistir de adormecer.

_A maioria sim, mas ainda estão deitadas – respondeu – Com exceção de Sooyoung que está na cozinha comendo, é claro.

Há alguns anos eu teria rido. Mas eu já estava acostumada com esse comportamento por parte de Soo.

_Hyo... – a chamei após um tempo.

_Hm?

_Quer ir comigo até o cemitério? Pensei que poderíamos visitar o túmulo de Hayoung. Deixar umas flores talvez...

Hyoyeon me pareceu pensativa por um tempo, mas aceitou. Ficamos deitadas na cama até a hora do almoço, quando decidimos que era melhor sairmos logo, poderia surgir um compromisso de última hora. Apesar de relutante, tomei um comprimido para minha enxaqueca e saí com Hyo. Pegamos o meu carro, e o trânsito não estava nada bom, um temporal começou a cair pouco depois de termos saído de casa. O resultado foi um terrível engarrafamento.

Ligamos o rádio e começamos a cantar as músicas que tocavam, e uma das músicas era nossa. Ela cantou minha parte e cantei a dela, e nos dividimos com as partes de outras integrantes. Nós nove adorávamos imitar umas as outras cantando. Ficamos no carro por quase quarenta minutos, inventando coisas para nos distrair.

Quando chegamos, havia uma coroa de flores quase murchas em frente seu túmulo. Sua foto era a mesma do anuário do colégio, que mostrava uma Kate séria e brava, e eu me lembrava muito bem do porquê. Eu e Hyo havíamos escondido todos os elásticos de cabelo e presilhas pela manhã, o que a fez ir para o colégio de cabelo solto. O cabelo de Kate naturalmente era tão liso e oleoso, que caia sobre seu rosto e fazia parecer que ela havia acabado de sair de um filme de terror. Até hoje os alunos mais novos, quando pegam o anuário da classe de Kate para fazer algum trabalho ou algo do tipo, se assustam com a foto.

_Se lembra desse dia? – eu perguntei, me referindo à foto.

_Lembro... – respondeu, apoiando a cabeça em meu ombro – Minha mãe não queria colocar essa foto, disse que mal podia ver o rosto dela.

_O que é verdade.

_É... Mas eu implorei para ser essa. Por que eu queria lembrar desse dia sempre que viesse aqui.

Ao contrário do que imaginei Hyoyeon não derramou nenhuma lágrima durante o tempo que ficamos em frente ao túmulo de Hayoung. Não fizemos nada além de trocar algumas palavras ocasionais, e de colocar em seu túmulo uma nova coroa de flores, que havíamos comprado no caminho. Hyoyeon estava usando seu presente de aniversário, que combinava perfeitamente com ela. O colar “original”, o real presente de Natal de Hayoung, estava perdido. Ela não tinha tido a oportunidade de abrir seus presentes e por isso procuramos por toda a casa. No fim não achamos, mas como o meu e de Hyo estavam conosco, decidimos que eles seriam enterrados junto de Kate.

_Assim estaríamos sempre juntas – eu disse para Hyo no dia em que havia proposto isso a ela.

Ela achava que o colar que eu havia dado de presente a ela era o de sua irmã. Acreditava que de alguma forma o colar tinha ido parar em nossas mãos de novo, para sabermos que ela estava bem. Eu não acreditava muito nisso, mas ao ver o coração dela se aquietar ao me dizer aquilo, não tive coragem de dizer que não acreditava. De alguma forma, isso me fazia sentir melhor também.

Pouco depois de termos deixado o cemitério, decidimos sair para comer alguma coisa. Mesmo tendo saído na hora do almoço, nós não havíamos comido nada desde a noite anterior.

_Onde quer ir? – perguntei enquanto ligava o carro.

Hyoyeon se espreguiçou lentamente antes de responder.

_Que tal pizza? – sorri com a sugestão, me lembrando que era raro ela querer algo como pizza. Começamos a noite com pizza, mas terminamos a noite num bar qualquer, tomando soju. As coisas caminhavam perfeitamente, até que recebi uma mensagem de Kate. Hyo esticou a cabeça para ler, e apesar de eu ter sido rápida ao tirar o celular de perto dela, não foi o suficiente para que ela não lesse pelo menos parte da mensagem.

_Da Kate, é?

Sorri meu sem graça, enquanto Hyo desviava o olhar de mim.

_Nós estamos meio que saindo... – expliquei, desejando que isso não houvesse sido necessário. Era algo tão estúpido. Lá estava eu, sentada em um bar com a mulher dos meus sonhos, explicando que estava saindo com outra. Há três meses atrás, eu não seria capaz de imaginar essa situação.

_Entendi.

_E Jéssica? – perguntei, tentando desviar o assunto da conversa para longe de Kate.

_Ela está bem – respondeu pura e simplesmente.

_Vocês ainda estão saindo?

_Acho que sim – explicou, soltando um sorriso tímido, e instantaneamente baixei os olhos para meu copo. Quando olhei para Hyoyeon ela estava me encarando, parecia fazer isso há certo tempo.

_Que foi?

_Você está com ciúmes – respondeu rindo.

_Hã?  Como- Isso é ridículo! – tentei me explicar, mas Hyoyeon não ouvia, rindo cada vez mais.

_Consigo ver nos seus olhos que está – comecei a protestar, mas ela colocou um dedo em meus lábios, me mandando fazer silêncio.

_Você está morrendo de ciúmes de Jéssica. E é por isso que está tentando tanto dizer que não está. Exatamente como eu estava quando começou a namorar aquele babaca da aula de teatro, há uns sete anos atrás.

Lembrei do que ela estava falando. Quando eu tinha dezesseis anos comecei a sair com um cara que treinava conosco na companhia, e Hyo havia dado um ataque de ciúmes quando nos viu juntos pela primeira vez.

_E nos não iremos sair desse bar – continuou – enquanto você não confessar que está.

Fiz menção de me levantar, mas Hyoyeon segurou meu braço.

_Não é foi tão difícil pra você dizer isso para mim ontem a noite.

Suspirei com raiva antes de responder.

_Tá bem, estou. Feliz agora?

_Muito – respondeu rindo.

_Agora vamos, está tarde – pedi enquanto me levantava, sabia que Hyo tinha compromissos cedo no dia seguinte.

_Só mais uma garrafa!

_Não.

_Mas eu não terminei meu copo – pediu, sem sair do lugar. Suspirei novamente e não consegui evitar um sorriso, enquanto me sentava novamente. É claro que não havia sido mais um copo. Terminamos com mais uma garrafa antes de voltar para casa. Eu não me sentia bem com isso, beber tanto no meio de uma semana cheia de compromissos.

Eu não estava a fim de dirigir para casa, e não queria que Hyoyeon o fizesse, apesar de ela insistir que estava sóbria o suficiente para isso. Acabamos pegando um táxi para casa, pegaríamos o carro no dia seguinte. Hyoyeon estava silenciosa, rindo e sorrindo para mim durante todo o caminho. Continuamos em silêncio enquanto subíamos as escadas, mas não pude evitar um sorriso quando senti a mão de Hyo segurar a minha.

Ao abrir a porta de casa, encontramos Taeyeon e Tiffany sentadas no sofá. Haviam papeis espalhados na mesa de centro, e ambas pareciam concentradas em escrever algo.

_Boa noite! – uma sorridente Taeyeon disse, após abrirmos a porta. Seus olhos caíram imediatamente em minha mão, que Hyo ainda segurava, e a vi cutucar discretamente Tiffany com o cotovelo.

_Parece que alguém finalmente entendeu o que estava perdendo – disse Tiffany com um sorriso satisfeito. Ignorei o comentário e cumprimentei as duas, andando para meu quarto em seguida. Hyoyeon usou o banheiro do nosso quarto enquanto eu usei o do corredor, e quando voltei para o quarto, ela estava de camisola deitada em minha cama, com os olhos semicerrados.

_Na cama errada de novo? – perguntei, e a vi sorrir pouco antes de se esconder debaixo dos travesseiros. Apaguei a luz do quarto e caminhei até minha cama. Escorreguei para debaixo das cobertas e a empurrei para o lado, tentando colocar meu corpo inteiro na cama de solteiro. Estava meio apertado ali, mas não liguei.

De repente, senti Hyoyeon se enroscando em meu peito, seu corpo quente espalhando calor em meu corpo gelado. Senti o ar me escapando enquanto ela se movia, se acomodando sobre meu corpo como um gato. Durante todo o tempo eu não podia ver seu rosto, mas podia sentir um sorriso bobo em seus lábios. Não restava dúvida que tudo isso era por que estava bêbada.

Ela continuou a se enroscar sobre mim, até que finalmente parou, podia sentir seus lábios próximos a minha clavícula. Quando finalmente vi seu rosto, seu sorriso não estava lá, havia sido substituído por uma expressão séria. Hyoyeon se esticou até ficar extremamente perto de minha boca, e me beijou.

Não consegui esconder a surpresa, a confusão que senti naquele momento. Era algo tão surpreendente. Por que ela estava fazendo aquilo?

Pouco antes de aprofundarmos o beijo, porém, ela separou nossos lábios e me olhou novamente com aquela expressão brincalhona nos rosto.

_Agora você e Jéssica estão quites – disse satisfeita consigo mesma e voltando a se aninhar em meu peito, como se não tivesse acabado de beijar sua melhor amiga.

-x-

Desculpem a demora, eu me esforcei muito nesse capítulo, queria que ela ficasse o melhor possível. Para quem pediu momentos HyoYul espero que gostem. Por favor, se você é um leitor silencioso e está gostando da história, peço que deixe um comentário. Mesmo que seja algo pequeno ou uma crítica, qualquer comentário sincero é um grande incentivo e apoio para mim. Obrigada por lerem este capítulo (e todos os outros)! Até o próximo capítulo.