único, assim como Spike, Luna e Yumi

Entre latidos e regar uma vez por semana

 

Donghae 

 

— Que seja um animal de estimação, que seja um animal de estimação, que seja um animal de estimação — murmurava sentado em cima da minha perna, com minhas mãos juntas para rezar. 

Meus olhos se abriram no mesmo momento em que ouvi a porta do meu quarto abrir e meus pais se sentarem ao meu lado, com aqueles sorrisos tão abertos. 

— Vai dar tudo certo, viu? Com certeza vai ter que cuidar de algo muito importante, assim como você. — Minha mãe deu um beijo em meu cabelo antes de passar suas mãos em meu ombro para tirar todo o meu nervosismo. 

Meu pai ficava a todo instante mudando de posição, parecendo mais ansioso que eu. Percebi também que ele olhava pelo canto do olho para o relógio em cima da minha escrivaninha, que marcava 11h59 em ponto. 

Dei uma última rezada básica antes de ouvir meu relógio fazendo um barulho, denunciando que deu meia-noite e eu estava oficialmente com 16 anos. 

Um cacto apareceu em cima da minha cama e todos no quarto ficaram em um silêncio absoluto. 

— Todo mundo está vendo um… um cacto, não sou só eu, né? — Tive que checar com meus pais para não pensar que era meu cérebro pregando peças em mim. 

— Sim — minha mãe disse baixinho, antes de dar um beijo em minha testa, tentando afastar a minha tristeza. 

Não sei qual foi a causa de eu estar chorando, se era pela tristeza, insatisfação, frustração ou todas essas coisas juntas. 

— Hae, está tudo bem receber uma planta. Ele é tão importante como qualquer animal de estimação. A sua alma gêmea vai ficar muito agradecida que cuidou bem dele. — Foi a vez do meu pai dar um abraço lateral em meu corpo para me confortar. 

— Para vocês é fácil falar, já que possuem um coelho e um gato. — Sei que eles não mereciam o meu mau humor, mas agora queria poder me sentir miserável sem ter alguém me falando palavras de conforto.

— Amor, o importante não é o que você recebe, e sim como o trata. Sei que vai cuidar muito bem do cacto, assim como da sua cara-metade, certo? Do que foi designado para você, isso é o mais importante. — Minha mãe me deu um último beijo antes de se levantar da minha cama. 

— Não esqueça que amanhã, às oito em ponto, vamos te levar para a SM Entertainment. — Meu pai me lembrou pela vigésima vez no dia. 

— Vocês sabem que não precisam me levar até lá… — Foi impossível não rolar meus olhos por eles estarem fazendo tanto do meu primeiro emprego.

— Que bom que não vamos te ouvir… — minha mãe cantarolou, antes de dar boa noite para mim e fechar a porta do cômodo. 

Por mais que estivesse com uma sensação negativa se apoderando de todas as células do meu ser, o dia seguinte seria o que mais esperei na minha vida: viraria trainee de uma das empresas mais conceituadas da Coreia, sendo assim, precisava de uma noite de sono muito boa.

— Amanhã vai ser melhor que hoje — sussurrei para mim mesmo, com convicção, antes de dar um suspiro e apagar a luz que o abajur projetava. 

(...) 

— Hae, a gente vai se atrasar! — meu pai gritou, claramente descontente, perto da porta, já com as chaves do carro em suas mãos. 

— Vai ser rapidinho, eu juro — gritei de volta, antes de me abaixar para o mesmo nível onde a minha planta se encontrava perto da janela que batia um pouco de sol. 

— Espero que tenha um ótimo dia, te vejo à tarde! — sussurrei para a minha planta depois de sorrir para ela. 

Meu pai fez uma expressão de bravo de brincadeira antes de passar sua mão pelo meu cabelo. 

— Por favor, prometam que não vão fazer nada para me envergonhar. — Deixei claro antes de sairmos do carro para conhecer onde seria a minha nova casa. 

— Só porque você falou, vamos fazer de tudo para fazer você passar vergonha… — Eles riram ao deixarem o veículo. 

Nós nos encontramos com uma pessoa supereducada vestindo terno, que fez questão de levar meus pais para um tour na empresa inteira e a próxima parada seria os nossos dormitórios. Já que era menor de idade, meus pais precisavam estar de acordo em eu virar um trainee. 

Admito que nos primeiros trinta minutos era uma coisa superdivertida, mas depois pareceu que todas as salas eram iguais e fui para um corredor novo. Qual seria o melhor jeito de conhecer um prédio novo se não fosse se perdendo por ele? Então, nem me preocupei com meus pais, pois eles pareciam estar prestando toda a atenção do mundo no que o empregado falava, e saí andando pelo local. 

— Luna! — Ouvi alguém gritando e não consegui nem ver de onde vinha, mas de repente, uma cachorra filhote começou a pular em minha perna. 

Era a coisa mais lindinha do mundo, as suas patinhas eram tão pequenas que minha vontade foi de mordê-las de tão fofas. 

— Me desculpe! — Um menino que parecia ter a minha idade veio todo afobado ao meu encontro. Sorri de alegria quando percebi que possuía em seus braços uma outra cachorra da mesma raça que a que estava pulando em mim, um gloden retriever. 

— Elas sempre são muito comportadas, juro, mas hoje parece que estão ligadas no 220. Desculpa. — O menino se curvou ao se desculpar e puxou Luna pela coleira para colocá-la ao seu lado. 

— Que isso, está tudo bem. Posso fazer carinho nelas? — Abri meu maior sorriso, pois sabia que era meu charme para conseguir um “sim” de qualquer um. 

— Claro. Elas são bem dóceis. — Primeiro me abaixei para passar a mão em Luna, que fechou seus olhos pela satisfação. 

— Qual é o nome desse amor aqui? — perguntei enquanto passava a mão no pelo da filhote que se encontrava em seu colo. 

— Yumi. Eu acho que você é Deus ou algo do tipo, nunca as vi tão quietas recebendo carinho….. — O dono até arregalou seus olhos pela sua surpresa. 

— Prazer, Donghae ao seu dispor sempre que quiser deixar essas duas feras calmas. — Por força de hábito, acabei estendendo meu braço ao me apresentar, porém como o menino não possuía nenhuma mão vazia, rimos envergonhados. 

— Hyuk-jae. Mas pode me chamar de Eunhyuk. — As duas cachorras latiram como se também quisessem se apresentar para a minha pessoa e foi impossível meu coração não ficar aquecido vendo coisas tão lindas à minha frente. 

— Hae, achamos você! Sabe a preocupação que nos fez passar? — minha mãe disse naquele tom de voz calmo, mas sabia que era só chegarmos a casa para começar a brigar comigo.

— Desculpa, acabei me distraindo…. — Cocei minha cabeça pela vergonha, pois era a verdade, meu plano era sumir por uns cinco minutos, porém quando vi as cachorras até esqueci do tempo.

— Hae… Ai, que bonitos, quais são os nomes? — Minha mãe automaticamente mudou a sua voz de briga para a mais suave quando viu as filhotes. 

— Yumi e Luna... 

Ele nem conseguiu acabar suas palavras no momento em que Luna correu para pular nas pernas dos meus pais. 

— Luna! — O moreno usou sua voz autoritária, mas a cachorra o ignorou, abanando seu rabo para meus pais. Claro que eles pediram licença antes de acariciá-la, estavam errados? Não. Quem veria filhotes e não iria fazer carinho? 

— Nós precisamos ir, boa sorte com esses bebês. — Meu pai afinou a voz, passando sua mão uma última vez pela filhote. 

Dei um último sorriso vendo o menino parado com as duas cachorras e realmente esperava passar mais tempo com seus cães e, quem sabe, sua pessoa. 

(.....) 

— Lembre-se de sempre nos ligar, ok? Só porque não vamos mais morar juntos não quer dizer que estamos mortos. — Quando percebi os olhos do meu pai lacrimejando, minha vontade foi tirar uma foto, pois era quase raro o ver fazendo isso. 

— Vocês moram a trinta minutos daqui, podem me visitar quando quiserem, menos drama. — O argumento não foi o suficiente, uma vez que minha mãe me abraçou e começou a chorar como se o dormitório da empresa fosse em outro país. 

— Eu vou ficar bem, prometo. Afinal de contas, tenho Spike para me fazer companhia. — Apontei para o vaso que estava em uma caixa sozinha, pois tinha medo que a deixasse cair e machucasse minha alma gêmea sem querer. 

Depois de ficar mais uns cinco minutos dando “tchau”, dei um suspiro de gratidão ao perceber que não tinha ideia do que iria acontecer comigo ou em minha vida daqui para frente, e isso sempre me dava uma sensação de frio na barriga por começar um novo trajeto por mim mesmo.

Percebi que deveria ir mais à academia quando precisei subir oito lances de escadas com minha planta e uma mala parecendo que iria morrer de cansaço. 

Por educação, bati uma vez à porta, mas como não houve resposta, entrei no que seria meu quarto durante muitos anos se tudo desse certo. Foi somente colocar um pé no cômodo que Yumi veio me cumprimentar toda alegre. 

— Yumi! Quantas vezes eu tenho que te dizer que não é educado atacar as pessoas? — Achei a coisa mais engraçada do mundo que pelo jeito, Hyuk-jae tentava fazer com que Yumi e Luna o ouvissem, mas nunca acontecia. 

— Me desculpa. Para compensar, deixa eu te ajudar. — O meu novo companheiro de quarto pegou a caixa que eu estava segurando. 

— Um cacto? Que incomum, gostei. Deus poderia ter me dado uma planta, algo muito mais fácil de cuidar que esses dois encrenqueiros — Eunhyuk brincou fazendo carinho em Luna, que chegou para me cumprimentar. 

— Tenho certeza que eles não são encrenqueiros como faz questão de dizer. — Fiz até aspas na palavra encrenqueiro. 

— Semana que vem a gente conversa. 

Ele deu um sorriso antes de pegar a minha caixa e colocar Spike perto da janela para pegar sol. Fiquei até assustado por ele saber algo mais profundo sobre os cactos. As pessoas achavam que só porque poderiam sobreviver muito tempo sem água não precisavam de sol como qualquer outra planta. 

— Eu adoro plantas, por isso tinha certeza que receberia isso. Esperava por plantas fáceis de cuidar, e recebi duas cachorras que são agitadas pra caralho. Às vezes me sinto um pai de primeira viagem, sabe? Não tendo certeza do que estou fazendo. — Ele deu uma gargalhada enquanto olhava para as duas cachorras que se entediaram e foram dormir em suas caminhas. 

— Acho que o destino te colocou em minha vida então. Eu sou um pai de primeira viagem para o cacto também. Sempre fui muito bom com animais, então, se você aceitar, adoraria te ajudar a cuidar de Luna e Yumi e ficaria superagradecido se conseguisse me dar um mão com o meu cacto. — Hyuk-jae não pensou um segundo sequer e já disse um “sim”, muito feliz. Não esperava que me abraçasse, mas foi impossível não sorrir. 

Estava com uma sensação de que ele seria uma pessoa especial em minha vida. 

(...)

Depois que nós dois viramos trainees e realmente ficávamos tendo aula por umas dez horas por dia, agradecia demais ter só um cacto, pois chegávamos mais cansados que sei lá o que em nosso dormitório, e ter que cuidar não só de um cachorra, mas de duas, iria me fazer querer chorar. No entanto, fiz uma promessa para o mais velho e iria cumpri-la. 

Pensava que seria extremamente difícil cuidar de duas cachorras filhotes quando não tínhamos nem tempo para nós, mas eu e Eunhyuk nos dávamos simplesmente bem como pais. Várias vezes, quando um não tinha aula e o outro sim, o que estava com horário vago colocava comida e brincava um pouco, além disso, a cada quinze dias dávamos banho em Luna e Yumi. 

Era uma bagunça generalizada e isso era ótimo para conseguir tirar toda a exaustão e estresse da semana. 

Mas claro que nem todos dias eram flores e felicidade. 

— Luna, por favor, dá para você calar a boca. Eu quero dormir — o meu amigo disse sem paciência nenhuma. Ele estava superestressado, porque a empresa iria montar um grupo novo que todos já tinham sido selecionados, inclusive eu, e na manhã seguinte seria a sua apresentação final para saber se debutava ou continuava como trainee. 

Luna e Yumi já tinham três anos no tempo em que passei treinando e dividindo o quarto com Eunhyuk, como não eram mais filhotes, estavam bem calmas, mas como o meu cacto que refletia o que a minha alma gêmea sentia, será que Luna e Yumi também estavam fazendo o mesmo ? A ansiedade estava lá no teto, desde que apagamos as luzes só ouvimos as suas patinhas no chão. 

Na primeira vez em que meu companheiro reclamou com Yumi, ela foi dormir, mas o mesmo não aconteceu com Luna, que pareceu ficar mais ansiosa.  

— Está tudo bem, bebê. Quer colo? Vamos deixar o papai dormir, certo? Amanhã ele tem um dia importante — sussurrei pegando a gloden em meu colo e dando um beijo em sua testa. 

Ela só parou de fazer barulho quando a coloquei em minha cama, seu corpo foi automaticamente para cima do meu peito, pois era um dos seus espaços favoritos para sentar-se em meu corpo.

— Hae, acho que nunca disse isso, mas obrigado por cuidar tão bem assim das duas. Eu te amo — ele sussurrou depois de uns dois minutos em silêncio. 

— Hyuk, eu as amo como te amo, então nunca vai ser uma obrigação cuidar dessas princesas. — Quando o quarto ficou novamente silencioso somente com o barulho de uma respiração denunciando que meu amigo tinha conseguido dormir, dei um suspiro que nem sabia que estava segurando. 

Minhas mãos foram automaticamente para o pelo de Luna, não tinha contado para Hyuk, pois ele já tinha muita coisa para lidar, mas meu coração batia superacelerado pela ansiedade. Para ele, era tudo ou nada, já que estava treinando naquela empresa por cinco anos e jurou que se não debutasse esse ano, iria desistir. E, porra, como gostaria que ele fizesse parte da minha vida até morrer! 

Mesmo que não fosse sua alma gêmea romântica, nunca senti essa ligação com nenhuma outra pessoa do planeta. Várias vezes brinquei com ele que sua alma gêmea teria que me aguentar, porque depois que o conheci, nunca mais iria o deixar sair de perto de mim. E tem algo melhor do que trabalhar com sua alma gêmea da amizade? Não. 

Então para mim também era tudo ou nada: ele me deixava inteiro e sabia mais que tudo que não iria aguentar a indústria do k-pop sem Eunhyuk ao meu lado. 

Com esses pensamentos e fazendo carinho em Luna, finalmente meu cérebro chegou à conclusão que deveria ir dormir. 

(...)

— Hyuk, tem algo errado com o Spike. Ele deveria florescer hoje.  — Sei que meu companheiro não precisava mais de qualquer peso em seus ombros, mas havia algo errado com meu cacto, e se ele morresse, minha alma gêmea também iria. 

— Hae, sua planta só está estressada, por isso não abriu a flor.  — Foi o veredito final depois de ele observar o cacto.  

— É uma merda não saber quem é minha alma gêmea, queria dizer tantas coisas para ela… — murmurei superfrustrado pela tristeza que possuía pela injustiça. A pessoa não era minha alma gêmea? Deveria a conhecer para me sentir completo, certo? Mesmo depois de 19 anos, nunca a tinha visto. 

— E o que iria dizer a ela? — Sério, Eunhyuk era simplesmente perfeito. O dia dele seria superdifícil, mas lá estava ele tentando me ajudar. 

— Que mesmo que não a conheça, está fazendo um trabalho muito bom. Que espero não ter ficado tão estressado, pois sou uma bola de felicidade e nunca iria deixar a negatividade chegar até ela. Seria o seu sol pessoal, sempre brilhando, pois é o que merece, uma estrela central tão importante quanto a pessoa. — Achei que minhas palavras foram erradas, pois Hyuk estava chorando em minha frente. 

— Hyuk? — A primeira coisa que fiz foi limpar as lágrimas que caíis.

— Não são lágrimas de tristeza, sei que suas palavras não eram para mim, mas você me fez me sentir digno, obrigado. Precisava dessa confiança para chegar à avaliação e botar para foder. Obrigado, você é a melhor pessoa que poderia ter a honra de conhecer. — Ele me abraçou tão fortemente que por alguns segundos nem consegui respirar. 

Seu corpo se separou do meu quando o alarme do seu celular tocou, denunciando que chegou o momento da avaliação. Dei um beijo em sua bochecha e testa antes de sussurrar um “boa sorte”. Ele saiu com um sorriso de outro mundo e poderia parecer loucura, mas sentia que iria passar, era impossível isso não acontecer com todo o seu corpo gritando confiança daquele jeito.

Quando me virei para Spike, ele estava com uma flor. Puta merda! Tudo fez sentido em minha cabeça: Hyuk era minha alma gêmea romântica! Não poderia ser coincidência ele melhorar de humor ao mesmo que o cacto também. 

Claro que a felicidade passou por todas as minhas células, tinha certeza que mesmo que ele não me visse agora como interesse amoroso, mais para frente seria algo natural por causa da nossa química. 

Foi só eu pensar mais um pouco que o pânico se fez presente. O problema nem era estar em um relacionamento no mesmo grupo, já que existiam vários outros idols que eram almas gêmeas na mesma situação, e sim deixar isso sair antes do debut. 

Sabia que iríamos ganhar muito hate sobre isso, não precisava ser antes de começar a carreira propriamente dita. Não seria o responsável por afundar a minha e a carreira de outros caras antes mesmo de começar.  

— Meu Deus, Hae, eu consegui! Vai ser eu e você até o final das nossas vidas! — Minha alma gêmea chegou gritando em nosso quarto, e se não tivesse um reflexo tão bom, com certeza iria deixá-lo cair no chão quando pulou em meu colo. 

Yumi e Luna deitaram perto de Eunhyuk, demonstrando que estavam tristes. 

— O que aconteceu com vocês? Hoje deveria ser o dia mais feliz da minha vida e não dá para ser se vocês estiverem tristes, não é? — Ele pediu desculpas antes de sair do meu colo e fazer carinho nas cachorras que não mudaram a sua feição de dor. 

Afinal, se meu coração estava sangrando, o de Luna e Yumi também. Quando as minhas lágrimas de tristeza caíram por perceber que tinha um cara maravilhoso à minha frente e não poderia o ter como queria, inventei a desculpa que eram de felicidade por começar uma nova etapa com ele. 

Olhei para o Spike e nunca vi aquela flor mais bonita na vida, assim como o seu dono. 

(....)

Minha curiosidade desde que tinha conhecido Luna e Yumi era com qual idade elas parariam de crescer. Isso acontecia com todos os animais de estimação vinculados à sua alma gêmea, alguns paravam de crescer quando eram filhotes, outros, quando eram idosos ou estavam nesse meio-termo. 

Depois de cinco anos na indústria de k-pop, as duas pararam de crescer com oito anos, eu me encontrava com 24 e minha cara-metade com 25. 

Queria dizer que alguma coisa mudou, mas não aconteceu. Nossas agendas continuavam cheias como quando ainda estávamos treinando, só que agora recebíamos o amor de nossos fãs em troca. Eunhyuk também não mudou nada, muito menos Spike. Ele continuava sendo a pessoa que mais amava no mundo, tanto romanticamente como no quesito amizade. 

(...) 

— Donghae, estava vendo o seu raio-x? Seu joelho, por fazer um esforço enorme ao dançar por todos esses anos, está se desgastando em tempo recorde. Temos duas opções: operar ou tomar remédio para dor, porque pode não estar doendo agora, mas vai acontecer. — Meu médico mostrou o meu exame e fez um círculo em meu joelho. 

 — Qual a melhor opção? — Tinha quase certeza que seria a cirurgia, mas, né, como não era médico precisava da confirmação. 

— A cirurgia, porém o tempo de descanso pode variar de dois meses até três, dependendo do seu organismo. Entendo que para seu trabalho, será um problema… 

— Então, ou é fazer cirurgia e não sentir dor ou continuar ativo com dor? — Quando ele me olhou com pena, tive certeza que Deus tinha seus favoritos e eu não era um deles. Dos dois modos eu me fodia. 

— Escolho os remédios. — Não era nem algo para pensar mais a fundo. O Super Junior era conhecido, mas ainda não tinha entrado na história, e tudo que eu e os outros membros queríamos era isso. Não seria mais uma vez, o membro que tiraria essa oportunidade deles. 

Falavam que para ser um famoso, você tinha que sacrificar muita coisa. Já tinha feito isso, o amor de Eunhyuk era um dos sacrifícios mais importantes.  Minha saúde seria só mais um na longa lista. 

Bem, era mais fácil falar do que realmente fazer. Alguns dias, somente colocando uma bolsa de água fria resolvia, em outros, nem todos os remédios de dor pareciam ser o suficiente para fazer meu joelho melhorar. Várias vezes saía da sala de treino mancando quando me encontrava sozinho. 

Nenhum dos outros membros sabia da minha dor e queria que continuasse assim até aguentar. Tinha a certeza que se soubessem, iriam chegar ao acordo de entrar em hiato para eu conseguir fazer minha cirurgia e ter o meu tempo de recuperação certinho. E, porra, nunca tínhamos parado mais de três meses em cinco anos, nem sabia se alguns deles aguentariam o tranco de ficar em casa sem fazer nada. 

— Hyuk, estou entrando. — Teoricamente era só para avisá-lo, pois iria entrar na sua casa de qualquer jeito. Coloquei a senha na sua porta, que fez um barulho antes de abrir. 

Nesse dia, a escala de dor passava dos dez, então fui visitá-lo para ver se me animava. 

— Hae, eu não sei o que aconteceu, mas Luna e Yumi começaram a mancar com as patas traseiras ao mesmo tempo. Será que os sinais já estavam lá? E eu não percebi, pois passei mais tempo trabalhando do que cuidando das duas? — meu amigo disse tão rápido e afobado que meu cérebro precisou de alguns segundos para processar a informação. 

— Hyuk, algumas coisas acontecem e você não pode impedir. Nunca mais diga que não cuida bem delas, porque vi quantas noites passou em claro por elas estarem muito assustadas com os trovões para dormir, ou quantas vezes não foi sair comigo, pois tinha que dar banho nelas. Você é a porra de um pai perfeito e não aceito que pense menos de você, ok? — Ele deu um suspiro aliviado antes de me abraçar. 

Claro que como o bom amigo que era, levei-o para o veterinário mais perto, pois como estava bastante angustiado a probabilidade de se envolver em um acidente de carro seria alta. 

— Senhor Lee, parece que sua alma gêmea está com o joelho desgastado e isso infelizmente refletiu em Luna e Yumi. Lamentavelmente, agora só temos que esperar a sua decisão. Como tudo que acontece nelas reflete na pessoa, não podemos fazer uma cirurgia nos seus cães, pois, aí, estaremos fazendo nela também, e não temos o consentimento da sua alma gêmea. Agora é só esperar por sua decisão. 

O médico explicou calmamente e tirou todas as dúvidas que o dono das cachorras possuía. 

— Quando elas não conseguirem mais andar é porque a sua alma gêmea precisa fazer a cirurgia, então é só trazê-las aqui para seguirmos o mesmo passo. 

Claro que me senti mal por fazer as duas sofrerem, por isso me policiei mais para fazer todo o possível para me cuidar, como colocar mais compressas frias ao dia e passar todos os tipos de pomada para dor, a fim de que não refletisse nos animais de estimação. Amava demais as duas para fazer algo que as machucasse. 

Consegui ficar exatos dois anos sem ter que recorrer à cirurgia. Um dia, estávamos ensaiando a nova coreografia para o nosso quarto álbum completo, quando ouvi um estalar no meu joelho e senti uma dor tão grande passar pelo meu corpo que involuntariamente caí no chão. 

— Hae? O que há de errado? — Claro que Eunhyuk seria o primeiro a se agachar ao meu lado. 

Juro que tentei explicar, mas a dor era tanta que só conseguia ficar lá jogado no chão dando gemidos de dor. 

— Onde está doendo? Poderia apontar para mim? — Sua voz era o puro desespero. 

Com toda a energia restante em mim, apontei para meu joelho antes de mais uma vez rolar no chão por causa da dor.  

— Eunhyuk, eu sei que esse é um péssimo momento, mas Luna e Yumi estavam choramingando e latindo, a sua vizinha ligou para o porteiro, que ligou para o gerente Yang que foi lá conferir. Hyuk, elas não conseguem andar. — Siwon deu a notícia enquanto falava no celular, que provavelmente tinha o gerente Yang do outro lado. 

— Puta merda! Lee Donghae, você é minha alma gêmea! — Nem tive um momento para ter qualquer reação, pois meus olhos já fecharam e só vi a escuridão. 

(...)

Quando acordei, gemi de puro prazer por finalmente, depois de longos dois anos, não conviver com uma dor constante. Claro que todos os membros do Super Junior, e até alguns gerentes, se encontravam em meu quarto. Vários deles me deram balões e flores, assim como os meus fãs, o que fez com que o quarto parecesse mais uma minifloresta do que com um quarto propriamente. 

Eunhyuk foi o único, dentre as pessoas presentes, que não disse uma única palavra para mim, mas poderia sentir o seu olhar de pura raiva, se fosse um superpoder, tinha certeza que poderia até fazer furos em minha roupa. 

— Por favor, Heechul, não me deixe sozinho aqui — falei baixo com minha voz mais manhosa, para ver se derretia seu coração, enquanto olhava disfarçadamente para Hyuk que com certeza não iria sair. 

— Desculpa, meu amor, mas entre sua carinha de cachorro e a cara de bravo, escolho obedecer a ele. Você não vai me matar, e Hyuk sim — Heechul sussurrou em minha orelha, antes de dar um beijo em minha testa e ir em direção à porta. 

Então era isso? Você conhecia uma pessoa há mais de dez anos e quando precisava dela, escolhia o seu amigo em vez de você? Opressão é o nome, isso sim. 

Comecei a rezar baixinho, pois só pelo jeito que o mais novo descruzou os seus braços olhando para mim, com sua expressão de pura insatisfação, sabia que era uma pessoa morta. 

— Então… você sabia? — Foi a primeira coisa que perguntou ao sentar-se na cadeira ao lado da minha cama. 

Dei um longo suspiro sabendo que essa seria a conversa mais verdadeira que iríamos ter sobre o assunto. Estava cansado de guardar esse segredo e, acima de tudo, meu amigo merecia o mínimo vindo de mim: honestidade. 

— Sim. — Ele ficou uns segundos me olhando para perceber se conseguia ver as pequenas microexpressões que eu utilizava ao mentir. 

— Puta merda, não acredito nisso! Você sabe mais do que ninguém o quanto eu queria conhecer minha cara-metade! Desde quando? — Sua voz, no começo, foi baixa pela tristeza, mas logo aumentou de volume devido à sua indignação. 

— Desde sua última apresentação para entrar no grupo. — Ele começou a bater em meu peito, até que parou quando suas lágrimas saíram desimpedidas. Pedi licença antes de abraçá-lo enquanto aquele corpo que não parava de chacoalhar. 

— Você não me ama romanticamente? — Hyuk levantou um pouco seu rosto a fim de olhar para mim, e me odiei por machucá-lo tanto. Ele sempre foi uma pessoa transparente, e agora? Conseguia ver um misto de emoções: dor, indignação, traição, mas a maior foi a de não se sentir digno. 

Ele pensava que não era um ser digno para eu amar. Tipo, o deus chamado Lee Hyuk-jae achava isso. Se um de nós tivesse que acreditar nisso, com certeza não seria ele.

— Hyuk, eu já te disse milhões de vezes antes: eu te amo mais do que a mim mesmo. Tanto no quesito amizade como no quesito romântico. Cada vez que disse isso, nunca menti, você é minha vida inteira, com Luna e Yumi. 

Ele começou a chorar se aproximando do meu corpo ao sentar-me na cama. 

— Sabe, achava que não poderia amar alguém mais do que eu te amo, até conhecer Luna e Yumi. Amo-as como te amo, e isso? Não vai passar até eu morrer. Um amor tão forte igual ao meu, não morre tão fácil. — Meu pseudonamorado fungou mais fortemente ao me levantar para que conseguisse me abraçar. Passei meus dedos gentilmente em seu cabelo enquanto fungava com seu rosto na dobra entre meu pescoço e ombro. 

— Então… por que você nunca me contou? Hae, foram cinco anos, tenho certeza que teve várias oportunidades para me falar. — Foi a primeira coisa que perguntou depois que suas lágrimas conseguiram parar. 

— Deus sabe o quanto eu quis te contar, mas na época não tínhamos nem debutado, não queria colocar tudo a perder. Vocês lutaram com carne e ossos para conseguir, e não seria eu a pessoa que estragaria isso com a legião de pessoas nos odiando. E depois, acho que me acostumei com a sensação de ter você em minha vida. Sabe, não ligava se era como amigo ou algo a mais, só ter você comigo já valia a pena. — Ele começou a fungar novamente, o que me fez limpar mais uma vez suas lágrimas. 

— Eu estou tentando muito te odiar, mas como conseguir com essas palavras tão bonitas? Eu também te amo, assim como amo o Spike. — Dei um riso quando ele saiu da cama para pegar algo em sua mochila e mostrar o meu cacto com várias flores abertas. 

— Você me ama, não é? — perguntei todo eufórico antes de sacar o meu celular para tirar foto das duas flores novas que brotaram na planta. 

Era uma coisa extremamente rara de acontecer, uma vez que cactos, 90% das vezes, só davam uma flor uma vez por ano, duas queria dizer que a minha alma gêmea estava no ápice da sua felicidade. 

— Claro que sim, como não te amar? Você é meu sonho quando estou acordado — ele sussurrou em minha orelha antes de morder meu lóbulo e dar um beijo em meu pescoço, o que fez todos os pelos do meu corpo responderem ao estímulo. 

— Então você é meu namorado? — Tinha certeza que depois da confissão vinda dos dois lados, era óbvio que sim, mas gostava de deixar as coisas bem claras, e sobre isso não seria diferente. 

— Hae, todos sabiam que a gente era namorado quando só éramos amigos. — Ele rolou seus olhos com ironia antes de me empurrar um pouco para esquerda, a fim de conseguir se deitar ao meu lado. 

O gerente pediu licença antes de trazer Luna e Yumi, que latiram antes de pularem em minha cama e começarem a lamber as nossas orelhas. Yan sorriu com a cena, colocou Spike na escrivaninha ao lado e parecia tudo completo. 

— Poderia tirar uma foto de todos nós, por favor? A família finalmente completa. — Ele pegou o meu celular e com um “x” a foto foi tirada. 

E a sensação de estar completo só ao lado de Yumi, Luna, Spike, e finalmente Hyuk, não poderia ser comparada a nenhuma outra. 

Antes eu odiava o destino por me dar um cacto como algo que marcava a minha alma gêmea, mas hoje não poderia agradecer mais, afinal, se não fosse aquele pacto que fizemos anos antes, nunca teria a oportunidade de tê-lo na minha vida. 

Obrigado Spike, Luna e Yumi por estarem em todas as etapas de nosso relacionamento, assim como anjos da guarda. 






 

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